Fanfics Brasil - capítulo dois Antes De Partir

Fanfic: Antes De Partir


Capítulo: capítulo dois

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Aquele era meu primeiro emprego. Tudo bem que quando você acaba a faculdade de jornalismo, a última coisa que você pretende fazer é ser professora, mas eu já tinha aquela sede de querer ser independente e pagar tudo com meu dinheiro, então não importava de onde ele vinha, contanto que eu o recebesse.


A capital era bem transtornada e barulhenta, fazendo a Joana calma e sorridente do interior virar uma pessoa estressada e uma professora chata. O ambiente novo, as pessoas novas… Tudo aquilo me estava me fazendo virar alguém sem graça louca por café e por filmes que retratavam a roça, os quais me deixavam em sérios momentos nostálgicos.


Manhã de maio, nublada e monótona. Fiz tudo como sempre habituava fazer quando recebi um telefonema: “Filha, seu pai… Teve uma parada cardíaca.”


Minha família conseguia se alimentar com o que produzia em sua fazenda, mas nem sempre era o suficiente. A vida na roça me obrigava a trabalhar quando mais nova, mesmo contra as vontades de meu pai, que vivia dizendo que mulher criada por ele só devia trabalhar em casa. Eu era a única menina de uma “ninhada” de quatro filhos. Sempre recebia atenção especial de meu pai, e as vezes ele gostava de sentar-se comigo entre as macieiras para conversar. Não tinha amigos ou colegas, era apenas meu bom velho do bigode branco, dentes tortos e abraço que lembrava lar.


Receber a notícia de que meu pai havia morrido, e ainda saber por telefone, de tão longe de casa… Eu desabei em lágrimas, fiquei desesperada. Juntei todas as roupas e tralhas, pus numa mala e parti para a minha antiga casa.


O estado em que se encontrava a minha tão amada roça era horrível! As paredes da casa jaziam geladas, o tempo fechado e o cheiro de tristeza e morte impregnava-se em tudo. Meu pai não tinha ninguém de sua família vivo a não ser dois tios distantes e uma sobrinha novinha. Todos eles estavam lá, junto com minha mãe e meus dois irmãos Joaquim e Jones.


- Não vou querer continuar nessa casa… - Choramingava minha mãe depois de voltar do enterro. - Liguem para o Joselino e peçam a ele que me deixe morar com ele, por favor!


Joselino era o irmão mais velho. Saiu da roça cedo, cursou engenharia e o resto veio com lucro e moradia fora do país. Sempre dava tudo o que nossos pais pediam, mas nem em posição de filho se pôs para ir ao enterro do próprio pai.


Depois de toda a melancolia e apelação, minha mãe deu a casa para o meu irmão mais novo, Jones, e em menos de duas semanas, partiu para o exterior.


Passei mais alguns dias por lá depois de sua partida da roça. Meus dois irmãos me ajudaram bastante, mas com duas grandes despedidas como aquelas, todas de uma só vez, nada me fazia ficar bem, nada.


Quando finalmente resolvi voltar para a capital, dei uma última visita ao túmulo de meu pai, que ficou ao lado de nossa macieira favorita. Eu sabia que tudo iria ser diferente, que aquele lugar me traria ainda mais falta e que teria de viver sabendo que não me sentiria mais em casa apenas com o abraço de meu pai. Levei toda aquela situação como uma lição, que para respondê-la, teria que primeiramente ser forte.


A volta ao que eu chamava de vida foi ainda mais difícil de lidar. Aturar os alunos com um sorriso no rosto, guardando sempre os mesmos dois reais no fim do dia para comprar café e dormir sem uma mínima vontade de acordar no dia seguinte… Naquele momento, comecei a ter medo de acabar estando depressiva e para me ocupar um pouco, voltei as minhas eternas amantes, a escrita e a leitura.


Em um desses dias de indisposição, acordei tarde e perdi a hora da escola, e tudo foi ficando cada vez mais confuso. Decidi dizer “foda-se” para tudo, pus um casaco enorme que ganhara de meu pai no meu aniversário de vinte anos e saí pelas ruas, sem rumo, m perguntando o que seria da minha vida.


Segui umas luzes, atravessei uma avenida e acabei entrando em uma cafeteria qualquer. Pedi um café forte, sentei-me em uma mesa colada com a janela e lá permaneci quieta, olhando a movimentação do lado de fora, com as pernas abraças ao meu corpo, confusa e só.


“Deus, me ajude.” apelei, bebendo devagarzinho o que me mantinha consciente, sentindo as lágrimas subindo em meus olhos.


- Com licença? - Fingi que não tinha escutado. A última coisa que eu queria era falar com alguém. - A cafeteria está cheia e… Essa mesa é a única com apenas uma pessoa…


- Pode sentar. - Falei por fim, vencida. Estava tão irritada que não me atrevi a olhá-lo.


- Muito obrigado, senhorita. - Depois de um silêncio sufocante, pois-se mais uma vez a falar. - O que é isso que eu vejo?


Foi então que nossos olhos se encontraram, e um forte pressentimento bom caiu sobre mim. 


Abrigava em seu rosto um sorriso sem erros, iluminado e contornado pelos seus lábios rosados e grossos. Seus olhos eram negros e indecifráveis. Tinha cabelo liso e curto, castanhos. Vestia moletom e calças folgadas, parecia um vagabundo.


- O que você vê? - Perguntei curiosa. 


- Vejo uma mulher tão bela sem um sorriso no rosto.


- Não tenho motivos para isso.


- O que aconteceu?


O lancei um olhar incrédulo.


- Me perdoe, senhor, mas a minha mãe me ensinou a não contar sobre a minha vida a quem eu não conheço.


- Além da tristeza, também vejo mal humor?


- Quer saber o que eu vejo? Vejo um homem que se veste igual ao um sem teto que se encontra em uma cafeteria de quinta, e que está enchendo o saco de uma desconhecida! - Esbravejei.


- Na verdade, eu moro na casa aqui aqui em frente, a de primeiro andar, e eu tenho emprego, vivo bem e gosto de me vestir assim, muito obrigado. - Ele riu um pouco. - Você também não está vestida como uma grã fina! E a propósito, meu nome é…


- Eu não te perguntei nada! Me deixe em paz, por favor?


- Ok então, chata! - Ele riu e saiu da mesa. - Só lhe digo uma coisa: Acho que adoraria lhe ver sorrindo! - E saiu da mesa.


“Só loucos me aparecem!” pensei, e ainda consegui rir daquilo, me arrepiando. “Ele conseguiu.” e naquele momento, procurei por aquele sorriso por toda a cafeteria, mas não o tinha encontrado.


- Aqui está seu café. - Falou a garçonete, me entregando outro copo. 


Mas eu não havia pedido outro copo.


Agradeci mesmo assim, e finalmente desisti de procurar por aquele cara estranho, até que olhei para a tampa do copo: Será que eu ainda consigo?


E em baixo estava escrito o número do seu telefone.



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Autor(a): bjsclarinha

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Eu brincava com a tampa do pote de café enquanto sorria sem parar. Ficava me perguntando como ele tinha conseguido com tão pouco tempo… Com apenas alguns minutos de pura chatice de ambos, aquele homem misterioso conseguira fazer minha noite mais tranquila, minha aula menos entediante e minha mente em estado de paz, pela primeira vez sem pensar na mi ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • biacasablancasdeppemidio Postado em 07/11/2012 - 19:39:24

    MAAAAAAAAAAAIS quero maaais :)


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