Fanfic: ~ SEGREDOS SUJOS, VONDY | Tema: Rebelde

Fazia mais de duas horas que Gregory estava trancado no quarto com aquela marginal aparentemente boa o suficiente para prendê-lo durante o resto da noite. Já era, eu não tinha sorte mesmo com caras, que seja! Como iria mostrar ao retardado do Uckermann que não dava a mínima pra ele no luau? Tentei parar um pouco de pensar e pus num canal de seriados, enquanto Lola usava o notebook. Mesmo concentrada na TV conseguia distinguir risadas animadas em algum outro cômodo da casa. Meu sangue estava entrando em ebulição de tanta raiva. Nunca havia sido tão ciumenta na vida, pelo amor de Deus. Para ser sincera, todos os meus sentimentos andavam perturbados, completamente descontrolados.  

   — Basta, quero ir para casa.

   Ela deu de ombros. Pegou a chave do Fiat e enfiou um casaco, fazendo pouco caso. Em menos de meia hora, Lola me despachou na frente da minha varanda e acelerou sem nenhuma educação. Revirei os olhos, certamente deveria ter ficado “mordida” com a minha ameaça verbal, mas cá em entre nós, ela estava passando dos limites, em vez de ficar do meu lado, me apoiando, só tentava tornar a situação engraçada para ela mesma. Respirei fundo, pedindo mentalmente para não esbarrar com ninguém até a porta do meu quarto. Meu humor, como não é nenhuma novidade, estava bem instável. Prece atendida, cheguei ao quarto sem nenhum interrompimento. Digamos, que até estranhei, mas não dei importância. Tinha que aproveitar acontecimentos iguais ao máximo, sabe se lá quando meu quarto seria invadido por minha mãe aos berros, latindo ordens. Tirei aquelas roupas ridículas e apesar de adorar a segurança do meu quarto, necessitava de ar. Ainda chovia, mas precisava ir para um lugar fresco, onde pudesse respirar. A sensação de aperto do meu peito me dava calafrios. Queria conversar com alguém civilizado, que apenas me escutasse, sem julgar minhas atitudes. Mas eu só tinha Lola, e pelo visto, ia ficar com aquela sensação detestável dentro de mim para sempre. Fiquei bisbilhotando meu próprio celular, até uma ideia maluca me dominar. Verifiquei na ponta dos pés se Regina estava em casa, confirmei alguns sons vindo do quarto ao lado, meus pais deveriam estar em algum jantar beneficente, tentando bancar o casal feliz, ou algo assim. E eu iria sair pela porta dos fundos quando dei de cara com a BMW de Eric na entrada para carro. Meu coração parou, tamanho o susto, depois disso, o ódio por Regina realmente me obedecer, colocar a culpa em mim e perdoar ele, simplesmente. No fundo, acho que ainda imagina que ela tivesse um pouco de amor próprio ou sei lá... dignidade. Mas não, então ia ser assim? Era essa a sua resposta? Ia revidar a altura irmãzinha.

    O carro estava destrancado, não pensei duas vezes e fiz a ligação direta, como Christopher havia me ensinado uma vez, quando tive meu primeiro porre, Christopher ficou tão aflito que perdeu as chaves do carro na praia, disse que ia ser um segredo nosso e que não era para contar a ninguém, seu pai o mataria se soubesse que aprendera algo do tipo. Tinha sido uma noite divertida, quando Lola não estava afim de jogar conversa fora, ele estava lá de bobeira para me contar das garotas que andava pegando ou quanto odiava seu pai por mesmo sendo o filho exemplar que qualquer pai desejaria, nitidamente preferir Adam, o desordeiro, mas agora não. Estava sozinha, ambos eram uns idiotas. Era tanta raiva dentro de mim, precisava que ela saísse de alguma forma, algum jeito, qualquer que fosse. Dei ré e peguei a primeira rua que surgiu na frente e outra e mais outra. Quando percebi, nem sabia mais onde estava. Queria sumir, e não ser obrigada a voltar para casa apenas para evitar preocupações falsas dos meus queridos pais. Freei. Um suspiro escapou dos meus lábios rachados, não sei se foi de alívio, ou de pavor. Quando Eric percebesse que roubaram o seu carro, ia pirar, com certeza. Mas ele não teria provas que fora eu, podia largar em alguma esquina, uma brincadeira boba, sem maldade. Ou não, podia dirigir até o fundo do mar e deixar afundar, junto com essa âncora de mil toneladas que arrastava a minha alma. Comprimi o rosto com as mãos desesperada. Queria ele aqui, naquele momento, me fazendo rir do meu drama, me apoiar com toda aquela loucura, e se não desse certo... ele me salvaria, sem o menor esforço.

Uma lágrima quente escapou. Mais uma eu desabaria, funguei, tentando me recompor, precisava ser racional, mais uma mancada, eu teria que finalmente sofrer as consequências. Notei que a chuva cessou, saltei do carro e andei até os fundos de uma boate. Sim, porque diabo estava indo para lá? Não sei, só sabia que precisa. Trocara a calça de veludos por jeans rasgados, tênis, e um moletom da GAP. O moletom era do Uckermann, mas sei que ele nunca daria falta. O seu cheiro estava impregnado nele. Depois de entrar na boate, mantive o rosto baixo, até encontrar uma mesa vazia, me sentei e voltei a roer minhas unhas.

   Constatei, já a dez minutos sentada, que meus cabelos deviam estar um caos, mas nem liguei, não estava ali para ser reparada, como a maioria das mulheres do lugar parecia tentar. Um garçom de cara amarrada me perguntou se iria querer alguma bebida, neguei e sem insistência o homem passou por um grupo de pessoas aglomeradas e desapareceu. Uma risada conhecida me atingiu, semelhante a um tiro, bem no meu estômago. Procurei pelo seu dono, mas não encontrei, devia estar ficando doida mesmo. Eram quase 23 horas da noite, roubara um carro e me encontrava dentro de uma boate no fim do mundo, no meio de gente que nunca vira antes, mas me sentia bem. Sentia até a última ou a primeira pessoa que queria ver aquela noite desabar no banco a minha frente, com o sorriso mais arrogante do planeta grudado nos lábios.

   — Perdida, Doce?