Fanfic: Swan Song | Tema: One Direction

Acordei com a cabeça apoiada contra a parede. Eu tinha dormido sentada. E sentia os efeitos disso em minhas costas, agora duras e sem vontade alguma de se mover. Me espreguicei dolorosamente e tentei levantar. Estava na casa novamente. E estava totalmente escuro aqui, apenas por um pequeno feixe de luz. Tinha feito algumas reformas como colocar tabuas nas portas e janelas enquanto eu estava desacordada. Eu não via muito além do meu próprio nariz, então fui passando as mãos pela lateral, até achar um ponto mais volumoso onde comecei a chutar incansavelmente. Ouvi o barulho de algo e vi que era uma pessoa. Ela tocou no meu braço, me fazendo gritar.

–Quem é você? – perguntou e eu imediatamente reconheci a voz.

–Fala sério. De todas as pessoas pra me deixarem trancada numa casa, tinha que ser você?

Catheryne não respondeu, mas imaginei que ponderava sobre o assunto.

–Essa é a terceira vez que eu sou seqüestrada só essa semana, isso sem falar que uma maníaca de quatorze anos ainda tentou me matar. Eu colei um chiclete na cruz, só pode. Devo ter dançado macarena em cima do velho testamento, feito uma fogueira com a bíblia...Não tenho a mínima idéia, mas algo de muito ruim pra merecer isso...E você.

–Também é desagradável pra mim, colega.

–Não parece. – murmurou e eu voltei a chutar o que eu julgava ser a porta – Não adianta. Eles saíram de carro.

–Filhos da mãe – murmurei e então fui me sentar – Estou faminta. Onde está minha mochila?

Tateei pelo chão procurando, mas não havia nada ali.

–Hm, eles levaram não é?

Catheryne me aplaudiu.

–Palmas para a Mrs. Obvia.

–AAAAAAAAH EU QUERO SAIR DAQUI – berrei a plenos pulmões e deixei o resto do corpo cair no chão, até estar deitada de bruços na superfície fria. Me aconcheguei ainda mais em meu casaco, feliz por ele estar ali.

Eu não tinha idéia de onde Catheryne estava até sentir alguém tocar no meu braço.

–Para de me assustar assim, animal – murmurei e ela riu.

–Não parecia uma garota de levar sustos quando veio aqui me salvar.

–Tanto faz – murmurei, sentindo o cansaço me dominar mais uma vez – Eu não vou agüentar ficar aqui por muito mais tempo.

Ela puxou meu corpo, me fazendo deitar em seu colo. Por ser pequena, admito que fiquei um pouco confortável. Catheryne começou a mexer em meus cabelos.

–Eu adorei seus cabelos sabia?

Imaginei que meus cabelos deviam estar embaraçados e sujos, mas senti que Catheryne estava tentando ser legal.

–Também adorei os seus – murmurei. Mas seria obvio porque os cabelos dela eram idênticos ao que os meus eram quando eu ainda estava viva...Bocejei.

–Está com sono? Por que não dorme?

–Depois da nossa briga, ainda vai ser legal comigo?

Senti que ela dava de ombros.

–Te meti nessa furada, então penso que...

–Uau, você pensa! – murmurei e ela deu uma risada.

–Enfim, como está seu braço? – ouvi um traço de culpa em sua voz.

–Arrebentado, quebrado, esfolado...

–Suas pernas?

–Arrebentadas, esfoladas...

–Você está toda ferrada – ela comentou e eu assenti.

–Não poderia estar pior. – e bocejei novamente.

–Durma. – Catheryne

–Não vou deixar você sozinha... – murmurei sonolenta, mal conseguindo manter os olhos abertos. Catheryne começou a cantarolar uma antiga canção de ninar que eu sabia que conhecia. Sua voz era linda e doce; perguntei-me como não pude perceber que minha antiga voz era tão bela. Eu era realmente retardada – Que música é essa?

Catheryne deu de ombros.

–Minha mãe, eu acho, cantava pra mim quando eu era bem pequena. Mas faz muito tempo...Eu só me lembro da música, não lembro exatamente do seu rosto. Ela tinha uma voz muito bonita e cantava assim para que eu dormisse.

–Minha mãe também – comentei.

–Sério? – senti que ela levantava as sobrancelhas.

–Sim.

–Que estranho – ela suspirou – Mas enfim, durma. Você está cansada demais.

Queria protestar, mas Catheryne cantou mais alguns versos e meus olhos pesaram, até eu adormecer.

[...]

