Fanfic: Nem Todo Mundo Odeia o Chris - 2ª Temporada | Tema: Todo Mundo Odeia o Chris
POV. CHRIS (Brooklin – 1984)
Não era segredo pra ninguém que eu arrastava um bonde pela Keisha. Ela foi a primeira garota que me interessou de verdade, mesmo que ela não tivesse nem aí pra mim e gostasse do Drew. Mas apesar disso, fiquei triste quando soube que a família dela ia se mudar pra Califórnia. A Lizzy disse que ia passar, e que logo eu ia me apaixonar por outra garota que me dissesse ‘oi’. Não pude deixar de rir do comentário, mas não é novidade que ela tira onda com a minha cara sempre que pode. E até que é divertido.
Outro dia a gente tava sentado na calçada, eu falando da Keisha pra Lizzy e ela quase cochilando, quando passou uma garota do outro lado da rua. Ela parou, falou com o Drew e depois foi embora.
“Quem é aquela?” A Lizzy olhou e fez careta.
“Iveth. Mora na rua de trás.”
“Até que é bonitinha.” Ela revirou os olhos. O Drew subiu a calçada e veio falar com a gente. “Drew, você conhece a Iveth?”
“Ih, cara, se mete com ela não.”
“Por quê?” O deboche na voz da Lizzy era evidente.
“Com aqueles brincos enormes eu posso até adivinhar a reputação do ser humano.” O Drew riu e concordou com a cabeça.
“Dizem que ela fica com qualquer um.” Sorri internamente. Esse era exatamente o tipo de incentivo que tava faltando pra mim. “O Doc deve saber mais alguma coisa.” A Lizzy riu.
“Me diz uma única coisa que o Doc não saiba. Você pode perguntar pra ele amanhã quando for trabalhar, Chris, mas acho que não vai ouvir nada diferente do que a gente falou.”
O Greg achava que a coisa mais simples seria eu chamar a Iveth pra sair.
“Cara, eu não posso simplesmente chegar e chamar ela pra sair.” A Lizzy riu.
“Por que não, Chris? É isso o que qualquer garota espera. Se você não chamar ela pra sair, vai fazer o que pra ela notar que você existe?” Era um argumento justo e o Greg apoiou.
“Tenta, cara.”
“Fácil pra vocês falarem.”
“Alguma coisa você vai ter que fazer. E o pior que ela pode dizer é não.”
“Fala sério, Greg. A Lizzy me disse isso uma vez e eu segui o conselho. Sabe o que aconteceu? A garota me escurraçou numa festa lotada.”
“Foi a Keisha, Greg.” Ele fez uma cara de ‘entendi por que o drama’.
“Mesmo assim, cara. Algumas vezes a gente quebra a cara e outras vezes a gente acerta.” Eles tavam tão filosóficos...
A gente já morava em Bed-Stuy fazia um ano quando a Keisha foi embora. Pra casa que ela morava, se mudou uma senhora que logo descobri que se chamava Louise Clarkson. Mas só depois eu vim realmente me interessar por quem morava na casa vizinha.
Eu nunca tinha convidado uma garota pra sair, então eu tinha muito conselho pra pedir e muita gente pra escutar. Lá no Doc’s, ele e o Perigo tavam me dizendo um monte de coisas, mas eu praticamente não tava prestando atenção. Eu só tava imaginando onde eu ia arranjar coragem pra chamar a Iveth pra sair. Acordei pra vida quando o Perigo disse que ela tava vindo. Olhei pra porta e vi a Iveth entrar. Respirei fundo e fui falar com ela.
“Você é a Iveth né?” Ela me olhou normal.
“Sou. Por quê?”
“Eu queria saber se, sei lá, se você queria sair comigo.”
“Ok. Você paga?”
“Claro.”
“Então tudo bem.” Ela pegou uma caneta e escreveu o telefone dela na minha mão. Mais fácil do que eu pensei.
