Fanfics Brasil - QUATRO: Converso com duas piratas aposentadas O Caçador de Piratas

Fanfic: O Caçador de Piratas | Tema: Piratas do Caribe


Capítulo: QUATRO: Converso com duas piratas aposentadas

19 visualizações Denunciar



As grandes portas se abriram para um hall de entrada escuro, iluminado apenas por alguns archotes. Entrei no castelo com a tripulação em meus calcanhares. Meu corpo estremeceu ao sentir uma súbita mudança de temperatura. Do lado de fora, a Ilha de Tortuga estava iluminada pela luz forte e quente do Sol, e ao entrar no castelo, um frio penetrou em meu sangue, gelando cada parte interna de meu corpo, fazendo meus pelos se arrepiar. As paredes cinzentas davam ainda mais impressão de um lugar frio. Não havia uma lareira sequer, nada que podia aumentar o calor. Perguntei-me como os bucaneiros conseguiam viver naquele frízer, e como viviam Anne Bonny e Mary Reid.


As únicas decorações do hall eram quadros de tamanhos diferentes pendurados em cada parte das paredes. Era impossível vê-los por causa da escuridão, mas eu tinha certeza que eram quadros de piratas famosos. Não havia dúvidas de que Barba Negra, Jack Sparrow, Anne Bonny e Mary Reid, e é claro, Drummond estavam ali naqueles quadros.


A nossa frente havia uma escadaria de mármore, também acesas por archotes, que davam para dois corredores, um para a esquerda e outro para a direita. Um tapete vermelho cobria os degraus da escadaria e outros dois mais vermelhos ainda cobriam o piso de cada corredor.


Ouvi o barulho de passos descendo as escadas, que ecoavam pelo hall sombrio. Um homem se aproximou e o vi fazer uma reverência exagerada. Então falou:


— Bem vindo ao Forte de Rocher, capitão Lubber! — o pirata usava roupas surradas, não tinha cara de ser um pirata do Caribe. Parecia mesmo um escravo. Ele segurava uma espada, que estava visivelmente cega.


— Preciso falar com sua majestade — eu disse, com desprezo. — Anne Bonny e Mary Reid.


— Ah, sim, sim. Siga-me, por favor, senhor!


— Não... me chame... de senhor! Sou capitão, seu desgraçado infeliz amaldiçoado dos infernos, cão sarnento — disse eu, quase gritando e fuzilando-o com os olhos. — Capitão, eu sou capitão.


— Ah, sim, me desculpe, capitão.


— Não quero desculpas de você. Agora, me leve logo até aquelas duas ex-piratas velhas.


Subimos a escadaria de mármore até os dois longos corredores, um a direita e outro a esquerda — também decorado com quadros e mais quadros. Em vez de seguirmos por algum dos corredores, o pirata parou em frente à parede cinzenta e gélida entre eles.


Levantou a espada acima da cabeça, encostou a ponta da lâmina cega na superfície lisa e fria e começou a fazer contornos.


Um ruído metálico, o barulho de algo sendo arrastado e surgiu uma divisão na parede, formando uma porta de pedra. O pirata abriu-as e pude ver um corredor ainda mais escuro que os outros.


O pirata nos guiou até o final do corredor, abriu mais uma porta de pedra e entramos num imenso salão. Mais uma vez, eu senti uma onda de choque quando passei por uma mudança climática. Meus olhos arderam pela luz forte inesperada.


O salão era aquecido por uma enorme lareira de pedra ao lado direito, e quando digo enorme, era enorme mesmo. O fogo crepitava alegremente pelo ambiente, aquecendo todo o salão. Ao lado esquerdo havia uma grande mesa de jantar, e sobre ela estavam pratos, talheres e taças. Um lustre de cristal gigante pendia do teto. Do outro lado do salão, outra escadaria de mármore e mais portas. As paredes continuavam cinzentas e aparentemente geladas, mas o clima era muito melhor. Pendurados em cada canto, mais e mais quadros de piratas decoravam o salão — se é que quadros com imagens de filhos da puta possa se chamar de decoração.


Depois de observar tudo, notei duas pessoas sentadas em poltronas de frente para a lareira.


— Encantado com meu castelo, William Lubber? — perguntou uma mulher, e então ela se virou para mim.


Mesmo velha, reconheci imediatamente a pirata aposentada Anne Bonny que sorria perversamente. Ainda vestia as roupas de pirata do Caribe: bandana vermelha, casaco cinza com mangas brancas, um rolo de tecido azul com listras vermelhas preso em um cinturão velho que servia de bainha e calças de um tom amarelado.


— Não. Estou encantado com o castelo de Tortuga! — respondi, retribuindo o sorriso.


A outra poltrona ao lado se virou para mim também, e reconheci Mary Reid. Essa outra pirata vestia-se com um casaco azul envolto por um rolo de tecido vermelho, uma bandana vermelha também na cabeça e calças também de cor amarelada.


