Fanfic: A fada da minha proteção | Tema: Fadas

O caminho de volta para casa depois de um dia
inteiro de muito estudo era o melhor que podia acontecer. O colégio ficava a
alguns quilômetros de casa, mas o presente surpresa do ultimo aniversário
ajudava bastante a diminuir a distância que a estrada tinha; a moto nova de cor
vermelha era tudo o que um rapaz de dezoito anos desejava para sentir um pouco
de liberdade, meu pai não teve dificuldades pra achar o presente que mais me
agradaria, afinal o que me traria mais alegria neste fim de mundo?





A fazenda era grande, o pasto para os animais
se perdia de vista ao longo das montanhas que ficavam ao norte da casa, onde
também havia uma imensa floresta que eu imaginava talvez nunca alguém tivesse
ousado caminhar por entre suas árvores de grandes galhos e arbustos que de tão
vastos não se sabia onde começavam suas raízes nem onde se encontrava a ultima
folha nascida. De lá vinha um pequeno riacho que passava por entre as terras da
fazenda, a depressão causada ali formava uma cachoeira que até os doze anos me
fazia perder o horário do almoço, brincar naquela água gélida era divertido,
hoje acho que perdeu um pouco a graça, sei lá, coisa de gente adulta... Mas a
verdade é que o sol nunca foi meu amigo favorito, por isso brincava muito no período
da manhã e a tarde a TV era a distração do resto do dia, pelo menos até o
entardecer quando eu acompanhava meu pai para recolher os animais que passaram
o dia todo soltos nas terras da fazenda.





O que mantêm meu pai ocupado na maior parte
do tempo são as flores que ele tem em suas terras, ele é um mestre no cultivo
de cada uma das sementes, separadas e organizadas como se fossem jóias
preciosas em estado bruto prestes a serem lapidadas com destreza e habilidade
de um profissional; mesmo com o cabelo grisalho ele ainda parece muito moço,
seu corpo forte e alto lhe dão mais que uma aparência saudável ele parece mesmo
estar esbanjando saúde mesmo dizendo as vezes não se sentir disposto para a
rotina do dia a dia, ao que me parece ele as vezes se sente triste, talvez
saudades de meu avô que lhe ensinou tudo o que ele sabe, ou seja, cuidar da
fazenda e das flores, sua vida sempre fora assim herança de seu bisavô, que ele
jurava passar pra mim um dia, ou talvez não, se dependesse de mim.





Nunca tive muita intimidade com a fazenda, se
eu estava lá tudo bem eu fazia de tudo pra me divertir e passar o tempo, o que
me agradava muito era a companhia do meu pai, aliás esse era o motivo pra eu
passar todas as férias do colégio lá, enquanto minha mãe aguardava ansiosa minha
volta pra casa na cidade onde ela vivia
desde o divórcio com meu pai. Assim eles estavam separados há treze anos,
quando um pouco antes do começo das aulas na cidade um acidente de carro tirar
fatalmente sua vida me fazendo assim viver com meu pai na fazenda, o que eu
jamais imaginara acontecer um dia, pois adorava a vida com minha mãe na cidade
e a vida da fazenda era apenas um negócio temporário, apenas pra matar a
saudades do meu pai, que ficara muito abalado com a perda dela e que sempre
repetia que ela poderia estar viva, e que ela adorava viver..._eu nunca entendi
muito bem o que ele queria dizer, mas o fato é que o acidente foi tão brutal
que jamais alguém resistiria a ele, e o que mais me conforta é saber que ela
estava bem e que estava feliz pelo meu progresso nos estudos que agora foram
transferidos para a cidade mais próxima da fazenda, meu novo lar e sem minha
mãe, eu tinha apenas cinco anos quando ela resolveu deixá-lo, dizia não ter
mais jeito, eles nunca tiveram os mesmos gostos, pelas mesmas coisas, bom pra
falar a verdade ela era como eu, não tinha intimidade com a fazenda, e a
separação foi inevitável. Mesmo sendo ainda muito pequeno consegui perceber que
na cidade, longe de meu pai minha mãe se sentia mais confortável, ela não se
casou novamente nem ele, e pelo que percebi ambos nunca se interessaram pelo
assunto; Minha mãe era dona de uma beleza invejável pela maioria das pessoas que
a conheciam, seus cabelos curtos e muito bem cuidados, de uma cor negra e que nunca
foram pintados era motivo de orgulho pra ela, suas bochechas rosadas e cílios
compridos davam um destaque a sua aparência que como meu pai não aparentava ter
a idade que tinha; sua pele no tom tão claro que fazia um contraste enorme com
seu cabelo e que trazia um gasto enorme em protetores solar; beleza que me foi
tirada cedo demais!





