Fanfic: Sant' Anna | Tema: Original
Layla brincava com a sua nova raposa de pelúcia, jogando a pobre coitada contra a janela toda a vez que conseguia pegá-la de novo. O sol iluminava o seu pelo cor pastel, em constraste com o pelo escuro da raposa, cujo interior de algodão saia por um furo na costura feito pelos dentes furiosos da cadela.
Eu me divertia assistindo a cena; Layla saltava dentre os sofás da sala, com as orelhas ao vento e a baba escorrendo pelos cantos da boca escancarada. Seus olhos enormes de cão selvagem davam-lhe um ar imortal, de inocência felina e alegria de vira-lata.
A raposa sofria durante a depredação, ainda que seu focinho e olhos de botão continuassem intactos. Layla gostava de tirar o algodão todo para fora e espalhá-lo pelo corredor, para então se jogar na cama da Erena e começar a se coçar.
Finalmente, quando cansei de observá-la, resolvi pegar meu material e sair de casa. Deixando-a com alguns centímetros de iogurte no potinho, apertei o botão do elevador, pronta para enfrentar os engravatados que jamais se atrasavam.
– Bom dia, Wanda. - Quando as portas se abriram, um médico qualquer do oitavo andar me cumprimentou alegremente, segurando um jaleco no braço direito e uma maleta no esquerdo.
– Bom dia. - Notei que havia me esquecido do nome dele.
– Como vai a escola? - Ele sorriu para mim, provavelmente achando melhor ser cordial com uma garotinha que poderia chutar as bolas dele a hora que achasse adequado.
– A escola está bem.
É claro que estava; A Wanda na escola era outra história...
Quando as portas do elevador se abriram, me lembro de ter tropeçado algumas vezes até chegar a porta da frente, depois de dar um "oi" sonolento ao porteiro e acenar para a faxineira.
O céu de outono maduro mostrava vênus no alto, como uma estrela que nunca piscava solitária pela manhã. E enquanto o sol não saísse das nuvens, ela continuaria lá no céu pálido, esperando que os raios cobrissem a Terra.
A padaria já estava aberta e cheia de clientes. Os portenhos atendiam com pressa e ofereciam os melhores pães, cobertos com todo o tipo de especiarias, das quais saíam os melhores cheiros da manhã.
Eu queria entrar lá, comprar um expresso bem forte e comer um pão doce recheado de marzipã. Porém, a fortaleza se erguia na esquina, como se clamasse pelo meu nome aos sussurros.
Ela diria algo como: "Venha, Wanda. Hoje vai ser diferente."
Eu sabia que seria diferente de qualquer outro dia de aula que nós já havíamos tido.
Fizemos planos, sabe? Planejamos tudo para que nesse dia descobríssemos a verdade sobre Kamilla. Sobre como ela podia ter morrido e voltado no mesmo dia, na mesma hora, no mesmo colégio.
Nós tínhamos alguns dados que simplesmente não juntavam...
Fato um: houve um enforcamento.
Nós tínhamos certeza de que Kamilla foi morta e enforcada. Morta, porque ela estava mais pálida do que a minha mãe no dia que meu irmão nasceu. Enforcada, porque ela estava pendurada pela cabeça em cima da mesa no laboratório 03.
Fato dois: houve uma ressurreição.
Vimos uma Miss Simpatia viva e muito falante andando em torno da mesa do Márssion, em plena coordenação, menos de uma hora depois de termos presenciado a cena do crime.
Fato três: havia um garoto.
Ele corria da gente na manhã do assassinato. E, ainda que sejamos um pouco assustadoras, o modo como ele corria de nós era um tanto suspeito. De maneira que ele foi acrescentado na nossa lista de fatos.
Fora da lista de fatos, nós sabíamos que a fisionomia do garoto que correu de nós era a mesma do garoto que Effie avistou nas escadas ao meu lado.
Bom, e você deve estar se perguntando o que fizemos com o "Garoto do Quarto Andar". O pedaço de mal caminho que encontramos no armário de vassouras, todo ensopado e perguntando "você me vê?".
Bom.
Não fizemos nada quanto a ele.
Acabamos concluindo que ele não tinha nada a ver com a morte da coordenadora, e não passava de uma distração para garotas inocentes como nós que querem apenas o bem de todos.
Nossa manhã se resumiria em apenas um plano:
Perseguir Kamilla.
Ela havia nos "incitado" a não voltar ao quarto andar, e eu tinha certeza de que havia algo muito suspeito ali.
Então decidimos nos separar.
Metade quarto andar.
Metade Kamilla.
Ninguém assistiria aulas naquele dia, certo? Assistir aulas é ético demais para pessoas como nós, que precisam ficar correndo atrás de coordenadoras mortas e garotos fujões.
Eu pensara bastante no que Oliver havia dito no dia anterior, sobre nossa coordenadora pedagógica ser um demônio. Isso era inaceitável na minha concepção, é claro, mas admito que tomou bastante do meu tempo além de dominar meus pesadelos.
