Fanfic: Inocente Traidora-AyA (Finalizada) | Tema: Ponny

As imagens de seu último encontro vieram-lhe à mente. Sem querer, reviveu a cena. Parado na porta, na mesma posição de agora, ele lhe dissera:

— Já tomei todas as providências necessárias para o seu regresso a Londres com nosso filho.

O tom de voz era gélido como a neve, e seus olhos apresentavam um brilho implacável. O mesmo olhar que lhe dirigia naquele momento.

 Crispando as mãos sob o cobertor, Anahí ordenou a si mesma que reagisse, que se mostrasse autoconfiante e não permitisse, em hipótese alguma, que ele a humilhasse. Entretanto, a dor antiga a corroía por dentro, tornando-lhe impossível raciocinar com clareza. Os olhos cor de mel que a observavam com desdém não lhe deixavam dúvidas: ele não esquecera. Ainda a acusava, dedicando-lhe o mais profundo desprezo. A mensagem implícita naquele olhar prolongado era óbvio: ela causara o fracasso do seu casamento, pois cometera um pecado grave e imperdoável.

— Disseram-me que não queria me ver — Alfonso comentou, as palavras ressoando no silêncio.

A mente de Anahí trabalhava sem cessar. Ele estava pronto para atacá-la, para destruí-la. Já o fizera no passado, e repetiria a dose quatro anos depois.

— Pensei que você não me quisesse ver — Anahí por fim replicou.

A principal razão para temê-lo tanto era a consciência da própria culpa. Por um triz não sucumbira sob esse peso, quase sofrendo um sério descontrole emocional, durante a gravidez.

— Não acha que precisamos conversar sobre o... acidente?

Anahí fechou os olhos, amargurada. Suas previsões confirmavam-se. Além disso, por que outro motivo ele a procuraria? Durante quatro anos, Alfonso se recusara a discutir qualquer assunto com ela, principalmente o casamento. Devolvera as cartas que havia lhe enviado, não atendera telefonemas e, deixando claro que não a considerava mais sua esposa, fechara-lhe as portas da sua casa.

— Não há muito o que contar — Anahí retrucou, assumindo uma postura defensiva. — Em determinado momento da viagem, depois de uma curva, dei de cara com um boi no meio da pista. Quando tentei desviar, senti que a caminhonete derrapou, pois o asfalto estava escorregadio por causa da neve. Suponho que o carro que me... seguia... não conseguiu evitar a colisão com o meu.

— Isso é tudo o que tem a me dizer? — Alfonso indagou.

Anahí teve certeza de que ele ouvira uma versão bastante diferente de seus capangas, decerto incriminando-a. Podia apostar como eles alegaram que dirigia em alta velocidade, pondo a vida de Nicky em risco.

— Sim, é — ela concordou, afetando uma segurança que estava longe de sentir. — Naquelas circunstâncias, não havia como evitar o acidente.

— Meus assessores não mencionaram nenhum animal...

Anahí perdeu a paciência:                                                   

— Pois eu afirmo que havia um, embora saiba de antemão em quem você acreditará! Assim sendo, considero uma grande perda de tempo vir até aqui me perguntar — ela bradou, irada. Depois, recuperando a calma, prosseguiu: — Pode me informar como está Nicky?

Desconcertado com a explosão de Anahí, Alfonso franziu as sobrancelhas e retrucou em tom ameaçador:

— Não admito que me fale desse modo!