Fanfics Brasil - 2 Os Seres Que Quase Ninguém Conhece

Fanfic: Os Seres Que Quase Ninguém Conhece | Tema: Aventura, Drama, Fantasia, Monstros, Alice, Coraline, Nárnia, Onde Vivem Os Monstros


Capítulo: 2

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Três pássaros estavam na janela do quarto quando Dimitri acordou. Um tinha o corpo cinza e as azas azuis, outro era verde com uma mancha preta do bico até os olhos, e o último era vermelho com listras amarelas. Curiosamente, os três olhavam para ele e vez ou outra entortavam a cabecinhas e davam pulinhos para se acomodarem no parapeito; pareciam conversar entre si. Já era difícil que três pássaros estivessem juntos e encarassem assim, ainda mais esses que tinham cores tão exóticas. Sem dúvida era um momento muito raro. Os pássaros voaram longe rapidamente quando Dimitri fez menção de se aproximar e abrir a janela.


Um casaco grosso azul escuro, um cachecol vermelho, calças jeans e meias grossas, Dimitri tinha que usar isso, vovó sempre recomendava em dias frios, e o dia amanhecera bastante frio. Mais saudade do que as brincadeiras com o pai, Dimitri tinha da sua falecida avó. Sempre que ia visitá-la numa bela casa enorme, ganhava bombons e presentes. Tinha um cachorro grande e peludo que adorava lambuzar todo mundo, e que morrera poucos dias depois da morte da sua avó. Havia um lago que vovó dizia ter pequenas criaturas mágicas que cuidavam da proteção da natureza, Dimitri podia até acreditar, mas nunca vira nenhuma dessas criaturas – no máximo encontrara sapos verdes de olhos vermelhos esbugalhados, e ele não gostava nenhum pouco.


Dimitri tomou seu café da manhã que sua mãe havia preparado, e esperou até a hora dela sair para trabalhar. Quando menos esperava, ele ouve a porta se fechar, ela já havia saído. A mãe de Dimitri parecia não se importar muito com ele, saíra sem avisar e o máximo que ela fazia para sua proteção era trancar a porta da frente, nem falara com ele, muito menos recomendara para se agasalhar. Não que ele achasse ruim, não queria que ela descobrisse que saía pela janela de trás da casa e trancasse lá também. Mas é que às vezes é bom ter mais um pouco de proteção, mesmo que isso seja contra nossa vontade.


Eram nove da manhã, Dimitri pegou seus “equipamentos de caça”, subiu na pilha de caixas do quarto dos fundos e passou pela janela. Caiu num amontoado de folhas e seguiu a rua até chegar à floresta. O céu estava escuro, parecendo que ia chover. Dimitri tentou ignorar o pensamento e convencer-se de que não ia chover.


A floresta era densa, com uma mata que chegava até a cintura de Dimitri. Tinha um cheiro estranho, mas até agradável, de terra molhada e de alguma flor. Num tronco velho de árvore, estava um sapo pequeno verde com as pernas encolhidas. Dimitri se aproximou para pegá-lo, mas acabou tropeçando num galho e caiu de cara na terra. Levantou-se o mais rápido que pôde, e tirou freneticamente a lama do rosto e dos óculos. Olhou para a árvore de novo, mas não tinha mais sapo algum. Dimitri coçou a cabeça, deu de ombros e seguiu mais adentro da floresta.


Alguma coisa pequena e verde estava nas suas costas, subiu esticando suas longas pernas até seu ombro e ficou ali mesmo, acompanhando o garoto.


Parecia que estava com escassez de sapos na floresta, contrariando o que ele havia visto há alguns dias atrás quando milhares de sapos estavam saindo das ruas e caminhando – melhor dizendo, pulando – até a floresta. O estranho fenômeno foi até matéria de jornal, e chamou a atenção de biólogos que disseram que era devido a grande destruição do seu habitat nos parques da cidade somado ao seu período de reprodução.


Dimitri viu ao longe um amontoado de troncos velhos de madeira cobertos de cogumelos, e pensou que era um ótimo lugar para se encontrar sapos. Com só alguns segundos depois de avistar os troncos, um estrondo no céu cortou o silêncio da floresta. Logo após alguns pingos d’água caíram, e não demorou muito para se transformar em uma chuva tempestuosa. O pequeno garoto resmungou batendo os pés na lama e, contrariado, rumou de volta para casa.


A casa ainda estava sem ninguém, ele tirou os sapatos e sua roupa ensopada e botou para lavar, com exceção do casaco. Foi para o quarto deixando um rastro de pegadas de lama, colocou calças secas e se jogou na cama emburrado por mais uma vez sua caça aos sapos ter fracassado. A chuva batendo na janela e o som relaxante logo puseram o pequeno Dimitri para dormir.


Sonhou com sapos, minhocas, e pássaros coloridos que comiam as minhocas. Os sapos observavam de longe, escondidos numa toca. Os pássaros pareciam procurar os sapos e Dimitri se esforçou para dizer onde eles estavam, pois podia vê-los, mas não conseguia emitir som algum. De repente, percebeu que estava perto dos sapos e eles estavam bem maior do que o normal. Eles observavam os pássaros que rondavam em círculos, e Dimitri tentou se esforçar em gritar de novo, mas sem resultado. Um sapo verde e de olhos vermelhos esbugalhados com fendas pretas no meio se virou e fez um “Shhhh!”, com um dedo comprido no meio da boca. Dimitri ficou muito assustado e começou a correr.


