Fanfic: Inocente Traidora-AyA (Finalizada) | Tema: Ponny

— Engraçado, não me lembrava do seu rosto — Jeff declarou, embaraçado. — Mais uma vez, peço-lhe que me perdoe. Jamais tive a intenção de lhe causar tanto mal.

— É verdade — Vicky acrescentou, baixinho. — Como lhe disse, a culpa foi toda minha. Jeff não podia imaginar, e só tomou conhecimento do seu divórcio naquele dia em que você foi à minha casa pela última vez. Depois que saiu, eu liguei para ele

— Assim que pude, voei para Atenas, para esclarecer tudo você, todavia, me fez ver que as coisas não eram tão simples, que não bastariam umas poucas palavras para resolver a situação.

Anahí ouvia o relato feito pelos dois alternadamente, sem interrompê-los.

Vicky torcia as mãos com nervosismo, constrangida pelo silêncio obstinado da irmã.

— Você deve ter adivinhado que não concordei com a idéia de abrir o jogo com Alfonso, mas foi só a princípio. Não que eu a considerasse indigna desse sacrifício, porém me faltava coragem. Estava tão envergonhada, sabia que não merecia o perdão de vocês. Não fosse Jeff, que combateu minha covardia, eu não estaria aqui — Vicky aproximou-se do namorado e o abraçou.

— Descobri que Jeff é o homem da minha vida. Agora que o problema está prestes a se resolver, sinto um imenso alívio e uma grande esperança de também ser feliz.

O rapaz pigarreou, impaciente.

— Querida, é melhor contarmos logo que estivemos com Alfonso.

— O quê? — Anahí indagou, saindo do torpor. — Onde? Quando?

— Fomos procurá-lo no escritório — Vicky explicou. — Era mais seguro, entende?

— Ele acreditou em vocês?

— Suponho que sim — Jeff respondeu. — Agora, só lhe cabe esperá-lo para se entenderem. Espero que consigam esclarecer tudo; já é tempo de vocês alcançarem a paz.

Vicky abraçou a irmã com timidez.

— Adeus, maninha. Se... nós nos casarmos logo, poderemos contar com você e Alfonso na cerimônia?

— Não sei, Vicky. Mas prometo que, se houver condições, estarei lá com todo o prazer.

Quando se viu a sós, Anahí deu vazão à ansiedade. Dispensou o jantar e só foi deitar-se às duas horas da madrugada, exausta de tanto esperar.

Por que Alfonso não voltava para casa?

A Casa del Fiore passava por uma profunda transformação.

Havia um bando de encanadores, pedreiros e pintores transitando pela mansão, numa incrível confusão.

Reformar a villa fora a solução que Anahí encontrara para não se entregar ao desespero que se apossara dela no momento em que Alfonso a havia deixado. Precisava reagir, por Nicky e pelo bebê.

Alfonso jamais a amara. Desposara-a pela segunda vez apenas para vingar-se. Quando tomara conhecimento de sua inocência, seus planos perversos perderam o sentido e ele lhe devolvera a liberdade. Vê-lo admitir esse fato, fazer as malas e partir ferira-a mortalmente. Mas havia o filho, e Anahí não tinha o direito de sucumbir sob o peso de sua dor. Assim, esforçava-se para sair da depressão, preparando a casa para a chegada do bebê.

Certa tarde, ela pintava um quadro para enfeitar o quarto de Nicky quando recebeu a inesperada visita da sogra.

Com a roupa suja de tinta, desceu ao encontro de Athene, que a examinou com um certo desdém.

— Desculpe, creio que eu devia ter telefonado. Talvez esteja sendo inoportuna...

— Não tem importância — Anahí atalhou, impaciente. Sente-se, por favor.

Athene acomodou-se no sofá, observando-a.

— Estranho... você não me parece muito aborrecida com a ausência de Alfonso.

— Não creio que deva exibir meus sentimentos — Anahí rebateu, ofendida.

— Tem razão, perdoe-me. Não foi fácil para mim vir até aqui. Nós duas nada temos em comum, exceto Alfonso, e foi pelo bem dele que me decidi a procurá-la.

— Não compreendo...

— Desconheço os detalhes de sua separação, mas de uma coisa eu sei: o casamento de vocês estava fadado a conflitos muito sérios, por minha culpa.

— Não vejo como a senhora possa ser responsabilizada.

— Você decerto estranhou o fato de Alfonso ser tão desconfiado.

— Sem dúvida. É algo quase doentio. — Anahí assentiu.

— Mas ele não era assim. Eu o fiz perder a confiança no amor e, sobretudo, nas mulheres.

— Explique-se, por favor.

— Bem... muito embora estimasse profundamente meu marido, eu jamais o amei. Só conheci o significado da paixão nos braços de Tommaso, um homem que conheci por acaso. Nunca imaginei que pudesse enlouquecer daquela maneira, imersa num sentimento tão intenso e incontrolável. A sorte foi que Lorenzo nem chegou a desconfiar de nada.

— Athene, eu... não sei o que dizer — Anahí comentou, perplexa.

— Nessa época, Alfonso estudava num internato, e deveria passar as férias conosco, na nossa propriedade em Cortina D’Ampezzo. Eu fui na frente, sob o pretexto de verificar se a casa estava em ordem. Tudo para ficar sozinha alguns dias com Tommaso.

Athene levantou-se e caminhou a esmo pela sala.

— Naquele ano, porém, houve uma epidemia de gripe no colégio de Alfonso, e os alunos foram dispensados mais cedo. Sabendo que eu já me encontrava em Cortina, ele foi direto para lá. Você pode adivinhar o que descobriu ao chegar... pobre filho, era apenas um rapazinho de quatorze anos, sem maturidade para lidar com um problema desse tipo.

— Deus do céu! — Anahí exclamou, chocada.

— Só aí me dei conta da realidade, e decidi romper com Tommaso. Por nada no mundo voltaria a arriscar meu casamento e minha família. Alfonso guardou silêncio, para poupar o pai. Mas eu perdi a confiança dele para sempre.

— Deve ter sido horrível — Anahí murmurou.