Fanfic: ~ SEGREDOS SUJOS, VONDY | Tema: Rebelde

   — Olha a boca!

   — Porra, porra, porra! Po... — cantarolou.

   — Calada!

   — Às vezes, certo, sempre, você é muito patética — comentou cética — Então você já sabe o que tem que fazer para eu abrir a minha boca linda e soltar a informação.

   Bufei, rendida.

   — Eu ajudo. Mas se papai descobrir... Fique sabendo que eu não irei ser boazinha, como você pensa, direi que a ideia foi sua e que fez chantagem emocional ou... ou sei lá.

   — Tanto faz. Ele não vai descobrir, mesmo. Pessoas tediosas junto de pessoas pés no saco... De algum modo se dão bem.

   — Para de enrolar. Onde eles estão?

   Estalou os dedos.     

  — Jantar nos Sheldon. Trinta minutos atrás. Mas não precisa se preocupar por que inventei uma boa desculpa para o seu atraso, irmãzinha — Minha irmã fazendo favores?

   Quase me surpreendeu.

   — Que desculpa deu a eles?

  — Nossa! Credo! Não precisava nem agradecer. Sério — Regina dramatizou, com a minha falta de confiança.

  — Não foi você que disse que é dever, obrigação, inventarmos desculpas quando precisarmos? Afinal somos irmãs — eu escorneei.

   — Nada feito. E seja pontual! Seja que diabo de lugar você estiver enfiada, venha. Não quero chegar tarde demais à casa de Eric. E nem ficar muito tempo por lá. Amanhã tenho aula de piano, ás oito da manhã. Merda!

  — Por que faz aulas de piano se você odeia acordar cedo para ir nelas? — perguntei intrigada.

  — Replay: não devo satisfações da minha vida a otários, então... Você faz parte dessa lista exclusiva. — ouvi-a farejar, como um animal — Oh, meu De... Merda! Merda, merda!   — exclamou — Tenho que desligar. Tchau. Adeus.

   E bateu o telefone no gancho. Todos resolveram desligar o telefone na minha cara, ah, que beleza.                                                                                               

   Cheguei em casa por volta das nove e meia da noite. Lola fez a caridade de me levar até a minha casa e me enxotar do carro, na maior cara dura. Deixando-me falando sozinha na varanda. Acelerando pela rua, em direção à parte movimentada de Portland. Para sua primeira noite livre, sem supervisões. Esperava que ela se comportasse. Bem... só esperava mesmo, não tinha muitas esperanças.

     Fechei porta de tela, depois chaveei a outra porta.

   Regina estava na sala, empoleirada no sofá, de braços cruzados, carrancuda. Batendo o pé sem parar no assoalho. Da cozinha vinha um cheiro de queimado claustrofóbico. Meus olhos arregalaram-se ao perceber que Regina estava choramingando...?

    — Que cheiro é esse?

    — Não sei...

   Suavemente ela limpou as lágrimas das bochechas e afundou mais a touca de lã preta que escondia seus cabelos todos os santos dias.

   — O quê? Como assim, “não sei”? — chiei.

    Ela virou-se totalmente para mim, com os olhos cheios de raiva.

   — Estava fazendo meu jantar, quando “senhorita Perfeição” resolveu ligar para casa, para dar satisfação dos seus desaparecimentos. Por sua culpa queimei tanto a panela da “senhora Submissa” que parece mais que criou um buraco atmosférico. Por sua culpa estou com uma fome do diabo e ferrada! Já não notou o quando eu me esforço para não ser notada? Ser invisível, até? E com a maior facilidade você faz tudo dar o contrário? Faz da minha vida um inferno! Droga! — ela cerrou os olhos verdes sombriamente.

   Não respondi. Aderi ao silêncio. O que eu poderia responder? Não, sim...?

   — Pode sair? Quero ficar sozinha — apertou mais os braços contra o peito.

   Ela parecia uma criança mimada, isso sim.

   — Não quer mais estudar na casa do Eric? — supus, com a voz baixa, quase em um sussurro.

   — Você acha mesmo que eu ia ir para casa do Eric estudar? — zombou de mim.

   Minha boca meio que caiu. Não que isso fosse da minha conta. Mas Regina era tão infantil, que... bem... na maior parte do tempo, eu até me esquecia que ela já tinha “idade”... para fazer mais do dar uns beijos as escondidas, enfim não era da minha conta.

   Ela saltou do sofá, bem pé da vida e jogou a almofada bordada que antes estava em seu colo, no chão, sem dó. Pisoteou o carpete até porta do seu quarto provavelmente, onde a bateu com força desnecessária. Fazendo as madeiras do assoalho oco tremer abaixo dos meus pés.

   Encaminhei-me até cozinha retangular e fedida a queimado. Minha mãe iria ter um enfarto triplo quando chegasse, pensei. Apoiei-me sobre a abeirada da pia e apertei a ponta das narinas, limitando meu faro aguçado. Segurei a panela de inox pelo cabo. Examinei-a. E sacudi a cabeça negativamente.

   Meus pêsames panela, lamentei.

                                              
Uma hora mais tarde.

  Já estava de banho tomado. Secado os cabelos às pressas com secador, vestido meu pijama com as bainhas curtas demais. Enfiado um par de meias e calçado minhas pantufas uns dois números maiores.   

   Acendi o abajur da mesinha de cabeceira ao lado da cama, peguei um livro da montoeira de livros que habitava o subsolo da minha cama. Deixando meu dever de casa para o dia seguinte, enquanto Lola utiliza sua segunda noite sem supervisão. E Justine e Blake comemoram mais um jogo de vitórias no banco traseiro de algum dos carros importados do irmão de Justine, eca.

   Devorei uma porção de páginas do livro, entrando totalmente num mundo alheio. Até meus olhos começarem a arderem e caírem pouco a pouco, derrotados pelo cansaço.