Fanfics Brasil - VI-Hysteria Delusional

Fanfic: Delusional | Tema: Muse


Capítulo: VI-Hysteria

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Senti as minhas têmporas congelarem, pupilas contraídas com choque e medo, o meu corpo não tremia, tudo o que pertencesse ao meu ser encontrava-se num estado congelado uniforme. Matt surgia nos limites da minha visão, era difícil de perceber quem sentia mais medo, eu ou ele, olhos acinzentados famintos fitavam-me de forma assustadora. Recuperei os meus sentidos lentamente, o olfato alarmava-me do cheiro intenso a cerveja, e as minhas lágrimas secas foram sobrepostas por novas, se ele estava bêbedo, eu estava morto… Matt recuperou a mobilidade, o pânico dele transformou-se em gritos de furar tímpanos, os meus tímpanos, a sua voz aguda projetava-se para a figura alta e detestável do meu pai, eu não percebia o que Matt gritava, mas tinha uma ideia. Os meus olhos identificaram um sorriso alargado, o cheiro a álcool aumentou a intensidade, os seus dentes amarelados e arruinados pelo tabaco mostravam-se, mas não era isso que me deixava mal disposto, mas sim o que ainda estava para vir. Ouvi-o inalar algum ar, Matt calou-se ao perceber que o meu pai ia dizer algo, a dor de cabeça crescente acalmou um pouco quando Matt parou de gritar, mas eu sabia que estava prestes a piorar.


– Que lágrimas eram essas filho?- Uma mão áspera e suja apertou com força o meu queixo, forçando o contacto visual, a pele seca dele deixava já danos ligeiros na minha. Engoli seco, senti Matt colocar-se atrás de mim.


– Deixa-me!- A minha tentativa de soar autoritário correu mal, saiu-me um som agudo e trémulo, por estar a conter o choro e o medo. O sorriso doentio dele mostrou-se outra vez, o cheiro do álcool fazia o meu estomago andar às voltas.


– Não me levantas a voz, Dominic Howard, quem devia chorar era eu, ouvi dizer que andam por aí à minha procura…- ele pausou para suspirar- Dom…- A sua mão rugosa apertou ainda mais o meu queixo, senti-a arranhar a minha pele lentamente.- Pensei que tínhamos combinado que era o nosso segredo…- Ele finalmente largou o meu queixo e baixei a cabeça, Matt implorava-me para fugir, mas entre ele e o meu pai, este último era sem dúvida o mais autoritário, para além disso sou um zero à esquerda em física, e se tentasse correr, mesmo com os pulmões entupidos de tabaco, o meu pai ia conseguir apanhar-me, era inútil… As lágrimas que até aquele momento ameaçavam cair escorreram impiedosamente pela minha cara, coisa que a minha posição cabisbaixa conseguia esconder, apenas os soluços me denunciaram. Um riso rouco do meu pai chegou aos meus ouvidos, a sua mão rodeou-me o braço com uma força que eu já conhecia bastante bem e desisti de lutar contra. O meu outro braço também foi rodeado com um toque muito mais suave, era Matt, ele tentava ser mais forte que o meu pai, pobre Matt…- Vou dar-te uma razão para chorares a sério!- A força no meu braço aumentou, fazendo-me caminhar em passos largos e desarmónicos, embora estivesse a ser conduzido contra a minha vontade, não estava a dar muita luta para o demonstrar.


– Dom! Dom!- Matt gritava, tentando acompanhar a força com que o meu pai me puxava, não lhe respondi, não estava em condições para tal. A respiração tornou-se agoniante quando parámos, olhei em meu redor, o ar frio daquele local congelava as lágrimas secas do meu rosto, eu conhecia aquele beco, eu odiava aquele beco… A terra batida e suja, os contentores do lixo no fim do caminho e o facto de estar sempre silencioso, eu lembrava-me detalhadamente daquele local, e as memórias não eram boas, e algo me dizia que estava prestes a fazer mais uma dessas, igualmente desagradável. Matt observava o local aterrorizado, o seu olhar bruscamente desviado pelo meu primeiro grito, agarrei no meu estomago tentando amparar a dor lancinante resultado do forte murro do punho asqueroso dele. Ajoelhei-me no chão, não só não aguentava em pé com a dor, como sabia que, quanto mais tempo passasse em pé, mais tempo aquilo iria durar. Matt correu para o meu pai, a sua impotência convertendo-se em lágrimas ao perceber que o meu pai não sentia nenhum dos seus murros, sentou-se á frente do muro de tijolo atrás de mim, era capaz de ouvir os seus soluços mesmo entre a dor. A dor do meu estomago espalhou-se para as minhas costas e deitei-me na terra, que se tornava incrivelmente confortável naquele momento. Ele posicionou-se em cima de mim, apertei os olhos com força mesmo antes de ele erguer a mão, pois já sabia o que iria acontecer. A minha cara forçosamente virou-se com a força do murro, o líquido vermelho quente escorreu do meu lábio contrastando a frieza do meu corpo, o interior da minha boca já jorrava sangue.