Ainda me lembro dos seus olhos castanhos aumentados pela lente, me olhando enquanto dizia com toda a seriedade do mundo que sabia a verdade.
Mesmo depois disso.
Mesmo depois de tudo o que vimos...
A verdade ainda era inaceitável para mim.
– Dábliu?
Ouvi uma ruiva me chamando da esquina, correndo contra o minuano crescente e carregando sua bolsa rosa da tinker bell. Effie parecia a mesma de sempre em seus jeans "divinos" com brilhos e a blusa escrito "guess" com lantejoulas.
– Hey, Effie. - Sorri para ela, erguendo minha bolsa do Estranho Mundo de Jack e pegando o mapa que fizemos pela internet na noite anterior.
– Está com o mapa? - A ruiva perguntou, parando ao meu lado sem arfar.
Levantei o rolo de papel em minha mão para que ela visse, e já fui pegando o cartão do colégio para quando tivéssemos que passar pelas catracas.
– Uou. É tipo o mapa do Senhor dos Anéis? - Effie sorriu.
Fiz cara feia para ela, guardando meu papel em forma de pergaminho e ignorando qualquer olhar instigante que ela lançasse para ele.
Sim, nós fizemos um mapa.
É claro que o Sanatório Aracnídio não é o maior colégio do mundo, e nem o mais fácil de se perder. Mas, mesmo assim, Lola mandou que fizéssemos um mapa para que nenhum dos movimentos desse errado.
– Iza me ligou. - Falei para Effie, guardando o pergaminho na bolsa. - Ela falou contigo?
– O que você acha? - A garota tirou o cartão do bolso cheio de adesivos, e subiu as escadas ao meu lado. - Ninguém sabe da onde ela tira tantos créditos.
– Eu sempre ligo a cobrar para ela. - Dei de ombros, passando o cartão em uma das catracas.
Effie sorriu enquanto seguíamos pelo saguão na direção do corredor da coordenação, onde passamos a caminhar lentamente num ritual amaldiçoado.
– Eu estava pensando... - A ruiva começou.
– Fudeu.
– ...Que talvez pudesse não ser a mesma pessoa. - Effie coçou a cabeça.
– Tá querendo dizer que pode não ter sido a Kamilla? - Ergui as sobrancelhas para ela.
– Sei lá. - Ela deu de ombros. - A criatura tava pálida demais.
Eu concordei em silêncio, divagando sobre o que Oliver havia me dito no dia anterior, e em como seria absurdo se essa história de demônios existisse.
Antes que pudesse me aprofundar no pensamento, passamos pelo aquário da coordenação onde Kamilla assinava papéis na sala dela, com um carimbo na mão e uma caneta na outra. Ela olhava séria para a mesa, e não se desconcentrou dos papéis por um segundo.
– Olhando assim - Sussurrei para Effie. -, ela nem parece tão assustadora.
– Se pensarmos bem, ela não é. - A ruiva diminuiu o passo. - Só é misteriosa.
– Acho que a palavra certa é "sobrenatural". Ninguém morre e volta do nada...
– Talvez haja uma explicação lógica para isso. - Effie encarou o vidro.
É, talvez. Mas a teoria de "sobrenatural" parecia apetitosa demais para mim.
– Vamos.
Subimos as escadas, dois degraus a cada passo, uma pensando no movimento da outra. Sabíamos mais ou menos como seria a divisão, e quais seriam os passos a serem tomados pelo perímetro do colégio.
– Deus, isso é loucura. - Sussurrei para mim mesma.
Quando chegamos na sala, desejei que jamais tivéssemos entrado. Me sentia na pele de um porco indo para o abate, enquanto todos conversavam alegremente sobre as notas e as festas do fim de semana.
Por outro lado, a cada passo, a cada suspiro eu me enchia de expectativa. Como um balão que vai sendo soprado aos poucos, e uma hora irá estourar de repente.
A curiosidade era maior que o medo, o medo maior que a culpa, a culpa maior que a razão.
– `Dia. - Lola nos desejou, enquanto saltava da mesa onde estava sentada e nos avaliava de cima a baixo. - Como estão?
– Saudáveis como um boi. - Effie respondeu.
– Assim eu espero. - Lola sorriu.
– ...Eu nem tanto. - Me dirigi às duas.
Percebi que o peso em nossas bolsas em cima da mesa parecia menor do que nos outros dias, como se todos tivessem se preparado com afinco para aquela manhã, empacotando apenas o necessário para a nossa audaciosa busca.
Me perguntei o quão preparados estávamos, se iríamos conseguir arrancar algo de alguém, ou descobrir o que quer que fosse.
– Mapa, Dábliu? - Lola perguntou, caminhando até minha mesa.
Tirei o pergaminho da minha bolsa rapidamente, onde eu sabia ter escrito detalhes importantes sobre o quarto andar, dentre as salas e armários, os manuscritos persuadiam nos lugares suspeitos onde poderíamos encontrar pistas.
O professor ainda não havia chegado, então nos sentamos nas mesas, uma de frente para a outra, nos encarando nervosamente.
