Fanfic: O Portal | Tema: Tokio Hotel
Não era tão cedo quando Georg acordou. Espreguiçou e olhou o fogo de novo, logo ficariam sem luz. Um brilho entorpecido iluminava a caverna além do fogo. Georg virou-se para ver de onde vinha aquela luz estranha e quase gritou quando viu a porta da caverna coberta de gelo. Tentou empurrar a parede, mas ela não se movia. Acordou Gustav, mas eles não conseguiram tirar a parede do lugar.
– Achei que tivéssemos como impedir isso! – Gustav gritou com a parede de gelo. Podia ver esboço dos trocos que deveriam ter impedido o acumulo de gelo na porta da caverna.
– Também achei.
– Não pode derreter ela?
– Já tentei, mas não sei como foi que fiz da primeira vez.
– E o que a gente faz agora? Bill e Tom estão lá, presos! – Gustav sentou perto do fogo e apoiou o rosto nas mãos.
– A gente não tá mais livre do que eles, caso você ainda não tenha percebido – Georg sentou a seu lado e cruzou os braços.
– Mas eles estão nas mãos do Stephen! E o Bill pode morrer! Mas a gente não pode fazer nada por que estamos presos aqui! – Lançou as mãos ao ar em frustração e se jogou pra trás.
Georg não respondeu, apenas encarava o que restava da fogueira, imaginando coisas enquanto o outro se torturava com a culpa. Georg chegava a sorrir perdido nos seus pensamentos. Gustav levantou o tronco e observou as sombras do fogo, ainda que fracas, dançarem do rosto do outro. Ele parecia tão calmo.
– No que você está pensando? – Georg piscou e sorriu, mas pareceu ponderar o que ia dizer.
– Estava pensando na primeira vez que vi o Bill – Gustav arqueou uma sobrancelha.
– Como assim? – Gustav sorriu - Não vai me dizer que tava imaginando...?
– Ei! Não tava imaginando nada. – Georg interrompeu, protestando – Só tava lembrando mesmo.
– Hum... Mas, por que tava lembrando disso agora?
– Tava lembrando da história toda na verdade. Desde levar o Tom até a cidadezinha até agora. Muita coisa mudou não foi?
– Foi. Eu me lembro de minhas asas – Gustav assumiu um tom nostálgico – Ainda sinto falta delas.
– Você ainda não me disse por quem você caiu.
– Não acho que você realmente queira saber – Gustav deu de ombros – Sem falar que você não me disse por que foi expulso do inferno.
– Façamos um trato então – Gustav arqueou uma sobrancelha, desconfiado – Eu te conto minha história e você me diz por quem você caiu – Georg estendeu a mão para Gustav. O loiro estava indeciso. Não queria contar por quem tinha caído, mas queria saber a história do outro. A curiosidade ganhou.
– Feito! – Georg sorriu.
– Eu conto primeiro?
– Claro! Você que propôs o trato certo?
– É justo – Respirou fundo e começou – O inferno é até um lugar legal sabe? Tirando o calor é até interessante. Mas, também é cheio de gente cruel e falsa. As pessoas lá se odeiam por motivo nenhum, e eu cheguei a odiar gente que nem conhecia. Mas é assim que você se sente lá. Essa é a maior fraqueza daquele lugar, o ódio consome os demônios – sentiu que estava divagando – Enfim, era nesse ambiente que eu vivia. Mas aí fui mandado numa missão na Terra, e logo de cara eu conheci o amor. A partir daí tudo era diferente. Eu passava dia e noite sonhando com esse sentimento, em segredo, claro. Ninguém podia saber que eu estava pensando nisso. Eu seria expulso! E pra onde eu iria depois disso? Eu não conhecia o meio termo ainda – O fogo apagou deixando apenas o brilho azulado na caverna, mas nenhum deles notou.
“Passei dias inteiros pensando apenas nesse sentimento, e, é claro, nela também. Mas ela não viria para o inferno. E eu não sabia como sair do inferno. Acabou que eu me convenci a esquecer isso tudo. Mas um dia me mandaram em outra missão, eu tinha que convencer alguém a pular de um prédio ou coisa parecida. Quando cheguei no lugar eu a vi de novo, descalça na chuva, os braços abertos, pronta pra se jogar. Não precisei fazer nada, não consegui fazer nada” Georg pausou por um segundo.
– Ela se jogou? – Gustav estava perplexo.
– É. Eu não pude fazer nada. Mas fiquei tão deprimido depois disso que logo perceberam que eu não podia mais ficar – Georg deu um sorriso fraco ao loiro – A culpa não é um sentimento característico do inferno. Então eu fui expulso.
– Eu sinto... – Georg interrompeu.
– Nem vem! Sem essa de ter pena de mim... – Gustav o abraçou de repente, se afastou e deixou uma mão em seu rosto.
