Fanfic: Inocente Traidora-AyA (Finalizada) | Tema: Ponny

— Já disse: não pensei que..., a situação fugiu ao meu controle. Pensa que também não sofri? Não agüentava mais esse segredo, e resolvi libertar-me desse tormento. E libertar você.., já lhe causei muito mal, não podia cruzar os braços e vê-la retomar seu casamento com Alfonso por causa de uma culpa que não tem razão de ser... Chega de sacrifícios!

— Ou será que me contou tudo porque não suporta a idéia de me ver junto de Alfonso novamente?

Vicky estremeceu.

— Bem, creio que mereço isso e muito mais. Contudo, quero que saiba que há muito superei o ciúme, a inveja e até mesmo minha excessiva vaidade. Então você não percebe que a experiência foi dolorosa também para mim, e me fez amadurecer? — Lágrimas amargas rolavam-lhe pelas faces.

Anahí levantou-se e caminhou pela sala, refletindo. Após alguns momentos de silêncio, voltou-se para a irmã:

— Quero que conte tudo isso para Alfonso. Outra coisa: que fim levou esse tal de Jeff?

— Não sei. Mas o que Jeff tem a ver com a história?

Anahí fitou-a desconfiada. Ou Vicky era tola, ou estava zombando dela.

— Ora, não se faça de boba. Ele está metido até os ossos nessa confusão. Além disso, é seu amigo, estava na sua festa. E claro que sabe onde encontrá-lo.

— Não! Nós nos vimos algumas poucas vezes antes daquela noite. Depois disso, nunca mais tive notícias dele.

Anahí contemplou-a com frieza.

— Como é o nome completo desse homem?

— Sei lá! Já lhe disse que mal o conhecia!

— Por que está tentando protegê-lo, Vicky?

— Não estou! Ouça, ele é um estranho qualquer que, por acaso, estava disponível, e eu o usei. Para que envolvê-lo novamente?

— Está bem. Vamos deixar como está, ao menos por ora. E quanto a Alfonso? Vai fazer o que lhe pedi?

Vicky desviou os olhos e não respondeu.

— Não vai lhe dizer uma só palavra, não é mesmo? — Anahí adivinhou a resposta. — Que Deus a perdoe, Vicky, porque eu nunca o farei! Você é um monstro!

Anahí pegou a bolsa e saiu do apartamento, convencida de que a irmã ocultava informações preciosas sobre Jeff. Amara-a e confiara tanto nela, defendera-a todas as vezes em que Alfonso tentara mostrar-lhe o verdadeiro caráter de Vicky, e agora... como era duro admitir que ela não valia o chão em que pisava!

Não fora por compaixão que Vicky lhe revelara o segredo. A razão era outra: seus nervos não agüentaram mais. Anahí lembrou-se das mãos trêmulas, do jeito estranho e descontrolado da irmã quando a visitara no hospital. Na realidade, temia que, se Alfonso e ela se juntassem de novo, somassem dois e dois e descobrissem a verdade.

Quando estacionou o carro diante da casa paroquial, Nicky veio correndo ao seu encontro.

— Mamãe, mamãe! A gente vai pra casa agora?

— Vamos, sim, meu amor.

— A vovó disse que a gente vai morar com papai — o menino ergueu os olhinhos muito verdes para a mãe, cheio de ansiedade.

— É verdade, filho — Anahí acarinhou-lhe o queixo, enternecida.

— Oba! Que espetacular!

Mais uma vez, Anahí precisou de bastante jogo de cintura para esquivar-se de uma conversa mais demorada com os pais. Compreendia-lhes o interesse, a preocupação, a afetuosa curiosidade, mas não podia satisfazê-los nesse momento. Um dia, talvez, tivesse serenidade suficiente para isso.

No trajeto de volta para o chalé, Nicky tagarelava sem cessar, e Anahí ouvia-o um tanto distraída, feliz com a ausência de culpa em seu íntimo, que lhe conferia uma leveza de espírito há muito não experimentada.

Uma única questão a perturbava. Como convencer Alfonso de sua recém-descoberta inocência? Não tinha provas. Vicky não endossara a história, e não tinha como localizar Jeff.

Mas isso não importava. Para que mudar a opinião dele a seu respeito? O fato primordial era que agora, livre do sentimento de culpa, poderia dar livre curso ao ódio que ele lhe despertara quando havia iniciado o sórdido plano de vingança que engendrara contra ela.

O casamento teve lugar quatro dias depois. Vicky “adoeceu” no último momento e não compareceu.

Durante a breve cerimônia, Anahí sentiu-se muito tensa e manteve-se rígida como uma estátua. Ainda assim, os convidados admiraram-lhe a beleza realçada pelo gracioso vestido de renda de cor champanhe. Um pequeno chapéu no mesmo tom, guarnecido com um véu curto, complementava o traje.

Havia uma verdadeira multidão de fotógrafos rodeando o casal, pois qualquer coisa ligada ao nome Herrera era notícia.

Alfonso distribuía sorrisos, como o homem mais feliz do mundo. Em determinado momento, ele lhe perguntou, disfarçadamente:

— Há alguma coisa errada?

Anahí quase riu. Claro que estava tudo certo. Como dois e dois são cinco.

— Nada, Alfonso. Você me chantageou, induziu-me a um casamento indesejado, está me impingindo um estilo de vida que detesto... por que acha que há algo errado?

— Está se sentindo bem? — ele perguntou, perscrutando-lhe o rosto abatido.

— Só um pouco de dor de cabeça — ela mentiu.

— Cansaço, decerto. Por que Glenn não veio? Pensei que fossem amigos...

— E somos. Acontece que não costumo envolver meus amigos em farsas.

— Lamento que tenha essa opinião sobre o nosso casamento — Alfonso murmurou, ressentido.

— Que casamento? — Anahí fuzilou-o com um olhar flamejante. Prometera a si mesma manter as aparências, pelo menos enquanto seus pais estivessem por perto; contudo, sua ira fugira ao controle. — Chega dessa polida hipocrisia!