Iza parecia estar em um estado de nervos e excitação; seus longos cabelos loiros pendiam em uma trança simples, e seus olhos castanhos reluziam à luz tênue da sala de aula, à espreita de carne fresca.
Ela trazia uma câmera profissional, com a qual pretendíamos filmar todo o percurso e depois ter provas do que quer que escontrássemos. Além de vários colares estranhos de proteção, que ela acreditou que poderiam nos trazer algum benefício.
– Eu estou pronta. - Ela nos encarou. - Como vai funcionar?
Lola estalava os dedos fervorosamente, fazendo barulhos irritantes e aleatórios, enquanto balançava os pés pendurados na mesa.
– Vamos nos dividir, certo? - Ela falou. Nós confirmamos. - Três para baixo, três para cima.
– Três? - Effie perguntou, fazendo as contas rapidamente. - Mas nós somos apenas quatro!
– Ah. - Lola murmurou. - Esqueci de dizer...
– Esqueceu de dizer o quê? - Iza perguntou nervosa.
– Teremos ajuda de fora. - Lola tentou sorrir para nós, um tanto compreensiva quanto a nossa reação.
– Ajuda? - Pisquei rapidamente.
– É. - A morena continuou murmurando. - Ajuda.
Nos encaramos por alguns segundos, todas tentando decifrar a palavra "ajuda" da maneira mais compreensiva possível. Até que a porta da sala de aula se abriu com uma força sobre humana, e Lucas entrou por ela, carregando duas pistolas de água carregadas.
– What`s up, girls?
Se não tivesse uma parede atrás de mim, eu teria caído para trás.
Effie encarou a porta, olhando de Lucas para Lola e de Lola para Lucas, provavelmente calculando qual dos dois ela devia matar primeiro com a sua bazuca pessoal.
Iza sorria olhando para as arminhas d`água carregadas nas mãos do garoto, tentando não cair na gargalhada com sua entrada triunfal.
– .Humpf. - Effie cruzou os braços olhando feio para Lola. - Não vamos botar ninguém de fora nisso.
– Achei que talvez precisássemos de ajuda. - A morena deu de ombros.
– Eu acho que ela está certa. - Iza saltou da mesa, se posicionando ao lado de Lucas. - Precisamos de um homem nessa escolta.
– Há! - Eu ri dela, encarando as arminhas de água. - Que homem, hein?
– Isso é útil, ok? - Lucas sorriu, cruzando os braços. - Podemos acertar a Kamilla com isso...
– Afogar o olho dela é uma excelente opção. - Effie sorriu, já aceitando a ideia.
– Com certeza. - Concordei avidamente. - Mas quem seria a sexta pessoa?
Olhei para Lola, desejando por tudo que ela tivesse escolhido alguém com mentalidade suficiente para encarar as situações com as quais estávamos lidando.
– Lola? - Effie forçou a barra, encarando a morena avidamente.
– Bem. - Lola torceu os dedos. - Eu espero que vocês não me matem...
– Puta merda. - Effie revirou os olhos.
– Lola. - Comprimi os lábios devagar. - Quem você escolheu?
Iza bateu com a palma na testa assim que Saulette entrou em cena. E foi nesse momento que eu quis estrangular a Lola, por todas as merdas que ela estava nos trazendo nos primeiros minutos da manhã.
– LOLA! - Effie gritou, descendo da mesa e parando na frente da garota. - O que você estava pensando?
– Ele se voluntariou!
Sim. Ela disse ele.
E aqui vamos nós, para parte em que a Wanda se justifica dizendo que temos umamigo que é tão infantilmente gay e insuportável que merecia o codinome de Saulette, que deveria ser o nome dele de verdade mesmo.
Então eu peço por favor, que quando verem o nome "Saulette" no monitor de vocês, imaginem um cara não muito alto, de olhos azuis e cabelo estranho. Feito?
Agora vocês respondem: nós iremos tentar, Wanda.
Obrigada.
– E daí que ele se voluntariou? - Gritei para Lola, empurrando Saulette com a pouca força que eu tinha. - Ele vai sair correndo assim que dermos de cara com a Kamilla!
– É isso aí! - Effie me apoiou, fazendo Saulette cruzar os braços. - Não levamos ele.
– Precisamos deles! - Lola falou.
– Levamos o Lucas. Deixamos Saulette. - Gritei para ela.
– Precisamos de seis. - Iza falou, nos afastando e pegando Saulette a força. - Levaremos os dois.
– Não! - Effie gritou.
– Sim! - Lola e Iza gritaram.
– Vocês não podem fazer isso sozinhas. - Lucas bufou.
Ele tinha razão, eu acreditava que não podíamos, mas levar Saulette era a gota d`água.
– Lucas vai com a gente. - Botei um ponto final na conversa.
– Como ficarão os grupos? - Iza perguntou.
Nos entreolhamos rapidamente, calculando quais seriam as melhores opções e quem se assustaria menos do que quem.
