Fanfic: Swan Song | Tema: One Direction

Ally Cunha

Acho que preciso ir ao hospital, pensei sem poder dizer nada. Não sabia o que estava acontecendo, mas eu estava com medo. Um medo que nunca senti na vida. Senti uma claridade entrando pelas minhas pálpebras fechadas e tentei ignorar a luz irritante, até o momento em que se tornou praticamente impossível ignorar por muito mais tempo e eu abri os olhos ardidos que já lacrimejavam. Eu não sabia onde eu estava. Na verdade não sabia se esse lugar era real. Era um vazio. Um branco. Não dava pra saber onde tinha paredes ou onde tinha chão. Tudo era branco e claro ali. Me assustei ao perceber uma figura de pé me encarando, mas assim que pisquei ela desapareceu tão rápido quanto surgira. Num ímpeto percebi que estava nua e fiquei horrorizada. Posso estar sozinha, eu acho que estou, mas me sinto completamente desconfortável sem roupa. Me sentei e observei rapidamente ao redor até encontrar um vestido conhecido e colocá-lo devagar observando os ossos saltados. Eu estava péssima. Fiquei encarando o branco ; isso era morrer? Eu não sentia dor alguma e me sentia bem, como se estivesse flutuando. Sem nada praticamente na cabeça.

–Fica bem em você. – ouvi uma voz. O mais estranho : era a minha voz. Me virei e me encarei. Eu estava ali? Eram os mesmos olhos azuis acinzentados, o mesmo cabelo, o mesmo corpo, o mesmo rosto. Era simplesmente um clone meu. Mas tinha algo de diferente. Uma arrogância que eu sabia que não tinha – O vestido, quis dizer.

–Quem é você? – foi só o que consegui perguntar – É tipo um eco de mim mesma?

Ela riu.

–Estamos na sua mente oras – ela deu de ombros.

–Isso significa que eu deveria saber quem você é.

–Não sou um eco de sei lá o que – ela falou afastando as pontas do cabelo para trás da orelha. Foi então que notei algo terrível em sua aparência.

–Você não tem coração – falei surpresa apontando para um buraco bem no meio de seu peito que revelava um vazio de um coração inexistente. Sangrava um pouco e manchava o vestido amarelo idêntico ao meu que ela usava.

–Você tem? – ela perguntou olhando para meu peito que também sangrava. Olhei para baixo apavorada e tentei parar o sangramento com as mãos, mas não adiantou. Percebi que meu coração estava lá batendo, e não sabia de onde o sangue vinha. – Telepatia é fogo.

–Você é um eco de mim – afirmei encarando ela. Só podia ser.

–Não sou um eco de você, porra. Por que seria? – perguntou me encarando.

–Porque ta na minha mente. Der.

–Depende, qual seu nome?

–Ally.

–Meu nome não é Ally – ela falou ajeitando os cabelos idênticos aos meus ; mesmo cor, mesmo tamanho, mesmas pontas enroladas.

–Qual seu nome? – perguntei.

–Não vou dizer – ela falou simplesmente. Sério isso cérebro? Até voce mentindo pra mim agora? Estou sendo debochada pela minha própria cabeça.

–Por que você é igual a mim?

–Você que é igual a mim – ela falou se aproximando pra poder me tocar.

–Sai da minha mente, desgraça – falei me afastando dela.

–Estamos na minha mente – ela falou colocando a mão no meu peito – Seu coração bate.

–Acho que é isso que os corações devem fazer – falei sarcástica e ela olhou para mim séria.

–Nunca soube direito qual essa sensação – ela disse simplesmente me olhando.

Ela se afastou um pouco de mim e começou a olhar para o horizonte como se realmente existisse alguma coisa ali.

–Tenho problemas no coração.

–Eu tenho problemas na cabeça – falei quando senti que ela realmente estava partilhando algo sério de sua vida comigo.

