Fanfic: Opostos | Tema: Outro
Era uma das manhãs mais frias de dezembro que os londrinos enfrentaram pelo mês inteiro. O céu estava cinza, mas bem claro. As janelas dos carros e das casas estavam embaçadas e os topos dos carros cobertos de uma fina camada de gelo.
Jessica estava se arrumando no exato horário de sempre. Eram seis e quarenta e cinco e ela estava juntando os fios negros de seu cabelo em um rabo de cavalo no topo da cabeça. Ela usava um macacão branco de mangas compridas. Seus olhos azuis claros estavam pintados com um fino delineado preto.
Seus olhos procuraram ao redor procurando por algum item esquecido. E puxou as chaves da moto.
–Bom dia senhorita Harris! –Uma das recepcionistas do hospital psiquiátrico a cumprimentou. –Como anda a Lúcia?
–Melhorando. –Ela disse indiferente e passou reto pela recepção e foi até a sala onde deixava suas coisas.
–Bom dia Harris, Lúcia está te esperando. –Uma das enfermeiras noturnas entrou na sala.
–Já estou indo. –Ela assentiu e caminhou até o quarto da menina. A porta estava meio aberta, Lúcia estava deitada na cama apoiada nos cotovelos.
–Oi minha querida, como foi a noite?
–O mesmo, eles continuam falando. –Lúcia respondeu coçando os olhos. Jessica observou os braços mutilados.
–Eles mandaram você fazer isso Lucy? –Se aproximou da criança que assentiu.
Lúcia, uma criança de seis anos com cabelos ruivos longos. Ela foi enviada à dois meses para o hospital psiquiátrico por ter sonhos e visões que a faziam falar de modo extremamente inteligente. Nos últimos dias ela contava a Jessica que ela sonhava com vozes que a ameaçavam de alguma coisa que ela ainda não havia revelado a enfermeira. Ela acordava com os braços e com o rosto mutilado e dizia não ter feito aquilo acordada.
–Vou trazer os curativos.
Lucas fechou os olhos e imaginou o hospital psiquiátrico, seu destino. Segundos depois abriu os olhos e observou o ambiente. Ele observou a mesma coisa de todos os dias desde que fora enviado para cuidar da menina, Lúcia, há dois meses.
Ele caminhou até se aproximar da cama e sentou-se. Lúcia não podia vê-lo nem senti-lo, para ela, era como se estivesse sozinha naquele quarto. Lucas a observou até ouvir a porta se abrindo e a enfermeira que cuidava dela todos os dias, entrar no cômodo carregando uma caixa médica e alguns livros.
–Qual você quer ouvir hoje Lucy?
–Pode ler Cinderela de novo? –Apesar de extremamente inteligente, geniosa e assustada Lúcia continuava sendo uma garotinha de seis anos de idade. Todos dos dias a enfermeira lia uma historia para a criança. Contos de fadas, lendas e até mesmo livros de histórias da mitologia grega. Acustumada a cuidar dos machucados Jessica pegou a caixa de curativos e puxou os medicamentos. –Vai doer.
–Não vai. Das outras vezes doeu?-Ela disse puxando o algodão umedecido para limpar os cortes. Eles eram profundos demais para só colocar um curativo. –Não, né? E não vai doer agora. –Ela puxou a agulha e aplicou a anestesia que, segundos depois, fez Lucy relaxar a musculatura do corpo e expirar aliviada. Parecia que ela estava sentindo aquilo doer todo aquele tempo. Ela puxou a agulha e deu pontos dos cortes mais fundos. Nos outros ela colocou um curativo e puxou um livro. –Cinderela. Era uma vez...
Lucas observava a menina, que ouvia a historia atenta da porta do quarto. Uma hora depois a enfermeira já havia terminado a história. Lúcia não parecia nem pestanejar. Lucas se aproximou da cama novamente e sentou-se ao lado de Lúcia. Ele tocou os dedos na mão dela permitiu que ela o visse e sentisse seu toque. Lucy pareceu ignora-lo.
