Fanfic: Os Seres Que Quase Ninguém Conhece | Tema: Aventura, Drama, Fantasia, Monstros, Alice, Coraline, Nárnia, Onde Vivem Os Monstros

O pequeno Dimitri desistiu quando percebeu que o sol já havia ido embora. Era a segunda vez que tentava ir até a floresta para fazer sua caçada, mas não conseguia. Na primeira vez a rua fora fechada por causa de um buraco que havia, causado pelas chuvas do mês de fevereiro. Nessa segunda vez, ficou muito tarde, e sabia que sua mãe não ia gostar nenhum pouco disso.

A casa estava vazia e cheirava a flores, que seus pais cultivavam no jardim, com mofo, alguns móveis precisavam ser trocados. Mamãe não havia chegado da feira, e papai só sairia do trabalho às nove horas, quem sabe não jantaria com ele? Se sua mãe deixasse ficar acordado até lá. Porém era bem capaz do papai jantar fora de casa entre um intervalo e outro. Dimitri se lembrava dos dias que quando era pequeno e passava horas brincando com seu pai – ou pelo menos ele pensava que eram horas –, sentia falta.

Depois de refugiar-se no seu quarto, Dimitri pegou um livro e começou a ler. Não entendia muito bem as palavras – apesar de já ter oito anos – mas adorava observar imagens coloridas de seres peludos engraçados. Dislexia é algo bem ruim. Imaginava que animais poderiam ser, um tinha grandes garras, que nenhum tigre teria. Outro tinha um comprido pescoço, que nenhuma girafa teria. Outro tinha uma boca enorme, que nenhum leão teria. E outros seres, cada um mais estranho que o outro. Talvez não fossem animais, fossem apenas criaturas aleatórias, fruto da imaginação de alguém, ou até mesmo de Dimitri. Virou o livro de capa cor de madeira e analisou o nome com dificuldade “Os seres que ninguém conhece”, em letras douradas.

Quando sua barriga roncou de fome, ouviu-se a porta abrir seguido um chamado satisfatório “Dimitri, cheguei!”, e era só o que ele queria ouvir. Desceu depressa as escadas, sentou-se na mesa da cozinha e esperou sua mãe retirar as compras das sacolas. Ficou observando-a em silêncio, com as mãos cruzadas entre as pernas que balançavam no ar. Dimitri era pequeno para sua idade, seus pés não alcançavam o chão quando estava sentado na cadeira. Sua mãe concentrava-se em tirar as compras e preparar a comida o mais rápido possível.

– Será que papai vai jantar com a gente hoje? – perguntou Dimitri, olhando para o relógio na parede.

– Não. Papai só vai chegar mais tarde. – respondeu sua mãe, virando-se rapidamente. Depois, olhou-o de novo e observou, com os olhos cansados e escuros, seus óculos que estavam tortos e no meio do nariz. – Tem que tomar mais cuidado com seus óculos. – E virou-se novamente.

Dimitri empurrou com o dedo os óculos para cima.

Depois de mais alguns minutos preparando a comida, sua mãe colocou o prato na mesa. Dimitri comeu logo e foi se deitar, não tinha mais nada de legal para se fazer naquele dia, era só esperar o outro dia chegar, quando sua mãe sair, então ia iniciar sua grande caça aos sapos. Dimitri não gostava de sapos. Já havia preparado tudo: luvas, um saco (para colocar os sapos) e suas botas para evitar a lama. Percebeu que sua cama estava um pouco amassada, como se alguém estivesse sentado lá. Depois que se deitou também notou que estava estranhamente quente, e pensou consigo “E se algum sapo fez xixi na minha cama porque sabe que vou caçá-los amanhã?”, mas logo esqueceu essa ideia e caiu num sono profundo.