“Tá bem.” Ela sorriu pra mim e saiu. Eu podia estar calmo por fora, mas por dentro eu tava fazendo a festa. Virei e vi o Doc sorrindo e a Lizzy (tinha entrado e eu nem tinha visto) me olhando com uma cara que eu não gostei. “O quê?” A Lizzy balançou a cabeça e suspirou. Não parecia chateada, mas também não tava feliz. Parecia quase... preocupada.
“Nada. Eu vou deixar você viver a experiência. Não posso te proteger de tudo.” Ela foi até a última prateleira, pegou uma caixa de leite, pagou e saiu. “Boa sorte, Chris.”
“O que ela quis dizer?” O Doc revirou os olhos.
“Mulheres, Chris. Complicadas, todas elas.” Acabei concordando, embora achasse que a Lizzy não era assim.
Cheguei em casa e decidi não falar pra ninguém do encontro. Seria o meu primeiro e se desse alguma coisa errada, eu não queria ninguém me zoando nem me dando condolências. Fui pro quarto e chamei no buraco da parede.
“Lizzy?” Cinco segundos e um barulho depois ela respondeu.
“O que foi?”
“O que você quis dizer lá no Doc’s? Que ia me deixar viver a experiência.” Ouvi ela suspirar.
“Olha, Chris, eu não quero cortar o seu barato nem te desanimar, por isso eu não quero contar.”
“Conta, por favor. Eu não vou ficar chateado.”
“Ok. Se você insiste. Eu acho que a Iveth é uma oportunista.”
“Como assim?”
“Ela embarca no melhor negócio.”
“E desde quando eu sou um ‘melhor negócio’?” Ouvi ela rir.
“Não é isso. Me desculpa, mas acho que ela só concordou em sair com você por que você vai pagar e por que não tinha nada melhor pra fazer.” O quê?
“É sério?” Quase pude ver ela dando de ombros.
“Eu acho.” Resolvi aceitar a opinião dela. Nunca me dei mal por isso.
“Ok então. O que eu faço? Não posso chegar pra ela e desmarcar.”
“Eu tenho uma ideia.”
“Qual?”
“Eu vou com você.” Demorei um pouco pra entender essa.
“O quê? Quer ir comigo no meu primeiro encontro?” Ela suspirou de impaciência.
“Sim e não. Eu vou com você, mas ela não vai me ver. É só pra você não ficar sozinho caso...” Entendi o suspense da frase.
“Caso ela não vá?”
“Esquece isso. É só besteira da minha cabeça. É claro que ela vai.” Ela queria me animar, mas dava pra sentir que essa não era a opinião dela. Já que ela tava tentando me fazer sentir melhor, eu não ia estragar o esforço dela. Resolvi deixar pra lá.
“Ok. Vou ligar pra ela e marcar um cinema pra sábado.”
“Tá bom. Boa sorte.”
“Valeu.”
No sábado eu inventei uma desculpa lá em casa e saí. Encontrei com a Lizzy na calçada e nós fomos. Eu ia comprar os ingressos quando cheguei, mas ela disse pra eu esperar a Iveth. Concordei e fiquei esperando na frente do cinema enquanto ela se escondia dentro do cinema.
POV. LIZZY
Dizer que eu tava com um mau pressentimento sobre isso era pouco. Eu tava com um péssimo pressentimento. Não sei por que, mas eu senti que ela ia dar um bolo nele. E ele tava todo arrumadinho... Deu até pena enquanto eu via o tempo passar e ela não chegar. Ele andava de um lado pro outro e não conseguia ficar parado. Chegava a ser um pouco cômico, mas eu não ri. Eu até tentei ser otimista, por ele, mas não deu. Depois que o filme tinha começado fazia quinze minutos eu fui falar com ele. Antes que eu abrisse a boca ele falou.
“Ok. Pode dizer, eu sou um idiota.” Neguei com a cabeça, peguei ele pela mão e puxei ele pra dentro do cinema. Por certa precaução eu tinha comprado dois ingressos do filme quando eu fui me esconder. Pressentimento. Entreguei os ingressos pra ele.
