Fanfic: Swan Song | Tema: One Direction

 

Ally Cunha

Corri o mais silenciosamente possível e me escondi atrás de uma arvore gigantesca, me encolhendo ao máximo ali atrás. Ouvi ele me chamar e depois os passos seguiram outra direção. Me atrevi a espiar por poucos segundos. Ele estava lendo meu bilhete agora. Deitei na confusão de folhas e terra úmida que era o chão, de uma maneira que eu ficava totalmente escondida, mas mesmo assim ainda podia observá-lo. Ele pegou o laptop e assistiu o vídeo novamente. E mais uma vez. E de novo.

Era melhor assim. Era melhor ele pensar que eu fui a responsável pelo incêndio e ficar com ódio de mim do que saber que eu morreria e ficar triste. Eu pensava sobre tudo no bem e na felicidade de Harry. Ele não podia saber quanto sofrimento isso causava em mim, quanto sofrimento o amor dele me causava. Eu o amava tanto e não suportava a idéia de deixa-lo. Nunca. Mas isso seria pelo bem dele. Ia ser melhor assim. Coloquei a mão na boca para evitar soluçar, mas as lagrimas escorriam sem nenhum impedimento. Talvez ele me esquecesse, e quando eu deixasse o mundo, talvez ele nem sequer se importasse ou se lembrasse de quem foi Ally Cunha. Era melhor assim. Harry não podia sofrer por minha causa. Ele pensaria que eu sou uma louca, que não me importo com ele, mas era melhor do que saber que eu o amo mais que minha vida e que vou morrer alimentando esse amor.

–Harry? – ouvi alguém chamar. Ele também porque virou a cabeça pra direção da voz.

–Harry? – outra voz. Era Liam, reconheceria aquela voz em qualquer lugar. A voz de todos eles. Dei um suspiro baixo.

–Harry! – Louis apareceu e deu um abraço em Harry, quase derrubando ele da pedra – Seu idiota!

–Harry! – Liam apareceu todo com seu jeitão de pai. Eu sentiria falta – Caramba, voce sabe que horas são Styles? Não tem medo de morrer não é?

–Ficar numa floresta a essa hora da noite – Zayn disse desaprovador – Eu não aconselho, a menos que tenha uma garota aqui – Zayn falou bem alto e riu do eco.

–Não tem ninguém aqui – Harry falou com a voz cortante e Zayn deu de ombros. Ele tentou levantar Harry da pedra, mas Harry insistiu em ficar sentado.

–Anda logo, Harold! Tá tarde – Zayn falou tentando levantar Harry da pedra, mas Harry se sentou no chão úmido e cheio de folhas dessa vez.

–Não quero – ele disse feito uma criança mimada.

–O que aconteceu aqui, exatamente? – Liam perguntou se sentando ao lado de Harry e apoiando a cabeça na pedra como ele.

–Não sei o que foi. – ele se levantou e jogou o bilhete em Liam – Estava certo afinal. Eu vou pra casa.

–Que casa? – Zayn perguntou sério.

–A sua, tanto faz –ele disse passando pelos garotos que se juntaram para ler o bilhete.

–Ah,deus - Liam falou e foi atrás dele – Qual é Harry – ele tentou puxar Harry pelo braço, mas ele se esquivou e continuou seguindo a trilha.

–Vai ser uma noite difícil – Niall comentou pegando o laptop que Harry tinha esquecido. Louis e Zayn confirmaram e saíram andando atrás dos outros dois.

Eles já tinham ido embora tinha pelo menos uns cinco minutos, então já era seguro levantar. Eu nem estava tão suja assim. Me levantei e abanei as folhas que grudaram em mim e sai andando da floresta pela trilha, cuidadosamente. Devia ser muito tarde mesmo, o parque estava totalmente vazio. Andei até a rua onde eu tinha escondido a Ferrari e entrei soluçando. Fiquei ali com a cabeça apoiada no volante até que vi um vulto passando um pouco a frente. Ele se virou varias vezes como se tivesse a certeza de que estivesse sendo seguido. Pode parecer extremamente suspeito, mas eu queria ir atrás. Sai do carro, pegando meu spray de pimenta, só uma medida de proteção e fui atrás do vulto. Ao chegar mais perto percebi que era uma garota. E percebi também que eu conhecia ela. Caramba.

–Anna! – praticamente pulei em cima dela – Achei que não me odiava tanto assim, te subestimei.

Ela se virou com um olhar assustado, como se tivesse sido encurralada. Eu devia estar extremamente feia pra ela me olhar assim.

–Você está parecendo um coelho – ela comentou.

–Queria vir de preto, mas não combinava exatamente com o que eu tinha que fazer – falei séria ainda olhando ela.

–Uma pena. Preto é a sua cor – ela falou dando um sorriso fraco e ainda olhando pros lados.

–Você tem que contar a verdade – falei incisivamente.

–Eu não fiz nada. Foi você que eles pegaram.

Fiquei com vontade de bater nela, não fosse aqueles olhos aterrorizados.

–Foi você que colocou fogo no estúdio!

–Foi nada! Era seu isqueiro!

–E da ultima vez que eu vi ele, foi pouco antes do meu encontrinho com você!

Senti o sangue subir pelas veias.

–Isso é sério Anna! É da sua vida que estamos falando.

–Que pena!

Contrai os lábios para não explodir.

–Por que você fez isso comigo?

–Eu não fiz nada para você! – ela disse friamente. – Agora, riquinha, o que você realmente quer?

Engoli em seco.

–Eu não estava tentando ficar com Chris aquela noite. Ele é que veio pra cima de mim, não sei por que ele disse o que disse pra você, acho que foi pra te deixar com ciúmes. Sei que você não acredita em mim, mas quero que saiba que jamais faria isso com você. Não sou assim – falei tudo de uma vez, mas agora já tinha dito.

