Fanfic: O Inferno de Hermione | Tema: Harry Potter, inferno, Hermione Granger

Harry não sabia dizer como conseguiu passar pelo campo de corpos se arrastando pelo chão, na lama negra, enquanto gemiam e agonizavam. Só o que sabia era que, cada vez que pensava em parar e em desistir, uma força brotava de sua alma. Era uma alma já perturbada com o que via, mas que tinha um só objetivo... Hermione. 

Hermione sempre lhe dera forças quando estavam vivos. Era ela quem ficava do lado dele e o aconselhava. Era ela a melhor amiga que Harry podia ter, a melhor pessoa que ele poderia conhecer. Agora era a memória dela que lhe sustentava. Hermione... a simples musicalidade envolta naquele nome parecia despertar-lhe o ânimo. 

Respirou fundo e continuou a caminhar. Alcançou o saguão de entrada e atravessou a soleira, parando para contemplar o interior. Havia um silêncio sepulcral ali, diferente dos gemidos e gritos lá de fora. Aquilo o perturbou ainda mais. Já tinha se acostumado ao barulho e também se perguntava porque não havia ninguém ali. Boa coisa não podia significar, mas resolveu continuar. Ele tinha certeza que era o único lugar que Hermione poderia estar. Hermione... 

Harry subiu as escadas lentamente. O som de Toc Toc do seu sapato parecia denunciar sua presença. Ele sentiu um estranho vento vindo de cima e jurou ter visto alguma coisa rastejante atravessar uma das paredes coberta de limo negro e todo tipo de inseto que poderia haver. Mas não desistiu. É por Hermione... meu Deus daí me forças. 
- Não diga esse nome aqui... ! – escutou uma voz ecoar em algum lugar do castelo.
Ele não disse nome algum. Alguém poderia estar lendo sua mente. Mas de que nome falava: Hermione ou ... ah... claro.. Deus! 
- Cale a boca verme miserável...! Não diga esse nome aqui! 
- QUEM É QUE ESTÁ FALANDO? – perguntou, mas ninguém mais respondeu. Então resolveu seguir adiante. 
Sentiu um calafrio de repente. Se alguém lia sua mente, queria dizer que sabia quais eram suas intenções....
- Salvar a garotinha... – falou aquela voz irritante e grave em resposta ao seu pensamento. 
Harry apressou os passos e entrou com todo entusiasmo na biblioteca. Também estava vazia, com exceção de uma mulher com aspecto horrível que carimbava livros com uma pata seca e decepada de cachorro. Ela tinha um dos olhos para fora, grudado apenas por um fio de gosma verde e a pele era arroxeada e os lábios negros. 
- Não faça bagunça na biblioteca, garoto. Ou eu juro que arranco sua língua fora! – disse a mulher quando percebeu sua presença ali, balançando aquela pata decepada para ele. 
- A senhora acaso viu uma garota? – Harry perguntou, com cara de nojo, imaginando se aquela mulher poderia ter feito alguma coisa contra Hermione. – Ela é muito estudiosa e tenho certeza de que poderia ter vindo para cá. 
- Ahf! Uma garota, sim... você deve ser amigo da garotinha horrível! Ela queria me dizer o que fazer com os livros... ah sim... eu morderia aquela facezinha linda se ela não tivesse me enfeitiçado... garota nojenta... sim.. sim... ela fugiu... aquela coisinha chata. Fugiu antes que eu colocasse minhas mãos nela!
- E para onde ela foi, senhora? – insistiu Harry, de uma certa distancia que julgou segura. 
- E eu sei? Não posso sair desse lugar... garoto... há certos de nós que não podem sair de determinados lugares... aqui é ruim... mas não posso sair... a não ser que arranje alguém para ficar no meu lugar... você quer ficar no meu lugar... garoto? Garoto, volte aqui!

Antes que a mulher pudesse se aproximar, Harry já havia se afastado dela e fechado a pesada porta. Torceu para que fosse verdade que ela não pudesse sair daquele lugar. Não queria nenhuma criatura perseguindo ele pelo castelo com uma pata decepada de cachorro. Não, senhor!
