Fanfic: Entre o amor e o futuro | Tema: vondy

Um mês. Exatamente quatro semanas, trinta dias e ela não era idiota o bastante para contar horas e minutos. Um mês desde que tinha saído da casa de Christopher com o rosto molhado de lágrimas, sem conseguir responder ao convite para o chá que a mãe do garoto fizera. Dulce lembrava de pouca coisa daquele começo de noite, para falar a verdade. No momento em que se despediu de Christopher com um beijo na testa do ex-namorado e saiu de seu quarto, tudo pareceu tomar forma automática. Ela sabia que tinha dirigido até em casa pelo simples fato de ter cruzado a porta de entrada e subido as escadas para seu quarto, sem nem ao menos notar se seus pais já haviam voltado do encontro com os amigos ou não. Sabia que tinha deitado em sua cama e olhado para o teto por um longo tempo, tinha certeza de que foram horas que haviam parecido mínimos segundos. Não escutou nenhum barulho, nem mesmo o zunido irritante que havia tomado conta de seus ouvidos naquela tarde tinha aparecido. Ela estava simplesmente surda. Era uma sensação esquisita que ela estava experimentando durante aquele período… O som havia voltado aos seus ouvidos na única vez que tinha visto Christopher depois do término. Poncho tinha ido buscar Anahí em sua casa e o garoto estava no carro do amigo, parecendo irritado por não ter sido avisado do desvio de trajeto. O zunido voltou aos ouvidos de Dulce com menos intensidade do que se poderia esperar e ela encarou os olhos castanhos dele sem interpretar nenhum papel, sem ter de demonstrar forçadamente que era suficientemente forte para superar a dor que estava sentindo… Ele entendeu, porque sentia o mesmo, mas acima de tudo ela pôde ver mágoa no olhar do ex-namorado, uma mágoa que ela já esperava, mas que não sabia que a afetaria tanto. Após o carro de Poncho ter partido, Dulce voltou a ser surda. Ela apenas se levantava todos os dias, encarava o envelope de Cambridge por tempo indeterminado, sem realmente pensar em nada e vestia sua roupa para o colégio. Nos fins de semana, era capaz de repetir a mesma rotina até perceber que não precisava ir para a escola. Ela simplesmente se trancava em seu quarto, recebendo Anahí quando vinha visita-la e tentando se concentrar nas tarefas que os professores passavam… Sabia que já tinha sido aceita pela Universidade que queria, mas não era como se pudesse deixar de importar com as notas finais.

Exatamente um mês até ela decidir que não queria mais ficar inaudível aos sons que circulavam ao seu redor. Não era fácil simplesmente ignorar o que ela estava passando, o que Christopher estava passando, o que os pais… O que todos que de alguma forma eram próximos dela, estavam passando. Dulce nunca foi de natureza egoísta, nunca se importou menos com o sofrimento dos outros por pensar que o seu era maior, nunca quis deixar ninguém absurdamente preocupado como estava fazendo, presa naquele estado catatônico. Foi até a casa da melhor amiga e a raptou, nas palavras de Anahí, para um orfanato. Ela precisava ajudar, precisava fazer sorrir, precisava se redescobrir sem Christopher… Não que tivesse deixado de amá-lo; se fosse possível, o sentimento que tinha pelo garoto tinha aumentado em proporções indizíveis, mas ela precisava de um tempo para sentir algo diferente, ela precisava de um tempo para reencontrar a si mesma, se aquilo fazia algum sentido.

Anahí: Dulce! –  gritou com quatro crianças ao seu redor, duas penduradas às suas costas. – Socorro?

Dulce: Que é isso? – ela gargalhou de forma sincera pela primeira vez durante um longo tempo e correu até a amiga para ajudá-la. – A tia já é muito velha e tem problema na coluna, é melhor não fazer mais isso, se não ela quebra ao meio.

Criança: Wow. – uma das crianças soltou assustada, enquanto as outras gargalhavam de forma infantil.

Anahí: Nossa, muito engraçado! – rolou os olhos e puxou o braço esquerdo de Dulce para checar que horas eram. – Amo crianças, você sabe, mas já faz duas horas que nós estamos aqui e preciso me alimentar antes que desmaie.