Um barulho de trovão fez o garoto abrir os olhos. O céu estava muito escuro, e por entre os galhos das árvores que batiam na janela, jurou que viu a sombra de uma girafa. Talvez fosse a noite, faz as pessoas imaginarem coisas, já era noite? Não dava para saber ao certo sem olhar o relógio.


Dimitri desceu as escadas que emitiam um rangido incomum. Ela nunca fizera esse ruído antes, nem quando seu pai descia, e ele era bem mais pesado que Dimitri. O relógio da cozinha estava marcando seis horas da tarde, realmente o céu estava muito escuro. “Já era para mamãe ter chegado”, pensou. O som da chuva batendo no vidro, agora, era um tanto desagradável, estava muito forte. Dimitri ficou preocupado com seus pais, e resolveu ligar para eles. “Primeiro”, pensou ele, “vou ligar para o papai... Mas qual é o número mesmo?”. Tentou procurar na gaveta do móvel próximo ao telefone, mas não encontrou nenhum número. “Bem, da mamãe então”, disse tirando o telefone do gancho e já pronto para ligar, “... Também esqueci o número dela...”, murmurou cabisbaixo. O ruído das escadas ainda estava perturbando Dimitri, pois além de ser irritante, não havia ninguém descendo.


Dimitri subiu as escadas e deitou-se na cama novamente entre os cobertores com medo e rezando para a tempestade passar. Quando ouviu o barulho das escadas de novo, Dimitri sabia que não estava só, alguém havia entrado em casa. O que podia fazer? Não tinha como se defender, estava sozinho. “É um ladrão.”, concluiu murmurando baixinho embaixo do lençol. O que ia ser dele agora? Ia morrer, não tinha como escapar. Será que seus pais iam sentir sua falta? Dimitri não sabia o que pensar, muito menos o que fazer.


O barulho se aproximava cada vez mais, parecia que estava batendo madeira com madeira, e não um sapato na madeira da escada. “É um ladrão pirata, ele usa uma perna de pau”, gemeu o garoto, aumentando ainda mais o medo e fazendo-o pensar nas torturas que um ladrão pirata poderia fazer. Uma sombra enorme e disforme surgiu no cobertor, ouviu o som se aproximando para bem perto e por fim uma mão grande puxou o lençol devagar.


Sua cabeça quase batia no teto de tão comprida que era, tinha as mãos peludas e grandes de um urso, sua cabeça parecia de uma girafa, mas não tinha as duas “torrezinhas” na cabeça, ao invés disso tinha cabelos compridos e bagunçados. Vestia uma estranha camisa de manga comprida preta com calça larga também preta. A cara que a criatura fazia era de alívio com muita tranquilidade, e foi desse jeito que disse:


– Ah, pequeno! Finalmente te encontrei!


Dimitri não sabia o que falar, estava boquiaberto com o pescoço torto para trás para conseguir ver o rosto da coisa. Ajeitou os óculos no rosto e gaguejou tentando dizer algo.


– Como? Am... não entendo – disse a coisa que parecia uma girafa, com um voz cavernosa engraçada, esfregando uma mão na outra. – Vocês! – puxou do cabelo os três pássaros pelo rabo que tinha visto mais cedo – Vocês não disseram que ele sabia falar nossa língua? – perguntou num tom baixo e colocando a outra mão em concha.


Dimitri se sentiu um pouco magoado, é claro que sabia falar a língua que a girafa estava falando.


– Olha, eu sei falar sua língua sim. – respondeu Dimitri sério.


– Oh! Mas que maravilha! – disse num sotaque estranho. – Desculpem-me por duvidar de vocês. – cochichou com as mãos em concha mais uma vez aos pássaros, que voaram de volta para sua cabeça.


– Eu não sabia que você falava a minha língua. ­– observou Dimitri.


– Mas claro que sei, garoto. É a minha língua, meus ancestrais que a criaram.


Dimitri estava bem confuso e não fazia ideia do que era aquele animal, isso é, se era algum.


– Pois bem, vamos logo. – disse a girafa, altiva e olhando para o relógio.


– Para onde?


– Ora, caçar os sapos! É a terceira vez que você tenta e não consegue.


– Você também gosta de caçar sapos? – perguntou Dimitri, maravilhado.


– Sim, sim, claro. – respondeu balançando a cabeça freneticamente – Aquelas coisinhas precisam ser eliminadas! – e fez um gesto com o punho fechado esmagando o a palma da mão peluda.


Ficou um silêncio durante quase um minuto, os dois se encarando. O girafa estava com um sorriso que lembrava um “v” no rosto, era bem carismático. Enquanto Dimitri ajeitava novamente os óculos que estavam escorregando.


– Deus! Perdão, garoto – gritou a girafa subitamente. – Me chamo Pífigo. – E fez uma reverência.


– Ah, eu me chamo Dimitri, mas pode me chamar de Dim.




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A chuva ainda caía, e a girafa, melhor dizendo, Pífigo, abriu um grande guarda chuva que estava preso nas costas e conseguia proteger tanto ele quanto o garoto, mesmo com a altura que segurava. A rua estava deserta, não via sequer um carro passar, as pessoas estavam todas dentro de suas casas, ou quase todas: mais à frente, havia a sombra de um ...


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