Harry subiu as escadas. Saber que Hermione esteve ali na biblioteca lhe reanimou as forças. Ela poderia estar na torre da grifinória. Sim, é para lá que vou!
Harry subiu as escadas que pareciam estranhamente infinitas. Quando passou pelo sétimo andar, pensou ter escutado um pequeno gemido, um gemido que lembrou muito a voz de Hermione. Chegou a chamar por ela, mas foi outra coisa que respondeu?
- É TARDE DEMAIS... PARA ELA.... E PARA VOCÊ!
Os pelos de Harry se arrepiaram novamente com aquela voz demoníaca. Não queria nem saber o que estava lhe falando, mas pensava no que poderia ser. 
Quando Harry chegou à entrada da torre, viu que teria mais problemas do que imaginava. Não era o quadro da mulher gorda que guardava a entrada e sim um quadro com uma esfinge retorcida e esquartejada. 
- Diga a senha! – disse-lhe a esfinge. 
- Eu não sei qual é a senha! – disse ele, sinceramente. – Mas eu preciso entrar. 
- Diga a senha, ou jamais deixarei que entre, verme! 
- Como todos são educados nesse maldito lugar! – retribui Harry, aborrecido. – Abra essa porcaria ou eu vou rasgá-lo! 
- Há Há Há! – disse o quadro, simulando uma risada maléfica – Você não está entendendo garoto! Você não pode me destruir! E não vou deixar entrar! 
- Dê-me uma pista, então? – perguntou o garoto, sabendo da fama que as esfinges têm de formular charadas. 
- Pois bem! – disse o quadro – Eu sou grande e pequena. Quem sou eu?
Inspirador... xingou Harry... a beira do desespero. 
- Assim não vale... você tem que dizer alguma coisa que tenha mais sentido. Pode ser qualquer coisa. 
- Não pode não! – teimou a esfinge – Você tem três chances... se errar as três... vou ter que matá-lo. 
Muito inspirador!
- Está bem! – gritou Harry, tentando fazer o cérebro pensar. – O que pode ser grande e pequeno... pequena? Uhm... Hermione? 
- Não! – disse a esfinge com uma cara taciturna. 
Ora... como eu poderia saber? Hermione é pequena para a idade que têm, mas é grande quando se trata de sabedoria.
- Uhm... deixa eu ver.. Dumbledore?
- Tá me gozando, garoto? Só tem mais uma chance?
- Uhm... espere aí... não pode ser um homem... já que ele disse pequena... mas então o que pode ser? O que é grande... e é pequena? Uhm... a... a Terra?
- É você acertou! – respondeu o quadro. 
- Então deixe-me entrar! – disse Harry, sentindo que a sorte mudara. 
- Eu menti. Estou colado. O inferno dos quadros maus é este! Eu nunca posso me mudar para outros quadros e minha tela está grudada na parede. 
- Mas ora... ! – disse Harry erguendo a varinha. A raiva tomou conta dele por alguns instantes. Estava prestes a utilizar algum feitiço mal contra o quadro que implorava para que não lhe fizesse mal. Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa escutou uma voz suave ecoando por algum corredor. 
- Har...ry... 
- Hermione? – perguntou Harry para nada. Não podia ser. Era só o vento. Ele havia imaginado a voz dela... só podia ser isso. 
De qualquer forma aquela voz fê-lo parar e ele refletiu. Não podia fazer nenhum feitiço do mal. Snape o alertara. Seria pior para ele. 
E se ele não podia entrar na torre, então Hermione não havia entrado também. Mas onde estaria ela?
- Eu fui misericordioso – disse ele para o quadro. – Agora diga-me, você viu uma garota de cabelos castanhos e... 
- Sim, vi! – respondeu a esfinge antes que Harry completasse a pergunta. 
- Então me diga... onde ela está? E sem mentiras dessa vez, ou volto aqui e acabo com o seu probleminha de estar colado nesta parede...e vai acabar colado na lama negra que tem lá fora e... 
- Está bem, caro senhor... o senhor parece ser bem violento. Não quero provar de sua fúria. A garota tentou entrar como o senhor, mas quando percebeu que não podia desceu as escadas. Para onde foi, eu não sei. 
