Fanfic: ~ SEGREDOS SUJOS, VONDY | Tema: Rebelde

Céus. A aula de educação cívica foi um tremendo inferno. Lola parecia uma pipoca, quicando dentro de uma panela de pressão ao meu lado. Inúmeras vezes tive que mandá-la fechar a maldita boca. Mas mais da metade da turma já deveria ter escutado suas investidas frustradas de tirar informações de mim. A droga da verdade é que eu não sabia sobre os detalhes. Precisava urgentemente falar com Blake. Se não Lorena ia ter um enfarte por FF (Fofoca Fresca). Quando Lola tinha ataques de ansiedade sua bexiga ficava do tamanho de uma ervilha, ela havia acabado de voltar da sua terceira viajem ao banheiro. Eca. Continuei a ignorando até o almoço, fingindo interesse pela matéria dada pela nossa professora anciã, chamada pelos alunos de Minerva das Cavernas. Apressei-me em deixar os meus pertences no meu armário, antes de partir para o matadouro. Com Lola ainda me seguindo. Paramos no meio do trajeto.

   — Já disse que é apenas isso que sei. Controla-se.

   — Quero detalhes. Agora, trate de consegui-los.

   Meus olhos rolaram.

   — Blake faltou, mas talvez chegue depois do almoço. E não vou pedir detalhes a Justine, me poupe. Você é mais amiga dela do que eu.

   — Tenho vertigens quando falo diretamente com ela. Ligue para o seu amigo Ollie-veado, confirme sua vinda.

   — Pare de chamá-lo assim! — praticamente rosnei.

   — É a casta verdade! Eu não tenho culpa. Oliver namora há dois anos e nunca tentou “aquilo”, ah, você sabe. Escutei as garotas debatendo esse tema no vestiário, abertamente. Depois do treino em que a Justine evaporou.

    Senti meu rosto arder pela raiva.

    — Se eles fazem ou não, não é da sua conta, muito menos dessas desocupadas. Pare de me pressionar. Agora, se me der um minuto, vou ao banheiro e ligar para ele. Certo? Enquanto isso pegue um hambúrguer e uma lata de Coca para mim. Ah, e diga a Sarah que se ela ousar sentar aquele traseiro magro novamente no meu lugar ele ira parar em cima da mesa do Buffet.

   Lola piscou os grandes olhos azul-água antes de assentir, imóvel. Caminhei em passadas rápidas até o banheiro feminino. Antes de me trancar numa caminhe espaçosa, disquei o número de Oliver.

   A chamada entrou no correio de voz. Ótimo. Disquei levemente irritada pela segunda vez.

   — Sardenta? É você? O que houve?

   Recordei daquele seriado sobre uma ilha sinistra, chamado Lost, foi como flash aos meus olhos. “Sardenta” era o apelido de uma das personagens, dado por Sawyer. Constatei rapidamente a semelhança assombrosa que o ator tinha com Oliver, obviamente quando Josh Holloway não usava os cabelos nas alturas dos ombros e teria uns vinte anos a menos nas costas. Mas isso não me impediu de reagir de forma menos furiosa a sua demora.

   — Que perfeito, todos resolveram me dar um bendito apelido — soltei.

   — Desculpe-me, eu, bem... não achei que fosse se incomodar, não foi a minha intenção — ele se desculpou apressadamente, a magoa que absorvi do seu tom de voz aflito foi semelhante a um chute no estômago.

   — Não, ei, apenas esquece, Blake. Sou apenas eu, sendo “eu”. Eternamente mal humorada. Quero dizer, pode me chamar como quiser.

   Escutei sua risada aliviada.

   — Certo. Doce, o que acha?

   Mas que porcaria.

   — Blake, Doce não dá. É que... Argh! Há uma pessoa que me chama assim, e eu detesto — mentirosa.

   — Nunca conheci uma garota que tivesse dificuldade em ganhar um apelido. Mas, OK. Deixa-me pensar...

