Fanfic: Opostos | Tema: Outro
Semanas passaram e Jessica nunca mais viu Lucas visitando Lúcia que contava todos os dias, que sonhava com ele.
Ela dizia que eram sempre sonhos bonitos. Eles caminhavam por colinas e mais colinas cheias de flores coloridas e ela estava livre das vozes e dos cortes. Jessica queria saber quem Lucas era e como ele teve esse poder sobre a mente de Lucy.
–Lucy, você vai ser liberada daqui, em breve.
–Mas eu não tenho pais. –Feliz, calma, livre das vozes, mas a mesma inteligência que fazia de Lúcia alguém difícil de lidar sem medir palavras.
–Você não se lembra de nem uma tia? –Lúcia negou com a cabeça. Ela foi trazida pela coordenadora do orfanato onde morava que não estava disposto a pagar o tratamento, então Jessica mesmo o fez.
–E se eu morasse com você?
–Você gostaria Lucy?
–Eu amaria. Você é mãe que eu sempre quis. E você?
–Seria excelente. –Lúcia a abraçou.
–Jess, você acredita em contos de fadas. Mas e em anjos? –Ela desviou o assunto fazendo com que Jéssica pulasse. Lucy jamais a havia chamado pelo nome, parecia querer lhe contar algo.
–Você é meu anjo Lúcia. –Jessica cortou. Talvez ela fosse falar que as vozes eram de anjos ou que sonhara com um, mas isso iria deixa-la preocupada e com medo.
Ela queria sentir o calor do abraço de Lúcia, mas por mais que desejasse, não conseguia.
Havia ido trabalhar a pé naquele dia. Então, voltaria para casa do mesmo modo. Lúcia se despediu e ela saiu do hospital. Assim que atravessou a porta se deparou com algo que lhe lembrava da primeira vez que falou com Lucy. A neve.
Os gelados e minúsculos flocos caiam sobre os cabelos lisos de Jessica. Ela não carregava nenhum casaco. Estava apenas com uma calça jeans e uma blusa de manga comprida de lã.
–Você não está com frio? –Lucas andou em sua direção e parou logo na frente de Jessica.
Olá, Lucas. Não, não estou, eu amo frio. E você? –Lucas usava uma calça branca e uma blusa bege bem clara, quase branca com um casaco comprido preto.
–Estou bem. Como vai Lúcia?
–Você se lembra dela? Ela fala sobre você todos os dias. Diz que você está sempre em seus sonhos. Então nem sente falta de suas visitas. –Jessica forçou um sorriso e ergueu as sobrancelhas que estavam cobertas de neve.
–Tem forma melhor de visita-la do que em sonhos? –Lucas balançou a cabeça se livrando dos flocos brancos em seus cabelos tão negros quanto os olhos.
–Tem razão. Ela vai sair do hospital e quer morar comigo.
–Isso seria ótimo. Ela ama você. –Jessica não sentiu a alegria contagia-la devido às palavras.
–Eu sei... Mas..
–Desculpe Jess... –Ele interrompeu e deixou de permitir que ela pudesse vê-lo. –Mas você pode me ver?
–Er...Posso. Por quê?
–Por nada, pensei que não pudesse me ver, por causa da neve. – Lucas concluiu, ela podia vê-lo, independente de sua vontade. - Eu tenho visto você todos os dias.
–Ah tem? Onde?
–Você sai de casa para trabalhar na mesma hora que eu.
–Você trabalha?
–Sim, sou um humilde mensageiro. –Mentiu, em parte.
–Humilde? Você é importante, dependendo da situação. –Ele sorriu e assentiu com a cabeça.
Lucas se perguntava como ela podia falar coisas como aquelas e manter-se séria. Nem se esforçava para sorrir. Havia algo estranho. Será que Lúcia a deixara com depressão?
–Jess, você quer jantar? Conheço um restaurante maravilhoso e como está nevando... –Ela hesitou. –Ora vamos, sei que você está com fome.
–Não muita, mas tudo bem. –Eles se dirigiram para o restaurante onde pegaram apenas um espaguete.
Ambos contavam piadas, mas devido às expressões forçadas de Jessica, parecia que apenas Lucas achava graça nelas.
Ele aproveitou uma ida ao banheiro para ligar para Tom.
–Tom? Ela não é uma humana.
–Eu sei, um dos guardiões disse que Cassandro está atrás dela, ainda não sei o porquê, mas parece que ele manda vários de seus ajudantes para vigiá-la há anos.
–Vou tentar descobrir. –Ele desligou o telefone meio atordoado e confuso, mas teve que se concentrar quando ela voltou e os dois deixaram o restaurante.
–Jessica, preciso ser honesto com você. –Ele ignorou totalmente a neve caindo e se virou para ela.
–Deuses, o que houve?
