Fanfic: A fada da minha proteção | Tema: Fadas

Zain não se mostrava arrependido de suas palavras, ele parecia triste e desiludido com o amigo, mas estava bem e logo voltou ao seu estado normal.

_Vai realmente fazer isto¿ _ele perguntou preocupado.

_O que você acha¿ _respondi.

_Vai se arrepender. Eva é uma pessoa maravilhosa, não a perca. Não jogue fora a oportunidade de sua vida de viver com um ser tão fantástico.

_É na vida dela que estou pensando, não na minha.

_Eva um dia vai morrer também!

_Só não precisa ser agora. _eu lutava contra as palavras dele.

_Mas um dia vai acontecer. Escute Joan, ela o ama... eu vejo isto em cada movimento de Eva... sua felicidade tem aumentado depois que você passou a vê-la. Ainda me lembro do dia em que ela te conheceu, o primeiro dia, ela viu em seu olhar que era você, mas ela tinha medo. Como arriscar deixar tudo isto e no final você não aceita-la¿ Seria desastroso, nem todas as fadas ou elfos tiveram a oportunidade que vocês tiveram de se conhecerem antes.

_Minha decisão já esta tomada. Não vou viver pra ver Eva morrer... adeus Zain, foi bom conhecer você! _caminhei de volta pra casa, deixando Zain na entrada da mata em frente sua casa. Aos poucos fui entendendo a situação, era o melhor a fazer, desistir de Eva. Se Suelen conseguiu sobreviver a flecha de Nilo, ela com certeza voltará, e eu serviria de isca pra atrair Eva de volta para o meu mundo, onde ela com certeza não pensaria duas vezes antes de acabar com a vida de Eva. Se eu cortar todo laço que tenho com Eva, Suelen não terá outra saída a não ser desistir dela.

Voltei pra casa debaixo de uma grande chuva do fim da tarde, mas não me preocupei em correr, nem tampouco queria montar em Arredio, segurei suas rédeas e caminhei até a fazenda, onde Matilda me olhava ao longe pela janela da sala. Entrei todo molhado, triste e cansado.

_Na chuva meu menino¿ O que houve¿

_Nada Matilda, só preciso tirar estas roupas molhadas. Vou para o meu quarto. Por favor, não me espere para o jantar. _ela não respondeu, e eu não vi sua reação, mas como Matilda lia meus pensamentos, com certeza ela sabia que o problema era com Eva.

O resto da semana se estendeu e demorou a passar, não sai de casa. Na próxima que seguiu tranquei o colégio, não tinha condições nenhuma de continuar. Mamãe vai ter de esperar algum tempo pra ter um filho formado como ela queria. Peter não se preocupou, passei algum tempo com ele na estufa e depois de alguns meses cheguei até a fechar um negocio grande pra ele na cidade com as flores. Eu estava agora responsável em contatar fornecedores para as flores da fazenda. O trabalho me fez bem, e em alguns momentos até pensei que vivia feliz, só me lembrava que não porque Eva não aparecia. Será que não foi preciso eu desistir dela¿ Talvez ela tenha decidido isto primeiro.

Matilda perguntou certo dia sobre o que realmente aconteceu entre mim e Eva, eu apenas respondi que não deu certo o namoro. Era melhor assim, tudo começou e terminou no mesmo instante.

As vezes eu chorava a noite, e sei que isto fazia Eva desaparecer mais ainda. Mas eu não conseguia me sentir forte o bastante para dispensá-la como disse Nilo. Eu teria de fazer isto, só não sabia como, e tinha que ser logo, ou Suelen voltaria para busca-la.

No meio do ano, com o término do outono, os dias já não eram tão quentes, foi em um destes dias que acordei decidido a encontrar Eva.

A cachoeira seria o melhor lugar, sentei em uma das muitas pedras que beiravam o rio e fiquei ali, aos poucos fui limpando minha mente, era difícil, mas era preciso.

O lugar já não estava tão lindo como de costume, as folhas das árvores queimadas com o clima da estação trazia uma paisagem triste para a floresta. Poucas flores ainda resistiram ao tempo úmido deixando meu lugar favorito da cidade com um aspecto um tanto deprimente.

Eu tentava me concentrar em Eva, e tentava imaginar ela linda e feliz ao meu lado, o que não foi tão difícil e em poucos minutos ela surgiu alí, na minha frente, da forma como eu havia imaginado. Ela estava com um dos seus vários vestidos, que realçavam ainda mais a sua beleza e as curvas de seu corpo, ela segurava a rosa de sempre que trazia pra mim, muitas fitas enfeitavam seu cabelo, descalço ela não parecia se importar com as pedras que estavam na beira do rio, ela adorava a sensação delas em seus pés. Ao me ver abriu um enorme sorriso, e eu fiquei tentado a chorar, mas segurei, tinha de ser firme, ou tudo estaria perdido. Em um abraço apertado ela envolveu minha cintura, e seu rosto se recostou em meu peito procurando carinho, foi com uma dor forte no peito que me soltei de seu abraço e ela me encarou para falar:

_Você não tem estado bem. _seu olhar era triste.

