Fanfic: This Jet-Black Feeling | Tema: My Chemical Romance
Gerard:
Eu encarava o teto vagamente. Esperava o doutor Miller começar a fazer as perguntas de sempre. Não sei quantas vezes me vi deitado naquele divã me perguntando o que foi que fiz de errado. Fiz tudo que ele pediu, do jeito que me pediu, tínhamos alcançado o objetivo desejado. Não disse ao doutor Miller que o matamos, claro que não, jurei não dizer a ninguém. Disse lhe apenas que tínhamos visto algo perturbador.
– Como ele está? – Ele perguntou depois de pegar sua caneta prateada e sua prancheta.
– Ainda está na mesma. – Suspirei – Ele ainda acredita que o assassino de sua ex-namorada está vindo atrás dele, a paranóia piorou. Ele começou a dizer coisas sem sentido.
– Como o que?
– Ele diz que voaremos pra casa, e me diz pra ter pensamentos felizes. Insiste que tem alguém vindo nos buscar – Balancei a cabeça negativamente, eu sabia que ele tinha enlouquecido.
– Com que freqüência ele diz essas coisas?
– Vem aumentando. Agora chego a perder a conta de quantas vezes por dia... Ele também não para de pular na cama.
– Ele apresenta algum sintoma de depressão? – Eu o encarei pensativo – Quero dizer como insônia, melancolia...
– Não. Na verdade ele está feliz, estranhamente feliz, feliz ate demais. É esse o problema. Ele está sempre feliz não importa o que aconteça.
– Ele trabalha?
– Não. Ele não precisa trabalhar. Nem eu, mas meu trabalho é mais um hobby.
– Entendo. Pode ser isso que o está deixando assim. Talvez ele precise sair mais...
– Não é isso – Eu o interrompi, me sentando no sofá e encarando-o – Eu tentei tirá-lo de dentro daquele maldito apartamento. Deus, como tentei. Mas ele não quer sair de lá, ele acredita que Evan ainda vem atrás dele.
– Esse homem que você mencionou... Era o mesmo do noticiário?
– É eu sei. Ele está morto. Por isso eu estou aqui. Ele precisa de ajuda profissional.
– Seria bom se o senhor o trouxesse aqui – Eu olhei em seus olhos. Ou era surdo ou era tão louco quanto seus pacientes. Ele se calou por um segundo – Ah, é mesmo. Desculpe. Façamos assim então, pegue essa receita e faça-o tomar os remédios. Quero ver o senhor aqui toda semana.
– Que remédios são esses? – Eu perguntei enquanto pegava o papel rabiscado tentando entender a letra dele.
– Antidepressivos.
Eu suspirei, guardei o papel no bolso e me levantei cumprimentando-o antes de deixar o consultório. Cumprimentei a recepcionista na sala de espera, e avisei que precisava marcar outra consulta. Ela sorriu e me passou alguns papéis que precisavam ser assinados. Enquanto eu rabiscava meu nome nas folhas uma mulher entrou com um menino que parecia ser seu filho na sala. O olhar dela no filho demonstrava preocupação e medo, mas acima de tudo, amor. Pensei em como o olhar dela poderia refletir o meu neste momento.
3ª pessoa:
Gerard resolveu ir a pé pra seu apartamento, assim demoraria mais. Um sorriso triste tomou sua face, tinha chegado ao ponto de não querer estar em casa pra ver o estado deplorável em que o outro se encontrava. Seus passos eram lentos e ele tentava não pensar em nada, mas quando ele pois a mão no bolso da calça, ele encontrou a receita que o psicólogo tinha lhe entregado. Suspirou e sorriu mais uma vez, o mesmo sorriso, mas seus olhos estavam carregados de esperança.
Passou em uma farmácia antes de seguir para casa. Entrou no elevador e respirou fundo, teria de ter paciência agora. Girou a chave na fechadura, mas bateu na porta antes de abri-la. O apartamento estava escuro apesar da claridade de fora, as cortinas estavam fechadas e as luzes apagadas, a única fonte de luz visível no apartamento era a da TV no quarto deles. Ele o chamou, mas não obteve resposta. Correu até o quarto encontrando-o sentado na frente da TV enrolado com o lençol da cama, se balançando lentamente pra frente e pra trás.
– Frank? – Ele parou de se balançar e virou-se lentamente.
– Ah! É você! – Correu e abraçou o maior largando o objeto metálico em suas mãos.
– Sim, sou eu. Quem mais seria?
– Você sabe muito bem que ele ainda está atrás de nós – soltou-o e subiu na cama começando a pular – Hahaha, vamos Gee, ria comigo! Ele não virá nos perturbar se souber que estamos felizes. Hahahaha...
Gerard não respondeu, apenas olhou em volta analisando o ambiente. Tudo estava uma bagunça, os travesseiros estavam espalhados pelo quarto, a poltrona estava fora do lugar, a escrivaninha agora estava vazia e os papeis que antes ficavam em cima dela agora estavam espalhados pelo quarto, e a televisão que era a única coisa que iluminava o local mostrava apenas a estática. Ele sacudiu a cabeça negativamente e suspirou antes de andar até o interruptor.
