Fanfic: Como chegamos aqui? | Tema: Rebelde

- Aqui, Annie... Toma!

                                - Me diz que isso é álcool ou alguma droga bem forte. – As duas riram.

                               - É chocolate, daqueles bem calóricos da nossa adolescência, lembra?

                               - Tá aí uma fase da vida que eu gostaria de esquecer.

                Annie se sentou na cama e pegou a caneca das mãos de Dulce que se sentou na beirada da cama.

                               - Você encontrou com o Poncho, não é?

                               - E sua adorável noiva.

                               - A noiva de Chuck, segundo a sua irmã. – As duas riram. – Mas um dia isso ia acontecer, Annie e nós já sabíamos do noivado.

                               - Eu sei, Dul... Mas não é só isso.

                               - E o que é?

                               - Uma porção de coisas, Dulce... Uns sentimentos que estavam cochilando dentro de mim, mas que acordam com muita facilidade.

                               - É... Eu sei que você vive na corda bamba, só não consigo entender o motivo.

                               - Eu lembro quem eu era, Dulce, e era bem diferente do que sou hoje. Havia um brilho e uma vitalidade que não vão voltar. Eu fiz besteiras na minha juventude que me perseguiram e me perseguem até hoje. Fizeram com que eu me afundasse na depressão e até hoje não sei se saí totalmente. E hoje eu olho o Poncho e a noiva rica e bem criada dele e fico pensando que poderia ser eu, mas não deveria, eu não mereço. Eu não sou tão devotada, correta ou fina quanto ela. Eu deixei minha depressão se abater sobre um namoro que deveria ser jovem e alegre, eu manchei minha imagem perante um príncipe encantado, eu posso ser bem sucedida, Dul, rica e até famosa, mas isso tudo não me serve de nada. O meu sonho de menina sempre foi uma casa com jardim, um cachorro, uma marido e um casal de filhos, mas eu não escrevi minha vida de acordo com isso. Chega a ser ironia, eu, que ganho a vida escrevendo, não soube escrever minha própria história.

                               - Ham... Você ouviu tudo isso que você disse? – Annie sorriu. – Não, é sério, fadinha, Meu Deus! Que visão deturpada das coisas é essa?

                               - Como assim deturpada?

                               - Annie, eu sei que você não compartilhou toda a sua juventude comigo, mas, como diz a Belinda, amizade é amar sem perguntar, apoiar sem questionar. Eu acho que nem se eu descobrisse que você cometeu um assassinato na adolescência, mesmo assim, eu não te abandonaria. Nossa relação está baseada em outras coisas, em tudo que compartilhamos, no quanto você sempre foi fiel a mim e no quanto você está do meu lado, aconteça o que acontecer. Eu sei qual é a sua essência e isso não se mede pelas besteiras que você já fez, mas por quem você é, uma filha sempre presente, uma amiga dedicada e uma irmã sem igual. E o fato de você sentir culpa de seja lá o que você tenha feito só comprova a sua pureza, o que não tem nenhuma relação com sexualidade, mas com coração. Quanto ao Poncho... O amor, desses amores mitológicos e literários, é algo que eu nunca senti, nem sei se existe, mas se existir, acho que você é a pessoa ideal para viver algo desse tipo e você merece isso. Eu acho que um amor desse tipo resiste a erros de adolescente, então, minha fadinha, ou o Poncho não te ama o suficiente, ou não é maduro ainda para assumir algo desse tipo, alguns homens precisam amadurecer para aceitar duas coisas: que as mulheres tenha um passado e que elas tenham um futuro, ambos independentes dele. Poncho se sentiu ameaçado com o fato de você ter um passado que não dependeu dele pra acontecer e talvez ainda se sinta ameaçado com o fato de você ser tão linda, rica e poderosa quanto é. Seja rica o quanto for, a noiva dele não me parece um ser pensante e sua grana vem do pai, então... isso não é exatamente uma ameaça. Será mesmo que nós, mulheres que não precisam desses homens para fins práticos, temos mesmo que nos envergonhar disso? Podemos amar um homem sem precisar dele, Annie, sem depender da existência dele para existir enquanto mulher. Prove isso para si mesma e para o Poncho e viva e, de resto, o que vier é lucro.

                               - Uau! Eu não sabia que tinha tanta filosofia dentro dessa mente baladeira. – As duas riram. – Obrigada, amiga, eu te amo e ando precisando ouvir essas coisas a minha vida inteira.

                As duas se abraçaram em meio a risos e lágrimas.

                               - Nós já passamos por muita coisa nessa vida, Annie. Tiraram uma fase nossa de só se preocupar com gatinhos e notas e essa fase não volta mais. Se for difícil se perdoar, pense que você tinha o direito de errar, como recompensa por toda essa loucura de perdas, divórcio, brigas, depressão da sua mãe, irmã problema... E viva um amor, com um homem de verdade, Poncho está nas mãos de Deus, se quiser casar que case, se quiser sumir, que suma e se quiser voltar... Aí a gente pensa. – As duas riram. – Encontre um cara bacana, que te surpreenda e que te ensine coisas novas e esqueça essa ideia de “Eles só me querem, por eu se famosa”, essa é só uma forma de você se manter presa ao Alfonso.

                               - É... E eu sei o que quer dizer com isso. Ucker, não é?

                               - Aff, Annie. De todas as coisas sem noção do mundo, essa é a pior.

                               - É... Eu amo o Ucker, mas... Não dá pra ser.

                               - Bem... Já que estamos conversadas, que tal pipoca, leite condensado e uma sessão retrô com Sexta-feira muito louca?

                               - Noooossa! Como assim?

                               - O DJ da boate tinha vários filmes velhos no pen drive. Que tal?

                               - Adorei a ideia. É por isso que eu te amo.