– Devias manter as coisas como estavam, seu inútil!- Sentia o seu sangue ferver nas suas veias, estas sobressaiam na pele, músculos tensos acumulando raiva que rapidamente descarregava na minha cara, esta já mal processava a dor pelas inúmeras vezes que mudava de direção, a cabeça girava e sempre que tentava agarrá-la com as mãos, mais murros eram depositados na minha cara impedindo-me de o fazer. Finalmente concedeu ao meu rosto algum tempo de descanso ao levantar-se, Matt ergueu a cabeça hesitante, rezando para que tudo tivesse terminado. Rapidamente voltou a baixar a cabeça ao ouvir o meu grito aflitivo, normalmente nunca gritava com os murros ou chapadas, mas com os pontapés, ou qualquer contacto com o meu estomago eu não conseguia evitar, sabia que era a parte favorita dele, ele fazia aquilo apenas para me ouvir gritar, tinha algo de extremamente gratificante e melódico nos meus gritos para ele, mas nunca o irei, ou quero entender. O bico dos seus sapatos acertou certeiramente na lateral do meu corpo, já não conseguia abrir os olhos agarrei na minha cabeça numa tentativa de a proteger e quem sabe sair com vida dali. Não sabia onde arranjava oxigénio suficiente para gritar, pois respirar era bastante difícil, os seus chutos fortes acertavam várias vezes em alguns pontos do meu corpo, sentia os hematomas formarem-se e a pele rasgar-se com o bico pontiagudo dos seus sapatos. Só quando o ar escasseou completamente nos meus pulmões e não pude mais gritar para preservar a minha respiração, é que o meu pai se fartou, não abri os olhos, sabia-o apenas porque ele tinha feito uma pausa de mais de 10 segundos entre os pontapés. Ele não disse mais nada, os seus passos um pouco mudos pela terra batida começaram a afastar-se. Agarrei a minha cabeça com força, esta insistia em voltear incessantemente, mas depois as dores no estomago manifestavam-se e rapidamente agarrava na minha barriga, tentando massajá-la em vão, pois ainda doía mais, a dor tão forte que sentia vómitos, mudava a posição das mãos várias vezes, da cabeça para o estômago. O meu corpo ainda arranjava força para tremer, mas nenhuma para me mover, as minhas costas doridas estavam completamente coladas ao chão. Matt aproximou-se, e ajoelhou-se atrás da minha cabeça, alisando o meu rosto, os meus olhos entreabertos conseguiam reconhecer as suas lágrimas.


– Desculpa Dom! Desculpa…- As suas palavras transbordavam culpa, da mais pura e honesta culpa. Não sabia bem o que sentir acerca disso, ele tinha tido alguma coisa a ver com aquilo, se não me tivesse obrigado a dizer aquelas palavras eu estava agora em casa são e salvo, mas algo me doía no interior sempre que o queria culpar, não o queria magoar por alguma razão. Afinal, a culpa nem era bem dele, certo? O meu pai podia encontrar-me de qualquer das formas… o encontro era de alguma forma inevitável… não sei, algo em mim queria arranjar todas as desculpas possíveis para não atirar as culpas ao Matt…


– Au… Matt… estás a aleijar-me.- Não consegui pensar muito no que tinha dito, mas assim que fitei os olhos arregalados dele, o meu cérebro dorido começou a funcionar lentamente. Matt tirou as mãos da minha face, e moveu-as para o topo da minha cabeça, acariciando os meus cabelos, desta vez sentia mais que uma leve pressão, era um toque real, a textura da sua pele suave em contacto com a minha, cada vez mais real.


– Dom… Mas eu não tenho força… como?- Matt arrependeu-se e calou-se, pois olhou para mim e percebeu que não estava em condições de pensar, não fazia ideia porque ele me aleijou, mas aleijou. Se calhar estava a ficar cada vez mais doido depois de levar tanto na cabeça… Matt desfez-se em lágrimas mais uma vez, as suas lágrimas transparentes eram bastante reais para mim, e doíam-me muito mais do que as lesões externas, o meu coração apertava com o som dos seus soluços, desejando com todas as minhas forças ausentes para que ele parasse- Desculpa! A culpa é minha!- Agarrei na cabeça para amparar a dor cruciante que apareceu repentinamente, sem me dar oportunidade de responder a Matt.


