Fanfic: Natural Born Killer | Tema: Avenged Sevenfold
NORTHAMPTONSHIRE, INGLATERRA
Acordou com o barulho abafado de passos esmagando a grama. A escuridão era tanta, que ela já não sabia se havia aberto os olhos ou se eles continuavam fechados. Estava deitada de bruços, com o vento atravessando sua blusa fina e lhe causando um frio na espinha. Seu pescoço estava virado em uma posição não muito agradável. Subiu suas mãos até a altura da cabeça e apoiou, tentando se levantar. Sentou com dificuldade e passou a mão pela calça, ao sentir que seus joelhos estavam molhados. Sentiu um arrepio na nuca e passou a mão, sentindo uma linha fina de algum líquido que percorria seu pescoço e molhava a gola da sua blusa.
Os passos foram aumentando e chegando mais perto. Franziu o cenho procurando enxergar alguém no meio daquela escuridão e desistiu; a dor que tomava a sua cabeça era muito forte. Levantou com dificuldade e tateou algo que parecia ser uma árvore. Deu alguns passos e logo viu uma fraca luz surgir no meio da vegetação alta. Sorriu aliviada. Caminhou com dificuldade enquanto tirava alguns galhos do caminho e logo avistou uma casa velha. Sua porta e suas janelas lembravam os filmes antigos de faroeste. A luminária velha na entrada (a fonte da luz que ela havia visto antes, supôs) iluminava fracamente o local, fazendo suas pernas vacilarem por causa do cenário assustador que tomava forma.
Ela estava perdida, é claro que estava. Estava escuro e talvez aquela casa fosse melhor do que a mata onde ela estava antes. Subiu os pequenos degraus e entrou na varanda de madeira. Um grito de horror ecoou no ar. Sentiu como se ele tivesse saído da sua boca, como se tivesse acabado com todo o seu fôlego. Abaixou-se e rastejou até a parede – também de madeira – e encostou as costas. Ofegou. Talvez aquela casa não fosse melhor do que a mata onde ela estava antes. Acalmou os nervos e saiu correndo, entrando novamente entre a vegetação alta. Ela precisava sair dali; mesmo com tamanha escuridão, ela sabia que havia alguém com ela. Ouviu passos abafados atrás dela, e logo uma respiração quente se chocou contra a sua nuca. Virou bruscamente procurando por alguém, mas só viu novamente a escuridão que, nesse momento, já a rodeava.
Sentiu seus joelhos vacilarem e foi ao chão, batendo as mãos contra a grama molhada. Fechou os olhos e sentiu uma dor incontrolável tomar a sua cabeça, ao mesmo tempo em que outro grito de horror ecoava não muito longe dali. Levou as mãos até os ouvidos e apertou com força. Tudo parou. Colocou as mãos no chão. O único barulho que se ouvia era a sua respiração acelerada. Levantou com dificuldade obrigando sua mente a pensar em alguma solução que a tirasse dali. Ela não podia correr; não naquele escuro e com tantas coisas pelo caminho. Ela não podia voltar para a casa; não com aqueles gritos infernais saindo de dentro. Ela não sabia o que estava acontecendo ali, e preferia continuar sem saber.
Finalmente sua respiração voltou ao normal. Andou alguns passos com as mãos para frente e logo as encostou em outro tronco de árvore. Continuou dando alguns passos; ela tinha que sair de perto daquela casa, ou o que quer que estivesse lá dentro iria a encontrar. Tentou não entrar em pânico enquanto entrava cada vez mais naquele breu. Ela tinha medo de escuro, tinha medo do que estava ali. Mesmo sem ver, ela sabia que era mais forte do que ela, sabia que precisava sair dali imediatamente. Só não sabia como.
Alguns flashes claros começaram a aparecer em sua mente. Um rosto irreconhecível, alguns fios de cabelos negros, um sorriso irônico. Sentiu um cheiro insuportável de sangue e seus pulsos começaram a arder. Sua visão falhou e sentiu seu corpo bater com força no chão úmido.
