Fanfic: Swan Song | Tema: One Direction

June tinha quatorze anos. Eu mal a conhecia. Ela era melhor amiga de Louis e sabia que ele sentia algo mais, embora eu desaprovasse completamente. Encontrei seus ombros e a empurrei delicadamente.

–O que foi isso? – June murmurou para si mesma, arregalada.

–Faço das suas palavras minhas – falei, piscando diversas vezes tentando entender o que acabara de acontecer.

–Isso foi...- June começou, mas aparentemente não conseguiu articular em palavras. Ela baixou a cabeça, mas vi suas bochechas levantarem. Como podia sorrir com isso?

Digo, eu tinha uma vontade enorme de sorrir, e ainda mais porque aparentemente eu estava muito feliz com o que acabara de acontecer, mas isso era algo como meu coração. Meu cérebro me dizia o quanto eu tinha sido irresponsável, louco, traidor...E eu mal conseguia ouvir ele pela culpa considerável que eu sentia.

–Hm – June murmurou – Acho que devíamos nos beijar de novo para quebrar a tensão.

Olhei arregalado para ela e percebi que sorria. Então não pude deixar de sorrir e rir também. Algo naquele sorriso tão desconhecido, mas ao mesmo tempo tão familiar.

Algo martelava em minha cabeça e eu parei de sorrir imediatamente. Catheryne. Caramba, como fui esquecer? Levantei de súbito e June me encarou surpresa.

–Que foi?

Não respondi e comecei a cutucar Louis. Ele sequer abriu os olhos. É, está na hora de fazer um cosplay de Ally Cunha aqui. Como não tenho café, vai de água mesmo. Tirei a rosa delicada de dentro do vaso fino e joguei a água toda do recipiente em cima de Lou, que acordou com um berro.

–Qual é o seu problema, seu...Seu...Seu coiso! – Louis cuspiu a ultima palavra, então imagino que devia ser considerado uma ofensa muito grande.

–Eu tenho que ir para New Jersey – murmurei e ele esqueceu toda a raiva, se sentando imediatamente na cama. June escutava atentamente.

–Para que? Acabamos de chegar. – ele comentou. – Ainda nem aproveitamos tudo que essa cidade tem a oferecer, sabe, eu estava pensando em...

–O pai da Cath teve uma overdose – falei bruscamente, interrompendo Louis.

June teve um acesso de tosse as minhas costas e Louis arregalou os olhos, surpreso.

–O pai dela? Mas...O que ele estava fazendo em New Jersey?

–Procurando por Cath – falei nervoso e controlando as mãos, que se mexiam involuntariamente.

–Hm, e...Onde está Cath? – June perguntou. A pergunta obvia que Louis não fez.

–Hm, ela foi para o hospital onde ele está – falei com a voz raspando, não tinha coragem de olhar para June agora que pensava em Cath.

–E você está indo para lá – novamente June falou o obvio. Louis com os olhos quase fechando novamente não parecia exatamente interessado.

–Sim.

–Hm, interessante – Louis murmurou e se jogou no travesseiro novamente.

–Uma vida está em jogo e ele está assim – June murmurou aparentemente com vergonha – Mas eu vou com você. – ela sorriu.

–Como é que é? Você ir comigo? Causamos acidentes demais quando estamos juntos, não acha?

Ela pensou por um momento.

–Geralmente, a culpa é sua.

–Culpa minha? – repeti indignado – Na maioria das vezes é culpa sua. Eu ainda não sei porque você me odeia!

–Eu estou tentando ajudar agora, não dá pra perceber isso? – ela se levantou, me encarando firmemente.

–Desculpa, mas eu estou querendo evitar bater o carro e morrer! – revirei os olhos sarcástico.

–Eu vou – ela disse com os dentes cerrados – Queira você ou não, eu vou.

–Não vai não. – falei em tom definitivo.

[...]

–Eu adoro essa música, aumenta o som, por favor? – June pediu do banco de trás. Caso ficasse no do carona, causaria um acidente de proporções drásticas.

Sim, ela acabou me convencendo a levar ela. Na verdade, ela não me convenceu, ela simplesmente entrou dentro do meu carro e se recusou a sair. Eu pegaria outro ou até cogitaria alugar,se não fosse o fato dela estar dentro do meu carro, com a chave na mão, ameaçando ligar e ir para New Jersey sozinha. Pode não parecer falando assim, mas foi bem convincente.

–Você está usando o cinto de segurança? – perguntei pela centésima vez, porque das outras noventa e nove ela me ignorara completamente.

–Não, Harry, claro que não – ela disse sarcástica.

Já tinha escurecido, então Paul não quis que os outros fossem. Na verdade, ele sequer queria que eu fosse, mas ele sabia o que Cath significava e deixou eu fazer a viagem de quarenta minutos. Claro que com June me infernizando, a viagem parecia bem mais curta.

–Ainda não aumentou o volume – ela cantarolou.

–Não vou aumentar. Eu detesto essa música. – murmurei.

–Bom, eu gosto, então aumente o volume.

–Não vou.

–Então eu vou aumentar. – ela disse tirando o cinto e saltando pro banco da frente.

–June, o que tem de errado com você? Ficou louca?