Comecei então a viver na fazenda com meu pai
e Matilda, uma senhora com seus quase setenta anos, cabelos brancos e compridos
que quase nunca estão expostos por culpa dos vários grampos presos por ela para
não atrapalhar no serviço da casa e roupas que eu juro que ela própria
confeccionou muito melhor do que qualquer indústria de roupas especializadas em
senhoras de idade, os contornos das blusas, camisas e xales, as saias rodadas
com detalhes de bordados tão perfeitos que atrai muitas mulheres que a conhecem
e que já se esforçaram muito, mas não conseguiram o mesmo resultado, pena que a
beleza de suas roupas é sutilmente escondidas sobre o avental branco que ela
sempre usa em seus afazeres e que nunca se vê uma só mancha de qualquer descuido
na cozinha, ela é aliada do meu pai na casa da fazenda desde o tempo de meu avô
quem ela conhecera muito bem, pois desde muito jovem veio de longe pra
trabalhar e ali conseguir viver melhor, os ares do campo sempre lhe fizeram
muito bem, e a cidade não lhe fazia nenhuma falta; ela também foi muito amiga
de minha vó, sempre fiel e leal até a sua morte um pouco depois de meu avô, ela
e meu pai costumam dizer que a saudade dele foi quem a deixou muito doente
falecendo assim apenas a alguns meses depois. Matilda então se sentiu um pouco
responsável pelo rapaz órfão da fazenda, que não estava tão sozinho, ela passou
a ele toda fidelidade e lealdade dedicada a sua mãe a quem prometeu cuidar
muito bem até ele se tornar um homem feito na vida, ou pelo menos até minha
chegada! Ela acompanhou meus avós, cuidou bem de meu pai e me protegia como se
eu fosse seu próprio neto, o que eu em certas vezes quase acreditava ser. Minha
mãe sempre batia de frente com Matilda quando o assunto era fazer minhas
vontades, minha mãe contra e ela sempre a meu favor; pra mim ela faz parte da
família, e tenho certeza que meu pai e meus avós também nunca pensaram o
contrário. Adoro os quitutes que ela prepara quando volto cheio de fome da
faculdade, sanduíches, patês, doces, todo tipo de bolo imaginável nesse e em
outro mundo ficam prontos a minha espera na mesa da cozinha, lugar onde na
maioria das vezes nos reunimos os três, eu, meu pai e Matilda, fora dali cada
um seguia suas atividades durante o dia. Ela apoiou a separação de meus pais,
pois crescer com eles separados e amigos era melhor do que eles juntos brigando
o tempo todo, isso foi o que ela disse, mas sempre achei que minha mãe e
Matilda disputavam o posto de dona da casa e isso sim era claro pra mim, apesar
das duas negarem tal fato. Ás vezes ela parece indiferente com a morte da minha
mãe, tenho certeza que os sentimentos de tristeza dela são pelo meu sentimento
de saudade de minha mãe e não pela morte dela propriamente dita. Meu pai diz
que minha mãe sempre encarou Matilda como sogra, e como a fama das sogras não é
muito boa, a rivalidade era de ser esperada, e que na verdade elas sempre
disputavam a atenção dele, claro que cada uma de uma forma diferente, mas que
no final o alvo era sempre o mesmo: ele! Matilda sua babá desde o nascimento e
que agora dedica toda sua atenção a mim, e minha mãe sua paixão avassaladora
que foi embora na mesma velocidade em que chegou, e no fim das contas só lhe
sobraram as sementes, essas sim ele tem certeza que são eternas companheiras.