Fanfic: ~ SEGREDOS SUJOS, VONDY | Tema: Rebelde

   Seu dedo indicador apontou um carro, não muito longe. Os pneus eram cobertos por barro úmido. Naquela época rolava boatos que Oliver morava em uma fazenda, numa parte mais afastada da cidade, perto de alguma montanha, com sua mãe Kate e sua irmã mais nova, Roberta. O carro tinha um formato meio estranho, meio quadrado... e a cor era azul, beirando entre o azul claro e o escuro, e...

   Deixei de analisar o carro como uma retardada e voltei a olhá-lo de repente.

   — Agradeço, mas não vai ser preciso. Já liguei para Lola. Ela vai voltar e me buscar, mas... Nada, esquece.

   Pausa.

   — Mas... — repetiu, parecendo querer que eu continuasse.

   Engoli a saliva, em dúvida. Dizer ou não, que estava esperando talvez por outra pessoa. Dei de ombros em pensamentos. O que a de mal em falar a verdade?

   — Bem... OK. Eu convenci Lola a me buscar, mas agora... estou indecisa. Estava passando por aqui e vi a moto do Christopher. Mas agora eu não sei se espero ele voltar para buscar a moto ou vou com Lola para casa. Preciso falar com ele. Urgente! Você o viu?

   — Quem?

   Sua expressão era confusa. Refresquei sua memória rapidamente.

   — Christopher... Christopher Uckermann. Capitão do time de futebol. Candidato à presidência do comitê participativo da escola. E mais dúzia de coisas, superpopular, blá-blá-blá. Ah, me acompanhou até de sala de história uma vez... o cumprimentou até... Lembra?

   — E é “meio” arrogante, também. Sim, lembro, muito bem.

   Os músculos da minha mandíbula ficaram tensos.

   — Ele não é arrogante! — retruquei, mas a minha voz não saiu com a convicção que eu queria ter sentido.

   Ser arrogante no nosso mundo não é apenas pensar, achar, tentar, ser melhor que o outro... É pisar naqueles que se deixavam rebaixar.

    — Acha isso por que vocês são amigos. E o modo em como ele te trata é diferente de como ele trata o resto das pessoas que não são do seu mesmo “nível” dele. Já o cumprimentei outras vezes e ele não foi tão educado como foi na sua frente. E já o vi tratar mal alguns alunos que nem sequer tem um motivo. Por mera arrogância. Principalmente garotas.

    No fundo eu sentia que tudo que ele dissera deveria ser verdade, mas eu não queria admitir nem para mim mesma. Como poderia admitir para ele?

   Então eu falei:

   — Você está enganado. Nunca fui rica, sempre tive uma vida de classe-média. E mesmo assim, ele é meu amigo desde o tempo em que eu brincava de casinha com as minhas Barbeies, ora. Pelo menos éramos amigos, acho, sei lá.

   — Era? Como assim? Eu não estou sabendo de nada — perguntou ele, curioso.

   Senti meu celular vibrar no meu traseiro.

   — Espera aí!

   Sem olhar o identificador, atendi a chamada.

   — Alô?

   — Onde você se meteu D? Já estou aqui na frente da escola faz duas horas, te esperando, inferno!

   Mentirosa!

   — Eu estou no estacionamento, uh... Ahn, cinco minutos e eu tô aí, Lo.

   — Um, dois, três, quatro, cinco, seis...

   — Lola não...

   Desligou.

   Abri minha boca para dizer que tinha de ir agora, mas Blake foi mais rápido.

   — Tudo bem, pode ir! “Lo, carona, Lola, cinco minutos.” Já entendi. Até amanhã, então — disse ele, solenemente.

   — Até segunda, Blake — o corrigi, tentando não sorrir.

   — Tem certeza que não quer ir... mesmo? 

   Suspirei.

   — Infelizmente tenho certeza.

   Ou felizmente...

   — Entendo... acho. Fica para uma próxima? — Blake perguntou, entorpecido.

   — Claro, deixemos para uma próxima.

   Se houvesse próxima.

   Atravessei o estacionamento lentamente, tentando não bancar a desesperada por acatar as ordens de Lola. Mas ao sair dele, dei partida numa corrida patética e solitária em direção à frente da escola. A última coisa que precisa naquele momento era de ter que ouvir Lola reclamando pelos cotovelos sobre meus atrasos. E fazendo perguntas.

   Freei.

   O Fiat vermelho de Lola estava parado no meio fio perto de uma árvore do outro lado da rua, com os faróis acessos. Parei em frente à porta do acompanhante e dei duas batidas no vidro com força. Chamando sua atenção, que estava sendo dedica a tamborilar o volante animadamente ao som do rádio. Ela destravou o pino da porta. E eu deslizei para seu lado, acabada.

   Ela abaixou o volume.

   — Pensei que iria ter que sair para ir buscá-la e trazê-la pelos cabelos. Dois minutos de atraso, dois, hein! Atrasada, seu segundo nome — resmungou.

   Ofeguei.

   — Vamos lá. Sua mãe deve estar nos esperando.

   — Isso aí, D, você sempre está certa, também. Pé na tábua.

   Lola posicionou o pé no acelerador e pisou fundo. E depois encenou uma freada, fazendo graça. Então girou a chave na ignição e deu a partida no seu possante vermelho.

   Uma suposição torturante revirava meu cérebro naquele momento. Quantas vezes eu ia ter a aquela chance, de ter falado com ele?

   Espiei de canto de olho, Lola cantarolando baixinho alguma música dramática, fazendo cara de choro, caras e bocas, bem doidinha, mesmo. Antes de interrompê-la.

   — Sabe por que sua mãe faz questão de que eu jante com vocês? — perguntei, desconfiada.

   Por pouco não notei que ela esmagou o volante.   

   — Ora D, por que esse jantar vai ser deprimente. Meus irmãos não estão nem um pouco felizes com a suposta reconciliação dos nossos pais. Então como você já deve saber... Sou uma garota muito, muito, compreensiva e negociável. Mamãe fez uma proposta irrecusável! Convidar você para o jantar de hoje e duas noites livres até meia noite para o lugar que eu quiser. É claro que tirando motéis, casas noturnas, ou coisas que resultem ou envolvam de alguma maneira, doenças venéreas ou até uma gravidez precoce. Sem supervisão, em troca de eu ficar mega feliz com essa babaquice toda de reconciliação. Antes de eu saber que você tinha tido uma caganeira, acabando com a minha única válvula de escape para minha “mega felicidade” — Fez aspas, fazendo meu coração disparar ao soltar o volante — Mas felizmente você está em suas perfeitas condições. E vai me ajudar a animar esse jantar, ah se vai! Por que eu não posso de maneira nenhuma perder duas, escutou? Duas! Duas noites livres sem nenhuma supervisão.

   Perfeito, mais essa agora.

   — Lola, você não pode me meter nas suas roubadas sem antes me avisar!

   — Às vezes nos temos que nos sacrificar um pouco, para depois receber muito. Ei, pense nisso D — disse ela em tom de sabedoria e piscou.

   Suspirei.