Harry desceu desanimado as escadas. Achou que seria quase impossível achá-la naquele castelo sem que ela estivesse num lugar mais significativo. Ele tinha somente vinte e quatro horas... bem agora... deviam faltar menos de dez horas. Quando estava novamente no sétimo andar, não conseguiu resistir a angustia que tinha no peito e juntou todas as forças para gritar. 
- HERMIONE! – ele gritou a plenos pulmões. – POR FAVOR... ME DIGA ONDE ESTÁ! HERMIONE... HERMIONE!!!!
Harry deixou-se cair sentado, vendo que não recebia resposta. Então novamente, um vento atingiu o seu rosto e espalhou a sua franja. 
- Har... ry... 
- Hermione? – perguntou Harry para nada novamente. Era uma vozinha tão suave... De repente, imaginou onde Hermione poderia estar. No banheiro. Fora ali que recebera a mensagem de Hermione, não? No vidro do banheiro. E estava justamente no corredor certo. No sétimo andar. 
Harry correu animado para o banheiro. Abriu a porta com um sorriso no rosto, mas não havia nada lá. No vidro algumas palavras irreconhecíveis escorriam com o vapor que vinha de algum ponto invisível. 
- Hermione? – perguntou ele, enquanto sua voz ecoava no banheiro. – Se está aqui, Hermione, por favor... diga... por favor... 
Harry sentiu as lágrimas ardendo em seus olhos e não conseguiu mais se controlar. Uma torrente de emoções o invadiu novamente. Desesperado e angustiado, ele saiu do banheiro e deixou-se sentar no chão, encostado em uma parede. 
- Hermione.... – disse ele, enquanto enxugava as lágrimas. 
Mas então, algo aconteceu. Em algum lugar na parede bem mais a frente, desenhou-se uma porta que se abriu para fora com um ranger assustador. 
Era a porta da sala precisa. Mas por que se abrira de repente? Será que a sala obedecia as mesmas funções ali, no mundo dos mortos? 
Talvez... não eu não quero... eu não posso pensar nisso... mas... e se... e se... e se Hermione estiver ali? E se a sala se abriu pois sentiu que eu preciso dela... ?
Harry levantou-se. Não custava conferir. Afinal, não tinha mais onde procurar Hermione. Tinha pouco tempo, pouquíssimo para falar a verdade. Então correu, parando na soleira da porta. 
- Hermione? – perguntou. Estava escuro lá dentro, ainda mais escuro do que ali. Pelo menos ali, ele podia ver para onde ia. Ali, na sala precisa, não havia nada que pudesse ver. Mas com o pensamento em Hermione, deu o primeiro passo, sentindo a porta se fechar atrás de si. 
- Hermione? – disse novamente. 
Estava tão escuro que se mexesse as mãos na frente dos olhos, mesmo assim, não as veria. Mas foi andando lentamente, esperando não esbarrar em nada. 
- Hermione... sou eu Harry... ! – disse ele, esperando que ela pudesse ouvi-lo, se é que ele estivesse ali. 
- Har... ry... ! – a mesma voz suave e o mesmo vento pareceram lhe soprar de algum lugar. 
Então, começou a enxergar um ponto iluminado mais a frente. Ele caminhou e caminhou até ver o que era. Meu Deus! Hermione! 
Sim, era ela... ela estava ali, ajoelhada ao lado de uma lápide onde um lampião de luz azul iluminava o lugar. A lápide não era dela. Estava escrito: “Harry Potter”. 
- Hermione? – perguntou ele, estranhando a cena. 
Hermione olhou para ele. Seus olhos estava negros. Tanto as íris quanto as órbitas. Harry se assustou um pouco, deu dois passos para trás, mas criou coragem e se aproximou. 
- Afaste-se! – gritou ela, com uma voz quase inaudível, então se virou para a lápide e continuou a chorar... 
- Har... ry...! – Era a voz dela, sussurrando... Ele podia sentir aquela dor em sua alma. Hermione sofria. Sofria pela morte dele. Mas ele não estava morto. Ele estava vivo. Por que Hermione não o reconheceu. 
- Hermione... sou eu Harry! – disse ele. – Eu estou vivo! 
- Ele morreu... morreu por minha culpa... ele não teve coragem de me matar e Voldemort o matou então. 
