Fanfics Brasil - V- Agitated Delusional

Fanfic: Delusional | Tema: Muse


Capítulo: V- Agitated

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– Sai daqui!- gritei, pouco me importando se a minha mãe ouvia ou não… aliás, entre os soluços dela deveria ser impossível ouvir qualquer coisa. Apertei a almofada com tanta força, força que desconhecia ter. Matt olhava-me magoado, era para ele que tinha gritado. Não sei se lhe queria ter gritado ou não, só sei que não gostei das consequências, Matt afastou-se da cama e sentou-se na cadeira à frente da secretária fazendo um visível esforço para não demonstrar toda a tristeza que sentiu ao gritar-lhe. Atirei a almofada contra a secretária, esta passou ao lado de Matt e derrubou o pequeno candeeiro preto. Matt nem se moveu.


– Acalma-te… por favor…- Ele balbuciou bem baixinho, foi um milagre conseguir ouvi-lo. Tentei aproveitar o facto de ele estar de costas para me assegurar que ele não estava a chorar… ou algo assim. Mas não pude, o rosto dele estava demasiado baixo. Fiquei um pouco irritado com o seu pedido, como queria que me acalmasse?


– Como?! A culpa é minha… ela está a chorar por minha causa… Estás feliz? Ela sabe agora!- Tentei acalmar-me, os meus gritos podiam soar mais baixo, mas a quantidade de raiva que os recheava era tanta ou ainda mais. Matt inclinou a cabeça ainda mais para baixo, consegui ouvir a sua dor ao prununciar as minhas palavras. Odiei-me por isso, mas o meu orgulho não se rebaixou.


– Ela… está a chorar por causa do teu pai, porque ela sente que te falhou… não por causa de ti… Dom…- Matt falava demasiado pausadamente para meu agrado, mas ainda era impossível ver se ele estava a chorar ou não. – Achas que estou feliz?- Matt falou num tom tão emotivo que senti a minha alma abalar-se. Abanei a cabeça mecanicamente mesmo sabendo que ele não me tinha visto, já tinha descarregado, e depois de Matt dizer aquilo, senti-me bastante culpado.


– Não… Mas… as coisas estavam bem como estavam.- Matt bateu com a mão na secretária, mesmo sem fazer nenhum ruido, assustei-me, ele virou-se para mim, os olhos dele marejavam, mas nenhuma lágrima tinha escorrido. Afastei-me dele, rastejando por cima do cobertor da cama, até me encolher perto da parede.


– Desculpa?! – Matt parecia ter um enorme discurso de reprovação à minha ultima deixa. Mas a sua própria raiva impedia as palavras de saírem. Ele tinha razão, as coisas podiam não estar bem antes… mas não era bem isso que eu queria dizer…


– Estavam melhores, pelo menos…- Disse hesitante, Matt suspirou e nem se atreveu a olhar-me. As suas mãos tremiam de raiva, os músculos do seu punho cerrado sobressaiam.


– Dom! A tua mãe não podia ficar contente ao saber o que se passou contigo estes últimos tempos, pois não?! Isto é o início… A partir de agora as coisas só vão melhorar…- Matt suavizou a voz na última frase, os músculos tensos de suas mãos suavizaram, escondendo-se por baixo de sua pele. Ergui o olhar para ele, ainda estava um pouco cabisbaixo, mas Matt parecia mais calmo e isso teve o mesmo efeito em mim.


– Prometes?- Matt fitou-me com um ar cúmplice perante a minha questão. Aproximou-se de mim, e abraçou-me… Outra vez, havia algo no seu abraço… que não era possível descrever, não passava de uma leve pressão que rodeava o meu corpo, mas tinha um efeito em mim bastante intenso… Assim como quando olhava para ele, os olhos azuis sobressaiam o seu caracter transparente, era impossível ver através deles, pois tornavam-se reais à medida que os fitava, o olhar dele era algo impossível de descrever… enterrava-me no imenso azul, sem conseguir chegar à superfície… envolviam-me… Não percebo porque me sinto assim… mas era bom… de certa forma… assustador, mas bom…


– Prometo…- Matt acariciou os meus cabelos durante bastante tempo, o seu toque suave era tão calmo que as minhas pálpebras começaram a pesar, quando estava perto de adormecer, a porta abriu-se. Não controlei o enorme tremor que senti assim que fitei os olhos inchados e avermelhados dela, as lágrimas já não se viam, ela tinha lavado a cara, mas era impossível disfarçar. Matt apertou-me com mais força, embora não tivesse grande efeito, acalmou-me um pouco. A minha mãe aproximou-se com um sorriso forçado, Matt notou que ela iria sentar-se no sítio onde Matt estava, por isso este sentiu-se obrigado a largar-me. Não sei porque me senti tão inseguro assim que os seus braços deixaram de rodeavar o meu corpo… estava… frio? E ele apenas me tinha largado… O que se passava comigo? Ele estava mesmo ali, do outro lado… Dois olhos inchados fitaram-me com um ar carinhoso. A minha mãe acariciou o meu rosto e eu permaneci imóvel, seus olhos traziam-me tantos remorsos, que era melhor se permanecesse congelado no meu lugar.


