Fanfic: Em busca de Zoe Vondy adap | Tema: Rebelde
Capítulo 3 -- Parte II
Quando alguma coisa realmente horrível e trágico acontece, praticamente todo mundo começa a te olhar com um olhar de arrependimento, enquanto se afsta aos poucos. Como se nossa tragédia fosse contagiosa. Como se nossa casa, antes aconchegante e convidativa, fosse agora um lugar de trevas e destruição, onde um cuidado extremo fosse claramente necessário.
Então, basicamente, todo o ano passado, quando eu não estava no colégio, estava praticamente sozinha. Quero dizer, minha mãe ficou a maior parte do tempo enrolada no sofá, dentro de um velho roupão azul, encarando inexpressivamente a TV, as lágrimas encorrendo pelas bochechas. Meu pai se enrolava no trabalho, demorando mais a cada dia, e só raramente chegava antes da minha hora de dormir.
E os fins de semana ? Bem, eles discutiam. Proferindo acusações para cá e para lá como socos em uma luta de boxe, nunca se cansando da necessidade de provar, de uma vez por todas, quem era mais responsável pelo que aconteceu com Zoe.
Eu costumava pensar que atragédia unia as pessoas. Mas agora, depois de tudo que experimentei, sei que praticamente as separa.
Bem, voltando, tudo isso aconteceu antes que a minha mãe começasse a tomar as suas ``pílulas da felicidade`` , que lhe possibilitaram sair do sofá, tirar o roupão e voltar ao trabalho. As brigas pararam também. E foram subistituídas por uma enxurrada de formalidades e ducação excessiva, como se fôssemos apenas estranhos em um cruzeiro, forçados a fazer as refeições juntos e a atuar como se estivéssemos interessados.
E mesmo que, superficialmente, pareçamos estar melhores, a verdade é que meu pai ainda ``trabalha`` até tarde e os olhos da minha mãe estão mais vagos do que nunca.
E, por mais que eu sinta saudades da Zoe, por mais que meu coração doa, por mais que eu proponha a fazer qualquer coisa no mundo para tê-la de volta, há momentos em que eu a odeio também. Porque isso é o que ela fez comigo. Foi com isso que ela me deixou: duas conchas ocas, quebradas e profundamente desconfiadas como pais, além da curiosidade mórbida de todos que encontro.
Prendendo o cabelo atrás das orelhas, agarro minha mochila, desço correndo as escadas, tranco todas as três fechaduras e vou em direção à casa de Mai. Mas, antes de chegar à metade do caminho, já a vejo vindo em minha direção.
-- Ei ! -- diz, o rabo de cavalo preto e longo balançando de um lado para o outro, enquanto abre um sorriso que expõe o aparelho de metal azul que ela não vê a hora de tirar, e os olhos castanhos piscando por causa do sol.
--Estou atrasada ? -- pergunto, olhando de relance para o relógio e depois para ela.
--Eu estou adiantada . O Aaron estava me enlouquecendo, daí fugi -- diz, balançando a cabeça e revirando os olhos enquanto vamos em direção à esquina, onde nos encontraremos com Annie.
O irmão de Mai, Aaron, é dois anos mais novo e um obstáculo à existência extremamente organizada dela.
--Qual é o problema com o Aaron ? -- pergunto.
-- Qual não é o problema com o Aaron ? -- ela balança a cabeça de novo. -- Ele me enche tanto que às vezes eu queria que simplesmente desaparecesse, nunca mais voltasse. Aí eu teria alguma paz. Quero dizer, só esta manhã... -- de repente, ela para de andar, para de falar e só fica ali, imóvel, um hiato entre a gente, a boca dela aberta, os olhos castanhos cheios de arrependimento e lamento. -- Ai meu Deus, eu não quis dizer...
-- Tudo bem -- digo rapidamente, forçando um sorriso -- Sério. Então, você estava tomando café da manhã e ...
Enlaço meu braço no dela e a guio em direção à esquina e, de preferência, para longe do sentimento de culpa. Todo mundo está o tempo todo se desculpando comigo e, às vezes, fico imaginando se algum dia isso vai acabar.
-- E lá está a Annie -- diz, primorosamente mudando de assunto. -- Ai-meu-Deus, aquele é... Gente, ela é tão sortuda! Como conseguiu convencer a madrasta dela a comprar aquele jeans ? Como ?
-- Oi, meninas -- diz Annie, inclinando-se para dar um abraço em cada uma de nós.
Mas Mai está focada nos negócios, determinada a juntar os fatos.
-- Preciso de detalhes -- diz. -- Como você conseguiu? O que você fez ? Isso vai funcionar com a minha mãe também ? -- pergunta, circundando Annie com os olhos bisbilhoteiros reparando no design revelador dos bolsos de trás, com um bordado dourado que faz com que os duzentos e vinte dólares da etiqueta valham a pena .
-- Bom, se você prometer só tirar A, cuidar do meu irmãozinho todo sábado à noite pelo resto da vida e se manter virgem até ficar velha e grisalha, aí, talvez 3la te compre um jeans também -- Annie riu.
-- Então, me liga quando você já o tiver ensinado a fazer xixi no peniquinho. A última coisa de que preciso é de outra esguichada no olho -- diz Mai se dirigindo para o meio, enlaçando os braços nos nossos e nos guiando em direção à escola .
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Autor(a): Euu'
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