Fanfic: RBD La Familia: Loucuras em família *Portiñon, Herroni* - Finalizada | Tema: Rebelde (RBD)

Momentos de drama se aproximam...

Começou com perdas de memória simples, como esquecer que deveria ter desligado a panela, que já tinha comido, que havia uma reunião na escola, que tinha que se encontrar com os amigos. Christian disse que deveria ser a idade. Então começaram as mudanças de humor, o desequilíbrio emocional, feliz em um momento e gritando em outro, atacando verbalmente quem quer que tivesse a infelicidade de cruzar seu caminho. Christian disse que ela estava virando uma velha ranzinza.

Dulce estava morrendo de medo de ir ao médico. Sabia que não era algo normal para a idade. 46 anos, ela não devia estar tendo problemas para se lembrar de que acabara de comer.

O médico realizou uma bateria completa de exames, analisou desde os fios do cabelo até os dedos do pé. De dentro para fora, de cima para baixo, da esquerda para a direita. E nenhum dos seus filhos tinha a mínima ideia. Dulce manteve tudo em segredo deles, preferiu contar com o apoio apenas dos amigos e da esposa. Não queria alertá-los caso não fosse nada.

Mas era. Uma doença que ela sempre ouviu falar, mas nunca pensou que teria que enfrentar.

“Bom, doutor, eu poderia dizer que você está certo, mas isso não deveria demorar mais alguns anos para acontecer? Tipo... 20?”

“Casos como o seu são raros, mas acontecem.”

“Então eu ganhei na loteria da morte? Ótimo, tudo que eu precisava.”

“Não é uma sentença de morte.”

“É claro que não. É uma sentença de que vou sofrer por anos até morrer.”

Alzheimer. A maldita doença de Alzheimer.

 “Os sintomas estão aparecendo muito mais cedo do que o normal, mas não é incomum. Pode acontecer. Você deve saber que pode ter muitos anos normais pela frente.”

“Ou posso começar a me esquecer amanhã e viver como uma pessoa nova a cada dia até conseguir o alívio da morte.”

“Existem tratamentos experimentais.”

“Me dê uma solução real e eu vou começar a considerar.”

Mas ela começou a tomar os remédios experimentais na mesma semana. Eles a deixavam enjoada, mas era um mal que ela estava enfrentando. Queria ver o casamento de Sebástian, conhecer a namorada de Logan e ver Matteo entrando para a escola de teatro. Queria ver Helena mentindo para Poncho para dormir na casa do namorado e Héctor lhe dando um ataque cardíaco quando apresentasse o namorado. Queria ver Beth se formando em Direito e seguindo os passos da mãe, queria ver Elliot realizando o sonho de fazer uma grande descoberta histórica e Charllotte lançando seu livro. Queria ver John se tornar o novo garanhão das novelas mexicanas e Samantha ganhar os papéis de mocinha apaixonada. E Soph, a grande e sonhadora Sophie, Deus, como ela queria ver sua filha realizando seu sonho de morar na França, conhecer o amor da sua vida, arranjar o emprego dos sonhos em um museu de arte e criar seus três filhos – já programados – para aprenderem a falar espanhol e francês. Queria ver seus quadros expostos e queria ver um sorriso em seu rosto.

Queria ver tudo isso. Mas, mais do que tudo, queria se lembrar de cada uma dessas coisas.

Gostaria de se lembrar como Hannah virou diretora de um hospital e como Charllotte se inspirou nisso para escrever seu segundo livro. Gostaria de se lembrar como Beth ganhou o antigo cargo de sua mãe nos Estados Unidos dez anos mais jovem que sua mãe na época e como Héctor gostava de encher o saco de sua tia preferida com isso. Queria se lembrar da primeira apresentação de teatro de Matteo e como Elliot declarou isso o maior acontecimento histórico do século. Queria se lembrar de Sophie e Helena chegando juntas do aeroporto depois de seu cruzeiro pelo mundo e queria se lembrar do olhar de pura felicidade de John ao reencontrar sua amada Soph. Gostaria de se lembrar de Joan sendo madrinha do primeiro filho de Sebástian. Gostaria de se lembrar de Samantha dizendo que eles eram a nova geração do que seus pais eram antigamente. Amigos inseparáveis.

Mas não iria se lembrar de nada disso em alguns anos e isso lhe quebrou o coração.

No fim, tudo que viveu, tudo que viu, tudo que aprendeu, nem lembranças seriam. Talvez conseguisse se lembrar. Ou talvez não. Talvez acordasse um dia sem saber quem estava ao seu lado. Ou talvez acordasse aliviada por sua esposa não ter abandonado-a durante a noite.

Xxxxx

“Eu estou com medo.” Dulce confessou baixinho cerca de cinco meses depois quando estavam deitadas na cama. Ela havia esquecido o nome da esposa de Christopher mais cedo naquele dia.

“Eu sei.” Anahi suspirou. “Também estou.”

“Eu não quero me esquecer das coisas, Anahi.” Dulce engoliu um nó súbito em sua garganta e respirou trêmula. “Eu não quero me esquecer das pessoas ou dos lugares.”

“Talvez você não vá.” Era uma esperança baixa e ambas sabiam disso.

“Talvez não agora, mas e depois? O que eu vou fazer depois que não conseguir nem me localizar sozinha?”

“Eu não sei.”

“Eu vou arruinar a sua vida.”

“Não.”

“Eu vou. Você vai ter que ficar cuidando de mim e não...”

“Cale a boca.” Anahi ordenou com firmeza sem deixar espaço para objeções. “Você é minha esposa. Tem sido assim pelos últimos 20 anos. Eu não vou te deixar, não importa o quanto você implore por isso. Você precisa da minha ajuda e eu vou estar feliz em te ajudar.”

“Não pode estar falando sério. Nem vou me lembrar de você.”

“Eu não me importo.” Mas no fundo do seu coração ela sabia que se importava. Não por causa da doença que deixaria Dulce presa em um estado de esquecimento.  Mas se importaria quando sua esposa sem lembrasse seu nome. “Eu vou ficar do seu lado.” Anahi respirou fundo. “Até o seu coração parar de bater e o meu acompanhá-lo.”