Juliana, Pitia e Cristina eram três grandes amigas de infância que o tempo e o acaso acabaram separando. Depois de 10 anos sem se ver, acabaram por se encontrar em um restaurante local. A alegria de se verem foi tanta que logo marcaram de sair juntas, decidiram ir passar uma noite na casa onde Cristina havia crescido e onde elas passaram os melhores momentos da vida. A casa estava abandonada a muitos anos, já que Cristina e seus pais haviam se mudado para outra cidade, elas mal sabiam o que lhe esperavam.
Pela manhã elas se encontraram em frente a casa com suas barracas e colchões , entraram e viram o quanto a casa era escura e suja. O tempo em que esteve abandonado lhe fez muito mal, as paredes estavam cobertas de grandes placas de mofo, o chão possui uma enorme crosta de poeira, as teias de aranha cobriam tudo. Subiram as escadas até o quarto de Cristina e se surpreenderam em ver que ali tudo estava em perfeito estado. O quarto permanecia arrumado, limpo e bem pintado.
- Não entendo. – Afirmou Cris – Como pode estar arrumado? Já tem muitos anos que ninguem vem aqui.
- Sua mãe deve ter dado um pulinho rápido aqui e dado uma limpada no seu quarto para a gente dormir.
- É, pode ser Pitia, mas...
- Não pira Cris, deve ter sido mesmo sua mãe.
- Sim, vamos montar as coisas e darmos uma olhada no jardim.
O jardim possuía lindas rosas e uma fonte que jorrava agua, uma agua apodrecida e escura. Elas ficaram ali um bom tempo relembrando suas historias que mal perceberam que já anoitecia. Um barulho ensurdecedor vindo de dentro da casa lhes assustou.
- Pode ser um gato, ou algum mendigo que costuma dormir aqui. – Tranquilizou Cristina. – Vamos lá pedir para ele ir embora.
A casa parecia vazia, não encontraram nem gato, nem mendigo. Então ligaram suas velas e deitaram no colchão que colocaram no quarto, o sono e o cansaço embalaram a noite, todas logo estavam desfrutando de um bom sono.
Cristina por algum motivo acordou assustada, levantou-se e desceu as escadas até a porta de entrada da casa, saiu e foi até o jardim, ali ela deu de cara com uma linda jovem loira.
- O que faz aqui? – Perguntou Cris
- Vim te ver.
- Você me conhece?
- É um prazer vê-la. Eu sabia sobre você, mas nunca te vi pessoalmente.
- Não te conheço.
- Eu sei - a loira riu – Adoro seu quarto, lá muitas vezes é o meu refugio contra a maldade daqui.
- Você mora aqui?
- A muito tempo, acho que nasci aqui.
- Desculpe invadir seu espaço, só que essa casa é da minha família, você tem quase a minha idade, então é impossível você ter nascido aqui.
A moça riu e saiu andando, passou pela Kombi de Pitia que estava estacionada na frente da casa e foi embora. Cristina ficou ali perplexa e confusa, achou aquilo muito estranho e surreal. “Talvez eu esteja em um sonho.”Pensou.
A noite estava muito fria que fez com que Cristina voltasse correndo pra dentro de casa. Ela queria voltar para seu colchão, dormir e pela manhã procurar a tal moça loira. Entrou e foi até a cozinha, lá ela viu uma garotinha chorando em baixo da antiga mesa de jantar.
- Me ajude Cristina.
- Quem é você?
- Se esconda, se esconda da maldade daqui.
- O que?
A garota virou-se e encarou-a. Algo naquele rostinho infantil lhe parecia familiar.
- Corra – Gritou a garota.
Assustada Cristina subiu as escadas até o quarto onde suas amigas dormiam tranquilamente e trancou a porta.
- O que esta fazendo? – Questionou Juliana sonolenta.
- Tem algo muito estranho aqui.
- Como assim?
Instantaneamente algo começou a bater na porta do quarto, as batidas ficavam mais fortes a cada minuto.
- Quem pode ser?
- Eu não sei Juli.
- O que esta acontecendo?
- Pitia tem algo batendo na porta – Explicou Juliana assustada.
- Deve ser o vento.
- O vento agora bate em portas é?
- Vocês são muito medrosas. - Pitia levantou-se e foi até a porta.
- Não abra – Gritaram Juliana e Cristina, mas Pitia ignorou.
Do lado de fora não havia ninguém, apenas a escuridão.
- Não há nada do lado de fora.
Um vulto passou atrás de Pitia fazendo-as gritar de medo.
- Precisamos sair daqui. – Informou Pitia
As três saíram correndo do quarto e desceram as escadas, vozes de crianças rindo ecoaram pela casa, vultos escuros começaram a rodeia-las, desesperadas elas correram até a Kombi.
- Vamos embora daqui.
Pitia ligou o carro, mas Juliana enterviu.
- Não posso ir, minhas coisas estão lá dentro.
- Amanhã cedo nós pegamos.
- Não dar Cristina, preciso das minhas coisas. – Juliana desceu da Kombi – Vai levar só um minuto.
- Eu vou com você. – Informou Pitia saindo da Kombi.
- Não me deixem aqui meninas.
- Não vai demorar.
As garotas adentraram a casa escura e Cristina ficou na Kombi olhando pela janela do banco do motorista. A moça loira e a garotinha apareceram do lado da janela e acenaram para ela, e Cristina pode perceber a semelhança entre as duas.
- É sua filha?
- Não – a moça loira se aproximou cada vez mais perto do carro – Ela sou eu mais nova.
- Mas como?
- Você não me conhece e nunca ouviu falar de mim, mas eu sei quem você é. Ouvi muito de você, principalmente do sótão da sua casa onde mamãe e papai me escondiam. Te ouvi crescer.
Cristina parecia não entender nada
- A vida é muito difícil para a filha da empregada, principalmente quando você é filha bastarda do dono da casa. Sabe Cris, muitas vezes é preciso varrer o erro pra debaixo do tapete. E foi isso que seu pai fez comigo. Me condenou a crescer e morrer num porão. Me condenou a apodrecer nessa casa para todo o sempre.
- Saia daqui – Gritou Cristina assustada.
- Você já me viu criança, jovem e agora veja como estou apodrecida. – Um bafo quente soprou no ombro de Cris – Olhe ao seu lado e me vera.
O grito de Cristina ecoou por toda a rua, seu corpo, o de Pitia e de Juliana e a Kombi nunca foram encontrados.