Fanfic: Melodia dos Mortos
Você já pensou em nozes? Sim, eu estou falando daquelas coisas que você nunca consegue quebrar e tenta colocar no vão da porta e quase acerta o gato com os destroços. Pois é, eu também jamais havia parado para pensar em nozes, mas um dia isso mudou.
Foi na manhã de quatro de Novembro, até então completamente normal. Eu andava pelo parque perto de casa, chutando pedrinhas para ver se conseguia acertar algum ciclista. Eu sei, não era muito legal, mas você não conhece os ciclistas do meu bairro, eles simplesmente pedem para ser acertados por pedrinhas. Um maldito a quarenta quilômetros por hora que passa zunindo ao seu lado e te da um tapa na cabeça, é com esse tipo de gente que eu estava lidando ao me bandear pelo parque, seres maléficos.
Enquanto caminhava, sempre de olho na outra extremidade do lago, que era de onde vinham os ciclistas malditos, tropecei em uma pedra que despercebi. Beijei o chão como um romântico e senti o calor transbordar de mim. Sim, era o meu sangue escorrendo pelo nariz. Rolei para o lado pronto para xingar um ciclista, pouco me importava se a culpa não era deles , só queria alguém para apontar e dizer “Você, seu canalha sem vergonha, você irá me pagar!”
Meu palavreado não muito polido como pode perceber, sempre tirava minha mãe do sério e isso me causava sérios danos, dentre pauladas e cintadas sem muita mira que sempre surravam alguma mobília, mas nunca a mim. Mas, voltando ao assunto, eu me virei e então não vi ciclista algum, como já esperava, mas algo me chamou a atenção. Não havia sido em uma pedra que eu tinha tropeçado e sim uma noz. Uma maldita noz, eu nem sabia que existiam nogueiras no parque, levantei furioso e pisei na noz. Não surtiu efeito.
Porque nozes são tão duras? Malditas nozes. Tentei quebrá-la novamente, em vão. Decidi pegá-la e arremessar em algum ciclista. E assim fiz. Acertei uma senhora que alimentava pombos. Pobre senhora, só tive tempo de vê-la tombar no banco antes de correr. Atravessei a rua como um raio e parei defronte a uma padaria muito conhecida na cidade, “A Padaria”. Apesar do nome criativo “A Padaria” fazia os melhores pães de toda a região e era nela que meu primo, Fernando, trabalhava.
Entrei no estabelecimento e logo avistei Fernando, um rapaz moreno de quase dois metros que era feio de doer. Ao me ver ele me deu um sorriso que quase me fez vomitar o café da manhã, mas aguentei firme. Dirigi-me até o balcão e pedi um pão com manteiga:
- Fala Fer, me vê um pão com manteiga ai – Eu disse na expectativa de ele não se lembrar de cobrar.
- É pra já, mas vê se desta vez você não foge antes de pagar, combinado?
- Pode deixar, é que eu tinha um compromisso aquele dia, sabe como é né? – Menti, rapidamente.
Logo meu pão com manteiga estava no balcão e tão rápido quanto veio ele se foi. Num momento de distração de Fernando eu já estava novamente caminhando pela rua. E foi então que eu percebi algo diferente. Senti um volume na minha calça. Antes que me perguntem não havia nada no Fernando que pudesse me animar e muito menos no meu pão com manteiga. Levei a mão ao bolso e apalpei algo duro. Havia certas ondulações na superfície do objeto e, curioso, o retirei de lá para observar.
Para minha imensa surpresa era uma noz, a mesma que eu havia atirado na senhora no parque, só podia ser. Na hora teorias insanas passaram pela minha mente. Será que a velha, irritada por ser tratada como alvo atirou a noz em mim e, com uma pericia descomunal, acertou o meu bolso? Não. Isso não era possível. Sei de casos de velhinhas que fizeram coisas que deixariam até o Narrador da Sessão da Tarde assustado, mas não era esse o caso.
Após muito pensar cheguei à conclusão de que a noz só poderia ser mágica. Sei que não faz sentido, mas foi o que me restou, embora a teoria da velhinha me parecesse plausível. Coloquei a noz no bolso e fui para casa, tentando esquecer tudo isso.
Chegando em casa a noite já caia e subi as escadas para meu quarto sem falar com ninguém. Não é que eu não goste de conversar, mas minha família não é lá muito amistosa. Deixando isso de lado, entrei em meu quarto e me joguei na cama. Adormeci rapidamente, sem nem tirar os sapatos, paguei caro por isso no dia seguinte. Durante a noite sonhei. Sonhos estranhos que envolviam um esquilo homicida e uma velhinha com uma bengala atiradora de laser. Acordei suado e cansado, como se a fuga do sonho tivesse me cansado pra valer. Levantei-me e foi então que tudo aconteceu.
Um clarão dourado saiu da minha calça e comecei a flutuar. Uma musica horrenda começou a tocar e tudo vibrava. Após o que me pareceu uma eternidade cai no chão e minha calça parou o seu show de luzes. A noz rolou pelo chão, indo parar perto da cômoda. Com esforço me coloquei na cama, só que já havia alguém nela.
Autor(a): cranialbasher
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