–Eu tenho te seguido. –Mentiu, seria muito obvio se ele soubesse tanto sobre ela tendo visto-a uma vez. Ele realmente tem a observado, mas não precisava segui-la todas as vezes que queria faze-lo. Apenas imaginava seu rosto e ele podia vê-la fazendo o que estivesse fazendo. –Sinto muito por isso... Mas eu precisava saber.
–Do que?
–Que você não é uma humana.
–Você só pode estar de brincadeira. –Ela revirou os olhos e riu ironicamente.
–Você não come, você não sorri, parece que você não sente. Ou você não é humana, ou você sofre de depressão, mas como você parece ter 17 anos e ser muito nova para morar sozinha sem um pai te vigiando...
–Você está louco.
–Pode negar, mas eu sei. Você nunca vai poder mentir para mim, eu sempre descubro a verdade.
–Mas que droga é você?
–Eu sou um anjo. Sou o anjo da Lúcia. Você acha que ela se recuperou por quê? Engraçado, né? Bem depois que eu a visitei e falei com ela. E mais, você pode me ver. Nenhum mortal ou imortal, que seja, pode me ver, a não ser que eu permita.
–Escute, eu trabalho em um hospital psiquiátrico e estou pensando seriamente em mandar você pra lá.
–Ora mande, daqui a uma semana eu saio e mudo de rosto. Que seja. –Ele sorriu vitorioso ao vê-la bufar. –Lembra-se do dia que Lucy te perguntou sobre os contos de fadas? –Jessica assentiu com a cabeça. –Eu pude sentir a verdade em cada letra das palavras que você dizia. E agora, eu não a sinto. Você não pode me enganar. Já disse, sou um anjo. Aqueles de livros, sabe? Somos milhões deles, cada um com uma função, mas não somos nem metade do que os escritores descrevem.
–Anjos... -Ela repetiu consigo mesma.
–Sim. Eu sou um do que chamamos de Raro. Posso curar pessoas, posso observa-las apenas pensando em seu rosto, posso sentir verdade nas palavras delas, posso entrar em seus sonhos, em sua mente. –Ele se calou. – Noventa por cento dos pacientes que entraram naquele hospital, eu ou um dos Raros, curou. Eu exerço função de protetor de Lúcia. Ela é ameaçada pelos caídos.
–Caídos?
–Sim, anjos expulsos do céu. Pensa que somente Lúcifer foi expulso do céu? Atualmente os anjos que usam seu poder para algo que não seja proteger os mortais, ou exercer suas funções, ou cometem um pecado, são expulsos do céu.
–Como você sabe que eu não sou mortal?-Ambos ignoravam as paisagens, pessoas e locais pelos quais passavam.
–Ótimo você acabou de descobrir mais um poder meu. Eu consegui persuadi-la até que admitisse e concordasse com cada palavra que eu disse e ao mesmo tempo provei que não estou mentindo. –Ele sorriu novamente e Jessica manteve sua expressão. –Lúcia pode me ver. Pois eu permito. Agora você... No momento não estou permitindo que você me veja. Alias como eu sou? Só para saber como você me vê...
–Suas características? Bem, você é alto..
–É, claro, você olha para mim com os olhos virados para cima.
–Cabelos pretos bem lisos e olhos mais negros ainda. –Ela ignorou o comentário.
–Excelente... –Ele sorriu, exibindo seus dentes tão brancos quanto sua pele. –Ou seja, você me vê com a forma verdadeira. Lúcia me vê do modo que eu permito que ela veja, pois ela é mortal. Ela me vê como alguém que ela admirava em outra vida. Se eu parecesse com os pais dela, Lucy ficaria nervosa. Normalmente as pessoas só me veem como uma luz branca, como uma silhueta clara.
–Voltando a minha pergunta... –Ela revirou os olhos.
–Sim, claro. Primeiro. Não sinto você, claro que não posso sentir nenhum humano, mas quando converso com Lúcia, ela me passa uma energia fraca. Você não faz isso. Segundo, você tem expressões tristes. Além de, como eu já disse, não demonstrar sentimentos. Você não come, não bebe, não precisa de alimento... Eu sou um anjo, não um adivinha. Isso quer dizer que estou em duvida sobre o que você é. Você vai falar ou ...
–Tudo bem. -Ela interrompeu. -É confuso. Eu estou morta. Tem trezentos anos. Eu fui amaldiçoada. Sou uma imortal. Pode parecer legal, mas nas minhas condições isso é torturante. Eu estou condenada a não sentir felicidade, tristeza, o calor de um corpo humano e muito menos amor. Não posso sentir a felicidade quando encontro alguém que não vejo há muito tempo, não sinto saudades, não sinto a dor de uma mentira, eu não sinto.
–Você é ela então. -Murmurou olhando para o chão.
–Ela? De quem vocês protegem os mortais? Provavlemente.
–Não. Pior. Conhece a história de Cassandro?
–Cassandro?
–Obviamente não. É uma história poupada do mundo dos mortais. –Ele se acomodou. –Cassandro é um anjo. Mas digamos que diferente. Ele lidera um grupo de anjos que não gostam de exercer os deveres que lhes são designados. Então eles buscam Cassandro. Ele conseguiu a chave do que ele chamou de Refúgio dos Anjos.
