Fanfic: ~ SEGREDOS SUJOS, VONDY | Tema: Rebelde

   Segurei seu braço num gesto impulsivo.

   — Se você não se importar gostaria de conversar com uma pessoa sóbria, por favor.

   Olhou-me.

   — Veio ao lugar errado, por aqui só tem bêbados fracassados — ele indicou com o queixo uma mesa redonda no fundo do bar, rodeada por homens de meia idade, rindo alto demais e jogando pôquer. Todos de cara mais do que cheias, certamente.

   Ignorei parte do que ele disse.

   — Estou falando de você.

   Ele voltou a me encarar, fiquei meio que observando seus olhos por uns segundos. Eram perturbadoramente intensos.

   — Eu também estou.

   Quase estremeci.

   — Você não é um fracassado!

   Ele riu.

   — Bêbado eu já sou... o fracasso vem com o tempo, mesmo — disse ele, de um jeito categórico, como se já tivesse se “conformado” com a ideia.

   Agarrei seu queixo com as pontas dos dedos, fazendo-o me olhar nos olhos.

   — Só um tantinho bêbado, OK? E você nunca vai ser um fracassado, prometo.

   Ele desprendeu o queixo dos meus dedos. E virou o outro copo, que já o esperava solenemente na bancada.

   — Se não percebeu eu estava bem ocupado antes de vocês chegarem e Lola bancar a espertinha, Camille deve estar impaciente — ele estava impaciente.

   Coloquei minha mão em uma banqueta e dei um impulso para me sentar. A banqueta batia quase na minha cintura. Droga. Pulei, de um jeito ridiculamente desajeitado e me acomodei no estofado macio demais e soltei:

   — Quem? — Tentei soar desentendida, franzi a testa.

   Ele não pareceu perceber.

   Ponto para mim.

   — Camille, a loira gostosa que estava jogando comigo.

    Ignorei o fato de, não ser um cara para ele falar daquela forma de uma garota na minha frente. Moleza, já estava mais que acostumada.  

   — Uh... tá. Eu não sei você, mas eu só estou esperando um motivo seu — disse o encarando duramente.

   — Motivo...? Do quê? — perguntou ele, enrolando de leve a língua.

   Franziu a testa e se sentando também, ele parecia meio tonto. Para não dizer bêbado, mesmo. Aquilo era ridículo, o que eu ia conseguir o abordando alterado?

   Nada. Obvio!

   — Acho melhor conversarmos outra hora, você está bêbado — disse pulando de volta para o chão.

   Terra firme.

   Ele também se levantou, ficando mais que uma cabeça mais alto que eu.

   — Não estou ainda. E já interrompeu meu jogo...

   Suspirei e encarei o nada.

   — Chris... topher, eu... eu só quero saber por que depois de tanto tempo sendo melhores amigos, você resolve acabar com tudo... assim, simplesmente. Só isso — respondi, já soando embargada, voltando a olhá-lo com firmeza. 

   Ele soltou um gemido irritado e bagunçou mais ainda os cabeços louros escuros e úmidos, provavelmente por causa do jogo.

   — Porque as garotas têm que ser tão sentimentalistas? — ele perguntou retórico, bem frustrado. — Pare de tornar tudo mais difícil, só esqueça. Nos não temos mais nada o que conversar.

   Eu achei que ia explodir, ali mesmo, literalmente.

   — Como assim, “só esqueça”? O que você pensa que eu sou? Um brinquedinho, que você usa e abusa e joga fora a hora que quer? Se você pensa que eu sou que nem as vadias da escola que você “pega”, você está muito enganado! Beleza?! E você nem me deu um motivo! Droga! Não faz sentido, não tem lógica o que você disse ontem na aula. Por Deus, qual é o seu problema? Seu idiota! — minha voz já não era mais tomada pelo choro e sim pelo desespero, irritação, frustração... até pelo ódio. A essa altura já tinha me aproxima uns bons centímetros dele, dando uma ênfase nas minhas palavras desequilibradas.

   Christopher cambaleou para trás, mas logo se equilibrou na bancada. E para meu completo espanto, um sorrisinho animado e cheio de surpresa tomou conta dos seus lábios perfeitos. Era uma das ultimas reações que eu esperava. A última.

   Sério.

   — Enfim você mostrou que seu sangue não é totalmente de barata.

   E riu.

   Senti a minha garganta secar. E o coração apertar. Uma aflição invadir as minhas veias. Não, não, eu não ia voltar atrás. Não podia. Poderiam me chamar de qualquer coisa, mas nunca me deixaria aparentar covardia.

   — Um pouco de verdade na cara não faz mal a ninguém, eu acho — rebati rapidamente, antes que a coragem faltasse de vez.

   Ele mordeu a boca apagando quaisquer vestígios de um sorriso, que a pouco estava tão presente.

   — E eu acho... que você tem passado muito tempo com Lola — disse ele voltando a sorrir, enrolando uma mecha do meu cabelo ruivo em um de seus dedos, com seu jeitinho sedutor.

   Afastei a mão do meu cabelo.

   — Não meta Lola nisso. Ela não tem culpa de você ser... um péssimo melhoramigo! — praticamente cuspi as palavras.

   Christopher colocou a mão em cima do peito, teatralmente.

   — Uau, essa doeu... aqui — observou, batendo de leve no peito, irônico...

   Bêbado.

   Eu bufei.

   — Por quê? Hein? Fale logo, não tem por que esconder.

   Ele parou os olhos dos meus, com intensidade. Bêbado ou não, mentira alguma ia sair... Não sem passar despercebida.

   — Por que nem tudo que queremos, podemos ter!

   Ok, isso é um fato.

   Dã.

   Christopher levou uma das até o meu rosto. O olhei confusa, cobrindo a mão que segurava a minha bochecha com a minha.