— Você se engana, Lubber! — disse ela, com um sorriso maléfico maior que o de Bonny. — O Forte de Tortuga tornou-se nossa casa, nosso Forte. A casa de duas piratas famosíssimas!


— Ah! — exclamei, fingindo interesse. — Mil perdões! Não achei que piratas velhas e caducas aposentadas como vocês pudessem ter um castelo inteiro para vocês. E, mais uma coisa! Para você, Mary Reid, é capitão Lubber. Sua majestade, o Rei, ordena que eu capture, mate, elimine e destrua qualquer pirata que eu encontrar. Mas como Tortuga é... digamos, território dos piratas, eu não posso fazer isso aqui, a não ser com uma Guarda.


Seu sorriso sumira imediatamente. É claro que ela e Bonny temiam um ataque à Tortuga. Temiam que os piratas da ilha fossem levados à forca, ou elas mesmas.


— O quê quer aqui, capitão Lubber? — perguntou Bonny, com desprezo.


— Tenho certeza que sabe — disse eu. A pirata levantou a sobrancelha, e rugas apareceram em seu rosto.


— Sei?


— Não se faça de besta! Sabe que estou caçando Arabella Drummond. Também sei que ela veio para cá, com certeza abastecer de mantimentos o Aventureiro. Aquela puta enviou piratas para nos atrasar, eu sei disso.


— É isso mesmo! — disse Reid. De repente ela explodiu em gargalhadas exageradas. — Drummond atracou aqui, nos visitou. Nós bebemos rum do Caribe, lembramos dos velhos tempos, conversamos muito. Disse que nunca deixaria o seu Gato do Mar alcançá-la.


A raiva veio como uma onda forte se quebrando dentro de mim.


— EU ACABO COM ELA! — gritei, com todas as minhas forças.


— Calma! — disse Bonny. — Temos algumas coisas para lhe contar, se quiser saber.


— Não, não confio em vocês.


— Ela está falando a verdade — disse Reid. — Nós sabemos algumas coisas sobre... o tesouro enterrado — ela sussurrou.


Fiquei paralisado. Mas é claro! Aquelas duas com certeza deviam saber alguma coisa sobre o tesouro de Drummond, e eu precisava saber.


— Sobre o... tesouro? — eu também sussurrei.


— Sim, sabemos um pouco sobre o tesouro enterrado de Arabella — disse Reid. — Vamos lhe contar, mas isso terá seu preço.


Ah, é claro que aquilo teria um preço! Piratas não prestam mesmo, traem uns aos outros, acabam com eles mesmos.


— Sente-se primeiro — disse Bonny, puxando uma poltrona. Nem percebi que ainda estava em pé, e esqueci-me da tripulação atrás de mim, que escutava tudo atentamente.


— Preciso falar com elas a sós, homens. Deem licença!


A tripulação deixou o salão, ainda que com receio. Sentei-me na poltrona e um súbito interesse queimou dentro de mim.


— O tesouro de Drummond... então, o que vocês sabem? — perguntei.


Passou-se um momento de silêncio. Bonny se endireitou na poltrona e disse:


— Arabella não sabe que você está atrás do tesouro dela. Tem consciência de que você quer apenas matá-la e tomar posse do Aventureiro Audaz.


— Sim! Quero matá-la, é claro, e fazê-la pagar pelos atos de pirataria. Recuperar o tesouro roubado que ela enterrou. Estou sob ordem do Rei, que concedeu a mim a Licença desta missão. E, uma pergunta, se Drummond não sabe da minha caça ao tesouro, como é que vocês sabem?




— Temos nossas fontes, capitão Lubber — retrucou Reid, e deu um sorriso maléfico e ao mesmo tempo de satisfação.


— Você deve achar que como somos amigas, Drummond tenha nos contado alguma coisa sobre aquele tesouro idiota, mas não. Ela não contou a absolutamente ninguém. Achamos uma traição ela não ter dividido isso com a gente. Ela não sabe que Mary e eu descobrimos sobre o tesouro, nem que você descobriu. Desde então, nós duas tentamos achar a localização do tesouro — contou-me Bonny.


— Ei, seu moribundo! Traga-me rum, e para o Sr. capitão Lubber traga vinho! — ordenou Reid a um pirata que esfregava os degraus da escadaria de mármore.


Bonny olhou por um momento para o fogo que crepitava na lareira, imersa em pensamentos, e continou: — Até onde sei, há um mapa do tesouro — meu interesse cresceu ainda mais dentro de mim. — Mas ele está rasgado, dividido em duas partes. Uma parte está desaparecida, não temos idéia de onde esteja, e a outra se encontra no Aventureiro Audaz, sob guarda e proteção de Arabella. Quando visitamos o navio dela, eu vi um baú escondido na cabine, daqueles que se guardam objetos valiosos. Mary quis abri-lo, mas Arabella não deixou de maneira alguma. Ficou aterrorizada quando Mary tocou o baú. Sem o mapa, não há como saber onde o tesouro está enterrado.


