Fanfic: ~ SEGREDOS SUJOS, VONDY | Tema: Rebelde

A expressão fúnebre se negava a desaparecer do meu rosto, mesmo a aula de educação cívica já ter terminado. A verdade era que não via motivo algum para remota alegria. Lola só podia ter me jogado uma macumba das brabas, com direito a despache na praia. Era eu achar que estava minimamente em vantagem sobre aposta, o “destino” ia lá e fodia com tudo.

   Principalmente com o meu humor, que já não era dos melhores.

  Atirei minha bolsa de qualquer jeito ao meu lado desabando no chão, depois de semelhante a um furacão humano invadir a saleta, que como aviso na porta havia sido pendurado ironicamente o conselho “Reflita sobre seus atos!” e logo a cima uma placa chamativa escrita D E T E N Ç Ã O. Já não bastava um trabalho com aqueles dois idiotas, a panaca da Maggie Minton e a ciumenta da Sarah para ser entregue na sexta-feira — já era terceiro dia da semana —, ainda era obrigada a permanecer no mesmo ambiente mais 50 minutos com o cara mais arrogante da face da Terra e o meu cunhado psicopata.

   Ô beleza!

   Eles já estavam lá, quando cheguei.

  Eric estava esticado despreocupadamente num sofá nos fundos da sala, enquanto Christopher dedilhava a pequena sessão de livros do lugar. Pensei em novamente me refugiar no meu mundinho sonoro, quando tive a confirmação irrevogável de que o diabo arquitetava minuciosamente o meu dia lá no inferno. Misteriosamente meu celular deu um tremelique incomum, anunciando a bateria fraca do aparelho e apagou. Não, não, não, não, não! Ótimo, eu... eu aguentava. Precisava aguentar. Ordenei a mim mesmo. Era tudo pela minha permanência naquele lugar.

   O que começou realmente a me deixar tensa foi lembrar de que ambos terem como objetivo me dar uns amassos autossuficientes. Talvez fosse hoje que me tornaria mais uma comida da Brooke Hill. Ou não. Porque não havia momento mais ideal para me agarrar do que numa sala putamente longe da saída. E também não estava nos meus planos à classe do inspetor que deveria supervisionar o nosso comportamento estar vazia. Na verdade os dois não estavam me dando à mínima. Christopher fingia interesse na leitura. E Eric parecia cochilar lá atrás.

   Chegava a ser frustrante.

   Me contentei a ficar encarando o teto, imaginando esperançosamente que qualquer momento a escola pudesse sofrer um ataque terrorista e sei lá, tocarem uma bombinha básica e KA-BUM! Ai eu poderia ir para casa e nunca mais teria que ver ninguém daquele colégio de bosta. O problema é que nem para casa eu tinha como ir. Lola me comunicou que não haveria ensaio extra depois da aula da professora Minerva, porque finalmente foi desvendado o erro na maternidade de Justine e sua família verde de extraterrestres veio do além para abduzi-la. Tá, mentira, hehe. Lorena contou (muito fofoqueira, também acho) enquanto caminhávamos até o estacionamento que Justine sumirá desde a educação física e que até treinadora Garcia teve que por a mão na massa em vez de apenas ficar avaliando o desempenho das aulas. E que P.A e seus compassas não acharam nem sinal dos materiais dela, muito menos da aluna. O que significava duas coisas: ou Justine magicamente havia driblado a segurança do colégio e fugido das dependências, ou estava escondida em algum canto da Brooke Hill. Fosse o que fosse eu estava pouco me fodendo. O probleminha era que Lola não ia me dar carona por isso. Já tinha virado rotina ela me deixar na roubada, então não protestei. Por causa da falta de ensaio Lorena dedicaria o resto da tarde a distribuir currículos seus nos bares e restaurantes chiques perto da costa. Dei um sorriso amarelo em resposta e antes que o meu tempo de detenção dobrasse voltei relutante para dentro da escola.

   Poxa, meu dia não podia ficar pior até eu ter pensado nesta frase. De repente uma chuva catastrófica iniciou ao redor de Newport, chacoalhando ferozmente as palmeiras na volta do colégio. Eu amava chuva, para ser franca. Mas dentro da minha casa, deitada na minha cama, em segurança e seca.

   Encolhi minhas pernas e as abracei. Estava perdida.