Fanfic: Doce Silêncio

Faltava apenas uma semana para as férias. Ninguém mais queria saber de aulas nem de provas... Quer dizer, tirando os que estavam encrencados em recuperação. Como de costume, a professora Adelaide, uma velha ranzinza, corcunda e infeliz que dava aulas de história, teve a brilhante ideia de realizar o amigo oculto em sua turma preferida.

A sala 32 tinha cerca de trinta jovens dos mais variados tipos. À frente, sentavam-se os estudiosos. Ao fundo,  os bagunceiros. Espalhados por algumas carteiras, haviam uns esquisitos, sobretudo Hector, um garoto que estava prestes a terminar o ensino médio sem falar com ninguém. Durante todas as aulas, em todos aqueles anos, Hector limitava-se a escrever coisas em seu caderninho. Ninguém sabia o que ele tanto escrevia. Pelo jeito, ele iria levar todas aquelas anotações para o túmulo. 

- Silêncio! Atenção! Silêncio! - pedia a velha d aprofessora, tentando colocar alguma ordem naquela baderna. 

Um casalsinho se agarrava nos fundos. Um grupo de garotos estava fechado numa rodinha, conversando sobre garotas. Um grupo de garotas estava em outra panelinha, conversando naturalmente sobre garotos. Havia ainda a panelinha rival, das garotas mais populares do colégio. 

- SILÊNCIIIIIIO! - gritou a professora de história, quase infartando. 

Uma bolinha de papel cruzou os ares, pegando na cabeça de Hector, que continuava concentrado em suas anotações, escrevendo-se sabe-se lá o que. O jovem era motivo de chacota e diziam que ele já devia ter escrito um livro do tamanho da bíblia com tanta coisa escrita. 

- Bem... Essa é a penúltima aula e eu quero...

- AEEEE!!! - gritaram os garotos do fundo, interrompendo a professora. 

- Silêncio! Atenção! - voltou a gritar a senhora. 

Alguém, no fundo, fazia alguma gracinha. Piadinhas paralelas passeavam por entre as carteiras, além de bilhetinhos. Um aluno pediu para ir ao banheiro, planejando matar aula escondido lá dentro. Adelaide tentou continuar seu discurso:

- Bem, continuando... Hoje é a penúltima aula e eu vou me aposentar esse ano e...

- AEEEEEEEE! - gritaram os garotos do fundo, segurando cadeiras e a erguendo para o ar, como se o time de futebol tivesse feito gol.

Após alguns momentos, o silêncio voltou a reinar na sala. Adelandei tentou, mais uma vez, terminar suas palavras:

- Então... Eu quero fazer um joguinho de amigo secreto com vocês. 

Ninguém mais prestava atenção na pobre professora. tirando Amanda, que sentava na primeira fileira e constantemente puxava o saco dos professores.

- Claro, profi! Pode deixar que eu organizo tudo! - disse Amanda.

- Ah, obrigada Amanda... Você é uma excelente aluna. 

Amanda começou a preparar o sorteio, escrevendo os nomes de todos os alunos. Ela sabia que Hector jamais participaria do amigo oculto, mas mesmo assim resolvou escrever o nome dele. Em pouco tempo, os papelzinhos estavam dobrados e Amanda começou a distribui-los pela sala. 

- Se eu tirar o Fabrício, vou comprar uma peruca rosa pra ele! - disse alguém.

Outras piadinhas rolaram pela sala. Num dos cantos, Erica, a popular presidente da Revista da Galera, não tirava os olhos do celular. Já era a décima mensagem sem resposta que mandava para o namorado. 

Amanda, chegando perto dela e esboçando um sorriso irônico, estendeu as mãos com os papelzinhos e perguntou:

- O namoradinho não está respondendo? Será que ele está com outra?

- Cala a boca, sua idiota - retrucou Erica.

- Está brabinha? Então é porque eu falei a verdade.. Você está a aula inteira aí, mexendo no celular. Te toca, garota. O Breno não quer nada com você! 

- Está com ciúmes? 

 Amanda riu alto, forçndo o riso o máximo que pôde. Em seguida, voltou a estender as mãos, retrucando:

- Anda. Pega logo um nome. 

Erica pegou o papelzinho. Porém, antes de qualquer coisa, terminou de escrever sua mensagem: "Anjo, pode me responder? Você não falou comigo hoje. Bjo". 

A algazarra na sala continuava. Alguns riam e outros se frustravam ao verem quem tinham tirado no amigo secreto. Somente depois de alguns minutos, quase no final da aula, Erica desdobrou o papelzinho.

Nele esta escrito o nome de Hector, o garoto mais esquisitinho da sala. 

continua...