– Já liguei ao teu pai… a polícia está atrás dele… - A minha mãe tentou manter o diálogo direto e firme, mas era óbvio que estava á beira de um ataque de lágrimas.- Amanhã o teu amigo vem buscar-te e acompanha-te à escola, assim como para casa…- A minha visão panorâmica permitiu-me ver o rosto de Matt endurecer de repente, lá se vai perceber a sua aversão pelo Chris, e por toda a gente que se aproximava de mim, a não ser a minha mãe… A minha mãe fungou, pude ver uma lágrima fina escorrer pelo seu rosto, que limpou imediatamente. Beijou-me o topo da cabeça e saiu. Matt continuava com as sobrancelhas juntas, visivelmente irritado. Suspirei sem paciência e deixei-me cair na cama.


– O que foi agora?- Perguntei com desinteresse, o meu corpo a ajustar-se lentamente ao conforto da cama e preparando-se para adormecer.


– Nada…- Matt suspirou, a sua fala era obviamente falsa. Matt olhou para mim com alguma irritação ainda á frente da cama.- Boa noite.- Franzi subtilmente a testa, o sono não me permitiu fazer a expressão desejada. Estranhei o facto de ele não ter vindo dormir ao pé de mim, ou nem fazer nada ao ver que estava a adormecer, normalmente acariciava-me os cabelos até os meus olhos se fecharem e entrarem sono. Mas desta vez sentou-se na cadeira à frente da secretária e não fez nada… E estranhamente senti-me mal com isso…


 


– Acorda…- Matt disse em puro desânimo, uma forma bastante rara de acordar.- O teu amigo já está á tua espera…- Pois, só podia… Suspirei e rebolei na cama, não me apetecia nada encarar Chris, muito menos ir para a escola com ele e estar com ele o dia todo com o Matt ao lado. Tenho a certeza que o Chris não iria deixar nenhum silêncio constrangedor interferir com as nossas conversas, o problema era mesmo esse… Matt iria estar a meu lado e assistir a isso tudo.


– Nunca me vais explicar o que se passa para ficares assim com o Chris, pois não?- Disse com um suspiro, enquanto atirava duas peças de roupa para a cama. Matt suspirou pesadamente e olhou-me com alguma desilusão.


– Tu é que devias percebê-lo…- Matt murmurou, arquei uma sobrancelha, sem perceber bem onde ele queria chegar. Olhei para ele, este continuava a fitar o vazio com os braços cruzados.


– O quê?- Perguntei, Matt abanou a cabeça em desaprovação e saiu do quarto, dando-me a privacidade que precisava para me vestir.


Ouvi o estrondo da porta de entrada, anunciando a partida da minha mãe, não se tinha despedido de mim porque estava a vestir-me, e deu para reparar que estava demasiado desorientada. Saí do quarto e encontrei um fantasma chateado no canto da cozinha, fitando Chris com um ar enraivecido. Chris sorriu ao ver-me, mas não retribui o sorriso, não por estar zangado com ele, mas porque não estava em condições de sorrir, a única coisa que iria sair era uma linha deformada nos meus lábios e não iria ser bonito. Engoli o pequeno-almoço, reparando na ligeira inquietação de Chris ao reparar que estava-mos um pouco atrasados, o que era normal para mim, mas para ele não… Não queria perder a chegada de Kelly à escola.


– “Vens ou não?”- Perguntei a Matt, sem olhar para ele, para não parecer maluco à frente do meu único amigo real, enquanto agarrava na mochila. Matt colocou-se atrás de mim ainda sem tirar a expressão emburrada da cara, como uma autêntica criança.


Saímos de casa, Matt caminhava atrás de mim, que de certa forma era frustrante, pois tinha de estar constantemente a olhar para trás para me assegurar que Matt estava ainda a acompanhar-nos… Não sei porquê, mas algo me dizia que o precisava de o ter perto de mim. Com isso, muitas vezes as palavras de Chris passavam-me despercebidas, e o pobre tinha de as repetir… Permanecia paciente não comentava o facto de eu ser um doido varrido e estar sempre a olhar para trás.


