Fanfic: S e c r e t o s

Eu juro! As cortinas com blackout estavam fechadas e todas as luzes apagadas. Entretanto um feixe de luz começou a se formar no canto superior da parede de frente a minha cama. No inicio era só uma pequena luz vermelha e em seguida foi aumentando, andando pela parede. Conhece aquela sensação de que não vai conseguir chegar à porta a tempo? Era assim que eu estava me sentindo. E piorou tudo quando ouvi um choro de uma criança vindo do corredor.

Queria ter forças para me mover e correr antes que aquela coisa me pegasse, me jogaria da janela se fosse preciso, mas o medo travou meu corpo e só conseguia movimentar o meu peito, que subia e descia com minha respiração acelerada. Tudo isso foi interrompido pelo barulho estridente do refrão de Last Friday Night, toque do meu celular.

Pisquei os olhos algumas vezes até ter certeza que a luz tinha sumido, só então peguei o celular e olhei no visor: Número Desconhecido. Meu coração disparou insanamente e atendi.

— Oi? — disse baixinho sem querer acreditar que era ele. Era como se minha caixa torácica fosse explodir com a pressão que comprimia meu peito.

— Oi! — respondeu a voz aveludada.

— Quem é? — perguntei tentando fazer parecer (sem sucesso) que muitas pessoas me ligavam e, eu não fazia ideia de quem seria desta vez. Mas era ele! Não existiria outra voz como a aquela.

— Qual é o seu nome? — de novo ele falou.

— Não vou dizer! Foi você quem me ligou, então é você quem tem que se apresentar primeiro! — me fiz de durona, como se não estivesse preste a desmanchar por dentro. Era muito emocionante estar recebendo uma ligação, durante a madrugada, de um cara estranho e lindo de morrer que devia ser uns 10 anos mais velho que eu, no mínimo.

— Se você não disser seu nome eu não vou dizer o meu.

— Então tá... — dei de ombros no escuro do quarto; fez silêncio por uns instantes — Você é o cara que pediu meu telefone na festa?

— Sim...

Meu coração perdeu completamente o freio, correndo para um caminho sem volta.

— E por que pediu meu número? — desejei ouvir algo bom, uma coisa que compensasse toda a agitação que estava sentindo.

— Achei mais sensato e menos assustador que invadir seu quarto antes do amanhecer.

— Ok. Só um segundo.

Afastei o telefone, do ouvido, agarrei o travesseiro e abafei um grito estridente que eu realmente precisava dar, para aliviar a pressão que estava dentro do peito.

Voltei ao celular.

— Você pode me explicar exatamente porque invadiria meu quarto antes do amanhecer? — tentei soar normal e tranquila, mas não sei se funcionou.

Ele riu de novo. — Pergunta difícil de responder...

— Só diga o que realmente... Qual era sua intenção? — uma coisa eu poderia afirmar: “coisa boa não era!”.

— Eu preciso falar com você.

— Pensei que já estivéssemos nos falando! — usei a ironia, sentindo outra onda de entusiasmo passando por mim.

— Estou falando sobre conversar pessoalmente... — fez uma pausa — Olhando nos seus olhos.

— Sobre...? — insisti.

— Conversamos amanhã.

— Como? Quando? Onde?

— Tem algum lugar onde podemos nos encontrar?

— Conhece o castelo? — perguntei ignorando completamente a logica que advertia sobre minha mãe me matar se eu fosse mesmo encontrar um estranho.

— Não conheço, mas eu dou um jeito de descobrir onde é.

— Então, se você quiser, pode me encontrar amanhã à tarde lá. É tradição ir visitar esse castelo um dia depois da festa e tem um churrasco...

— Pode me esperar lá! — ele disse.

— Ok, — tentei minimizar a empolgação que senti por estar marcando um “encontro” com aquele homem lindo — Eu te espero na cobertura do castelo, por volta das 3h e meia da tarde. Mas toma cuidado, pois dentro do castelo é um labirinto. É só pedir a um guia que ele te leva lá na cobertura...

— Eu dou um jeito de chegar lá, pode ter certeza! E vê se não me deixa plantado lá te esperando! Você é... — ele puxou o ar para os pulmões e fez uma breve pausa — Não consigo achar a palavra certa.

— Tente! — incentivei. Precisei colocar a mão no lado direito do peito para não me desmanchar naquela cama.

— Perfeita.

— Obrigada, mas não sou. — não havia um único pensamento logico em minha cabeça.

— Sim, você é. Agora que já te ouvi posso dormir. Até amanhã.

Eu não consegui mover os lábios para me despedir.

— Só mais uma coisa. — ele disse antes de desligar — Eu estava esperando por você...

Chamada finalizada.