Acordei com Catheryne me puxando para trás. Abri rapidamente os olhos com uma claridade estranha queimando meus olhos acostumados ao escuro ; alguém tinha aberto a porta. Vi a sombra gigantesca e sabia que não teria chance contra esse mamute. Ainda mais por serem dois. Imaginei o que fariam ali; se tinham vindo maltratar ainda nós duas ou quem sabe...apenas uma. Catheryne me puxava, fazendo com que nós duas ficássemos encolhidas num canto do que devia ser a cozinha. Felizmente, eles entraram apenas para pegar alguma coisa e colocar uma lanterna em nossos rostos; provavelmente para ter certeza de que estávamos ali. Catheryne murmurou algo como “fique calma”, mas eu tremia.

Os dois pegaram algo e saíram rapidamente, trancando a porta. Meus olhos demoraram um pouco para se acostumar à escuridão, mas meu nariz ardia com um fedor de gasolina.

–Acho que o carro dos mamutes está vazando – murmurei, sem pensar realmente muito a respeito.

–Vazando? – Catheryne repetiu – O cheiro está insuportável, será que...

–Não deve ser nada – dei de ombros.

–Sei... – ela murmurou ainda desconfiada, mas ouvi um baque surdo como alguém se sentando. – Ainda está com sono?

Me pus de joelhos e comecei a procurar ela com as mãos. Quando a achei, apoiei minha cabeça em seu ombro ; Catheryne não reclamou.

–Estou bem – assegurei – Mas estou com um pouco de sede.

Catheryne suspirou.

–Eu também. Mas fique calma...A ajuda está a caminho. – ela tentou parecer confiante, mas eu não acreditava. – Agora,durma mais um pouco. Eu vou vigiar pra ter certeza de que vai ficar tudo bem, certo?

–Você é quem sabe – murmurei e desmaiei em seu colo novamente.

[...]

Minha garganta queimava e eu me perguntei o que Catheryne estaria fazendo ou onde estava, porque estava com o rosto deitado no chão fresco. Parecia que tinha esquentado alguns bons graus dentro da casa. Estava fervendo e suando feito louca. Meu casaco já grudava em mim. Tossi várias vezes até me convencer de que algo estava errado.

–Catheryne? – chamei e ouvi tossidas distantes – Mas que porra Catheryne, cadê você?

Eu não conseguia ver nada. E constatei o motivo. A casa estava em chamas.

–De novo não – murmurei baixinho e depois olhei para o teto pronto para despencar – Seu senso de humor...É terrível.

Mais tosses. Coloquei o casaco em frente ao rosto para evitar o contato com a fumaça. As chamas consumiam quase tudo. E eu não sabia onde Catheryne estava apesar da luz que as chamas projetavam.

Carro vazando. Mas é claro! Dei tapas em minha própria cabeça. Era bem claro que eles iam colocar fogo. Nenhum criminoso que se preze deixa o carro vazando não é mesmo...

–Catheryne – chamei de novo e vi sua forma tremendo no chão.Fala sério, eu não consigo cuidar de uma pessoa apenas sem quase deixar ela morrer duas vezes. Fui atrás dela bem em tempo de empurra-lá pra longe quando parte do teto desabou. Uma farpa entrou em minha mão, mas não liguei. Com a queda do teto, uma lufada de ar puro veio em minha direção. Ventava muito. Eu tinha certeza de que isso levaria o fogo longe. Puxei Catheryne pelos braços bufando e a joguei em cima do teto caindo. Ela berrou. Estava fervendo, é claro. Pisei em cima dele. Parecia que as solas de meu sapato estavam derretendo, que minha pela derretia. Tinha pouco mais de um metro até o chão, então joguei Catheryne. Ela deu um berro assim que caiu e eu logo percebi o porquê. – Foi mal!

Pulei também e me lembrei de cair com mais cuidado ; Catheryne tinha torcido o tornozelo. OK, tudo está perfeito. Vai ser lindo carregar ela agora, caso os bandidos voltem. Passei a mão por sua cintura e a arrastei para uma sombra. Coloquei-a delicadamente no chão.

Ela gemeu.

–Ninguém mandou querer cair de pé – murmurei e ela me fuzilou com o olhar. Limpei a fuligem de seu rosto – Vai ficar tudo bem, eu prometo.

–Tanto faz – ela murmurou depois olhou para o pé – Devia estar virado para o outro lado não é? Oh, meu deus, eu vou vomitar.

Murmurei algo que a acalmasse até começar a ouvir barulhos de pneus. Catheryne me olhou assustada, mas eu tinha um bom pressentimento em relação a isso. Quando ela fez menção de levantar, mandei que se deitasse de novo. Ouvi o barulho de sirenes e Catheryne deu um sorriso frágil deitando a cabeça no chão novamente.

Vi os carros de policia e a ambulância chegando e não pude evitar de sorrir também. Estávamos salvas. Cai ao lado de Catheryne, pensando que finalmente parte do inferno tinha acabado. Eu estava em paz no momento.