– Como está tudo?- Chris de repente mudou de assunto, tornando-se algo mais sério. Olhei-o, desta vez sem querer afastar o olhar.


– Está tudo bem… dentro do possível…- Disse, tentando não olhar para trás, porque sentia uma vontade tão forte de o sentir perto de mim? Chris assentiu com a cabeça.


– Desculpa… mas não podia manter segredo, sabes?- Fiz uma força sobre-humana para não olhar para trás, o meu cérebro tão concentrada nisso que só tive a capacidade de assentir com a cabeça mecanicamente.


– Não te armes em herói… se tivesse voz tinha-o feito muito antes de ti…- Matt disse indignado, de repente uma enorme sensação de alívio relaxou o meu corpo. Feliz por saber que Matt permanecia atrás de mim. Fiquei demasiado aliviado para poder responder ao comentário idiota dele. Quando chegá-mos à minha amada escola, Chris olhou de esguelha para Kelly. Eu soltei um pequeno riso.


– Não te preocupes… Não corro perigo dentro da escola, vai ter com ela…- Chris riu um pouco envergonhado. Até se tornava querido, e desapareceu da minha visão. Matt relaxou a expressão. Mas não disse nada, não no momento, não durante todas as aulas…


Tentei arrancar-lhe as palavras, mas ele estava demasiado chateado… vá se lá saber porquê… A minha única salvação foi o soar do último toque, mas Matt não partilhava a minha felicidade, pois significava mais uma caminhada com a companhia de Chris, quando a sala ficou vazia, olhei para Matt e revirei os olhos, fazendo-o perceber a sua atitude imatura. Mas Matt não ficou afetado, continuou com a mesma expressão. O seu ar chateado de repente tornou-se algo mais sombrio, mas não pude perder muito tempo a observá-lo, pois Chris esperava-me no portão da escola. Matt colocou-se a meu lado, o lado sombrio da sua expressão agora preenchia toda a sua face.


– Diz-lhe que não precisas dele para nada… ele só te arruinou a vida ao contar-lhe…- A voz de Matt soou quase irreconhecível a meu lado. Soava demasiado autoritária, mas abanei a cabeça.


– “Estás doido?!”- Matt não mudou a expressão.


– Diz-lhe!- Matt gritou, a voz dele soava cada vez mais alta… ele repetiu a palavra mais vezes, Chris notou o meu ar irrequieto.


– Estás bem?- Chris fitou-me preocupado, a minha respiração descompassada e as minhas mãos trémulas eram bastante visíveis, Matt gritava mais e mais, era impossível de controlá-lo.


– E… Eu…- Balbuciei, imóvel porém tremendo como varas verdes, a respiração instável, e a voz de Matt enlouquecia-me.


– Diz-lhe!!!- Matt gritou mais uma vez, desta vez menos suave, era uma ordem… eu tinha de obedecer.


– Não preciso… de ti para nada… Só me arruinaste a vida...- Chris arregalou os olhos, a minha voz soava como soluços quase inaudíveis. Matt riu e aproximou-se de mim.


– Mais convincente…- Não… não podia desobedecer-lhe, ele iria repetir aquilo vezes sem conta na minha cabeça, não queria magoar Chris, mas a voz de Matt estava a enlouquecer-me.


– Não preciso de ti para nada! – Não consegui continuar a frase e esvoacei pelo passeio com as mãos nos ouvidos, embora Matt se tivesse calado. Corri tanto que nem me importei com as lágrimas que teimavam em cair, Matt estava ao meu lado com um ar satisfeito. A minha correria fora subitamente interrompida por algo firme, era uma pessoa. Abri os olhos e fitei Matt antes da pessoa, o ar satisfeito de Matt tinha mudado, estava agora petrificado, ergui o olhar para o rosto da pessoa com quem tinha esbarrado. Sentindo as minhas forças desvanecerem ao encontrar os seus olhos acinzentados...


– Filho!




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Senti as minhas têmporas congelarem, pupilas contraídas com choque e medo, o meu corpo não tremia, tudo o que pertencesse ao meu ser encontrava-se num estado congelado uniforme. Matt surgia nos limites da minha visão, era difícil de perceber quem sentia mais medo, eu ou ele, olhos acinzentados famintos fitavam-me de forma assustadora. Recu ...


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