_Não, andei preocupado demais estes dias.

_Me desculpe, não podia ir te ver, prometi a meus pais que esperaria você vir. Mas você demorou tanto. Tenho tantas coisas pra te perguntar. _Eu tinha que fazer e tinha que ser agora.

_Eva, preciso que me ouça. _me sentei novamente, minhas pernas tremiam com a possibilidade de não a ver mais.

_Estou bem Joan, estou segura agora. Eu sei que você se sente culpado pelo o que aconteceu, mas já passou. Estou aqui. _ela se aproximou procurando minhas mãos, eu me desviei de sua aproximação.

_Sei que esta bem, estive com seu irmão.

_Zain¿ Você viu ele¿ Onde¿

_Fui te procurar, na sua casa. Então ele me deu noticias sobre você.

_Se sabia que eu estava bem, porque ainda continuou triste¿ Porque trancou o colégio¿ Joan... o que esta acontecendo¿

_Eva, me escute. Gosto de você, gosto da sua amizade. Você é perfeita em tudo. Mas... eu não quero mais sua proteção! _ela me encarou curiosa.

_Do que você esta falando¿

_Não quero você cuidando de mim, não preciso mais de sua proteção. _mil facas cravavam no meu peito, e era difícil esconder isso mas... eu tinha de se convincente ou ela não iria acreditar.

_Não estou entendendo Joan, o que você esta dizendo¿

_Sinto muito Eva, não podemos nos ver mais. _ela não tinha mais reação nenhuma, seu olhar parecia perdido, senti minha alma sair de mim, era como se eu tivesse levado um tiro no peito tal era minha agonia.

_Você não pode me enganar Joan, sei o que esta querendo. Quer me proteger de seu mundo não é¿ Tem medo de que Suelen volte, pois ela não vai me encontrar, ficarei aqui a sua espera, segura no meu mundo.

_Sim você tem razão. Como eu disse, gosto de você e não quero que nada de mal te aconteça. Mas eu também não quero mais esta situação. Você não entende¿ Não somos iguais. Você é muito diferente de mim. Olhe pra você é uma fada! Há meu Deus... eu ainda nem sei se isto é possível, eu e você juntos, isto não esta certo!

_Muitos seres do meu mundo se apaixonaram por humanos. Isto é incomum, mas possível!

_Não pra mim, eu não a quero mais! _ela não esboçava reação nenhuma, seu rosto ainda muito sério me encarava.

_O que é então¿ Não sou boa o bastante pra você¿

_Não é o bastante pra mim! Não quero me casar com um ser de outra dimensão e que não sei exatamente quem ou o que é! _desta vez eu joguei pesado, mas tinha de ser ou eu acabaria voltando atrás e pedindo perdão pelas coisas horríveis que disse até agora.

_Hum... tudo bem, é exatamente isso que você quer¿

_Isto é tudo o que desejo!

_Não me quer como sua proteção, nem como sua namorada, amiga, companheira... enfim, você esta abrindo mão de meus cuidados¿ Precisa deixar bem claro isso Joan e quero que saiba que não terá volta, e aí será para sempre!

_Não a quero ver Eva, nunca mais! _a morte não bastaria pra arrancar a dor que eu sentia ao dizer isto. Ela jogou a rosa no chão e uma nuvem branca a envolveu em segundos ela não estava mais comigo e tudo havia terminado.

Tristeza, era a única coisa que senti durante os dias que se seguiram. Mesmo esvaziando a mente de pensamentos ruins ela não aparecia mais, e eu podia perceber o seu abandono, eu sentia inevitavelmente. Sua companhia me fazia falta, e já não me restavam motivos pra encarar a rotina do dia a dia com as flores e com Peter. Foi aí que decidi aceitar a viagem que ele havia me oferecido nas férias, ficar um tempo fora talvez amenizasse os problemas.

No dia da minha viagem, me despedi de Matilda e de Peter com carinho. Prometi a eles que voltaria depois de algumas semanas, e que recomeçaria meu trabalho na fazenda. Eu havia me comprometido muito com os negócios das flores do meu pai, e ele se orgulhava disto. Ao menos um fundo feliz em uma história tão triste.

No caminho da cidade encontrei senhor Carlos na entrada de sua fazenda com sua caminhonete, ele também estava de saída e me cumprimentou muito alegre. Contei a ele sobre minha viagem e ele disse que seria bom eu sair da fazendo durante algum tempo. Curioso lhe fiz uma pergunta:

_Senhor Carlos, o que sabe sobre as criaturas que vivem nesta floresta¿

_Bom, acho que este não é o melhor lugar pra falar sobre este assunto. Que tal você entrar e me acompanhar em uma bebida hein¿

_Ok! _agradeci a gentileza e foi assim que conheci a casa dele.