– Matt…- Olhei-o com os olhos entreabertos, não aguentando muito mais, Matt fitou-me e engoliu o choro, acenou positivamente com a cabeça, dando-me a autorização para continuar a falar, e acariciou os meus cabelos, desta vez com as mãos mais trémulas.- Dói-me tanto a cabeça…- Matt apertou os olhos perante a minha deixa que não fazia sentido nenhum à conversa, não sabia o que dizer, não conseguia pensar, a dor de cabeça era muita, mesmo muita. As mãos trémulas de Matt passavam nos fios dourados dos meus cabelos mais apressadamente, fazendo um esforço enorme para não chorar, não percebi se acabou por fazê-lo ou não, pois estava a apagar lentamente.


– Eu sei Dom… eu sei…- A voz dele soava tão distante, a minha visão oferecia-me um vasto campo de escuridão, deixei de sentir dor, mas sentia a mão de Matt passar rapidamente na minha cabeça.- Vai ficar tudo bem… - Não sei porquê, mas quando ele dizia aquilo, algo em mim acreditava nele, mesmo que estivesse a desmaiar à sua frente com a dor, sozinho num beco sem saída e abandonado, eu acreditava nele, porque as suas palavras tinham esse efeito em mim, por isso é que disse aquilo ao Chris, como se tudo o que Matt dissesse fosse verdade e não devesse ser questionado, pelo menos ao dizer aquilo fiquei em paz até apagar completamente.


POV Chris


Era incrível como aquele loiro magricela que tirava as negativas mais miseráveis a física podia correr tão depressa, para além disso fiquei em choque depois de me dizer aquilo, não quis pensar muito, pois de certa forma, Dom estava a passar um mau bocado, sempre tentei entendê-lo mas sabia que era preciso grande esforço para tal, era hipócrita da minha parte dizer que o entendia, pois tínhamos vidas bastante distintas, a minha não era perfeita, embora parecesse, mas era de longe melhor que a dele, não podia entender como era ter um pai como o dele, e para além disso tinha acabado de matar alguém, a sua reputação na escola quase inexistente era agora falada por todos, mas as coisas que diziam não eram as melhores, de qualquer das formas preocupava-me com ele, independentemente do que todos os outros diziam, para além disso, prometi à sua mãe que o trazia a casa são e salvo, era bastante visível como a senhora Howard se preocupava com o filho, o que me tornou a tarefa de lhe contar acerca do pai do Dom bastante mais difícil, fui capaz de se ouvir o seu coração rachar, mas Dom merecia alguém que se preocupasse com ele, quer ele acredite ou não.


Corri para direção em que ele tinha desaparecido, a rua era reta, por isso não havia muitos sítios para onde ele pudesse ir, corri durante tanto tempo que a rua tinha-se tornado muito mais estreita, a estrada que a dividia deixava a duvida se era mesmo possível um carro caber ali, as pessoas que passavam por lá contavam-se com os dedos de uma mão, a esperança de alguma delas ter visto o Dom cresceu, aliás, um loiro esvoaçante não poderia passar tão despercebido assim… Só queria que ele estivesse bem… Um homem de cabelo escasso e grisalho acomodava-se numa cadeira de plástico na frente de um bar, agarrando a garrafa de cerveja vazia na mão, aproximei-me.


– Desculpe…- Chamei a sua atenção, os seus olhos escuros fitaram-me com curiosidade, olhei em volta e cocei a cabeça.- Não viu a passar por aqui um rapaz loiro, a correr?- O homem pensou um bocado deixando-me num suspense terrível, depois voltou o olhar para mim.


– Não… penso que não, mas já que está aqui, podia fazer-me um favor?- Arquei a sobrancelha desconfiado, mas não recusei.- Eu ouvi alguns gritos vindos daquele beco ali…- Ele apontou com o seu dedo moreno para trás, era possível avistar-se uma entrada estreita na rua, voltei o olhar para ele ainda curioso.- Eu quis ir ver o que se passa, mas sabe, não poderia fazer grande coisa caso alguém estivesse em perigo… Você é jovem e forte e…- Acenei com a cabeça nervosamente, perguntando-me a causa dos misteriosos gritos, mesmo que a minha maior preocupação fosse o Dom, o facto de alguém poder estar em perigo sempre me deixava alarmado. Larguei a mochila ao pé da cadeira, o telemóvel estava no bolso, por isso não me preocupei muito com roubos, os meus tênis reconheceram um caminho de terra batida longo, percorri alguma extensão dele cuidadosamente, para o caso de alguém perigoso pudesse estar ali, mas o cuidado desapareceu quando avistei a peruca loira reluzente ao fim do beco, arregalei os olhos e corri automaticamente.


– Dom!!!




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