– Para com isso. Eu não tenho pena de você – Parou como se percebesse o que estava fazendo e corou – Desculpa, é o costume de consolar todo mundo.
– É eu sei. Anjos! Haha – Georg também tinha o rosto meio avermelhado – Enfim, sua vez!
– Você – Georg passou um tempo parado, tentando raciocinar, mas nada fazia sentido na sua cabeça. O silêncio apitava no ouvido dos dois.
– Eu o que? – Gustav estava vermelho e mordia o lábio inferior.
– Fecha os olhos – Georg ainda não tinha entendido.
– Pra que?
– Só fecha – Georg arqueou uma sobrancelha, mas o fez do mesmo jeito, respirando devagar.
Gustav respirou fundo e se inclinou devagar, raciocinando seus movimentos com cuidado. Encostou seus lábios nos de Georg devagar, esperando ele absorver o que estava acontecendo, o receio de que ele fosse rejeitá-lo. Sentiu a mão do outro acariciar seu rosto, ainda sem mover os lábios, respiravam a essência um do outro. Georg foi abrindo a boca devagar, dando a permissão da qual o outro precisava. Beijaram-se. As línguas tocando uma a outra com cuidado enquanto exploravam a boca um do outro.
Quando se acostumaram com o contato o beijo foi ganhando velocidade e intensidade, mas param em seguida, se afastando um pouco.
– Desculpa – Gustav estava muito vermelho, constrangido por ter beijado o maior sem permissão.
– Você... – Georg fitava o vazio ainda confuso – Eu?
– É. Você.
– Então eu te devo desculpas. Você deveria estar no céu.
– Não diga isso – Gustav o fitou com uma certeza inconfundível no olhar – Eu não estou aqui por sua causa. Anjos não deviam cair por demônios, mas algo em mim é diferente. Assim como você é diferente dos outros demônios.
– Só não sei se devemos.
– A gente descobre isso depois – Georg sorriu e beijou o loiro de novo.
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Tom passou a noite tentando encontra um jeito de sair do calabouço, mas quando a luz do dia chegou ele desistiu. Estava sentado num dos cantos de sua cela quando percebeu um foco de luz, como um holofote, no meio da cela. Parou ali e olhou pra cima, viu as duas estacas douradas com esferas de vidro em cima. Então entendeu tudo. Aquele não era o ponto mais longe da chave. O objetivo de Stephen não era isolar os dois. Ele ia assistir tudo dali. Ele teria que assistir Bill morrer de dentro da sua prisão.
Caiu de joelhos no mesmo lugar onde tinha parado. “Desgraçado!” Gritou. A respiração forte e descontrolada. Estava perdendo toda a sua esperança. Abraçou as pernas, o joelho contra o peito, e ficou ali até ouvir uma voz que não era nem de longe familiar.
– Shhh...! Por que você todos agem como crianças? – Levantou a cabeça assustado tentando achar de onde vinha a voz – Na opinião são todos muito novos – A voz era de alguém despreocupado que se divertia coma situação.
– Quem é você? – Achou uma mulher vestida de branco, sorrindo, em pé no canto da cela.
– Cortando as apresentações, por favor. Não é pra isso que estou aqui.
– Então pra que...?
– Quieto! – Ela interrompeu-o – Se você parar de me interromper nós podemos ser breves tá bom? – Ela falava com Tom como uma professora de 1ª série – É o seguinte, ele não sabe que eu estou aqui, e nem vai saber. Mas eu tenho um poder maior aqui, e eu sinto as coisas a minha volta com muito mais facilidade. Portanto, sei onde os outros dois estão, mas eles estão presos. Vou ver se consigo sair daqui e ajuda-los. Desculpe, estou divagando. Enfim, vocês vão ficar bem.
– Por que devo acreditar em você? – Tom não tinha se convencido de que ela podia realmente ajudar, afinal, nem a conhecia.
– Não deve – Ela sorriu e se virou para deixa-lo – Mas que escolha você tem?
Sumiu. Tom ficou parado no meio da cela completamente confuso. Não sabia se aquilo tinha sido um devaneio seu ou se realmente tinha acontecido. Acabou concluindo que tinha que ser um devaneio. Não tinha como alguém entrar ou sair daquela cela. Deixou sua mente vagar na direção de Bill. Sentia falta da presença dele.
Desde que começou a protegê-lo não saia de perto dele de jeito nenhum. E agora que estava longe, sentia falta dele mais do que queria admitir para si mesmo. Respirou fundo e deixou uma lágrima cair. Acreditaria na palavra da estranha por falta de opção. Agora só restava esperar.
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Mais uma vez o sol se levantava preguiçosamente no céu. Georg acordou primeiro, sentindo uma luz estranha atingir seu rosto como uma lanterna. No meio do brilho fosco e gelado da caverna, um facho de luz mais forte se fazia presente. Ele olhou na direção do foco de luz e encontrou um furo na parede de gelo. Parte dela havia derretido com o cal ...
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