Fanfic: Coração Eterno♥ {A&A}♥ (Finalizada)

Os ombros largos estavam tensos.

— Sabia como me sentia em relação a esse assunto. Você sabia... e engravidou assim mesmo. Foi para isso que se casou comigo? Para me usar como um garanhão? — Ele girou, revelando a face cheia de dor e raiva. — Droga, Anahí! Confiei que você tomaria as malditas pílulas! Por que não tomou?

— Fiquei gripada. Não conseguia tomar nada.

Alfonso  paralisou. Engoliu em seco, fitando-lhe a face pálida como uma folha de papel e o olhar transtornado. Quando percebeu o que dissera e o quanto a havia ferido, o remorso o atingiu com uma força que quase o fez se dobrar. Anahí o amava. Se tinha certeza de alguma coisa era daquilo. Também sabia que ela jamais teria engravidado de propósito. Moveu-se, estendendo os braços em direção a ela, mas Anahí deu um passo atrás e esticou a mão para impedi-lo de se aproximar.

— Consultei-me com a dra. Easterwood hoje — disse ela com a voz baixa e sem entonação. — Quando contraí a gripe e não pude tomar as pílulas, a interrupção na dosagem permitiu a ovulação... e a concepção.

Anahí havia consultado a médica naquele mesmo dia e tivera a coragem de lhe contar imediatamente. Amava-o o bastante para lhe contar.

E tudo que fez, foi atirar nela uma culpa que era mais dele do que de Anahí. Se tivesse pensado, teria sabido que ela não estava em condições de tomar a pílula. No primeiro dia em que se sentira melhor, havia feito amor com ela. Teria sido naquela noite ou no dia seguinte, no exíguo escritório, com Anahí empoleirada na mesa e a face adorável em êxtase por sua possessão bruta, rápida e extremamente prazerosa?

— Desculpe-me — disse Alfonso  em tom gentil, desejando mais do que tudo no mundo, que não a houvesse magoado. Percebeu a forma tensa com que Anahí tentava se controlar. Era como se estivesse envolta em uma dor profunda e a visão lhe contraiu o coração. Naquele momento, apesar da própria dor e desespero, ele soube que Anahí o amava. A percepção tornou vital abrandar a dor que ela estava sentindo. Com um gesto vagaroso estendeu a mão para tocá-la mais uma vez e Anahí permitiu que a abraçasse.

Alfonso  a puxou contra o corpo, esfregando-lhe as costas com as mãos como se aquilo pudesse afastar a dor que lhe impingira. Anahí não estava chorando e aquilo o preocupou mais do que um pranto violento o teria feito. Se ela estivesse chorando, estaria dando vazão às emoções que reprimia. O corpo esbelto se encontrava tenso em seus braços e Anahí não o abraçava. Continuou a lhe acariciar as costas e murmurar palavras gentis até que ela começou a relaxar. Lentamente, os braços delgados escorregaram pelos ombros de Alfonso . Levou algum tempo para que ele conseguisse tirá-la do silêncio chocado em que se encontrava, até sentir que Anahí estava preparada para discutir a melhor solução para o problema. Ainda a segurando nos braços, reconfortando-a com seu toque, perguntou:

— Marcou uma consulta?

Anahí pareceu não compreender a pergunta.

— A dra. Easterwood quer me ver duas vezes por mês.

Alfonso  meneou a cabeça.

— Quis dizer uma consulta para um... um... aborto. — Apesar do que sentia em relação àquela situação, era difícil proferir as palavras.

Anahí se desvencilhou e o fitou, perplexa.

— O quê?

Naquele momento, Alfonso  soube que ela não havia pensado na solução do problema. Sequer havia considerado aquela possibilidade e sentiu um frio na espinha. Afastou-se com os olhos escurecidos pelo transtorno que experimentava.

— Não quero que tenha esse bebê — disse, sem rodeios. — Não quero nenhum filho. Nunca mais.

Anahí sentiu como se tivesse recebido um soco no peito. Tentou empurrar algum ar para dentro dos pulmões, mas não conseguiu. Fitou-o com medo de desmaiar. Por fim, conseguiu inspirar.

— Este é seu filho também! Como pode querer...

— Não — interrompeu ele. A voz áspera pela dor. — Enterrei meus filhos. Fiquei de pé ao lado da cova, vendo a terra cobri-los. Não posso passar por isso de novo. Não posso aceitar outro filho, portanto, não me peça para tentar. Aprendi a viver sem eles, sem meus meninos, mas nenhuma outra criança... nunca... os substituirá. — As feições de Alfonso  se encontravam distorcidas pela dor, enquanto também ofegava como se fosse quase impossível continuar.

Lutou por controle e o conseguiu, embora uma camada de suor lhe brotasse à testa pelo esforço.

— Eu a amo — disse Alfonso  em tom mais calmo. — Anahí, eu a amo. Mais do que pensei que seria capaz outra vez. Amá-la e tê-la devolveu-me a razão de viver, algo pelo que ansiar todos os dias. Mas outro bebê... não. Não posso fazer isso. Não tenha essa criança. Se me ama, não... não tenha essa criança.

Anahí oscilou e, em seguida, conseguiu se aprumar, recorrendo a toda a determinação que possuía. Nenhuma mulher merecia ouvir aquilo, pensou, perplexa. Amava Alfonso , e por aquele motivo, tinha de amar seu filho. Compreendia a pressão a qual estava submetido. Vira a expressão de seu rosto, quando se encontrava parado ao lado da sepultura dos filhos e percebeu que desejava deitar lá e ser enterrado junto com eles, se pudesse. Mas saber de tudo aquilo e compreendê-lo não tornava as coisas mais fáceis para ela.

Alfonso  a fitou refletindo o inferno em seus olhos e, de repente, as lágrimas os inundaram e escorreram por seu rosto.

— Por favor — suplicou com voz trêmula. Anahí mordeu o lábio inferior até fazê-lo sangrar.

— Não posso — respondeu ela.

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