– Faremos dois grupos. - Lola revisou, tentando não encarar o olhar feio de Effie. - Um para Kamilla e outro para o loiro.
– Certo. - Iza concordou.
– Todos sabem que é obrigatório que eu esteja no grupo "loiro". - Effie assumiu posição, ainda olhando feio na direção de Saulette. - Tenho procurado por ele feito uma doida!
– Ok. - Lola acenou. - Effie grupo A.
– Eu vou com ela. - Lucas falou, guardando seu iPod na mochila. - Quero conhecer o quarto andar e ficar bem longe da Miss Simpatia.
Iza revirou os olhos.
– Que seja. - Lola falou.
– Iza vem com a gente. - A ruiva fez um aceno para a loira. - Ela pode vomitar o estômago sem querer quando a Kamilla aparecer.
– Pois é. - Iza fez uma cara de desgosto.
– Deus, tanto faz. - Revirei os olhos, tentando me conter para não completar a frase com um "todos vamos morrer, mesmo", e ter um pensamento possitivo sobre nossas investigações da manhã.
– Sobram Dábliu, Saulette e eu. - Lola confirmou, comprimindo os lábios e apertando os olhos em negação. - Não acredito nisso.
– Tampouco eu. - Suspirei.
– Nos fudémo. - Saulette se manifestou pela primeira vez na conversa, com aquela voz irritante dele.
– Cala a boca. - Lola mandou. Estava irritada demais.
– Lucas, pelo amor de Deus! - Effie gritava a plenos pulmões no corredor. - Nós não iremos levar as arminhas!
– Por quê? - Lucas choramingou ao lado dela. - Elas são tão legais!
Caminhávamos pelo corredor no intervalo entre o primeiro e o segundo período, num acordo que fizemos de interagir com o plano a partir do segundo.
Logo iríamos nos separar, e eu seguiria com Lola e Saulette para a coordenação, onde começaríamos a perseguir Kamilla atrás de pistas que entreguem a vida/morte dela.
Lucas, Effie e Iza iriam subir para o quarto andar, onde procurariam por mais pistas que entregassem o enforcamento ou o garoto que vimos na manhã do crime.
– Ótimo. Vamos checar os ítens. - Lola parecia nervosa e objetiva hoje, como se estivesse ansiosa para resolver o mistério logo, como aconteciam nos livros de Sherlock Holmes.
– Arminhas de água. - Lucas insistiu.
– Ok. Levaremos essas drogas. - Effie largou de mão, abrindo a bolsa e olhando os ítens que tinha. - Temos uma faca.
– Sério? - Iza levantou as sobrancelhas.
– O quê? - Effie encarou-a. - Eu não tenho um rifle em casa, você tem?
– Não. - Iza negou. - Mas uma frigideira seria mais útil que uma faca...
– Iza - Saulette murmurou. -, me diz que você não trouxe uma frigideira.
Eu congelei no corredor, enquanto a loira abria a bolsa e tirava uma enorme frigideira lá de dentro, daquelas que você frita uma enorme omelete.
– TCHARAM! - Iza gritou feliz. - Eu trouxe uma frigideira.
– Há! - Lucas gritou. - Se ela trouxe uma frigideira, eu posso ficar com as arminhas.
Dava para perceber que a situação estava fugindo do controle, e talvez fosse tarde demais quando finalmente tivéssemos uma ideia útil. Todos estavam ansiosos para o que estávamos prestes a descobrir, e eu me perguntava cada vez mais se a teoria de Oliver seria certa.
De qualquer forma, tínhamos facas, frigideiras, armas de água, fita adesiva, cola, amarras de couro (por favor, não pergunte), algemas de brinquedo, balas de morango, baratas de borracha, tesouras e estacas longas de madeira.
Parecia que estávamos indo para uma sessão de sadomasoquismo mais do que qualquer outra coisa, por isso não hesitei em pegar minha lanter e meu rolo de fita adesiva, caso eu precisasse cegar alguém ou colar a boca do Saulette em uma situação de emergência.
– Se alguém morrer hoje - Effie, como sempre, amedrontando todos. -, eu só quero que saibam que eu amo vocês.
Nós concordamos silenciosamente, levando o presságio a tona. Estávamos em posição de sexteto, na frente da escada que levaria uma parte de nós acima, e outra parte abaixo.
– Ora, por favor. - Murmurei na direção deles, engolindo em seco sabendo que logo estaria na frente da coordenação. - Que os melhores fiquem vivos.
Então nós paramos, certo?
Nós paramos agora para manter a sanidade no lugar, pegar os pedaços que juntamos e fazer uma feijoada. Ninguém é de ferro, não é? Ainda que essa fortaleza na qual vivemos nos leve cada dia mais a fundo.
Eu só quero ver o que vai acontecer quando chegarmos lá embaixo, e não tiver mais teto para subir.
Aonde estávamos? Ah, sim.
Na boca do inferno.
– Estamos prontos? - Lola se virou, verificando Lucas com suas armas e Saulette com sua imbecilidade.