Era um dia claro e as nuvens teimavam em esconder o sol. Quem passava pela estrada podia sentir o cheiro da mata verde que tornava o cenário parecido com algum filme de terror. Não passavam muitos carros por ali; vez ou outra aparecia algumas pessoas que logo eram alertadas e fugiam dali como um rato foge de um gato esfomeado. A casa antiga e abandonada tornava o local mais assustador. Os corvos eram os únicos moradores dali. Pelo menos, até eles chegarem.
Os avisos e a fama não causaram medo naqueles jovens que só queriam uma história nova pra contar quando voltassem à Nova Iorque. Eles só não sabiam que não iriam voltar mais. O carro abandonado ainda estava no canto da estrada. A folhagem amassada ainda formava a trilha que haviam seguido até a casa. Alguns pingos de sangue também.
Ela seguiu o caminho ao mesmo tempo em que seu colega fotografava cada mínimo detalhe que formava aquela cena aterrorizante. Alguns homens com luvas procuravam impressões digitais e objetos, enquanto outros tentavam simplesmente entender o que havia acontecido ali. Ninguém sabia. Nenhuma pista, nenhuma dica, nenhum sentido.
Ela continuou o caminho, sem perceber que o amigo havia ficado para trás; possivelmente com alguma observação nova que os outros haviam deixado passar despercebidamente. Subiu os pequenos degraus e sentiu o cheiro de sangue entrar por suas narinas. Perdeu o equilíbrio das pernas e se apoiou no velho corrimão. Recuperou o fôlego enquanto empurrava cuidadosamente a porta de madeira que dava acesso a uma das cenas mais chocantes que ela havia visto.
Os corpos estavam jogados no meio daquele cômodo que ela supôs ser a sala de estar. As poças de sangue inundavam o chão do lugar. Uma jovem loira (Emily MacCorkindale, segundo a ficha de desaparecidos) estava apenas de roupas íntimas, tonando possível a visão das facadas que formavam uma espécie de desenho em seu tronco. Seus membros estavam com marcas negras, dando a impressão de que estiveram fortemente amarrados, impossibilitando a circulação do sangue.
Conan Carroll, o dono do carro, estava sem as orelhas e os olhos pareciam costurados. Ao contrário de Emily, estava com roupas, e seus membros possuíam pequenos desenhos provavelmente feitos com alguma espécie de estilete afiado. Ao seu lado, Virginia Hobbes também possuía os olhos costurados, mas dessa vez eles estavam acompanhados da boca, também costurada com uma linha negra e grossa.
Mais dois corpos seguiram o mesmo estilo, Adam Smith e Norman Brontë; todos com a boca e os olhos costurados, enquanto os membros formavam uma espécie de obra de arte, com desenhos enigmáticos que ainda escorriam sangue. Os dois estavam, assim como Emily, somente com as roupas íntimas. Ela não sabia se aquilo significava abuso sexual ou se as vítimas foram pegas dormindo ou prestes a tomarem banho. Ou se a pessoa que fez aquilo apenas tirou a roupa das vítimas por pura diversão. Para sacrificá-las ainda mais.
Ela observou o corpo de Norman mais de perto e pôde observar um pequeno papel dobrado entre seus dedos. Colocou a luva branca na mão esquerda e puxou cuidadosamente o papel, que ainda mantinha-se fechado. Abriu o papel e franziu o cenho. Algo parecido com letras ao contrário estavam cuidadosamente desenhadas no papel com tinta vermelha. Sangue. Algumas possuíam riscos em cima, variavam entre um risco e sete. Virou o papel de ponta-cabeça, procurando alguma resposta escondida que pudesse desvendar aquele mistério, mas não encontrou nada.
Olhou novamente para os corpos e percebeu que ainda faltava um. O corpo de Anne Tolkien, a mais nova do grupo. Curiosamente, a primeira que havia na ficha de desaparecidos, e o único corpo que não estava junto dos demais. Dobrou o papel e colocou dentro do pequeno saco plástico que estava no chão, ao lado da fita amarela que cercava o local. Andou até a cozinha e viu algumas marcas de sangue pelo chão e pelas paredes. Algumas coisas estavam caídas no chão e a frigideira suja ainda estava com algumas fatias de bacon.