– Não toque nisso! – Frank parou de pular na cama e engatinhou até a ponta.
– Como vou arrumar essa bagunça no escuro?
– Não está escuro. Está perfeito assim. Desse jeito ele não acha a gente.
– Ele está morto, Frank. Ele nunca vai voltar. – Respirou fundo antes de se aproximar do outro e tomá-lo em seus braços – O que aconteceu com você?
– Eu estou tentando mostrar pra você o quanto significa pra mim, depois de todas as coisas que passamos – Ele baixou a cabeça e uma lágrima rolou pelo seu rosto.
– Desculpe. Não quero ferir seus sentimentos.
– Não! Sem pensamentos tristes! – Ele se desvencilhou dos braços do maior e voltou a pular na cama. – Tenha pensamentos felizes, tenha pensamentos felizes! – Repetia gritando cada palavra o mais alto que podia.
Gerard baixou a cabeça e deixou uma lágrima correr livre no seu rosto. Já não sabia o que fazer com o menor. Caminhou até a TV com a intenção d desligá-la, mas parou ao ver um reflexo estranho no lençol que o outro havia deixado no chão. Pegou-o finalmente percebendo o que era. Uma faca. Frank parou de pular desabando na cama e rindo histericamente.
– Frank, o que é isso?
– O que você pena que é? Dãã, uma faca.
– Por que você tava com ela aqui dentro?
– Pro caso de ele aparecer – ele sussurrou a frase como se “ele” estivesse do lado de fora.
– Frank, não quero você andando com essa faca. Você pode machucar alguém. Entendeu?
– Depois de ver o que vimos, ainda podemos reclamar nossa inocência?
– Entendeu?
– Hahahaha! Tenha pensamentos felizes! - Frank voltou a pular na cama, Gerard esfregou os olhos com as pontas dos dedos e suspirou.
– Acho que agora não tem mais jeito né? – Uma lágrima escorreu de seus olhos.
– E estou de volta no dia em que tudo começou, lá lá lá! – Frank cantava alto – E acho que vou explodir meu cérebro! Hahahaha! – Chorava de rir. Gerard subiu na cama e o abraçou – Eu vou terminar nossos dias em um tiroteio – Frank dizia coisas sem sentido e segurava a mão de Gerard.
– Calma Frank, tudo isso vai passar. Não vou deixar te machucarem, eu prometo. Você não esta sozinho nessa.
– É claro que vai Gee, não vê? É só ter pensamentos felizes! Vamos pule comigo. – Ele pegou as mãos de Gerard e voltou a pular na cama gritando – Tenha pensamentos felizes.
– Não sei como consegue ficar aqui dentro trancado.
– Esqueça os amigos que estou fazendo!
– Amigos? Que amigos?
– Eu a arrastei e a levei pra fora e deixei onde ninguém vai achar!
– Quem? Frank, o que você fez?
– Poderíamos ser perfeitos noite passada, como amantes brilhantes quando brigamos, e poderíamos resolver esse assunto.
– Que assunto? O que você fez? E nós nunca brigamos.
– Bem, eu senti que não podia ficar outro dia aqui dentro. Mas acho que prefiro morrer sozinho.
– Do que você está falando Frank? Você esta perdendo o controle, por favor, tente voltar a si. Frank me ouve! – Sua voz começava a falhar, pois ele sentia que estava perto do fim. O amor de sua vida havia enlouquecido – Por favor me ouve!
– Mas alguém nota? Alguém se importa? – Frank correu até a sala e voltou com a arma que usaram para matar o assassino de sua ex-namorada. Lembrou de como estavam eufóricos com a idéia, mas algo saiu errado e Frank tinha enlouquecido.
– Onde achou isso? Frank abaixa essa arma! – Frank agora apontava a arma para Gerard e depois para a própria cabeça, decidindo o que fazer.
– E se eu tivesse a coragem de por isso na sua cabeça! – Gerard começou a soluçar, o medo havia tomado conta de sua mente. Se tomasse aquela arma da mão de Frank, teria que matá-lo, era ele o outro. – Mas o que importa se você já está morto! - Gerard fechou os olhos e pela ultima vez ele fez o que o outro tinha mandado varias e varias vezes, teve pensamentos felizes.
– Eu te amo, Frank, pra sempre! – O tiro ecoou pelo apartamento e Gerard caiu no chão, formando uma poça de sangue no carpete. Frank carregou o seu corpo sem vida e o deitou na cama.
Usou o sangue que escorria de Gerard e escreveu na parede. “Tem um cadáver nesta cama.” E começou a rir, ria sem controle e depois de pular mais um pouco na cama, ele finalmente sentou-se do lado do amor de sua vida.
– Eu vou encontrar seus olhos nessa piscina de sangue. Eu vou encontrar seus olhos, falo sério, pra sempre! – Alisou o rosto de Gerard com a mão suja de sangue e beijou seus lábios, por onde ainda saia mais sangue. Pôs a arma contra a sua têmpora e cantou – E acho que vou explodir meu cérebro contra o teto.
Puxou o gatilho e caiu de frente para o amor de sua vida. Ficariam junto para sempre.
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