POV. CHRIS
Depois de ter ficado quase uma hora esperando a Iveth, a única coisa que eu queria era ir pra casa e rezar pra que ninguém soubesse disso. Pensei que a Lizzy iria comigo, mas descobri que ela tinha uma ideia bem diferente.
“Eu comprei os ingressos, então você paga a pipoca.” Ela sorriu, mas eu não consegui retribuir.
“Não precisava, Lizzy. Eu quero ir pra casa.” Ela fez cara de raiva fingida.
“Ah, mas não vai mesmo. Eu não vou deixar você ficar trancado no quarto ou triste por causa daquela... qualquer. Você vem comigo.” Ela me puxou e eu não pude deixar de sorrir. Eu devia saber que ela não ia me deixar ficar triste.
No final das contas acho que me diverti muito mais do que se tivesse ido com a Iveth. Com ela eu tentaria impressionar, o que nunca dá certo, mas com a Lizzy eu só precisava ser eu. Até hoje Footlooseé um dos meus filmes preferidos.
“Sinto muito por não ter dado certo.” A gente já tava quase dobrando a esquina de casa.
“Não importa. Eu me diverti.” Olhei pra ela e sorri.
“Eu também. Mas o que vai fazer se encontrar a Iveth de novo?” Dei de ombros.
“Não sei. Acho que vou deixar pra lá.” Ela parou de andar e me segurou pelo braço.
“Como é? Deixar pra lá? Nenhuma garotinha de esquina pisa no meu melhor amigo e fica por isso mesmo. Ou você fala com ela ou eu falo. E você sabe que se eu falar é bem pior.” Ela tava com cara de irritada e eu achei melhor não contrariar. Até por que tinha um monstrinho no meu peito que tava feliz com o que ela disse. Sorri involuntariamente.
“Ok. Eu falo com ela. Mas me promete que não vai bater nela.” Ela revirou os olhos. “Promete.”
“Ok. Eu prometo.” Nós rimos.
Na segunda à tarde a Iveth teve o azar de escolher ir ao Doc’s justamente na hora que a Lizzy tava lá. Vi ela dobrando a esquina e avisei.
“Ela tá vindo.” A Lizzy assumiu a cara de raiva e eu tive um péssimo pressentimento do que ela ia fazer. Eu queria resolvi isso sozinho. Não que eu não gostasse da ajuda dela, mas eu precisava fazer isso sozinho. Antes que eu pudesse me arrepender, eu falei. “Doc, se a Lizzy quiser se meter, segura ela pra mim.” Ela olhou pra mim chocada e ia abrir a boca pra falar, mas eu não deixei. “Lizzy, por favor.” Ela me olhou e assentiu. Mas se encostou no balcão e continuou me olhando.
A Iveth entrou e me deu um descarado ‘oi, Chris’. Respirei fundo e fui falar com ela.
POV. LIZZY
Sinceramente, eu não esperava aquela atitude dele. No começo até me senti ofendida, mas depois entendi. Homens e seu orgulho. Me contentei em ouvir a conversa.
“Iveth, o que aconteceu contigo sábado?” A cretina fez cara de desentendida.
“O quê?”
“A gente tinha marcado de sair, lembra?”
“Ah, é mesmo. Esqueci geral.” Minha cara devia estar vermelha de ultraje e raiva. Eu podia sentir o Doc me observando.
“Olha, se você não queria sair comigo, era só dizer.”
“Eu tentei não te magoar.” Que desculpa mais falsa!
“Quer saber? Você magoou do mesmo jeito.” Adorei o sarcasmo no tom dele.
“Então, o que quer que eu faça?” Nessa hora a raiva veio em mim com toda a força e eu me desencostei do balcão e ia lá bater nela, mas senti o Doc me segurar pelo ombro.
