Fanfic: Doce Silêncio

- O Breno não me responde, não me antende! O que será que aconteceu? - perguntou Erica, entrando na sala do Grêmio de Literatura. 

Isabele, sua melhor amiga, estava digitando alguma coisa no computador. Usava óculos quadrados, era morena e seus cabelos eram lisos. Porém, vivia com eles presos. Ela era a responsável por diagramar a Revista da Galera. Em final de ano, a responsabilidade aumentava ainda mais, já que era a última edição do ano. Portanto, a equipe precisava fechar a edição com chave de ouro.

- Ah... Vai ver que ele ficou com o celular desligado, sei lá amiga... - murmurou Isabele.

- Eu mandei dez mensagens hoje de manhã! Ele não me respondeu! - disse Erica, aflicionada. 

- Olá, galera - saudou Victor, o presidente do Grêmio de Literatura. 

Ele era um rapaz empolgado, popular e extrovertido. Adorava festas e já chegou a ficar com Erica por um tempo antes de ela conhecer o Breno. Porém, não foi nada de mais. Hoje, por ironia do destino, atuam no mesmo grêmio: ele como presidente do grêmio e ela como presidente da revista. 

- Já falou com o Bernardo? Precisamos de fotos para a revista! - perguntou Erica.

- Calma... Ele deve ter ido almoçar. Vocês não vão almoçar não? Temos muito trabalho pra tarde - disse Victor, sentando-se numa cadeira.

Erica pegou novamente o celular, escrevendo a sua décima terceira ou quarta mensagem para o namorado: "Vai almoçar? Me liga. Bjo, meu Anjo". 

Erica estava terminando o ensino médio e Breno estava terminando o seu primeiro ano em engenharia mecânica, numa faculdade próxima ao colégio. Os dois se conheceram no ano passado num luau promovido pela turma de Breno, que estava no terceiro ano. Acabaram ficando na festa e resolveram namorar de vez, com compromisso e tudo mais. 

- Gente, esse computador está maluco! Está com vírus! Só pode... - remungou Isabele, dando tapas no teclado para ele voltar a funcionar. 

Victor se aproximou de Erica e perguntou:

- Tudo bem com você? Parece meio aflita. 

- Tudo! Tudo sim! Imagina, que nada - respondeu a garota rapidamente. 

- Se a revista estiver muito pesada pra você, eu dou meu jeito. Fim de ano dá muito trabalho mesmo. Escrever toda a retrospectiva do ano é complicado.

- Sim, já estou acostumada. Esqueceu que eu estou há três anos aqui? - retrucou Erica, meio grossa. 

- Hehe... tudo bem... Você é quem manda. Diga uma coisa... Vai almoçar? - perguntou Victor, com um pequeno sorriso.

- Sim, devo sim... 

- No de sempre? Lá no Dingo?

Erica engoliu em seco. Já sabia aonde aquele diálogo iria chegar. Queria logo dizer: "Não, eu não quero almoçar com você, assim como eu não quero mais nada com você". Porém, limitou-se a sorrir, desculpando-se:

- Não... Eu vou almoçar em outro lugar com o meu namorado. 

Victor, meio embaraçado, murmurou:

- Ah, tá... Tudo bem... A gente se vê de tarde... 

 O presidente do grêmio saiu da sala. Isabele, que estava tão concentrada no computador, esboçou um sorriso e disse:

- O Victor realmente está interessado em você, hein? Desde que vocês dois terminaram.

- Afff... AH, vá! Claro que não! - resmungou Erica, pegando o celular.

Já devia ser a décima quinta mensagem. A garota estava começando a ficar sem créditos. Ela digitou: "Anjo, vamos almoçar juntos hoje? Pode ser em qualquer lugar, menos no Dingo. Todo mundo do colégio almoça lá. Queria algo mais especial... Bjo... Me responde, please".

Erica, ao sair da função de mensagens, viu a foto que preenchia a tela do celular. Estava abraçada com Breno numa viagem que tinham feito com o colégio na época em que começaram no namoro.

- Fiquei sabendo que a sua turma fez amigo secreto? Não acredito que aquela professora horrorosa de história teve essa brilhante ideia - murmurou Isabele, esperando o computador desligar.

- Afff, nem fale... Nem adivinhe quem eu tirei - disse Erica, pegando sua bolsa.

- Quem? O Rodrigo? Ou a mocreia da Amanda? - perguntou Isabele, dando tapas no monitor e fazendo a tela mudar de cor enquanto desligava. 

- Que nada... Você nem vai acreditar.

- Fale! Quem? Você sabe que eu odeio ficar curiosa! Sabe que eu quero ser jornalista! Qual é a bomba?

- Eu tirei o Hector.

Isabele fez uma careta, surpresa. Voltou a dar um tapa no velho monitor, que se apagou de vez. Olhou incrédula para Erica, perguntando:

- O Hector? Aquele... esquisitinho autista?

- Isso... 

- Ah meu Deus!

- Eu digo o mesmo.

- O cara não tem vida! Ele não fala com ninguém! O pessoal sacaneia ele todo dia! Estava até com medo de dar a louca nele e invadir a escola com uma faca se vingando de todo mundo! O que você vai dar de presente?

- Não faço a mínima ideia... Não estou preocupada com isso. Vamos almoçar.

- Aff, colega... Dá um... sei lá. Uma caneta nova e um caderno, pois é o que ele fica fazendo a vida inteira.

- Depois eu penso nisso. Agora, estou pensando se eu enforco o Breno ou se eu o guilhotino, porque ele não me respondeu nenhuma mensagem! Vamos almoçar... Conhece algum lugar que não seja o Dingo? Victor deve estar lá e eu disse pra ele que não iria pra lá. Preciso fugir dele.

- Bem... Podemos procurar. Deve ter outro restaurante ou lanchonete, que seja... Vamos logo. Estou faminta. 

De repente, o computador ligou sem motivo aparente. Isabele, com raiva, limitou-se a retrucar:

- Aff! Computador maldito!