Anna não disse nada por um tempo, até que finalmente resolveu falar.

–Eu sei.

Eu não esperava essa resposta.

–Então porque fez tudo isso comigo?

Anna olhou de canto de olho.

–Estava brava com você. Porque estava na cara que ele estava a fim de você.

Eu poderia ter dito algo que teria posto um fim definitivo na conversa, mas optei por deixar Anna continuar.

–Percebi que passou bastante tempo com Harry.

–É. – confirmei sorrindo – Por que não vai pra casa Anna? Por que está na rua uma hora dessas?

–Minha mãe vai se casar com o namorado. Quando ela me contou, tivemos uma baita briga e ela me colocou pra fora de casa. Até trocou a fechadura.

–Sinto muito.

–Vou sobreviver.

O comentário me fez perceber as semelhanças nas nossas vidas. Porém, apesar disso, não eram nem um pouco parecidas. Anna tinha mudado desde a data em que tínhamos nos conhecido. O gosto pela vida que eu percebera nela assim que nos conhecemos havia desaparecido e Anna parecia mias velha, como se anos tivessem passados em vez de semanas. Só que de uma forma negativa. Ela tinha bolsas debaixo dos olhos e estava pálida. Havia perdido muito peso, muito peso mesmo. Estranhamente, era como ver a mesma pessoa em quem eu me transformaria daqui a um tempo, ou a pessoa em quem eu teria me transformado se não tivesse conhecido os garotos e não gostei nem um pouco disso. Eu ficaria assim, pior na verdade.

–O que você fez comigo foi errado. Mas ainda pode corrigir o erro.

Anna balançou a cabeça lentamente.

–Chris não deixa. Disse que nunca mais vai falar comigo.

Ao ouvir o tom autômato de Anna, senti vontade de dar-lhe um chacoalhão. Anna, como se lesse pensamentos, suspirou e continuou falando.

–Não tenho pra onde ir. Minha mãe ligou para todos os meus parentes e pediu para que ninguém me recebesse. Disse que sabe que é difícil pra mim, mas preciso aprender por mim mesma agora. Só que não tenho dinheiro para comer, e a menos que queira dormir nas ruas pelo resto da vida, tenho que obedecer ele. Quando fica bravo comigo, não me deixa nem mesmo tomar banho na casa dele. E não me dá comida também. Há momentos em que ele me trata pior que um cão e tenho ódio disso, mas ele é a única pessoa que eu tenho, que nunca me abandonou.

–Conversa com sua mãe – pedi.

–Pra que? Ela acha que sou um caso perdido, ela me odeia, eu não significo nada pra ela. Ela marcou casamento sem pedir minha opinião com um cara que odeio!

–Ela não te odeia.

–Eu a conheço melhor que você, acredita em mim. Sei o que você quer que eu faça, mas não posso. E não é porque não gosto de você. Eu meio que gosto. Acho que você é legal e nunca deveria ter feito o que eu fiz. Mas estou no mesmo beco sem saída que você. Sinto muito, mesmo Ally, eu nunca deveria ter dito, nem ter feito o que fiz. Mas agora não tem mais volta, so posso dizer o quanto eu sinto. Desculpe Ally, de verdade. Eu estava simplesmente louca de ódio e ele nem vale tanto a pena assim, mas mesmo assim... Me desculpe.

Ela se virou e continuou a vagar.

–Ei Anna – chamei.

Anna se virou lentamente pra mim.

–Se um dia ficar sem um lugar pra comer ou pra dormir, voce...Sabe onde eu moro – falei e ela deu um sorriso sincero pra mim.

–Acho que eu não mereço que uma pessoa como voce caia assim na minha vida – ela falou triste.

–Não sou tão boa assim.

–Mas sobre o incêndio, eu sei que as autoridades e os garotos vão vir atrás de mim...

–Não vão não. – interrompi – Eu assumi a culpa. Eu só queria que você dissesse a verdade sobre suas intenções, eu não vou te obrigar a nada. Você não precisa ser presa por isso, a culpa foi minha. Eu sei lá, acendi o isqueiro sem querer.

–É uma boa amiga. Pena que eu fui tão idiota.

–Ser idiota faz parte da sua personalidade – comentei e ela riu tristemente.

–Não está com raiva?

–Não, porque estaria? Eu só queria que eles soubessem da verdade, que não fui eu. Mas eu vi que não daria certo, eu pensei em muitas coisas e achei que era melhor One Direction continuar como se eu nunca tivesse existido, então criei minha própria verdade, com a certeza de que eles acreditariam.

–E Harry? – estávamos a uns vinte metros de distancia uma da outra.

–O que tem ele? – perguntei desviando os olhos.

–Nada – ela deu de ombros – Se você não quiser falar, não tem nada.

–Já me despedi com sorte ele vai me apagar da sua mente – falei e ela deu de ombros de novo.

–Eu sinto muito. Por tudo. Agora preciso ir – ela falou e se virou acenando levemente pra mim.

–A gente se vê – falei e ouvi-a dando uma risadinha, como se duvidasse. Andei em direção a Ferrari ignorando o ar frio que me fazia tremer levemente. Entrei no calor do meu carro e acelerei, infringindo umas quinhentas leis de transito, até o hotel. Entrei batendo a porta irritada e me joguei no sofá. One Direction definitivamente tinha saído da minha vida agora, apesar de eu desejar o contrario, eles estavam fora e eu precisava encontrar uma coisa a mais, agora que o canto dos cisnes estava completo. Liguei para a única pessoa com quem eu podia contar no momento, mas eu não tinha certeza se ele atenderia. Digitei os números no celular com os dedos tremendo.

–Alo? – ouvi ele atender. Graças a Deus.

–Logan?