Eu podia mostrar a elas a parte “desaparecida” do mapa que eu tinha, mas elas podiam roubá-la e me prender de surpresa, junto com minha tripulação.


— Drummond nunca desconfiou de vocês? — perguntei.


— Ah, não — disse Reid. — Ela nunca desconfiaria das amigas delas. Ou melhor, de duas piratas velhas e aposentadas.


— Vocês não têm idéia de onde ela esteja agora?


— Não sabemos — respondeu Bonny, balançando a cabeça. — Mas sei que Arabella terá de fazer a carenagem do navio daqui a alguns dias. Então, você ganhará uma vantagem de velocidade e o seu Gato do Mar se aproximará cada vez mais do Aventureiro.


Um pirata com vestígios de ser o cozinheiro irrompeu pelo salão, trazendo uma bandeja com taças, uma garrafa de rum e outra com Vinho do Porto — esse era o melhor.


— Por que demorou hein, seu verme nojento? — bradou Reid, e o pirata murmurou um “desculpe-me, Sra. Reid!”.


— Não seja tão rude, Mary! — ralhou Bonny, servindo uma taça de vinho para mim.


Tomei apenas alguns goles do vinho, receoso com o que podia conter nele. Por fim, eu fiz a pergunta que tanto me incomodava.


— Por que vocês estão tão interessadas no tesouro de Drummond?


— Nós, interessadas? — disse Reid, bebendo um grande gole de rum e rindo. — Ah, capitão Lubber, Anne e eu estamos velhotas demais para correr atrás de tesouros enterrados. Nós só queremos vingar Arabella por não ternos contado, hum, compartilhado isso com a gente.


Não acreditei em nenhuma palavra que Reid disse. Eu sabia que era tudo mentira. Elas estavam mesmo querendo obter os lucros de Arabella Drummond. Decidi de fato não revelar a parte do mapa que eu tinha.


— Ahn, Bonny! Eu queria que minha tripulação fosse chamada. Preciso mesmo continuar minha viagem.


— Mas você não ficará para o jantar, capitão Lubber? — convidou Bonny, mas eu recusei, balançando a cabeça.


— Não. Preciso continuar minha caça. Cada minuto perdido o Aventureiro Audaz se distancia mais.


— Já sabe para onde vai atracar a seguir? — indagou Reid.


— Ah, ainda não. Mas mesmo se tivesse uma idéia para onde navegar, eu não diria a você, Mary Reid.


— Quem pergunta o que quer, ouve o que não quer, não é! — disse Bonny, caçoando de Reid, que estava furiosa. Então chamou um pirata e deu a ordem de trazer meus homens.


— Obrigado pela hospitalidade! — falei, de má vontade.


— Ah, o prazer é todo nosso, capitão Lubber — disse Bonny, sorrindo. — Volte quando quiser!


Reid bufou e voltou sua poltrona para a lareira.


— Lembre-se: sou caçador de piratas — eu disse à Bonny, ignorando a atitude de Reid. — Não seria de bom tom para minha imagem ficar na presença de piratas, a não ser para coletar informações, como fiz hoje.


O pirata veio descendo a escadaria de mármore seguido por minha tripulação.


— Adeus para você também, Mary Reid — disse, mas a pirata não deu atenção.


Seguimos então o pirata pelos corredores escuros e gelados, até passarmos pelos portões. Eu não tinha noção de como o tempo passara rápido! O dia terminava e o crepúsculo se lançava pelo céu quase escuro e sem nuvens. Pelo visto seria uma noite perfeita para navegar e me aproximar mais de meu objetivo. Adentramos nos botes e remamos até o Gato do Mar.




POV Anne Bonny on


Eu subi até uma das torres de vigia com Mary a meu lado soltando palavrões e todo tipo de maldições sobre William Lubber. Vi o caçador de piratas voltando para o Gato do Mar ao longe.


— Nos saímos bem, não acha? — perguntei a ela.


— Sim — disse Mary, satisfeita. — Arabella não vai conseguir fugir de Lubber para sempre. Ele vai ter o que quer, o Lubber.


— Vai, tenho certeza — eu afirmei e bebi o último gole de rum, deixando a taça de lado. — Logo, logo o capitão William Lubber vai deixar esse ódio pelos piratas, e virá para a outra vida.


Dei uma última olhada no navio e voltei a meu confortável e quente salão.


POV Anne Bonny off




Compartilhe este capítulo:

Autor(a): Uchiha_Potter

Este autor(a) escreve mais 2 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?

+ Fanfics do autor(a)
- Links Patrocinados -
Prévia do próximo capítulo

Voltei ao navio quando o luar e as estrelas já cintilavam no alto. Subi na popa e olhei pelo telescópio para o Forte de Rocher. Lá estava Bonny e Reid numa das torres de vigia de pedra cinzenta, observando o Gato do Mar. As informações que as duas piratas deram-me sobre Drummond estavam fervilhando em minha mente. A parte do mapa que ...


  |  

Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 0



Para comentar, você deve estar logado no site.


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.




Nossas redes sociais