Fanfic: ~ SEGREDOS SUJOS, VONDY | Tema: Rebelde

   O motor de carro roncou. Arrancou-me dos meus pensamentos alto-destrutivos. Segui com os olhos a fonte do ronco fanho. Deveria ser o único carro que estava dando ré da sua vaga e desesperadamente acelerar em direção à saída, mais um. Provavelmente algum professor... Louco para dar o fora dali e voltar para conforto da sua casa, para sua família. E sair de perto desse colégio... tão toxico.

   E agora? O eu faria? Ligava para Lola e diria que não precisava mais da sua carona “prestativa”? E se ela se irritasse? E se nunca mais de desses mais caronas “prestativas”? Como iria para escola pelo resto do ano? Ou só até ganhar uma autorização dos meus pais para fazer a carteira de motorista e ainda arranjar um emprego dessente e juntar dinheiro suficiente para bancar um carro barato, mas que pelo menos durasse uns bons anos. Levaria muito tempo. Se não fosse pela Lola, eu dependeria do ônibus escolar, o que não me pareceu tão ruíam de fachada, até eles se esquecerem de me esperar e eu ficar cinco horas sentada num banco na frente da escola, passando um frio desgraçado, em pleno inverno, esperando meu pai sair do serviço, para poder me buscar.

    Enfim.

    E se eu esperasse ele voltar para pegar a motocicleta? E se de uma vez por todas tirava alimpo essa história? E se ele me ignorasse? E novamente eu voltaria ao ponto inicial, sem carona. Arriscava ou não? Milhares de “E se” começaram a rodar a minha cabeça abruptadamente. Meu corpo amoleceu. Apoiei a mão no Ford de capo amassado, me reequilibrando, certamente deveria ter sido a falta de comida no organismo.

   Meu coração quase saiu pela boca, ao sentir alguma coisa deslizar pelo meu braço. Fazendo-me pular involuntariamente. O susto foi tão intenso que acabei deixando todos os meus livros caíram me virei cautelosamente. Sorte a minha não ter gritado.

   — Santo Deus! Que diabo! Você q-quase... Ei, quase que eu porto dessa para melhor — disse entre arfadas e gaguejos.

   Tremi.

   — Acredito que devo ter te assustada o bastante para colocar o nome de Deus e do Diabo juntos na mesma frase, que coisa feia, D!

   Meus olhos rolaram.

   — Blake, o que ainda está fazendo aqui? — desconversei e abaixei-me para juntar o que havia deixado cair.

   — Ah, eu... ahn, procurando um livro na biblioteca.

   Ainda no meu campo de vista captei o chacoalhar de um livro velho na sua mão direita.

   — O quê? Você procurando livros, na biblioteca? — Provoquei num tom divertido.

   Levantei-me, abraçando meu fichário.

   — O que uma prova de literatura não faz com as pessoas...

   Ele riu baixinho.

   — Ah não seja exagerado, Blak! Garanto que literatura com a senhora Lee é bem mais “divertido” que química com o senhor Garner — resmunguei e joguei minha franja para trás da orelha, que insistia em cair na frente dos meus olhos, me cegando. Droga.

   Blake pareceu assentir.

   — É discutível. Mas e você... o que ainda está fazendo aqui? Já faz um tempo que aula terminou e não a vi na bibliote...

  O interrompi.

   — Garner! Ele teve mais uma ideia supermoderna e passou hoje um questionário preparatório “antes-do-teste”, mesmo o teste sendo para nos preparar para prova, enfim, acabei ficando depois da aula. Como eu “ainda” não tenho carro, pego carona com a Lola, só que a Jus... — pigarreei — Quer dizer, uma garota disse a Lola que eu havia passado mal e tinha ido embora mais cedo. E a Lola acreditou e foi embora mesmo e... ahn, cá estou eu!

   — Mas isso não é verdade?! Você está aqui e aparenta estar bem. Quem disse isso? — sua curiosidade era evidente demais.

   Ele arqueou as sobrancelhas e cruzou os braços sobre o peito.

   — Ela não chegou a me dizer quem era...  nenhum nome em especial.

   — Deveria perguntar! Eu estou com o carro da minha mãe, posso levá-la para sua casa, se quiser — ele ofereceu, agora sorrindo de um jeito meio estranho.

   Tipo, oi? Carona... do Blake? Confusão na certa. Se Justine já achava ruim a ideia de eu ir a um jogo com ela e os amigos deles juntos. Nós dois, sozinhos, num carro levaria a um assassinato na certa.