–Você acredita nessas histórias de fadas? Eles me disseram que isso tudo é ilusão e que se eu continuar acreditando, isso vai acabar me matando. –Lúcia disse como se fosse uma pessoa de dezessete anos
–Eu acredito Lucy. Eles estão errados. Contos de fadas nos ajudam a sonhar. E isso é o que nos faz viver. Lúcia, isso é bom, historias e sonhos nos inspiram e na minha humilde opinião isso é o que nos faz felizes. Não tenha medo de sonhar, não tenha medo de nada. Pois um dia você vai descobrir que sempre foi mais forte que seus medos.
Lucas sentiu a verdade em cada palavra dela. Achou-a sábia. Lúcia parecia continuar a tagarelar sobre as fadas e os sonhos o que estavam deixando-a em pânico.
Lucas aproximou o rosto do ouvido de Lúcia e começou a falar dos sonhos. Ele a prometeu que se ela não sentisse medo as vozes desapareceriam. Que ela não precisava ter medo, que devia deixa-lo ir, pois a partir daquele dia Lucas protegeria seus sonhos.
Ao ver a menina sorrir, Jessica passou os dedos na raiz dos cabelos de Lúcia. Automaticamente Lucas olhou para a enfermeira e passou a encara-la enquanto ela falava para Lúcia dormir.
–Por que você não dorme um pouco? -Sussurrou Lucas para a menina. -Não tenha medo, eu estarei aqui. Não deixarei eles tentarem dizer algo para você. -Ele colocou a mão sobre a testa dela e deslizou até perto dos olhos. -Vamos, feche-os. Quero mostrar-lhe uma coisa. -Ela obedeceu e quando fechou e ameaçou adormecer Lucas imaginou uma campina com flores que batiam na coxa da criança. Ele estava sentado no chão, amassando as margaridas com o peso do corpo, enquanto Lúcia corria pelo campo.
Depois desses poucos segundos voltou a encarar Jessica e se afastou para a porta do quarto ainda encarando as duas.
–Obrigada. –Jessica murmurou exausta. Lucas pareceu pular. Não havia permitido que ninguém o visse. Como ela estaria vendo-o? –É um trabalho para convencê-la a dormir.
–Imagino. –Tentou não deixar transparecer a surpresa e a confusão que passava por sua cabeça.
–Mas você conseguiu. Quem é você?
–Meu nome é Lucas. Vim visita-la.
–Ah, sou Jessica Harris. Enfermeira da Lucy. É que ela nunca recebe visitas.
–Mas deveria. É muito corajosa.
–É, ela é sim. -Ela forcou um sorriso. -Com sua licença... Lucy já dormiu, preciso ir olhar os outros. Até logo.
–Até logo... Jessica.
–Ei, Tom, o nome Jessica Harris é familiar para você que nem é para mim? -Se aproximou do amigo que estava sentado no telhado de um prédio. Thomas mexeu a cabeça, convidando Lucas à segui-lo.
Ambos tomaram impulso e tiveram seus corpos se desfazerem do efeito da gravidade.
–Não Luke, você permitiu que uma mortal o visse?
–Não. Quero dizer, permiti que Lúcia me visse, mas eu fui enviado para isso.
–Quem é essa Jessica? -O amigo o cortou.
–É o que quero descobrir. –Lucas bufou para Tom que balancou a cabeça e ambos se apoiaram quase no topo do Big Ben.
Autor(a): fr0mw0nderland
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Semanas passaram e Jessica nunca mais viu Lucas visitando Lúcia que contava todos os dias, que sonhava com ele. Ela dizia que eram sempre sonhos bonitos. Eles caminhavam por colinas e mais colinas cheias de flores coloridas e ela estava livre das vozes e dos cortes. Jessica queria saber quem Lucas era e como ele teve esse poder sobre a mente de Lucy. –Lucy ...
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