Dulce: Eu também. – assentiu e as duas se despediram das crianças, após longos protestos de que elas ainda tinham de brincar de várias outras coisas. As duas sorriram e prometeram que voltariam outro dia, se despedindo de cada uma com um beijo e agradecendo a diretora do local por deixar com que elas fizessem aquela espécie de serviço comunitário.

O sol já começava a se por quando as garotas chegaram à lanchonete que mais gostavam no píer da praia de Brighton. Dulce se sentou em uma das cadeiras e virou o rosto para o local onde ela e Christopher haviam passado muito tempo juntos, suspirou e começou a mexer no arranjo da mesa, mordendo o lábio inferior de forma ansiosa. Ok, talvez ela não estivesse pronta para superar de qualquer forma.

Anahí: Quer conversar? – ofereceu, encarando a amiga de forma preocupada.

Dulce: Não sei. – passou a mão pelos cabelos, afastando-os do rosto e voltou a suspirar. – Me sinto meio vazia.

Anahí: Acho que é normal. – ela assentiu de forma compreensiva. – Você sente muita falta dele?

Dulce: Mais do que é possível sentir. – sorriu de leve e sentiu os olhos arderem. – É difícil acordar todos os dias e não poder ligar ou receber as mensagens idiotas que ele sempre me mandava durante as aulas. Quer dizer, nós só nos vimos daquela vez.

Anahí: Por falar nisso, queria perguntar… – se aproximou um pouco e franziu o cenho. – Vocês decidiram que não seriam nem amigos?

Dulce: Não, nós não tomamos nenhuma decisão do tipo, mas acho que no momento é mais fácil manter distância.

Anahí: É difícil, sabe? Para os meninos. Quer dizer, eles te adoram, mas acham que precisam ficar do lado do Christopher.

Dulce: Ele precisa dos amigos agora, Anahí. _  sentiu uma lágrima descer por sua bochecha esquerda e a limpou rapidamente.

Anahí: Você também. – ela segurou a mão de Dulce e suspirou. – Se você quiser, nós mudamos de assunto.

Dulce: É só que acordo todos os dias com a esperança de que a gente se encontre sem querer por aí. Quer dizer, não é uma cidade muito grande, nós moramos meio que perto e frequentamos os mesmos lugares… Eu quero abraçá-lo e passar um tempo com ele, mas ao mesmo tempo me sinto egoísta porque sei que vai ser difícil para ele, é tudo tão conflitante que me dá vontade de arrumar minhas coisas e ir logo para Cambridge.

Anahí: Como se lá você não fosse sentir saudade dele também. – respondeu de forma carinhosa e suspirou. – Não quer tentar? Não é como se vocês precisassem ficar sozinhos. Posso conversar com o Poncho para ele falar com o Christopher e nós invadimos a casa do Bernardo amanhã.

Dulce: Amanhã é sábado. – falou de forma automática, fazendo com que a amiga sorrisse. Era esquisito que precisasse de um planejamento prévio para que pudesse ver Christopher, que os amigos precisassem conversar com os dois para saber se podiam se reunir como costumavam fazer, mas ela precisava e queria se encontrar com ele, certo? – Hm, acho que sim.

Anahí: Achar não é uma coisa muito segura. – fez uma careta, fazendo com que Dulce suspirasse.

Dulce: Sei que não. – ela assentiu e se levantou, amarrando os cabelos em um rabo de cavalo alto e bagunçado. – Se importa se eu der uma de estranha e pedir para ficar um pouco sozinha?

Anahí: Dar uma de estranha? – sorriu de forma carinhosa e brincalhona, assentindo para o pedido da amiga. – Tudo bem, posso ligar para o Poncho vir te substituir, já que estou morrendo de fome e não quero comer sozinha.

Dulce: Você é a melhor. – colocou a alça da bolsa no ombro. – Prometo que te ligo, assim que me decidir a respeito de amanhã.

Anahí: Sem problemas! Mas pensa direito, ok? Qualquer desculpa é usável para invadir a casa do Bernardo e usar a piscina. – disse de uma forma engraçada, fazendo com que Dulce desse uma de suas primeiras gargalhadas sinceras em semanas.