–Refúgio dos Anjos?
–Sim, são anjos que cometeram algum pecado ou algo assim e não foram condenados, eles fogem antes de descobrirem algo sobre seus erros. Então os banidos, os anjos expulsos do céu, descobriram da “rebelião” de Cassandro e se juntaram a ele.
–Mas o que eles querem?
–Não sabemos, eles evitam qualquer chance de descobrirmos.
–E eu com isso tudo?
–Boatos dizem que ele está a procura de uma mulher especifica.
–E pode ser eu... -Ela murmurou e Lucas assentiu com a cabeça. -Bem, mas pode ser que não seja eu...
–Sim, mas nós não sabemos.
–Nós?
–Tom, outro raro, vem me ajudando a saber sobre isso. Em alguma das vidas que você teve ao longo desses três séculos, você cometeu algum pecado?
–Creio que não. Sou proibida de qualquer sentimento. Não teria como eu cometer um pecado tão grave para anjos malvados virem atrás de mim. –Lucas se rendeu e riu um pouco e Jessica pareceu mesmo assim não achar graça.
–Não são anjos malvados, são Banidos.
–Que seja.-Disse indiferente.
–E o que você sabe dessa maldição? Você já tentou quebra-la?
–Lucas, por favor. Sou uma condenada que tem mais de três séculos de idade. O que eu ficaria fazendo durante todo esse tempo? Claro que já tentei. Nada funciona.
–Venha comigo. Quero mostrar-lhe uma coisa.-Ele assentiu e contornou o assunto.
–Vamos ver o que Lucas? –Jessica deu um passo para trás quando percebeu que a caminhada já havia passado de algumas ruas.
–O que os mortais são privados de ver. –Lucas deu o passo que separava os dois.–Vem. –Ele abaixou e rapidamente tomou a menina em seus braços. Jessica agarrou seu pescoço, mas Lucas pareceu nem sentir.
–Você sabe que não pode me deixar curiosa. Muito menos surpresa. –Ela se gabou e olhou para o céu.
–Eu sei, mas não custa tentar. –Voltou seu olhar para Lucas que tinha em suas costas um par de belas asas, brancas, enormes e brilhantes. Ele flexionou os joelhos e pulou. Com o pulo os dois estavam no céu.
Subindo e subindo eles passaram várias nuvens e chegaram a um ponto que parecia impossível subir mais. Então voaram reto por alguns segundos, tão rápido que Jessica se permitiu fechar os olhos. Quando finalmente pararam e ela abriu os olhos Lucas sorriu.
–Onde estamos? –Ela observou uma paisagem montanhosa, maravilhosa. Uma parede de montanhas e montes altíssimos, neve nos picos e vales aos seus pés.
–Atrás dessas montanhas, é a Cidade dos Anjos. Onde vivemos, recebemos missões e tudo mais. Não podemos passar daqui, quer dizer, você não pode.
–Ah, claro.
–É nesse vale que eu trago Lúcia todas as noites. Logo ali em baixo há milhares de colinas floridas. Você não pode ir lá também. Ela está lá agora.
–Fica pra uma próxima. Podemos voltar? Estou com sono.
–Mentirosa! Você não sente sono.
–Esqueci que não posso usar essa desculpa com você. –Ele riu, mas Jessica continuou com os lábios colados e a cara fechada, por mais que tudo que ela desejasse fosse rir da piada.
–Desculpe, deixei você triste. –Lucas sentia. Ela não estava triste, pelo contrário, estava desejando estar.
–Você não pode me deixar triste, não pode me magoar.
–Feche os olhos de novo. –Ela obedeceu e segundos depois, Lucas parou no ar. –Abra. –Ali estava tão próximo dela, o Big Ben.
–Por que você me trás pra esses lugares Lucas?
–Eu gosto, pensei que você poderia gostar também. Venho aqui todas as noites depois vou para o vale.
–Há quanto tempo você não vai até a Cidade dos Anjos?
–Um bom tempo. Eu ia para visitar Tom, meu “irmão”, que não era um enviado. Só que agora ele está exercendo função de guiar pessoas à recuperação de experiências traumáticas.
–Trabalhos de anjos são difíceis, mas são maravilhosos. Vocês salvam a vida das pessoas.
–Ora, não temos uma, então cuidemos de quem tem.
–Por isso eu cuido da Lúcia. Ela é tão sofredora, mas ela é feliz...
–Por que você faz isso... Acredite talvez vocês tenham sido predestinadas a se encontrarem. Lúcia estaria morta e você rezando para apodrecer em casa.
Eles voaram até a casa de Jessica onde ela ofereceu para ele ficar, pois estava frio. Lucas a lembrou que ele não sentia frio, mas ia ficar do mesmo jeito.
Autor(a): fr0mw0nderland
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).