  Intervi, para o bem de todos, ou penas o meu.

   — Sardenta! É legal, combina comigo, eu acho — disparei, antes que se ele revolvesse me chamar de “Docinho”.

   Eu realmente possuía muitas sardas, principalmente no rosto, pescoço, busto, costas, ombros. Viu? Elas estão em toda parte.

   Oliver riu, e a sua risada me fez rir também. Droga. Era um mau sinal. Péssimo, alias.

   — Bem, você me ligou... — a frase pairou no ar.

   Foco, Dulce, foco.

   — Ah, isso mesmo! Eu quero saber se você vem. Por favor? Não vou aguentar passar dois períodos de história no meio de um debate sozinha. Você vem?

   Escutei um suspiro desanimado.

   — Eu vou.

   Soltei um gritinho de alívio. Pouco sutil, e eu quis enfiar a cabeça na privada.

   — Onde você está exatamente? — continuei, apalpando o rosto corado.

   — Perto do estacionamento.

   — Vou estar na frente do seu armário.

   Finalizei a chamada. Quando adentrei o refeitório, Sarah estava devidamente sentada em seu lugar, enquanto Lola quicava no dela. Nenhum vestígio de Bryan. As duas pararam de sufocar suas gargantas numa conversa evidentemente secreta, voltando suas atenções para mim.

   — Então, D? — Lola igualando-se a uma viciada, aguardava ansiosamente a sua miserável dose do dia.

   — Positivo — digo, evitando os olhos atentos de Sarah.

   Mesmo tendo a sensação de que Lorena já havia repassado cada palavra que arrancara de mim, assim que teve a primeira oportunidade. Não a culpei. Na verdade, o quanto antes a informação começasse a rolar, mais possibilidades ela teria de se tornar real.

   Sorri, satisfeita.

   Esperava que ela mantivesse o mínimo de discrição quando o assunto fosse o Uckermann. Lola provavelmente iria me bombardear com perguntas desagraveis, do gênero “Ah, meu Deus! Como foi?”, “nota de 10 a 0?”, “houve mãos de polvo, língua na garganta?”. Argh. Não, não, não mesmo. Queria simplesmente fingir que aquela noite nunca aconteceu. Christopher aparentou tranquilidade no quesito manter Anthony de boca fechada. Ainda sim, desconfiava de uma omissão sua de bom grado. Ele havia deixado bem claro que não engolia nem sequer um centímetro da minha existência, no verão do ano retrasado. Mais precisamente, o dia em que Christopher confirmou sua ausência na partida de futebol americano no ginásio da Brooke Hill. Uma tradição esquisita e sem desculpas para faltas, para passar duas horas no anfiteatro da escola, esperando minha vez de atuar em uma peça. Graçinha, não? Estava sendo um dia divertido e memorável, até Anthony-com-séria-tendência-as-drogas surgir para o final. Após o “gran finale”, quando já estava descendo do palco sobre os aplausos, usando um vestido longo com armação antiquada, assim que pus o pé no último degrau da escada, pisaram na bainha do vestido. Adivinhe? É, acertou. Foi Á queda. Do tipo que precisa ser executada por um duble ou quebraria uma perna no processo. Soube que tinha sido Anthony no exato momento em que me reergui no chão e cruzei com um par de olhos zombeteiros. Babaca. Enfim. Teria que contar a Lola, não iria arriscar. Não podia esconder um segredo desse patamar da minha melhor amiga. Mais tarde, declarei a mim mesma.

   Triturei meu hambúrguer duplo de carne em praticamente vinte segundos, e avisei Lola do meu encontro investigativo com Blake. Sozinha. Acabei enfatizando sem querer a palavra, e vi as sobrancelhas de Sarah dançaram sobre a sua testa. O tipo de reação que apenas pessoas com a mente pervertida e suja teria, obviamente Sarah adquiria essa mentalidade acéfala.

    A propósito, foi totalmente proposital.