Fanfic: ~ SEGREDOS SUJOS, VONDY | Tema: Rebelde

Cruzei o corredor dos armários no segundo ano, Oliver já esperava no lugar marcado. Ele estava sentado no chão, com as pernas cruzadas. Projetei o meu melhor sorriso, quando Oliver me viu caminhar na sua direção. Admito, foi um pouquinho espontâneo. Ele estava com uma cara de sono irresistível.

  — E aí — digo, deslizando minhas costas pelos armários, quando meu traseiro tocou o chão, doeu.

  Ele riu da minha expressão sofrida.

  — Ei, Sadenta.

  Inclinei-me até sua bochecha e a beijei. E como era um ser autodestrutivo por natureza, não me afastei antes de dar um mergulho naqueles olhos maravilhosos.

   — Porque não veio mais cedo?

   — Minha irmã estava com febre.

   — O quê? Ela está bem? Levou ela ao médico? Onde a deixou? Blake, não me diga que a abandonou para vir a aqui?

   Pela risadinha, constatei devia ser muito engraçada, nível Comedy Central.

   — Ela está bem. Acho que foi emocional, assisti uns desenhos de super-heróis com ela e a febre passou. Deixei-a com a minha mãe.

   Suspirei. Nossa, eu sou tremendamente esquisita.

   — Ainda bem!  

   — Obrigada por se preocupar.

  Hora de me calar. Ou não.

   — Nome dela é Roberta, certo?

   Ele assentiu perplexo.

   — Como sabe?

   Porque não pensei nisso antes de abrir minha boca enorme? Tripudiei mentalmente.

   — Por aí. — falo, fazendo um ar misterioso, tratei de prosseguir apressadamente — Ela é parecida com você? Tipo, lourinha e de os olhos claros? Ah, e bochechas cor de rosa?

   — O quê? Olhe aqui, eu não tenho bochechas “cor de rosa”, é um estado passageiro, Sardenta. Apenas. — quanto ele falou, elas ficaram ainda mais coradas — E sim, ela é loura, mas os olhos são escuros, castanhos como eram os do meu pai.

  Eram.

  O pai de Oliver havia falecido há quase dois anos, em um acidente de estrada. Eu lembro quando o dispensaram da aula e a professora de literatura, a senhora Lee o levou para direção. Perto da hora de almoço. Depois o achei encolhido nas arquibancadas do ginásio, chorando. Jamais vi alguém tão arrasado. Na época não éramos amigos, mesmo assim deixei Christopher resmungando que eu só podia ser doida e que não devia me meter com o “Blake”. Não lhe dei ouvidos, fui até Oliver, e entreguei a minha lata de Coca intacta. Ele não parou de chorar, mas me abraçou durante um longo tempo.

   Nunca me esqueceria daquele dia.  

   — O que foi?

   — Não é nada. Mas então, o que queria me falar ontem? Deve ser importante, pois o registro de chamadas mostrava mais de meia-noite.

   Ele não me olhava, encarava os armários a nossa frente.

   — Depois da escola procurei a Justine por horas. — ele fez uma pausa, claramente avaliando a sua última fala — Quer saber, Dulce? Esqueça. Não importa mais.

   — Não! — digo alto demais — Eu quero saber.

   Ele encolheu os ombros.

   — Cansei.

   — Terminaram?

   — Acho que sim.

   Não me aguentei.

   — Finalmente. — os olhos dele se arregalaram, com a minha reação — O quê? Eu também estava cansada de fingir aturar a sua ex.

  — Ela é uma garota complicada.

   Ela é uma vadia, não uma garotinha com problemas emocionais. Pensei.

   — Foi uma briga, estão juntos há mais de um ano. Tenho certeza que até o fim do dia vocês vão se sentar, terão uma conversa muito séria que certamente vai ser resolvida com beijos. E aí, tudo volta aos eixos.

   Oliver não pareceu satisfeito com a minha teoria de rompimentos temporários. 

   — Não quero voltar. O problema é que não estou mais apaixonado pela Justine.

   Oh céus, porque eu não trouxe um maldito gravador? Lola ia morrer ao escutar isso. Acho que Justine também.

   — Ah, meu Deus.

   Ele apoiou a cabeça no meu ombro.

   — Surpresa?

   — Uhum — foi o único som que fui capaz de produzir.