Fanfic: Entre o amor e o futuro | Tema: vondy

As gotas da chuva leve batiam nas janelas da sala de televisão, cobertas por uma persiana escura, deixando o cômodo totalmente escuro, exceto pela luz que vinha das imagens que apareciam na televisão. Dulce subiu as pernas para o sofá, querendo aconchegar-se melhor. Escutou Anahí falar qualquer coisa com a mãe e voltou sua atenção para o episódio reprisado de Grey’s Anatomy que estava começando. Meredith falava sobre mudanças, Dulce amava aquele texto. Amava o modo como algumas mudanças eram necessárias e como certas coisas sempre continuariam as mesmas, exatamente como a expressão chateada da melhor amiga ao abrir a porta de sua casa para Dulce e como ela a desculpou facilmente e as duas se reuniram no cômodo mais confortável da casa de Anahí.

Naquela manhã, Dulce tinha acordado com um sentimento de culpa que ela não conseguiu compreender muito bem, por causa da sonolência. Logo em seguida, imagens da noite passada invadiram sua cabeça e ela se sentiu perdida ao lembrar do beijo trocado com Christopher no meio de toda aquela chuva, nos misto de sensações e sentimentos desconhecidos que tomaram conta de seu corpo. Lembrou-se também de como eles tinham voltado ao local do show apenas para pegar o carro dele e ir até o deque. De como tinham passado uma parte da madrugada apenas conversando ou fazendo coisas extremamente produtivas na opinião de Dulce, como se agarrar um pouco. E depois, ela lembrou e entendeu o sentimento de culpa. Tinha esquecido a melhor amiga no bar, havia saído sem explicação alguma.

Levantou-se rapidamente, ficando ligeiramente tonta e foi até o canto do quarto em que tinha jogado sua bolsa na noite passada, mexeu no interior dela por alguns segundos até encontrar o celular desligado. A bateria devia ter descarregado e ela nem tinha notado. Correu até a gaveta da escrivaninha, pegou o carregador e conectou as entradas em seus devidos lugares, sentou no chão e esperou até o telefone ligar. Uma mensagem e três chamadas não atendidas de Anahí. Que porcaria de amiga ela era, afinal? A mensagem da amiga era bem fria, do tipo que trazia implícito que Dulce não chegasse perto dela por alguns dias, mas ela não se importou. Foi até o armário, vestiu a primeira coisa que parecia aceitável para se usar na rua, pegou a bolsa, o carregador e o celular e desceu as escadas, apressadamente. Os pais dela conversavam na cozinha sobre qualquer coisa e Dulce pediu o carro, dizendo ser uma emergência. Depois que eles a olharam com espanto, a garota disse apenas que não era uma emergência do tipo morte, mas que precisava do carro. A mãe deu as chaves do próprio carro para a garota e ela saiu de casa. Agradeceu mentalmente por sua mãe existir, o pai nunca lhe emprestaria o carro com tanta facilidade. Aliás, ele nunca lhe emprestaria o carro de forma alguma, era como uma espécie de segundo filho pra ele.

Anahí: Você está em que mundo? – a voz dela  interrompeu seus pensamentos dos últimos acontecimentos e Dulce encarou a amiga, que tinha acabado de sentar ao seu lado. – Minha mãe disse que vai sair e trazer subway para a gente.

Dulce: Legal, mas… – franziu o cenho e balançou a cabeça. – Você ainda não me respondeu como fez para voltar para casa.

Anahí: Ah, eu vim com outra carona. – deu de ombros e virou seu rosto para a televisão. Ela fazia aquilo quando estava envergonhada. Dulce podia apostar que as bochechas da amiga estavam vermelhas.

Dulce: Que carona?

Anahí: O Ponchito me trouxe. – a garota falou entre os dentes e Dulce segurou uma gargalhada. Os dois ainda não estavam bem, já que Anahí ainda estava chamando o garoto pelo apelido, mas ela podia apostar que alguma coisa tinha acontecido.

Dulce: Só te trouxe? – fez uma cara de inocente, mordendo o lábio inferior para não rir e Anahí rolou os olhos.

Anahí: Ele… Eu… É complicado! – ela coçou a testa e passou a mão pelos cabelos, totalmente agoniada. – Tudo bem, então… Eu estava quase matando alguém e ele veio falar comigo, ver como eu estava e todas essas bobagens e… Não sei, de repente ele estava me beijando.

Dulce: E você não beijou de volta? – arqueou as sobrancelhas e não pôde segurar o sorriso irônico que tomou conta de seus lábios.

Anahí: Depois de um tempo… Quer dizer, eu estava puta da vida e meio bêbada com o efeito da tequila e tudo, não é como se eu fosse fazer esse tipo de coisa sóbria. Ele é um babaca! – sorriu de lado e Dulce riu. Era óbvio que a amiga faria a mesma coisa se estivesse totalmente sóbria. As duas sabiam disso. – Não interessa o que eu fiz ou deixei de fazer com o Ponchito. Interessa o que você fez ou deixou de fazer com Christopher.

Dulce: Eu não fiz ou deixei de fazer nada com Chris. – fez um careta e sentiu as bochechas levemente quentes.

Anahí: Você fez sim. – balançou a cabeça positivamente, com um sorriso malicioso.

Dulce: Eu só… Nós brigamos porque tinha uma loira idiota em cima dele e ele pareceu estar realmente aproveitando aquilo. – intensificou a careta ao lembrar daquele momento e depois deu de ombros. – Ele foi atrás de mim, pediu desculpas, disse que estava apaixonado e…

Anahí: Ele disse o quê? – parecia surpresa e Dulce não entendeu o motivo daquilo. – Meu Deus, ele te ama.

Dulce: Ele não disse que me amava, Anahí. – riu da expressão totalmente chocada da amiga.

Anahí: Para um garoto tipo ele, falar que está apaixonado é quase como falar que ama. – deu de ombros e sorriu. – E depois?

Dulce: Depois nós fomos até o deque e ficamos por lá até quase amanhecer. Tinha que chegar em casa antes que meus pais acordassem. – mexeu no zíper do casaco, levantando-o para cima e para baixo, até Anahí bater na mão dela, com um expressão irritada.

Dulce: Ai, sua louca. – riu e empurrou a amiga com o pé, fazendo com que ela voltasse a lhe bater. As duas gargalharam por algum tempo e logo que o silêncio tomou conta da sala, exceto pelo som que vinha da televisão, Dulce tomou coragem de fazer a pergunta. – Anahí, você acha cedo para eu ter vontade de ahn… Avançar as coisas com o Chris?

Anahí: Não. – sorriu e abraçou uma almofada. – Quer dizer, não é como se ele fosse qualquer um. Dá para perceber que ele realmente gosta de você e se você estiver preparada…

Dulce: Foi assim com o Poncho, não foi? – perguntou cuidadosamente e Anahí ficou algum tempo em silêncio, perdida em seus próprios pensamentos e lembranças. A amiga voltou sua atenção para Dulce depois de alguns minutos, sorriu levemente e assentiu. Podia parecer uma resposta incompleta, vazia para qualquer um, mas para Dulce, tinha sido extremamente suficiente.