Effie acenou fervorosamente, segurando sua faca por baixo da blusa, na esperança de que o Tio do Corredor não desconfiasse de nada. Enquanto Iza tremia nas bases segurando sua frigideira, pronta para acertar aquela arma em alguém.
Foi quando eu comecei uma atualização do windows na minha mente, refazendo todas as etapas e verificando as alternativas. Pensei no que poderia acontecer tanto quanto no que já havia acontecido, juntando as partes para ter certeza de que não estávamos em um beco sem saída.
– Cavaleiros, a postos! - Sussurrei, um pouco empolgada demais com a ideia de matar aula para perseguir a coordenadora.
Então nós descemos, feito malucos, temendo o que quer que houvesse na base da escada que poderia nos assustar; tomar consciência não era opcional naquele momento, por isso acho que Lola estava tentando por tudo não pensar na aula de português que estávamos abandonando lá em cima.
Mas foi quando descemos o primeiro lance que eu percebi que queria voltar para sala, com o rabo entre as pernas e o teor do medo acima dos olhos, onde ninguém pudesse alcançar.
Saulette estava ao meu lado, sua camisa xadrez vermelha contrastava com o escuro das escadas pelas quais descíamos (cagados, é claro). Olhando por fora, nenhum de nós parecia estar pronto para o que quer que Kamilla fosse nos oferecer. Miss Simpatia estava em nossa mira, como aquele maldito loiro que encontramos nas escadas com uma maleta e o maldito sorriso sarcástico nos lábios, como um adesivo.
Quando chegamos à base da escada, Lola parecia estar a beira de um colapso nervoso, digno de uma ruivisse que não estava presente.
Acalentei o passo, dando um tapinha tranquilizador nos ombros da morena e empurrando Saulette com toda a força para frente.
Ele grunhiu de dor, prometendo silenciosamente um bom beliscão nas costelas mais tarde.
– E agora? - Lola perguntou, mordendo o lábio inferior e encolhendo os braços.
Só para atualizar, estávamos no primeiro andar do Sanatório Aracnídeo, onde havia um bar, o corredor do terceiro ano, a sala dos professores e a coordenação.
Em outros anos, vez em quando eu parava no meio do saguão pensando qual das habitações ganharia o prêmio de mais grotesca, até chegar a conclusão de que seria impossível raciocinar, já que cada quadrante tinha o seu momento.
– A gente começa pela sala dela, quem sabe... - Saulette optou, dando de ombros e empurrando Lola.
– Há! Com qual desculpa, palhaço? - Dei um cotovelaço nele.
– Vamos só espiar.
Seguimos pelo saguão do bar, sentindo o cheiro dos salgados e sorrindo na direção dos doces, esperançosamente. O tio nos encarava suspeito, deixando claro que não seria seguro estar na sala da Kamilla numa hora dessas.
No Sant`Anna, as expressões falavam pelas pessoas mais do que o normal; as sombras no olhar entregavam seus temores mais profundos, como um espelho multicor cuja face mostrava o contrário do mundo.
Quando chegamos ao aquário da coordenação, senti o solavanco agudo no estômago que ocorria quando Dábliu estava prestes a ter um ataque de pânico, sendo convincente naquela cena do crime, onde nenhum de nós sabia o que estava fazendo.
– A sala dela está vazia. - Lola falou.
E realmente estava.
Meus olhos seguiram a escuridão transparente através do vidro da sala, cujo nome na porta informava que pertencia à Kamilla Fabis, com letras adesivas garrafais. A Miss Simpatia Coordenadora Pedagógica, da qual nunca realmente gostamos, parecia estar um passo a frente a todo momento.
A cadeira jazia intacta lá dentro, parecendo que Kamilla nunca estivera ali nessa manhã, carimbando seus papéis não-importantes e nos olhando com a expressão certeira de que havia merda embaixo do seu nariz, que franzia a cada vez que ela nos encontrava.
– Por favor. - Implorei à eles, balançando o ombro do Saulette e cutucando Lola. - Por favor, vamos embora.
– Não. - Lola engoliu em seco. - Vamos descobrir.
Foi um ato espontâneo cometido por ela, guiando-a até a porta do coordenador Márssio, que naquele momento parecia estar demarcando autorizações aleatórias em sua mesa de mogno, onde haviam diversas fotos de modelos infantis que trabalhavam para o colégio.
– Pois não? - Márssio ergueu sua cabeça castanha, nos encarando por trás do vidro antes de se voltar para Lola com seu sorriso amarelo.
– Olá. - Ela disse de maneira fraca. - O senhor está ocupado?
Eu realmente não acreditava que ela estava fazendo aquilo, até ouvir Saulette xingando Lola ao meu lado, comprimindo seus olhos azuis e fazendo gestos estranhos com as mãos, tentando indicar que a morena iria morrer lá dentro.
– Diga, Lola. - Márssio sorriu para ela com afeição.
Lola era uma das estudantes mais inteligentes do colégio, que marcava pontos com perfeição em seu histórico escolar com a intenção de passar no vestibular para medicina.
