Fanfic: SiMpLeSmEnTe TiTa | Tema: Reprise

1º Capítulo 

O ano é 1987. A ditadura acabou, mas a hiperinflação preocupa. Ainda assim, nada impede que a juventude desfrute a vida ao máximo, como hoje, início de Carnaval. Estamos em Curitiba, a capital ecológica, a cidade modelo, onde moram Felix Linhares e Meire das Neves, um casal apaixonado que curte o Carnaval de rua sem se importar com mais nada.

Meire e Felix estão dançando por entre a multidão.

Meire – Faz o que da vida, Felix?

Felix – Estou estudando Administração. (paquerando Meire) E você?

Meire – Estou tentando Psicologia.

Felix – Ótimo curso! Tenho alguns amigos que fazem e adoram.

Meire – Agora tem mais uma...

Felix (apaixonado) – E eu converso com uma futura psicóloga.

Meire – Bom, to na luta, né? Uma hora eu consigo.

Felix – Se você não desistir, consegue sim.

Meire – Federal o buraco é mais embaixo.

Felix – Nem me fala. Tentei dois anos e larguei mão. Tem amigo meu tentando até hoje... O jeito é pagar...

Meire – Eu nem posso sonhar com isso. Com o que eu ganho mal consigo me virar nos 30. Ontem mesmo eu vi no jornal que já vão reajustar as mensalidades das faculdades privadas mais uma vez.

Felix – O salário não sobe da mesma forma que a inflação, mas vai em frente, Meire. No final do ano eu quero comemorar sua aprovação...

Meire e Felix continuam dançando.

Casa de Meire. Dia.

Já estamos em Abril, início de mais um outono. Meire percebe que não está ‘bem’.

Meire – Eu sou um reloginho. Nunca atrasa.

Meire caminha de um lado a outro do quarto de pensionato.

Posto de saúde. Dia.

Meire está sentada numa cadeira de frente para o doutor. Ele, portando em mãos alguns exames, se senta.

Meire – E aí, doutor? O que é que eu tenho?

Médico – A senhorita está grávida de 8 semanas.

Meire (recebe a notícia com desgosto) – Grávida?

Médico (estende a mão para cumprimentar Meire) – Você vai ter um filho.

Meire está arrasada. Introdução de Foolish games – Jewel. Algumas lágrimas brotam dos olhos de Meire quando o médico lhe entrega os exames. 

Curitiba. Centro da cidade. Dia.

A música da Jewel continua tocando enquanto Meire caminha pela cidade e nem se importa com a garoa.

Meire (em pensamento) – Não posso... Não posso estar grávida... Não agora... Não agora que tudo estava começando a dar certo...

Meire inspira e respira fundo. Chora. Se senta num banco de madeira na Praça Osório. Lá Meire permanece o tempo que pode, mesmo com frio, fome e dor.

Casa de Meire. Noite.

No quarto, Meire, sentada na cama, encara a própria barriga com raiva, ódio.

Meire – Você só veio pra estragar tudo. Maldita seja você, criança. Eu te repudio, eu não te quero, sai de mim...

Olívia, mãe de Meire, para em frente à porta do quarto.

Olívia – Com quem você pensa que ta falando, Meire? Ta ficando maluca?

Meire (desprevenida) – Não vi que estava aí.

Olívia (adentra o recinto) – Grávida, sua puta? (fecha a porta com violência) Não me diga que ta grávida?

Meire (enfrenta a mãe) – É, eu to grávida sim.

Olívia – Não me surpreende em nada.

Meire – Com o exemplo que eu tenho.

Olívia – Não me meta nas suas burradas. Quem é o desgraçado, hein? (berra) Quem é ele? Quem é?

Meire (se levanta da cama) – Não te interessa!

Olívia (peita a filha) – Interessa sim. Sua puta desgraçada, onde é que colocou essa cabeça? Um filho? Mal você consegue dar conta de você e me faz um filho?

Meire (se levanta da cama) – E quando é que você foi minha mãe, hein, sua puta velha?

Olívia (esbofeteia a filha) – Não me responda.

Meire (chorando) – Eu vou tirar essa criança.

Olívia – Não conte com minha ajuda pra isso.

Meire – Não quero sua ajuda.

Olívia – E nem vai ter. Se quiser continuar aqui vai ter que tirar essa criança. Eu não tenho vontade nem paciência pra limpar fralda suja, aguentar nenê chorando no meio da noite e to muito nova pra ser chamada de vó.

Olívia sai do quarto. Meire, chorando, se senta na cama e grita com toda força dos pulmões e soca a própria barriga repetidas vezes para forçar um aborto.

Meire (desprezando a criança) – Você não vai estragar meus sonhos... (descontrolada) Não vai... Não vai...

A tentativa de Meire não tem sucesso.

Lanchonete. Dia.

Com a barriga de Meire cada vez mais a mostra, não sobra outra alternativa a não ser procurar Felix.

Felix – É sempre bom te ver, Meire, mas o que há com você?

Meire (não pediu nada para comer) – A gente precisa se falar.

Felix (bebendo suco) – Então fala.

Meire – Sei que você ta num momento muito bom na faculdade, que ta muito feliz, mas eu não posso mais esconder isso de você...

Felix – Você sabe que eu to aqui pra te ajudar. (encaixa a mão direita na mão direita de Meire) É só falar e eu faço.

Meire – Não é tão simples.

Felix – Como não, meu bem?

Meire – Eu to grávida, Felix.

*Se eu receber comentários, posto mais!