–Dá pra notar – ela falou e eu fiquei com séria vontade de socar sua cara. Ela se sentou no chão e me encarou, como se me mandasse fazer o mesmo. Me sentei contra minha vontade e fiquei a encarando, ou me encarando. Era como me olhar no espelho, ou conversar sozinha. Tirando que ela tinha opiniões e debochava de mim abertamente, coisa que eu mesma nunca faria comigo. Esquisita essa sentença.

–Você está morrendo – ela falou como se não fosse obvio para mim.

–Meu peito está sangrando. É normal estar morrendo nessas circunstancias – comentei embora não sentisse nada. Eu simplesmente tinha noção do sangue quente escorrendo e da noção de não poder fazer nada.

–Não aqui – ela falou – Lá fora.

–Eu sei – falei puxando as pernas e apoiando o queixo no joelho – Tanto faz – suspirei.

–Dói? – ela perguntou repentinamente.

–O que?

–O que você está passando – ela falou olhando pra mim e piscando seus olhos cinzas azulados idênticos aos meus. Em toda minha vida nunca vi uma pessoa que tivesse olhos iguais ou sequer parecidos aos meus.

–Não penso nisso assim – falei com sinceridade – É so uma fase. Vai passar.

–E quando passar você vai morrer.

–Exatamente – disse rouca.

Silencio desconfortável em que eu não conseguia parar de encarar o buraco fundo no peito dela.

–Por que estou aqui falando com você? – perguntei já irritada. EU queria voltar para Harry, para a minha família.

–Eu não sei –ela disse simplesmente – Me fale dos seus erros.

–Por que quer saber? Isso é tipo um questionário de Deus para saber se eu vou pro céu ou pro inferno? – falei irônica e ela deu de ombros.

–Eu não acredito em céu.

–Eu acredito – falei com um brilho nos olhos e ela bufou.

–Acho que todos precisam acreditar em algo – ela comentou como se fosse a exceção – E sou mesmo. – ela disse como se lesse meus pensamentos.

–Por que você não acredita? – perguntei curiosa, mas ela me interrompeu.

–Não estamos aqui pra falar de mim.

–Estamos pra falar de que?

–Do que você quiser – ela respondeu simplesmente.

–Vai me dar qualquer resposta?

–Depende. Mas não espere que eu seja simpática em relação a isso.

–Não esperava mesmo – dei de ombros e ela sorriu.

–Pergunte.

–Eu vou conseguir tocar na Broadway?

Esperei a resposta ansiosa enquanto ela fechava os olhos e parecia refletir.

–Vai – disse simplesmente e eu quase pulei do chão de felicidade. Meu coração começou a pular e eu quase o repreendi por ser tão indiscreto perto de uma pessoa que não tinha coração.Devo estar drogada, so pode.

–Vão me aplaudir? – perguntei séria.

–Vai ter que descobrir sozinha – ela deu de ombros e eu me irritei.

–Quero muito essa resposta.

–Eu mesma não tenho essa resposta – ela falou como se fosse obvio. – Pergunte outra coisa.

Pensei um pouco.

–Harry Styles me ama? – e o premio de melhor pergunta idiota vai para : Ally Cunha. Nenhuma surpresa. Ally Cunha que ganhou esse premio durante dois anos consecutivos e...Cérebro, fica na sua.

–Mais que a própria vida dele.

Por essa eu não esperava. Suspirei e olhei para baixo. Ela estreitou os olhos.

–Você o ama Ally?

Encarei ela. Ainda tinha alguma duvida?

–Mais que tudo – falei e ela revirou os olhos.

–Que gracinha.

–Mas as vezes você descobre que não é o certo – deixei sair depois de um tempo revirando isso em minha mente.

–Se não é pra ser, não vai ser.

–O problema é que foi – tentei explicar e ela parecia me entender – Eu já o amo. Já o quero. Já o tenho. Já considero ele meu.

–Não vai ser seu por muito tempo – ela comentou.