– Eu g-gostaria de s-saber onde est-t-tá a coordenadora Fabis. - A morena gaguejou, retorcendo as mãos e encolhendo os ombros.
Às vezes ela aparentava ter uma espécie de falta de autoestima.
– Ah, a senhorita Kamilla. - Márssio sorriu para Lola.
Eu franzi os lábios e estreitei os olhos, encarando Saulette por debaixo dos cílios e me perguntando se os dois coordenadores tinham um caso.
– Sim, senhor. - Lola confirmou.
– Ela foi para uma conferência no prédio novo. - Márssio falou, pouco sonhador demais para o meu gosto, pousando a caneta na mesa e virando seus olhos azuis-água-suja para o teto.
– Oh, obrigada. - A morena saiu de lá o mais rápido possível, contornando a estante e abrindo a porta de vidro com pressa.
– Prédio novo? - Perguntei à ela, erguendo as sobrancelhas e botando as mãos nos bolsos.
– Vamos. - Lola falou, nos guiando corredor adentro.
Eu nunca pensei de verdade em perseguir alguém suspeito.
Quer dizer...
Quando eu tinha nove anos, meu pai e eu brincávamos de adivinhar a profissão das pessoas que passavam pela rua; dedilhando pelos executivos e funcionários públicos, imaginando qual seria a renda mensal deles.
Ao longo do dia, eu sempre encontrava uma ou outra pessoa cuja profissão eu não conseguia adivinhar. Como um enigma, que papai muitas vezes conseguia resolver, vendo chaveiros de bolso ou marcas de sapato.
Mas às vezes, quando nem mesmo o papai era capaz de adivinhar, eu ficava me coçando muitas vezes, na ânsia de correr atrás do maldito sujeito e fazê-lo falar qual era sua obrigação no mundo.
Percebi que me sentia exatamente assim agora: correndo atrás de um enigma.
Talvez Effie estivesse certa e Kamilla realmente fosse uma mulher misteriosa que escondia segredos dentro do colégio, os quais não eram divulgados nem mesmo entre os funcionários. Ou talvez ela fosse apenas uma coordenadora pedagógica simpática demais, e nós fôssemos adolescentes com problemas psicológicos, que ficam imaginando assassinatos sangrentos em salas escuras e assustadoras do Sanatório Aracnídeo.
– Ali... - Saulette apontou na direção oposta do corredor externo, onde havia um bebedouro e uma mulher, vestida socialmente, caminhando mais a frente.
– É ela. - Lola confirmou.
Naquele dia Lola usava uma daquelas suas saias de cintura alta, com uma meia-calça por baixo e all stars cinzas de oncinha. Seus óculos reluziam limpos em seus olhos negros e enormes, emoldurados pelo seu cabelo ébano solto sobre os ombros.
– Lola, não! - Apressei o passo para alcançá-la, contando que cada passo dado pela morena equivalia à três passos meus.
– Precisamos descobrir quem ela é. - Lola olhava com obstinação para Kamilla.
– Acho que deveríamos correr. - falou o Saulette cagão.
Não corremos, não apressamos o passo, apenas continuamos atrás da coordenadora que deveria estar morta no quarto andar, com uma facada no peito e uma corda na jugular.
– Por favor, Lola. - Implorei para ela que voltássemos, que não nos metêssemos onde quer que aquela mulher estivesse. Nunca fui uma pessoa julgada como aventureira, e admito que nunca quis me tornar.
– Corra, Dábliu. - Lola apressou o passo até correr. - Temos que alcançá-la.
Então corremos. Corremos feito doidos em uma daquelas corridas de guerra, onde os soldados carregam machados de espinho e escudos de madeira lixada. Parecíamos estar apostando para ver quem alcançaria Kamilla primeiro.
Me senti ao lado do meu pai novamente, como a Wanda de cinco anos no centro da cidade, correndo atrás dos executivos e comerciantes, adivinhando aos berros sua função econô continuava mais a frente, seu rebolado era exagerado e estranho aos meus olhos, chamando atenção das pessoas em volta e tornando-as instigadoras.
– É uma bela bunda. - Saulette admirou, quase babando enquanto corria.
– Ah, por favor! - Lola revirou os olhos.
Hey, coração palpitande da Wanda, `tá tudo bem aí embaixo?
Eu sei que o senhor nunca foi lá muito de esportes, mas poderia dar uma forcinha agora para a dábliu, só até ela pegar a coordenadora piranha com a boca na botija.
– Ela está entrando no prédio. - Observei Kamilla ao longe, entrando no prédio branco brilhante recém terminado.
– Entremos. - Lola proclamou.
Corremos pela passarela, também chamada de "ponte por cima da rua", na qual havia diversos carros buzinando para um motorista infeliz que parecia não estar avançando o sinal.
O tapete era azul sob nossos pés, afundando levemente a cada impulso dado. As portas se abriram automaticamente para nós, como se dissessem: "aqui é o inferno, tire um bom proveito." Sem estratégias ou más intenções.