A fazenda do Senhor Carlos era tão grande quanto a de Peter, os objetos decorativos eram muito antigos mas bem conservados em bom estado. Tudo era muito bem organizado, muitas poltronas confortáveis na grande sala, uma TV um pouco antiga, rádio, e uma grande mesa com oito cadeiras completavam o ambiente junto também com alguns quadros pintados com tinta óleo que davam um destaque as paredes brancas. Sob um móvel de madeira maciça ao lado do sofá onde eu estava havia uma porção de molduras de retratos e neles uma jovem com um lindo sorriso enfeitava cada uma das fotos.

_Aqui esta, tome é um chá de maracujá é um ótimo calmante! _ele trazia duas xícaras, me oferecendo uma e ficando com a outra saboreando-a no sofá ao lado.

_Obrigado. A moça das fotos é sua esposa¿

_Sim. Maria. Não havia sorriso mais lindo! _e ele tinha razão a foto um tanto pálida pela ação do tempo não tirava a beleza do sorriso de Maria.

_Não tiveram filhos¿

_Não! Ela não podia. Íamos a muitos médicos especialistas, mas nenhum pode conceder o milagre da maternidade a ela.

_Sinto muito. _ele fitava as fotos extasiado.

_Mas, sobre a sua pergunta Joan. Ainda não mudei meu modo de pensar sobre estas criaturas. Ainda penso que são perigosas.

_Quem o deixou assim¿ Porque você acha que eles são tão maus¿

_Nunca pensei que um dia fosse contar isto a alguém, mas, eu conheci uma destas fadas da floresta Joan. E só o que recebi em troca foi tristeza. _era o meu sentimento também naquele momento.

_Mas o que houve¿

_Eu era um rapaz jovem cheio de vida. Vivia de festas e muitas mulheres. Sempre tive muito dinheiro e ele comprava tudo o que eu desejasse. Viagens, carros, casas, era sempre assim.

Certo dia encontrei uma jovem linda, Doralice, meu coração se apaixonou por sua beleza. Ela era sedutora e audaz, não havia muitas mulheres assim naquela época. Durante algum tempo nos encontrávamos e logo começamos um namoro. Ela era maravilhosa e encantadora. Mas o que eu não podia imaginar é que o meu coração me pregasse uma peça quando encontrei Maria. Senti que minha paixão por Doralice era pequena perto do amor que Maria me transmitia. Quando decidi romper o namoro, Doralice se enfureceu, e sua ira era maior do que eu podia imaginar, ela não queria aceitar o término do namoro, foi aí que realmente conheci quem ela era, ou seja, uma bruxa. Ela tinha os olhos corrompidos pelo ódio e sua fúria penetrava em mim através de sua maldição. Maria nunca soube sobre Doralice, mas eu sempre tive certeza que a gravidez que eu e Maria sempre sonhamos apenas não se realizou por causa desta maldição. E até hoje ela me persegue e me cobra o amor que eu prometi dar a ela, um amor que nunca foi e nunca pertencerá a ela, pois meu coração é de Maria, e ele morreu e esta enterrado junto dela.

_Ela ainda o persegue¿

_Sim, de tempos em tempos ela volta, de alguma forma.

_Não há um jeito de fazê-la desistir¿

_Não, ela escolheu a mim para amar. É minha maldição. A única pessoa que pode acabar com isto é ela mesma. Mas eu jamais me colocarei disposto a ficar com ela, mesmo que eu viva pra sempre jamais farei isto.

_Sinto muito por Maria. Como ela morreu¿

_A gripe, em uma viagem de navio que fizemos quando completamos 30 anos de casados. _seu rosto esboçava tristeza.

_Bom, mais uma vez obrigada pelo chá, devo ir, não quero enfrentar a estrada durante a noite.

_Até a volta Joan, espero lhe ver em breve! _ele apertou minha mão amigavelmente. _Vamos eu o acompanho até a porta.

Deixei o velho senhor Carlos em sua vazia e grande casa no campo, para partir rumo a cidade onde vivi com minha mãe. Ficar algum tempo fora seria bom, eu ainda não havia me acostumado à solidão do meu dia a dia, e vez em quando eu ainda podia sentir o perfume de Eva em minna volta, mas pensar nela não fazia ela aparecer mais, e isto era fato, e eu tinha de encarar a nova realidade. O barulho da moto na estrada era ensurdecedor. Atravessei a cidadezinha sem olhar pra trás, queria esquecer aquilo tudo que passei, tinha de esquecer, era preciso, e necessário para o meu bem e para o bem de Eva. Pela segurança dela, e pela sua vida, fiquei feliz ao me lembrar disto. Ela com certeza estaria segura agora, e viverá feliz no seu mundo assim como deve ser. E eu ficarei aqui, me lembrando dos momentos felizes que passamos, no meu mundo tão vazio e pequeno sem ela.