Fanfic: ~ SEGREDOS SUJOS, VONDY | Tema: Rebelde

   — Agora eu não posso. Minha mãe e meu pai estão meio que reatando. Você sabe... família reunida, comida farta até os cotovelos e o pior todos... aguentar minha mãe e o meu pai voltando a trocar aqueles olharezinhos apaixonadinhos. Uma grande eca, OK!  — murmurou ela, mortificada.

    — Ótimo, perfeito, Lorena! Com amigas como você eu acho que não precisarei de inimigas. Estou até pensando na possibilidade de pedir para ser mais uma das barangas soberbas de Justine. Acho que pelo menos lá, eu descolasse uma porcaria de carona — bufei, desistindo da aposta de vez.

   Dessa vez não ouve festejo.

   — Ei D, que estresse, hein! O bom é que eu já sei o nome e até o sobrenome de quem ocasionou essa tensão todinha em você. Christopher Schwartz. Como você e o seu amigo estão meio que se estranhando, e eu, no momento estou disposta a ocupar o cargo de melhor amigo megagostoso, com um extra como fada madrinha. Escutou? E não irei cobrar nada... Enfim... estive conversando com o seu ex amigo — ela comentou, fazendo uma pausa dramática de suspense.

   Respirei fundo.

   — Bom para vocês! Talvez há algumas horas eu pudesse estar superinteressada, mas agora... Não, obrigada. Quero que se ferre ele. E você também, com essa falsificação de fada madrinha que em vez de transformar a gata borralheira em Cinderela, faz uma duplicação de madrasta do mal. Vocês não me ajudam em porcaria nenhuma, beleza?!

   Lola continuou, pareceu nem ter me escutado.

   — Melhor assim, pois não consegui arrancar nada daquele cara, poxa, ele é durão — sua voz saiu frustrada, no final risonha.

   Lola adorava uma graçinha.

   — Ele está “assim” por que quer. Eu não fiz nada. Absolutamente nada — me defendi, perdendo um pouco do controle sobre a minha paciência.

   — Tudo bem D, eu irei acreditar na vossa palavra. Minha mãe está revirando todo meu guarda-roupa como uma adolescente no seu primeiro encontro. Ela quer estilo: mãe de família e quero meu homem de volta. Acho que aquele vestido que ganhei no meu aniversario de quinze anos, de Meredith. Daquele designer chiquérrimo, com decote matador e justinho em cima e amplo em baixo. Sabe? Ficaria fabuloso!

   — Acho que lembro. — menti — Isso aí... É. Vai ficar perfeito! Aproveite e pergunte a ela, se você não pode vir aqui na escola, rápido. É sério, por favor. Eu não tenho dinheiro para chamar um táxi. E a escola está vazia, quase todos já foram embora. E não posso sair assim, pedindo carona alheia.

   — Vou tentar... Mas não prometo nada, hein — ela falou séria, mas senti uma ponta de deboche, talvez mentira.

   Aguardei poucos minutos na linha até ela voltar.

   — Olá querida! Lorena me comentou sobre o mal-entendido da carona. Nós já íamos ligar para saber sobre o seu mal-estar — disse ela, simpática, mas senti novamente a pontada de deboche.

   Tal mãe, tal filha. Era a mãe de Lola.

   — Senhora Walker... Quer dizer, senhora Reis. Sim, ouve um “mal-entendido”. Uma garota na escola passou um recado errado para Lola dizendo que eu já havia ido embora. A senhora teria como liberar ela por uns minutos, para vir me buscar aqui, na escola. Não trouxe dinheiro, não tenho como voltar para casa. Minha casa é muito longe da escola para voltar a pé — argumentei.

   Ela ficou em silêncio durando uns segundos, pensando, ou abafando uma risada...                      

   — Libero minha filha se vieres jantar conosco. Nós nos alegraríamos muito se você jantasse aqui, hoje. Aceita? Hein?

   E atrapalhar o jantar de família-barra-reconciliação? E o, quero meu homem de volta? Capaz, NÃO!

   — Senhora Reis obrigado pelo convite... Fico feliz em saber que gostaria que eu jantasse com a sua família. Mas Lola me disse que era um jantar de família importante. Não me interprete mal, mas acho que estaria atrapalhando o...

   E a minha carooona?

   — Dulce, querida, você é praticamente da família — ela riu —, minha boneca a adora — ouvi Lola repreendê-la — Meu amor, mas, mas... É verdade. — ela fez uma pausa. E cochichou algo com a filha — Lorena já está indo buscá-la. Até daqui a pouco, querida. Tchauzinho.

   — Mas... alô? Senhora Re... is?

   Em vão, ela já tinha desligado.

   O estacionamento da escola estaria completamente vazio se não fosse por mim, alguns carros e um gato gordo, sentado em cima do muro de pedras que cercava a volta do estacionamento, lambendo seus pelos escuros preguiçosamente.

   Um vento úmido tomou conta do estacionamento a céu aberto, em uma espécie de tornado invisível, fazendo-me estremecer. Aconcheguei meus braços num abraço, segurando-os pelos cotovelos. E percorri o estacionamento até a saída em passos agitados. Parei subitamente, quando algo pequeno e metálico, entre as vagas, chamou minha a atenção. Uma motocicleta preta estava devidamente estacionada entre uma Picape azul desbotada da professora Lee e um Ford amassado na lateral, desconhecido. Encarei meu reflexo, refletido sobre motocicleta bem lustrada... Foi aí que a reconheci.

   Claro! Ele ainda estava lá. Ele não iria deixar a sua moto supercaro sozinha num estacionamento a noite não protegido e ir embora, simplesmente. Certamente ainda deveria estar na escola. Ele... era meu melhor amigo.

   Não!

   Não posso, ordenei a mim mesma. Não sou mais uma garotinha frágil, para sair por aí chorando pelos cantos como uma boba, por qualquer coisa. Mesmo se esse “qualquer coisa” significasse magoar, magoar muito.