– Ela está descendo! - Lola gritou. Agora sim parecíamos estar correndo para uma guerra, obedecendo ordens do nosso capitão Lola.
Kamilla estava sumindo do nosso campo de vista, descendo as escadas na direção do ginásio, com aqueles seus saltos escandalosos batendo contra o granito.
– Puta! - xinguei alto, fazendo-a se virar de repente na nossa direção, sem realmente enxergar nós três escondidos atrás da planta.
– Vamos! - Saulette me puxou.
Corremos na direção das escadas assim que Kamilla sumiu de vista, descendo os degraus três por vez, como macacos pulando de galho em galho na árvore do inferno.
– Escadas de incêndio! - Lola gritou, mais alto dessa vez.
– Escadas de incêndio? - Parei no meio da área de convivência, encarando a morena e puxando a camisa de Saulette para pará-lo. - Por que ela iria pela escada de incêndio?
– Exatamente! - Lola sorriu na nossa direção. - Provavelmente ela vai se matar...
Entramos dentro do ambiente escuro que eram as escadas, com cheiro de umidade e duto de ventilação, do tipo que sentimos em estacionamentos de shoppings e supermercados.
Não havia luz, e isso me causou pânico mais uma vez, como uma sensação ruim de estar voltando para a cena de enforcamento onde o cadáver sangrava pálido acima de nossas cabeças.
– Wanda? - Lola choramingou meu nome.
– Estou aqui, Lô. - Sorri conciliadoramente para ela, ainda que soubesse que ela não podia enxergar.
– Cadê as vadias? - Saulette parecia estar à alguns metros de nós.
Eu ri para mim mesma, morrendo de voltade de deixar o garoto tateando pelas paredes e entrando em pânico, chorando feito um bebê precaminoso. Seus olhos reluziam no escuro, um pouco distantes de nós.
– Se liga, panaca. - O som da voz de Lola se propagou pelo ambiente fechado.
Eu ouvi o som desagradável do riso de Saulette, que parecia estar andando na direção de Lola, quando as luzes automáticas finalmente se acenderam.
Nos encaramos atônitos, nos perguntando o que exatamente havia acionado-as.
– Onde está Kamilla? - Sussurrei para eles, caminhando até a beira das escadas escuras que nos guiariam para o subsolo.
– Por favor, diga-me que ela não foi por aí... - Lola tremia de medo, segurando a mão de Saulette até esmagá-las.
– Lola. - Choraminguei fracamente. - Acho que devíamos descer...
– Sim, nós devemos.
Era provável que eu estivesse sussurrando a minha última oração, daquelas que eu fazia quando estava precisando muito de uma bicicleta nova e um novo emprego para a minha mãe, para que ela ganhasse mais dinheiro e pudesse me dar mais presentes no Natal.
As crianças costumam ser um pouco sádicas, sabe? Tenho certeza de que você já praticou o sadismo um dia, provavelmente matando um animal de estimação ou chutando a sua mãe para poder comer chocolate.
Nunca fui uma pessoa muito original, então não me julgue por meus atos impensados. Não fui a primeira a cometê-los.
Foi o que eu pensei quando pousei meu pé no cimento frio do degrau da escada de incêndio, ouvindo um retumbar estranho de tambores vindo do subsolo. Me perguntei o que Márssio estava querendo dizer com "conferência" e que tipo de participação Kamilla teria nela.
A música aumentava a cada degrau que descíamos, retumbando sob nossos pés e me fazendo tremer sob o ritmo pitorescamente primitivo. Saulette fazia grunhidos de desgosto ao som do retumbar de tambores, ainda segurando a mão de Lola, que aparentemente estava tão satisfeita quanto eu frente a ideia de descer.
Mas descemos de qualquer tudo o que tínhamos conosco, trancado em nossa alma ao lado do espírito, deixando o coração frágil escondido pelos sussurros do medo. Eu não podia ouví-los, travando uma batalha comigo mesma (pessoa que sou) para afiar os sentidos.
Ainda assim, os cheiros chegavam. Cheiros de temor, medo e corrupção. Cheiro de escada mal lavada, tinta fresca e maçaneta de latão. Não havia aquele típico aroma humano, de suor límpido e saliva.
Não. Havia um tenro cheiro de enxofre, que eu sentia toda a vez que atravessávamos a porta do laboratório de química, onde todas as substâncias se concentravam em um só teor.
Mas o enxofre sempre se destacou como o mais forte, o mais salgado ao olfato.
– Está sentindo? - Perguntei à Lola.
– Sim. - A morena acenou. - Eu estou.
Saulette nos olhou de maneira estranha, botando os fones de ouvido por baixo da camiseta e encaixando-os nas orelhas, num gesto de auto proteção.
Um degrau por vez, Dábliu. Sempre um degrau por vez, enquanto os suspiros saíam mais profundos e os pensamentos se congelavam em meio ao cérebro.
– Lá embaixo. - Lola engoliu em seco.
