Fanfic: Moments. | Tema: One Direction
De modo que lá estava eu naquele avião, com uma jaqueta de motoqueira, vendo as palmeiras pela janela ao aterrissar. E pensei: genial. Jaqueta de couro e palmeiras. Não podia estar acertando mais, exatamente como achava que ia mesmo…
Para não dizer o contrário.
Minha mãe não gosta muito da minha jaqueta de couro, mas eu juro que não a vesti para deixá-la furiosa, ou algo assim. Não fiquei aborrecida com o fato de ela ter decidido casar com um sujeito que vive a 4.800 quilômetros de distância, me obrigando a sair do colégio no meio do segundo ano; a abandonar a melhor - no fundo, a única - amiga que tive desde o jardim de infância; a deixar a cidade onde vivi todos os meus 16 anos. Tipo, deixar tudo.
Não mesmo. Não fiquei nada aborrecida.
Pois o fato é que eu realmente gosto do Paul, meu novo padrasto. Ele é bom para a minha mãe. Ele a deixa feliz. É, até que ele é tranquilho.
Essa história de mudar para a Califórnia é que eu não gostei muito.
E acho até que ainda nem falei dos três filhos do Andy.
Estavam todos lá para me receber quando desci do avião. Minha mãe, Paul e os três filhos dele. Soneca, Dunga e Mestre. É como eu os chamo. São os meus novos meios-irmãos.
-Suze!
Mesmo se eu não tivesse ouvido minha mãe berrando meu nome quando passei pelo portão, não tinha como deixar de vê-los - minha nova família. Paul fazia os dois menores segurarem aquele enorme cartaz dizendo “Seja bem-vinda, Suzannah!”. Todos os passageiros que saíam do avião passavam por ali e ficavam dizendo “Olha só que gracinha!” e sorrindo para mim com aquele olhar enjoativo.
É isso aí. Não podia mesmo estar acertando mais. Estou acertando horrores.
- Tudo bem - fui dizendo, enquanto me aproximava depressinha da minha nova família. - Agora podem abaixar isso aí.
Mas a minha mãe estava preocupada demais em me abraçar para prestar atenção. Ficava dizendo: “Minha Suzinha!” Eu odeio quando alguém que não seja minha mãe me chama de Suzinha, de modo que fui logo tratando de fulminar os garotos com um olhar bem malvado, para que não alimentassem qualquer esperança. Eles ficavam só rindo para mim por cima daquele cartaz imbecil, Dunga por ser boboca demais, Mestre porque … bem, ele até que podia estar contente mesmo de me ver. O Mestre tem dessas esquisitices. Soneca, o mais velho, ficava lá parado, com ar de … de sono, ora.
- Como foi de viagem?
Paul tirou a mochila do meu ombro e botou no dele. Visivelmente, estranhou o peso:
- Uau! O que é que você está trazendo aqui? Não sabia que é considerado crime contrabandear hidrantes de Nova York para outros estados?
Eu sorri para ele. Paul é aquele tipo de pateta grandalhão, mas é um pateta legal. Não podia ter a menor idéia do que é crime no estado de Nova York, pois só esteve lá umas cinco vezes. E por sinal foi o suficiente para convencer minha mãe a se casar com ele.
Não é um hidrante - eu disse. - É um parquímetro. E ainda tenho mais quatro malas.
Quatro? - Paul fingiu que estava espantado. – Você por acaso pensa que está fazendo uma mudança?…
Não sei se já disse que o Paul se acha o maior comediante? Só que não é. Ele é carpinteiro.
- Suze - disse o Mestre, todo entusiasmado. - Você reparou que na aterrissagem a cauda do avião sacudiu um pouco? Foi uma corrente de ar ascendente. Acontece quando uma massa de ar que se move em grande velocidade vai de encontro a uma contracorrente de vento com velocidade igual ou maior.
Mestre, o filho menor do Paul, tem 12 anos, mas parece que tem uns 40. Na festa do casamento, ficou quase o tempo todo me falando de mutilação de cabeças de gado importadas, e que a tal da Área 51 não passa de uma grande farsa do governo americano, que não quer que a gente saiba que “não estamos sós” neste universo…
- Puxa, Suzinha - minha mãe repetia. - Estou tão feliz por você ter vindo. Você vai adorar a casa. No início não parecia que era a nossa casa, mas agora que você está aqui… E espere só até ver o seu quarto. Paul deixou-o uma gracinha…
Antes de se casarem, Paul e minha mãe passaram semanas procurando uma casa que tivesse pelo menos um quarto para cada filho. Finalmente se decidiram por aquela enorme casa na colina de Carmel, que só puderam comprar porque estava num estado lamentável, e a firma de construção para a qual o Paul costuma trabalhar a reformou por um preço supercamarada. Há dias minha mãe vinha falando sobre o meu quarto, que ela jura ser o mais bonito da casa.
- Que vista! - dizia ela a toda hora. - Da sacada do seu quarto dá para ver o mar! Puxa, Suze, você vai adorar.
Eu sabia mesmo que ia adorar. Exatamente como adoraria trocar o bagel de Nova York por brotos de alfafa, o metrô pelas pranchas de surfe e tudo mais.
Não sei bem como nem por que, mas Dunga conseguiu abrir a boca e perguntou com aquela voz abobalhada:
- Gostou do cartaz?
Nem consigo acreditar que ele tem a mesma idade que eu. Mas não dava mesmo para esperar outra coisa: ele está na equipe de luta livre. A única coisa em que consegue pensar, pelo que pude perceber quando tive que ficar sentada a seu lado na festa do casamento (fiquei sentada entre ele e o Mestre, dá para sentir como a conversa fluiu), é em chaves de pescoço e shakes de proteína para ganhar massa muscular.
- É mesmo, grande cartaz - respondi, arrancando-o das suas manoplas e virando-o de cabeça para baixo para ninguém mais ler os dizeres. - Podemos ir agora? Quero pegar minhas malas antes que alguém tenha a mesma idéia.
- Claro, claro - disse mamãe, dando-me um último abraço. - Puxa, estou tão contente de te ver! Você está tão bem…
Foi então que ela disse, embora estivesse na cara que não queria dizer, mas disse mesmo assim, baixinho, para ninguém mais ouvir:
- Pensei que já tivesse falado com você sobre a jaqueta, Suze. E achei que você tinha jogado fora esses jeans.
Eu estava usando meus jeans mais velhos, os que são furados nos joelhos. Combinavam perfeitamente com a minha camiseta de seda preta e minhas botas de zíper. Aquela combinação dos jeans e botas com minha jaqueta preta de motoqueira e minha mochila das forças armadas me faziam parecer uma adolescente rebelde fugindo de casa num filme de televisão.
Autor(a): directioner
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