Fanfic: Como Cada Día - Cancelada

E era exatamente isso que o homem estava fazendo. Alfonso teve certeza disso assim que percebeu que alguém havia estado em sua casa. É claro que poderia ter sido qualquer um — alguém querendo ganhar uma grana fácil pegando algumas coisas que pudessem ser vendidas em lojas de penhores, mas a forma como tinha sido feito sugeria algo diferente. Estava tudo muito arrumado. Nada tinha sido revirado. Nada estava nem mesmo fora do lugar. Quase tudo, porém, tinha sido arrumado. O cobertor na cama foi o primeiro a denunciar a invasão. Havia uma pequena ruga no cobertor, feita por alguém que não sabia arrumar a cama dentro dos padrões militares; algo que poucos notariam, se é que notariam. Ele notou. As roupas nas gavetas mostravam fatos similares: uma dobra aqui, uma manga dobrada de forma errada ali. Alguém não tinha apenas entrado na casa enquanto ele estava trabalhando, como também tinha dado uma busca completa. Mas por quê? Alfonso não tinha nada de valor para ser roubado. Uma rápida olhada pela janela teria deixado isso claro. Não só não havia nenhum equipamento eletrônico na sala de estar, como havia um quarto totalmente vazio, e o quarto em que ele dormia tinha somente uma cama, um criado-mudo e um abajur. Além dos pratos e utensílios de cozinha e um velho abridor de latas elétrico no balcão, a cozinha estava vazia também. A despensa tinha comida de cachorro, pão e um pote com pasta de amendoim. Mas alguém tinha perdido seu tempo para revistar a casa de cima a baixo mesmo assim, incluindo debaixo do colchão. Alguém tinha cuidadosamente revistado suas gavetas e arrumado tudo depois.

Não fazia sentido ela não ter tido relacionamento algum nos últimos dez anos. Mas vinha ao encontro de algo que tinha ouvido na mesa de sinuca quando mostrou sua foto aos homens da região. O que foi que um deles disse? Demorou um tempo para lembrar exatamente as suas palavras, e ele desejou ter prestado mais atenção àquele comentário. Estava tão concentrado em descobrir o nome de Anahi, que acabou ignorando o resto — um erro. Pensando em retrospectiva, havia um tom de ameaça no comentário dele: "...garanto que não sai com ninguém. O ex dela não deixa, e pode acreditar em mim, você não ia querer se meter com ele." Pensou no que sabia sobre Christopher Uckermann. Membro de uma família poderosa. Um valentão. Nervosinho. Tinha uma posição que facilitava o abuso do poder. Alguém que pensava merecer o que quisesse quando quisesse? Alfonso não tinha certeza quanto à última hipótese, mas se encaixava no perfil.

As palavras de Victor pareciam confirmar o fato de que havia uma outra razão para sua vinda. Apaixonar-se por Anahi era somente parte disso. Mas não era tudo. Algo mais iria acontecer. "Ainda tem mais.”.

Tirando o breve período depois da morte de Victor, dormir nunca tinha sido um problema. Gostava de dormir, e gostava da forma como seus pensamentos pareciam se misturar enquanto sonhava.

No domingo, ao acordar, visualizou uma roda com raios emergindo do centro. Não tinha certeza do porquê, mas, minutos depois, caminhando com Zeus lá fora, percebeu, de repente, que Anahi não era o centro da roda, como ele supunha inconscientemente. Em vez disso, percebeu que tudo que tinha acontecido desde que havia chegado em Hampton parecia girar ao redor de Christopher. Afinal de contas, Christopher tinha sido a primeira pessoa que ele encontrou na cidade. Ele havia pego a máquina de Christopher. Christopher e Anahi tinham sido casados. Christopher era pai de Lucas. Christopher havia sabotado os relacionamentos de Anahi. Christopher os tinha visto juntos quando trouxe Lucas para casa com o olho roxo; em outras palavras, ele foi o primeiro, a saber, que havia algo entre eles. Christopher tinha invadido sua casa. Christopher — não Anahi — era a razão da sua vinda para Hampton.

Ao longe, ouviu-se um trovão, abafado e ameaçador. Uma tempestade estava a caminho, e o ar pesado anunciava que era das grandes. Além do que Anahi tinha contado a ele sobre Christopher, percebeu que sabia pouco sobre o ex-marido dela. Quando os primeiros pingos de chuva começaram a cair, Alfonso voltou para dentro. Mais tarde, daria uma passada na biblioteca. Ia ter de fazer um trabalho de pesquisa se tinha esperanças de obter uma impressão melhor de Hampton e do papel que a família Christopher desempenhava por ali.