Fanfic: Inocente Traidora-AyA (Finalizada) | Tema: Ponny

A medida que o ouvia, que as palavras iam-se juntando e adquirindo sentido em sua mente, uma sensação de desfalecimento apoderava-se dela. Alfonso a derrotara, e ele sabia disso. Até que ponto a proposta de casamento era motivada pela preocupação com Nicky? Talvez o verdadeiro motivo fosse o desejo de vingança, de fazê-la pagar com juros todo o sofrimento que lhe infligira no passado.

— Capisci, cara? — Alfonso soltou-lhe o queixo com um brilho cínico no olhar. — Estarei à sua espera, amanhã à tarde, no meu escritório. Mandarei o motorista buscá-la às duas horas. Avise os seus pais que deixará Nicky com eles mais um dia, porque tem um compromisso comigo. Eles vão adorar...

— Alfonso, você não pode fazer isso. Eu construí uma vida digna para mim, a duras penas... não pretende que passe todo o meu futuro pagando por...

— Um erro? — Alfonso virou-se, exibindo-lhe as costas largas, símbolo de sua força e autoridade. — Mas não será por muito tempo. Apenas enquanto Nicky precisar de você.

A observação atingiu-a como um raio. Petrificada, Anahí nem se deu conta de que Alfonso saíra, deixando-a sozinha com uma atemorizada perplexidade. Lágrimas geladas escorriam-lhe pelas faces sem que ela percebesse.

O instinto a advertira contra a inesperada generosidade de Alfonso, e ela se preparara para confrontar-se com ele, de igual para igual. Mas jamais suspeitara que tivesse de enfrentar um plano tão bem arquitetado. Na verdade, uma chantagem! Estava sendo chantageada, e ninguém, nem a polícia, poderia ajudá-la. Como defender seus pais e Nicky da furiosa sede de vingança daquele homem? Como sobreviver àquele pesadelo?

Em todos os meses que permaneceram casados, Alfonso jamais lhe declarara seu amor. Ao contrário, logo após a apaixonada lua-de-mel na misteriosa Índia, ele dera mostras de cansaço. A impressão que lhe causava era de que se irritava com a presença dela, pois evitava-a ao máximo. Só não enfrentavam problemas como parceiros sexuais, o que a levava à conclusão de que sentimento de posse era tudo o que ele sentia pela esposa.

Todavia, Anahí agora acreditava que Alfonso a tivesse amado à maneira dele; o fato, porém, só lhe aumentava a dor. Que desperdício! Alfonso lhe devotara amor, mas detestara fazê-lo. O resultado fora a infelicidade de que ambos se tornaram vítimas. E, agora, ele clamava por vingança, sem lembrar que , ao afastá-la de si, sofrera tanto ou mais do que ela. Entretanto, jamais poderiam discutir a esse respeito. Alfonso fora criado dentro de normas limitadas e rígidas: o certo era o certo e o errado era o errado. Ponto final.

O relógio-cuco ao lado da lareira trouxe-a de volta à realidade. Não importava a chantagem de Alfonso, tinha um compromisso e não faltaria.

Relutante por ainda encontrar-se debilitada, Anahí vestiu um sobretudo de lã e foi para a loja, que, por sorte, não ficava distante do chalé.

Encontrou-a aberta, fato que a surpreendeu. Steven estava atrás do balcão, tomando café e tagarelando com uma cliente antiga, colecionadora de porcelana da Companhia das Índias.

— Pensei que tivesse mercadorias para entregar — Anahí observou com secura.

Steven fitou-a um tanto agastado.

— Nem me dei ao trabalho. Já viu o estado das estradas depois da última nevasca? Tome um café, está quentinho.