Fanfic: Uma Princesa de Sonhos - Vondy. (Finalizada)

Antes que Dulce conseguisse achar uma boa interpretação para essas palavras, a porta de entrada se abriu, batendo com violência contra a parede e deixando a tempestade invadir seu precário abrigo.

Chris reagiu, usando os ombros como escora para tornar a fechá-la.

— Pensei que a tivesse trancado.

— E foi o que fez.

— Desta vez usarei esta madeira para travá-la, mas não posso garantir que vá agüentar.

— Ponha a cadeira também — Dulce sugeriu, ajeitando as roupas dele sobre a cama. — Não custa nada.

Dulce estremeceu, ponderando se um dia a tormenta passaria.

— Há mais uma coisa que poderemos fazer, Dulce. — Chris passou a andar descalço sobre o carpete azul, todo molhado.

— Ficar debaixo da cama?

— Quase. Acho que o local mais seguro é logo ali. Ajude-me a tirar o colchão.

— Faremos uma pequena barricada?

— Algo assim.

Dulce ajudou-o na tarefa de apoiar o colchão de modo a formar um triângulo contra a parede.

— Tem outra idéia, Dulce?

Ela podia pensar em uma infinidade de coisas, todas envolvendo mais confusão. Na posição em que estava, era possível sentir uma coxa forte a se encostar de leve à sua. Causava-lhe um ardor intenso, irresistível, sobretudo quando Dulce se lembrava de que o lençol era a única peça a cobrir o corpo másculo e perfumado.

— Não vai precisar trocar de roupas agora — Chris comentou, desconfiado, ao apontar para a sacola que Leigh apanhara no carro junto com a bolsa.

— Elas estão no carro. É apenas minha sacola de viagem. — Abriu-a, deixando a lamparina mostrar o conteúdo: uma filmadora e uma câmera fotográfica profissional, além do pequeno gravador.

— Espero que não pretenda tirar uma fotografia minha nestes trajes. — Dizendo isso, segurou-lhe ambas as mãos.

Ela poderia ter se ressentido com o gesto, julgando-o uma espécie de ameaça, mas os dedos poderosos mais acariciavam que impunham sua força. Nunca idealizara um príncipe com mãos tão grandes e rudes.

— Estava pensando em dividir o que trouxe para situações de emergência com você. Não é muito, já que eu não esperava enfrentar um furacão.

Chris a fitou com desconfiança, os olhos escuros acompanhando cada movimento.

Dulce estendeu-lhe uma lata de soda limonada e um saco plástico com sanduíche. Ele só relaxou quando a sacola foi fechada e colocada de lado.

Beberam e comeram, e ela tentou contemplá-lo na penumbra sem dar a impressão de o estar encarando. Sentia uma leve fragrância de colônia pós-barba. Ou talvez fosse esse o perfume natural daquele ser divino descido à Terra para atormentar a vida de simples mortais.

Aquele era o homem mais refinado que já conhecera, mesmo envolto em um puído lençol de uma hospedagem de beira de estrada. Em algum lugar ela lera que "quem é príncipe jamais perde a majestade". Pois o autor, de quem não se recordava, estava coberto de razão.

Tudo estaria maravilhoso, perfeito, não fosse sua intenção em tentar arrancar dele o consentimento para uma entrevista.

O brilho trôpego da lamparina dava um toque de magia ao clima sedutor, concluiu Chris ao observar com a máxima discrição possível a linda mulher a seu lado. Mas devia chamar de volta a sanidade que, marota, resolvera abandoná-lo justo no instante em mais necessitava de seu juízo intacto.