Fanfic: ~ SEGREDOS SUJOS, VONDY | Tema: Rebelde

   Pensei em gritar “Espere sentado!”, mas não achei conveniente ter engolir minhas palavras no processo. Ele arrancou. Voltei para dentro e lancei um olhar mortal para minha mãe enquanto subia as escadas. Chegar atrasada na Brooke Hill não tinha de animador, receberia mais um dia de detenção a não ser que tivesse um papel escrito pelos meus pais justificando minha demora. E não estava no clima de pedir nada a minha adorável mãe. Prendi meus cabelos em coque alto, enquanto me livrava das roupas. Tomei um banho rápido e revigorante. Depois de me enrolar numa toalha, vasculhei meu armário anormalmente organizado. Pus outro jeans, e uma blusa roxa de mangas compridas. Passei leave-in nos cachos revoltados e uma máscara de cílios. Sapatilhas e um colete com estampa da bandeira dos EUA. Empurrei para dentro da bolsa o material das aulas do dia, apesar da maioria deles já estar no meu armário da escola. Enviei um sms para Lola, sentando nos degraus da varanda.

Atrasada quatro minutos. Onde está? - D.

Lanchonete. Necessito dos pães de queijo do Gray Food. Passando aí em cinco, beijos na boca - Lo.

Rápido, estou faminta.

   Lola foi pontual. Chegamos à Brooke Hill dois minutos antes do sinal berrar em nossos ouvidos. Joguei o saco vazio de pães de queijo e as latas de refrigerante na primeira lixeira que avistei no corredor. Depois de uma breve passada pelo meu armário, nos arrastamos para nossas primeiras aulas do dia. Eu teria dois períodos de Física e Lola, para minha inveja, aula de Espanhol.

   — Hasta que la clase de Educación Cívica, baby! — cantarolou Lola, num espanhol bizarramente fluente.

   “Até a aula de Educação Cívica, gata!” traduzi mentalmente.

  Despedi dela com relutância e me encaminhei para a sala 210. A senhora Anderson me deu lançou um sorriso amigável quando passei por ela a procura do meu lugar habitual, mas nem isso a permitiu parar de usar os seus garranchos ilógicos para escrever fórmulas assustadoras no quadro. Desabei na minha cadeira.

    Só mais um dia. Sussurrei para mim.

   Justine, e a sua amiga, Melissa, entraram na sala uns três segundos depois do segundo sinal tocar. Uma parte otimista de mim acreditou fielmente que ela não iria vir, mas a sorte não convivia muito bem com a minha pessoa, já tinha sacado. Para piorar, Justine fazia dupla comigo nas aulas de Física. Era definitivamente um saco de ter todos os exercícios copiados mesmo que eles não estivessem corretos ou contra a minha total vontade. Abri meu fichário e tratei de copiar o que a senhora Anderson já havia posto no quadro antes da aula começar. Justine não fez questão de ser sutil, se empoleirou na cadeira ao meu lado e começou tamborilar irritantemente suas unhas cor de rosa na classe.

   — Colete legal — ela murmurou.

   Sustentei o ar dentro dos meus pulmões. Realmente não estava a fim de papo. Não com ela. Justine fazia sexo com o Christopher nas horas vagas, ou nas não tão vagas assim, como em banheiros. Essas imagens faziam piruetas dentro do meu cérebro, pichadas em um outdoor imaginário. Talvez eu ainda estivesse um pouco bêbada. Não muito.

   — Obrigada — agradeci com indiferença.

   Escutei-a pigarrear. Querendo minha atenção. Argh. Garota irritante, só é.

   — Ah. Qual é? Estou ocupada. Copiando a matéria. Dã.

   — Grossa.

   — Submissa.

   Mantemos nossos olhos presos por uma fração de segundos, ela absorveu a direta.

   — OK. Apenas uma pergunta — declaro vagamente vencida.

   — Que seja.

   — Não me faça arrepender-me de gastar minha saliva com você.

   — OK. Certo. Bem, Oliver ligou para você ou algo do tipo? Ontem à noite. Tente lembrar, é importante, importante de verdade — o seu tom de voz foi meio desesperado.

   Não precisei pensar numa resposta.

   — Por quê? — questionei.

   Ela realmente corou. Na minha frente. Esquisito.

  — Não que seja da sua conta. E não que eu não possa resolver sozinha. — a olhei com impaciência — Oliver e eu tivemos umdesentendimento. Pronto. Ele não está atendendo as minhas ligações e não veio à escola.

   Interessante.

   — Hum... — de repente lembrei que não havia verificado meu celular desde que sai de casa com o intuito de roubar um carro e afunda-lo no mar.

   Fiz sinal com a mão para ela esperar. Conferi as chamas, meu estômago contraiu. Vinte cinco chamadas não atendidas. Duas eram de Oliver. O restante era no número de celular da minha mãe — Ele ligou.

   Justine tentou se inclinar para espiar a tela. Guardei o celular antes que os seus olhos intrometidos pudesse ver.

   — Mas não falamos sobre você.

   Sua testa se enrugou levemente.

   — O quê? Está dizendo que anda falando com ele?

   OK. Seria uma tremenda mentira afirmar. Mas o seu tom agudo de insinuações estava sugando meu bom senso. E Eric havia tatuado “Bêbada Vadia” na minha testa ao me agarrar aquela noite, e eu podia alegar estar numa pior desde então, caso Justine um dia viesse arrancar a verdade de Oliver.

   — O quê? — revidei, com um sorrisinho — Somos amigos, conversamos como pessoas normais. Qual o problema, J? Pensei que era mais segura de si. Erro meu.

   Escutei sua garganta ranger de ódio. Ela ergueu seu braço magro, chamando a atenção da professora.

   — Professora Anderson? Posso ir ao banheiro? — pediu.

   — Se apresse Moore. Vou prosseguir com o conteúdo ainda hoje.

   Justine assentiu e saiu em disparada. Ninguém além de mim percebeu o quanto ela estava puta. Peguei o meu celular novamente e enviei duas mensagens em tempo recorde.

Blake terminou com a Justine. OMG! Essa foi para Lola.

Desculpa não ter atendido, ontem. Vai chegar antes ou depois do almoço? – Dulce.

   Lorena foi a primeira a responder:

WHAT??? Conte-me tudo. TUDO – Lo.

   Contive uma risada, imaginando sua reação real. Algo semelhante. Não houve tempo de pensar no que iria dizer a ela, Oliver tinha me respondido também.

Quer que eu vá? Estou começando a ficar entediado. Vou passar no serviço da minha mãe para pegar um “atestado” – O.B

   Não ia ter que beijar um cara comprometido. E de brinde poderia começar a planejar minha doce vingança contra todos os anos de sofrimento, causados por Justine. Uma vontade de fazer uma dançinha da vitória em plena aula, mesmo que fosse sentada no meu lugar, me fez encolher as pernas de agitação. Bem, de repente, algo ofuscou minha energia superfeliz. Precisava contar sobre a noite passada a Lola. Ainda. Tudo.