–Você não tem coração – falei e ela deu de ombros.

–Não pode ter Harry pra sempre Ally. Sabe que isso vai acabar. Isso vai seguir – ela falou dando um sorriso mínimo.

–Eu sei que vai seguir. Não vou pedir que ele pare de viver com a minha morte, é só que...

–Você sabe que ele vai praticamente morrer junto com você. – ela me interrompeu.

–Exatamente. – concordei.- O que eu faço? Não quero que ele sofra.

–Ele vai achar alguém – ela disse com tanta certeza que fiquei sem coragem de duvidar.

–Quero que ele seja feliz.

–E ele vai ser – ela falou sorrindo. Até que era legal. – Sabe o que vem agora não é?

–Estou tentando não pensar nisso.

–Vai ter que contar a verdade para o Harry. Toda a verdade Ally.

–Ah vai ser uma conversa animada : “Oi Harry, eu vou morrer daqui a um tempo. Mas não se preocupe porque um dia você vai encontrar alguém certo? Agora vamos tomar um milkshake.”- falei sarcástica.

–Por que milkshake? Gosto mais de frozen iogurte.

Dei uma risada desanimada.

–Tem que tomar um decisão também. Na verdade, não é so uma. – ela falou me olhando séria.

–Que decisões?

–Se vai deixar Harry ficar ou não com você depois que descobrir toda a verdade.

–Dá tudo no mesmo. Sofre de qualquer maneira – falei triste.

–A diferença, é que você tem a chance da escolha. E ele também. Se ele quiser parar de sofrer e simplesmente se afastar e esquecer a sua existência, tudo bem. Mas se ele ficar, então significa que realmente te ama e faria tudo por você – ela falou.

–E onde entra minha decisão nisso?

–Se vai deixar que ele sofra – ela falou me encarando séria – Incrivelmente eu já sei a resposta.

–Você está na minha mente. Tinha que saber – falei dando de ombros. – Por que voce não tem coração? – perguntei de supetão e ela encarou o peito vazio.

–Acho que isso é so uma interpretação exagerada. – ela comentou dando de ombros também – Mas é para personificar mais outra decisão importante que voce vai ter que tomar em breve.

–Tem algo a ver com arrancar corações fora? – perguntei e ela riu.

–Quem sabe.

Pela primeira vez eu não estava sentindo dor, apesar do meu peito estar sangrando, eu me sentia bem, me sentia viva aqui.

–Você tem que continuar – ela falou me olhando.

–Você está morta? – perguntei. Eu e minhas perguntas inconvenientes. Ela riu.

–Não. Encare isso como telepatia.

–Telepatia? Sério isso?

–Claro.

–Então, toda essa conversa não foi real?

–Aconteceu sim na sua cabeça Ally. Mas por que isso significaria que não foi real?

–Não tenho uma boa resposta – falei e ela sorriu – Essa é uma citação de Dumbledore.

–Eu sei.

–O que eu tenho que fazer?

–Continuar – ela disse simplesmente.

–Como faço isso?

–Decidindo. Escolhendo. Seguindo. – ela falou e eu entendi. Eu tinha que querer voltar, desejar voltar, coisa que eu não queria. – Volte Ally – ela mandou e então eu cai.

[...]

–Os senhores não podem entrar – ouvi a voz de alguém dizer.

–Ela é nossa amiga! – a voz de Liam discordou.

–MINHA NAMORADA – gritou Harry descontrolado – ME DEIXE PASSAR.

–VOCE NÃO PODE ENTRAR AI, SENHOR.

–EU VOU ENTRAR.

–Harry, qual é, fica calmo. – Louis falou.

–FICA CALMO COMO LOUIS? JÁ TEM HORAS! HORAS!

–Ninguém entra! – o médico disse em tom definitivo.

–O merda, calem a boca ai – reclamei e ouvi gritos de alivio do lado de fora da porta.