June revirou os olhos, já afivelando o cinto. Era a menina de quatorze anos mais louca que eu já conheci; se bem que, deve ser realmente a pessoa mais louca que eu já conheci, incluindo Louis na equação.

–Eu não tenho mais nove anos, Harry. Posso sentar no banco do carona. E aumentar a música – ela girou o botão e o som ficou insuportável. Alto demais.

–Abaixa essa porcaria – falei colocando uma mão no ouvido, e a outra continuando no volante, para controlar o carro.

–Isso não teria sido necessário se você tivesse aumentado na hora em que te pedi. Agora fica quieto que essa é a minha parte favorita. – ela riu.

–É exatamente por isso que eu não queria trazer você. June, você me enlouquece! – falei exasperado. – Parece até...Parece até... – me calei. Eu não faria essa comparação. Por sorte, June não insistiu no assunto.

–Nossa, para de reclamar. Parece que só sabe fazer isso – ela deu de ombros. – Se eu estou te irritando, deve ter um motivo.

–E pelo amor de deus, me diga qual é – implorei, mas ela fez careta.

–Eu... – ela abaixou o som e fechou os olhos com força – Não posso dizer, mas é bem ruim.

–Eu vou insistir apenas para me vingar, então.

–Se você sequer tentar insistir, eu vou te dar um chute com uma potencia que você nunca sentiu na vida. – ela disse ameaçadora e eu achei que era melhor não discutir. Às vezes, era bom deixar June impune.

–Não podemos, pelo menos, nos dar bem? – pedi e ela revirou os olhos e sorriu minimamente.

–Já nos damos bem, Harry querido. – ela gargalhou – Ok, foi brincadeira. É só que...Desde que eu voltei, você meio que...Sei lá, é que você e...Ah, droga, o que eu estou dizendo?

–Continue! – incentivei – Estava indo tão bem.

–Não vou continuar.

Ela ficou quieta por um momento, olhando as mãos. Não entendi direito, tentei pensar em suas palavras, mas não havia nexo algum.

–Sinto muito sobre o que rolou no quarto hoje... – murmurei.

–Pois eu não – ela disse baixo, e eu não sabia se ela realmente queria que eu ouvisse, mas eu ouvi.

–Eu sei que eu causo nas mulheres seus instintos mais primitivos e...

–Sério, Harry, se o Liam te chamar novamente para assistir Disney com ele, recuse na hora.

Demos risada. E posso dizer que a viagem ficou bem mais divertida a partir daí. Finalmente estávamos nos dando bem. E realmente parecia que eu conhecia June desde...Bastante tempo.

–Harry – June me chamou.

–Sim?

–Agora que estamos nos dando tão bem...Bem, pode aumentar um pouco a velocidade do carro?

[...]

–É aqui? – June questionou, já saltando do carro para a noite fria e com pouco vento. – Que droga. Detesto hospitais.

–Então por que diabos quis vir junto? – perguntei confuso – E fica perto de mim porque já é bem tarde e pode ter um louco solto por aí.

–Acho que nesse caso, é você quem devia ficar perto de mim – ela assoviou e eu revirei os olhos.

–Vem logo, June – murmurei puxando ela, fazendo com que ficasse bem próxima.

Entramos no consultório e uma lufada de ar quente nos atingiu. Era um lugar que se podia pensar ser confortável, mas eu estava angustiado por aquele cheiro que apenas hospitais tem. June foi em direção a recepção e eu a segui.

–Estamos procurando um cara que...Teve uma overdose – June sorriu amigavelmente para a mulher que tinha cara de poucos amigos.

–Eu não gosto de você – a mulher comentou imediatamente.

–O sentimento é absolutamente compartilhado! – June sorriu mais ainda- Agora, onde está...

Ela olhou para mim pedindo ajuda.

–Charlie Dawson. – falei por ela – Somos amigos da filha dele...

–No final do corredor – a mulher sorriu ao ver quem eu era. June imitou ela fazendo um sorriso sarcástico. – Terceiro quarto à direita, Harry querido.

–Muito obrigado – sorri e fui em direção ao corredor.

–Sabe – ouvi June comentar em alto e bom som – Ele tem namorada.

–É pra acabar – murmurei puxando June com as duas mãos pela cintura, levantando a criatura de um metro e cinqüenta do chão por vários segundos enquanto ela se contorcia em meus braços. – Precisa mesmo fazer com que a recepcionista odeie você?

–Ela começou, agora me coloca na porcaria do chão – ela disse se contorcendo, até cair de meus braços, de joelhos no chão. – Obrigada, Harry querido – ela disse forçando a voz a ficar fina.

–Não me agradeça. Ela disse terceiro quarto a o que mesmo?

–Esquerda. – June deu de ombros.

–Não, era direita – murmurei analisando os quartos.

–Se sabia por que perguntou?

–Porque eu tinha esquecido.

–Hm – ela revirou os olhos – Ah, olha a Catheryne ali.

June apontou para umas cadeiras no canto do corredor. Catheryne estava com a cabeça apoiada nas mãos cruzadas em frente ao corpo e com os cotovelos apoiados na perna. Seu corpo se mexia para frente e para trás; ela estava chorando.

–Quem é aquele ao... – June murmurou e eu olhei.

Então percebi que a situação já ruim estava prestes a piorar. E muito. Ao lado dela, Logan deu um sorriso reconfortante para mim.