“Quer saber? Não precisa fazer nada.” Minha raiva diminuiu drasticamente quando ouvi ele dizer isso. Foi a saída por cima mais perfeita que eu já vi na minha vida. Fiquei tão pasma que me encostei no balcão de novo sem perceber.
Ele deixou ela lá e veio na direção da gente. Ela acabou saindo da loja sem comprar nada. Eu tava tão orgulhosa dele que eu não conseguia nem falar. Involuntariamente sorri. O Doc disse que ele tinha agido como homem e eu concordei silenciosamente. Então ele olhou pra mim.
“Por que o sorriso?” Fiquei meio sem graça.
“To orgulhosa de você.” A vez dele de ficar sem graça.
POV. CHRIS
Um dia depois do ‘episódio Iveth’, eu e a Lizzy estávamos sentados na calçada conversando quando o Drew desceu pra me chamar pra jantar. Como ele é um fofoqueiro de primeira, não deixou a gente de fora da novidade.
“Ei, Chris, vocês tão sabendo?”
“O quê?”
“A Iveth tá no hospital.”
“Sério?” Pelo canto do olho pude ver a Lizzy baixar a cabeça. “O que aconteceu?”
“Sei lá. Foi uma coisa bem misteriosa. Mas a notícia que corre é que ela quebrou o braço.”
“Estranho.” Que era estranho era, mas eu tinha minhas teorias.
“Pois é. Mas entra logo, a mãe tá chamando.”
“To indo.” Ele entrou e eu virei pra Lizzy. “Foi você, não foi?” Ela afastou o cabelo do rosto e eu pude ver que ela tava rindo de se acabar. Ela assentiu pra minha pergunta. “Eu não vou nem comentar, mas você prometeu que não ia bater nela.” Hipocritamente eu tava feliz por ela fazer uma coisa assim por mim.
“Mas não fui especificamente eu. E é melhor que não comente mesmo. Você não me deixou jogar limpo, então eu tive que agir por debaixo dos panos. Mas não se preocupe, ninguém nunca vai saber que fui eu.”
“Eu sei.” Segurei a mão dela. “Obrigado.” Ela sorriu sem jeito.
“Por me meter na sua vida?” Neguei.
“Não. Por cuidar de mim como ninguém nunca cuidou.” Ela me olhou nos olhos e ficou mais vermelha do que já tava.
“Eu... ah... de nada.” Eu já tava ficando sem jeito, mas ela voltou ao normal e soltou minha mão. “Então, o que aprendeu com isso?” Pensei um pouco.
“Que eu tenho uma amiga que vai quebrar o braço de todas as garotas que não saírem comigo.” Nós rimos, mas ela queria uma resposta séria. “Para de brincadeira. Me diz.”
“Ok. Eu não sei exatamente o que eu aprendi, mas eu não quero mais me apaixonar pelas garotas do bairro.” Senti ela tremer um pouco e olhei pra ela confuso, mas uma voz me poupou o esforço de perguntar o que era.
“Você é o Chris?” Virei e babei com o que vi. A garota era muito bonita. E lá se vai pro cano a minha mais recente decisão.
“Sou. Por quê?”
“Eu sou a...”
“Tasha!” A exclamação veio da Lizzy. Aparentemente ela tinha se recuperado de seja o que for que tinha acontecido.
“Oi, Lizzy.” Olhei pras duas, confuso.
“Vocês se conhecem?” A Tasha assentiu.
“Éramos vizinhas no Queens. Depois vem aqui em casa, Lizzy.”
“Vou, sim.”
“Tchau, Chris.” Só consegui acenar. A Lizzy me cutucou.
“Chris.” Virei pra ela meio desorientado.
“O quê?”
“Enxuga a baba.” E começou a rir às minhas custas, mas eu já tava acostumado com isso. “Acho que lá se vai mais uma decisão sua pro lixo, né?”
“Fazer o que, né?” Ela deu de ombros.
“Que Deus me ajude, por que vai começar tudo de novo.” E eu tive a enorme sensação de que ela tava certa mais uma vez.
...
Autor(a): LivyBennet
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