Havia um corredor na base das escadas, onde as luzes pareciam mais vivas e brancas do que nunca. As paredes pintadas de branco, assim como o piso, dando um ar estéril ao lugar abaixo do novo prédio, montando diversas perguntas não respondidas na minha cabeça.
– Está ouvindo? - Lola me cutucou.
– Estou. - Sussurrei, ouvindo os sussurros humanos de alguém ao longe do corredor.
Haviam duas pessoas enroscadas no meio do corredor estéril, se destacando contra a porta branca por onde saíam as batidas Kamilla, miss simpatia procurada, que parecia se agarrando com um sujeito novo demais para ela, ou bonito demais.
Minha boca foi se abrindo em um leve "o" enquanto observávamos Kamilla aos beijos com um estranho alto em pleno expediente, num colégio particular.
Nos aproximamos aos poucos, reconhecendo Kamilla pela sua forma traseira e seu cabelo ruim, além da camisa social branca e da saia sem corte.
– O que diabos... - Saulette tirou os fones de ouvido, exclamando alto e em bom tom, para que todos naquele andar ouvissem através da música.
O casal à nossa frente se sobressaltou graças à Saulette, se afastando um do outro e nos encarando desconcertados.
– Oh, Meu Deus! - Kamilla se afastou do "cara alto" nos encarando aterrorizada.
A coordenadora parecia estar em choque; seu peito subia e descia e ela parecia tentar ajeitar a saia com rapidez. Na minha opinião, aquela não era reação suficiente para uma coordenadora que foi pega aos amassos.
– Garotos! - Ela se dirigiu à nós. - O que vocês estão fazendo aqui?
Nos entreolhamos rapidamente, percebendo que era a nossa vez de estar em choque; Lola me tentava olhar para todos os lados que não fosse Kamilla, trocando o peso de perna e me encarando vez em quando.
Olhei desesperada para Saulette na esperança de que ele tivesse alguma desculpa. No entanto, o cara parecia ainda mais perdido do que eu, olhando estarrecido na direção de Kamilla, sem saber se ficava com medo ou babava pelo traseiro dela.
– Estamos perdidos. - Lola conseguiu dizer alguma coisa.
Comecei a digerir pacientemente a resposta, na busca por algo discernível em meio ao caos do estado de choque em que me não conseguiu responder tampouco; sua boca abria e fechava, enquanto a mulher arregalava os olhos por trás daqueles óculos horríveis.
Ela olhava do Saulette para mim, e de mim para Saulette, na esperança de encontrar quem ela odiava mais. É claro que ela não olharia para Lola, porque ninguém da coordenação poderia odiar a Lola...
– Parece que fomos pegos. - Sussurrou uma voz forte e gutual, vinda da direção de Kamilla.
Foi então que eu percebi o cara que estava atrás dela, podendo olhá-lo com mais atenção agora que ninguém ousaria dizer mais nada. Pensei que poderia ser provavelmente um coordenador pedagógico, se agarrando com a miss simpatia no subsolo do colégio.
Pelo menos foi o que imaginei até que pudesse seguir seus traços, observando que um de seus braços passeava pelo traseiro dela, enquanto outro jazia sobre o seu cabelo ruim.
Ele usava um daqueles jalecos do laboratório de química, que seguiam até o joelho e fediam a formol. Levava jeans comuns e uma regata trivial, com vans azul marinho sujos de graxa.
– Hmm - Ele gemeu aos poucos no ouvido de Kamilla, mostrando uma voz rouca e quente. - Temos companhia.
Seus cabelos eram escuros, cortados desigualmente, deixando-o com alguns fios que não se acentavam. Os olhos reluziam na nossa direção, enormes olhos verdes intensos, sombreados por uma forte tensão sexual.
Ainda que usasse um jaleco, músculos se ondulavam por baixo da sua blusa branca, mostrando o ritmo de sua respiração lenta diante de nossa visão. Seus olhos piscaram para nós lentamente, como se nos convidasse a questioná-lo.
Havia uma barba de dois dias sobre o seu maxilar, realçando suas maçãs quase inexistentes, num rosto duro e sexy, determinado pelos lábios vermelhos médios entreabertos agora, soprando um ar leve no ouvido da coordenadora morta.
Ela, por sua vez, arrastava as unhas pelo maxilar duro dele, arranhando a barba rala sobre o seu rosto envolvente, enquanto ele piscava lentamente e sorria sarcástico para nós.
Tudo naquele homem indicava que ele era mau. Muito mau para o seu próprio bem, deixando que nos arrepiássemos sobre nossos all stars.
Seus olhos verdes piscaram intensos de forma arrogante, como um maldito deus grego, fodidamente viciador.
Ele olhava para Lola.
Autor(a): clarawyrda
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
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Eu abri os meus olhos. Eu abri os meus olhos e não enxerguei. Estava muito escuro e comprimido, num aperto cruel e sem oxigênio. Não havia nenhum tipo de luz para que eu enxergasse alguma coisa, por isso tentei erguer as sobrancelhas efetivamente, até sentir que minhas pálpebras estavam erguidas e meus olhos abertos.... ...
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