Fanfic: Melhores Amigos? | Tema: vondy

Dulce já estava sentada na sala vip do aeroporto, esperando a chamada pelo alto-falante. Houve um pequeno atraso, e os demais passageiros caminhavam em círculos, frustrados e ansiosos. Bebês choravam, crianças corriam em volta das malas, mas aquele homem de cabelos castanhos permanecia diante dela, em total silêncio e concentração, lendo o conteúdo de algumas revistas.

Sua face nada tinha de especial, mas Dulce, fascinada por seu ar de mistério, notou a tensão no queixo e a inflexibilidade no olhar. Era, no mínimo, uma pessoa teimosa, concluiu, ao mesmo tempo que sentia um pouco de vergonha por ter medo de avião. Quando já devia ter uma atitude pelo menos indiferente quanto a pousos e decolagens. Seu esforço, enquanto esperava a chamada para o embarque, era para parecer fria e despreocupada.

Dulce desconhecia o que era ficar calma antes de pisar num avião. Mesmo acostumada à atividade frenética de viagens de trabalho que já havia feito quando lhe era designado algum trabalho em outra cidade, Dulce era muito comunicativa a fazendo ser a funcionaria perfeita para translações estrangeiras, exatamente por isso que se encontrava em Relações publicas. Mas trocaria  seu emprego para noiva de aluguel, de certo ela exercia aquele papel bem demais. Ainda mais se Christopher fosse sempre o cliente. Dulce balançou a cabeça por duas vezes e se concentrou em pensar em outras coisas. 

Mas aquele homem, pelo visto tão eficiente quanto aborrecido, parecia calmo como se desconhecesse o significado do medo.

Por alguma razão, os olhos de Dulce se concentraram na atraente boca dele. Ninguém com aqueles lábios poderia dar tédio a alguém, sobretudo quando ria em reação a alguma futilidade naquela revista.

De repente, ele baixou a capa e encontrou o olhar dela fixo nele. Ajeitou-se na cadeira.

— Aconteceu alguma coisa, Maria?

— Não.

— Meus cabelos ficaram azuis? Há fumaça saindo de meus ouvidos?

— Não — disse Dulce, fingindo verificar.

— Então talvez você possa me contar o que existe de tão fascinante em mim.

O tom fulminante acentuou o rubor nas faces de Dulce.

— Não é nada. Não estou interessada em você, Christopher. Estava apenas pensando. — A explicação lhe soou muito defensiva.

— Nesse caso, faça o favor de pensar olhando para outra pessoa. Estou tentando me concentrar nessas besteiras, e é difícil concentrar com esses dois grandes olhos me examinando.

 — Sem dúvida. Não fazia idéia de que ficar aqui sentada à sua frente pudesse te perturbar. Irei para o outro canto e ficarei de costas, certo? Ou minha respiração também o distrai?

Christopher ficou bastante contrariado mas soltou uma gargalhada pela atitute infantil de Dulce.

— Não me importa o que faça ou deixe de fazer. Apenas pare de me encarar.

Furiosa, Dulce ergueu-se para sair de perto dele, mas a bolsa que trazia no ombro estava tão pesada que a alça se soltou e, para seu horror, a bagagem caiu toda aos pés de Christopher, e todo o plano de continuar com seu drama havia ido por água abaixo.

Ela não se importaria se ele tivesse saltado do lugar e chutado a bolsa. O que Dulce esperava era algum tipo de reação, mas ele nem mesmo a olhou. Contemplou a por alguns segundos, sem dizer nada, e então continuou a ler.

E se Christopher pensasse que ela estava tentando chamar sua atenção?