Subiu as escadas cuidadosamente, enquanto tentava não tocar em nada para não dificultar o trabalho dos homens que apareceriam ali em pouco tempo. Olhou para o corredor e sentiu um medo invadir seu corpo. Era como se ela estivesse no lugar deles, como se estivesse vendo tudo acontecer como quem assiste a um filme. Era sempre ruim pra ela. Na verdade, já havia se perguntado várias vezes o porquê de trabalhar naquilo. Respirou fundo. Depois de um tempo, aquilo havia se tornado uma aventura instigante e excitante. Andou até um dos quartos que estavam com a porta encostada e sentiu o mesmo cheiro forte. Olhou para o chão e observou o rastro grosso de sangue que trilhava um caminho até um armário velho.
Caminhou lentamente até o armário enquanto colocava a luva branca na outra mão. Respirou fundo e abriu a porta, que foi ao chão. Sua respiração falhou. Depois de longos segundos, ela focou realmente no que estava vendo. Era o corpo que faltava, o corpo de Anne Tolkien. Ou era o que ela achava... Seus membros estavam empilhados dentro do armário do mesmo jeito que alguém empilha o lixo antes de jogá-lo fora. Seu tronco desmembrado dividia espaço com suas pernas e seus braços. O sangue que escorria pelo chão fez o estômago dela revirar. Não por nojo, mas pela sensação estranha ao imaginar quem teria coragem de fazer aquilo.
Passos apressados na escada tiraram ela do transe em que estava. Alguns homens entraram rapidamente no quarto e a puxaram pelo ombro, tirando ela daquele cômodo fedido e horrível, outros cercavam o local com a conhecida fita amarela. Ela sentia como se sua vida estivesse em câmera lenta e sem som; não conseguiu tirar seus olhos daquela cena enquanto era levada até a escada. Quando voltou à realidade, finalmente desceu os degraus e encontrou mais homens observando os corpos. Alguns tinham o cenho franzido, provavelmente porque tentavam entender quais circunstâncias haviam levado àquilo, e pior, quem era o culpado.
Ela saiu da casa ainda tonta e se apoiou no peitoril da varanda. Respirou forte procurando oxigênio; já que sentia como se seu pulmão tivesse sido esvaziado. Seis jovens. Seis mortes. Seis famílias destruídas. Nenhum culpado, e isso era o que a deixava mais frustrada e ao mesmo tempo curiosa. Não sabia se era só para ela, mas sentia como se aquilo tivesse uma explicação muito mais misteriosa do que os outros casos. E pior, sentia que aquilo estava apenas começando.
Abriu os olhos e se deparou com um céu mais claro do que da última vez que esteve acordada. Agora ela sabia. Era aquela casa; era ali que ela havia presenciado uma das cenas mais horríveis de todas. E estava acontecendo de novo, aquilo estava se repetindo e ela não tinha feito nada. Ela ouviu os gritos, ela compartilhou a dor e apenas saiu correndo como uma medrosa. A mata não estava mais amassada como da última vez que ela estivera ali, mas mesmo assim ela sabia exatamente o caminho que tinha que fazer.
Andou rapidamente e avistou a casa antiga de madeira. Seu coração deu um pulo e sua respiração falhou. E se estivesse acontecendo mesmo? E se mais alguém estivesse morrendo ali? O que ela poderia fazer? Ela estava sozinha, a quilômetros de distância da civilização. Resolveu arriscar. Nada seria descoberto se ela não arriscasse. Subiu na varanda e abriu a porta com cuidado. Vazio. Como um flashback, pensou ter visto os corpos novamente jogados naquele cômodo, mas não havia nada. Os móveis sujos de sangue já haviam sido levados pela perícia há muito tempo. A fita amarela já não se misturava mais com a decoração da casa. A cozinha não tinha mais coisas jogadas pelo chão. Subiu a escada devagar e avistou a porta do quarto. Era como se tivesse voltado no tempo. Apertou os olhos e logo viu a imagem dos pedaços de Anne Tolkien amontoados no armário. Abriu os olhos rapidamente e olhou novamente a porta. Com um surto de coragem, empurrou bruscamente a porta e entrou no quarto. Não havia mais o armário; o quarto estava vazio.
Autor(a): littlecreepygirl
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