- Não Hermione... não... você se jogou na minha frente, lembra-se? Você me salvou e acabou morrendo por mim. Você não sabe, então? 
Hermione olhou para ele, novamente com aquela negrura no olhar. 
- É você quem não se lembra! Ninguém jamais esqueceu como o grande Harry Potter morreu. Todos nós morremos naquele dia. Voldemort matou a todos nós. E desde então vivemos no inferno. Alguns de nós sofrem mais. Alguns de nós sofrem menos. Alguns de nós nem se conscientizam de que estão mortos. Você, meu rapaz, parece estar perdido. Acaso não se lembra de como morreu?
- Eu não morri! Eu sobrevivi. Eu sofri muito a sua falta, Hermione. Jamais pude esquecer você. Eu vi sua mensagem no banheiro da escola. Então pedi a Snape que me mandasse ao inferno, afim de resgatar você, querida. Eu estou vivo! 
- Você poderia ser Harry, mesmo – disse Hermione com o cenho franzido e uma expressão de dor. – Mas você não se lembra de como morreu? Alguns fantasiam a própria vida. Vivem fantasiando que não morreram... que sobreviveram... Tudo o que pensa que viveu na verdade é obra do seu inconsciente. Você não aceita a própria morte. Snape ter te enfeitiçado só quer dizer que você está tentando aceitar a morte. Você morreu. Vai ficar aqui para sempre como todos nós. Aceite isso, ou sofrerá ainda mais. 
Harry deu alguns passos para trás. Não, eu estou vivo! Eu sobrevivi. Hermione se matou para me salvar... eu me salvei... 
Então uma memória veio a sua mente. Ele hesitando, não conseguiu matar Hermione. Hermione gritou, ela pulou para salvá-lo, mas o raio de Voldemort o atingiu antes que ela pudesse fazer qualquer coisa. Ele estava morto. Hermione chorava sobre o seu corpo enquanto todos olhavam com terror para Voldemort que gargalhava alto. “É o fim!”, ele dizia, e apontando a varinha para Hermione, matou-a sem piedade.
- MEU DEUS NÃO... EU ESTOU VIVO! NÃO PODE SER... EU ESTOU VIVO! 
- Aceite, meu rapaz.... não sei quem és... mas estais morto, como cada um de nós: Mortos do inferno! – disse Hermione. Dos olhos negros pendiam lágrimas de sangue. 
Harry pensou por um segundo. Não podia ser. Ele estava vivo! Ele estava vivo, sim. Era isso o que Snape dizia sobre Hermione arrastá-lo ainda mais para o fundo do inferno. 
O inferno de Hermione era esse: achar que ele, Harry Potter, havia morrido. Era sua dor... era sua perda... era a sua tortura. Por mais que achasse estranho, Harry sempre soube que Hermione gostava dele e que faria de tudo por ele. Revelar seus sentimentos através de um inferno criado pelo seu pior temor revelava muito mais a Harry... revelava que Hermione também o amava! 
Então se concentrou em todos os bons sentimentos que pudesse ter e agarrou Hermione. Ela se debateu, chutou seu calcanhar, mordeu sua mão, mas nem mesmo assim, ele a soltou. 
- Você vai sair daqui comigo! Não adianta lutar! Eu vou tirar você daqui, querida, por favor, venha comigo!
Harry lembrou-se da instrução de Snape. “Quando você a achar, deverá segurá-la firme e dizer: “ASCENDIUS!”” Era o que ele precisava dizer: “Ascendius”... e tudo ficaria bem novamente. 
- Asc... AHHHH! 
Um raio surgiu do nada atingindo Harry em cheio. Ele caiu e acabou soltando Hermione que correu para algum ponto na escuridão. 
- Hermione... vem aqui! – ele gritou para Hermione, mas ela não o obedeceu. 
- ORA ORA.... HARRY POTTER! A SANGUE-RUIM FUGIU DE VOCÊ? – disse uma voz. Mas não era aquela voz demoníaca que ouvia sempre. Era uma voz diferente. Uma voz que conhecia profundamente, pois já a escutara diversas vezes enquanto era vivo. 
- Quem está aí? – perguntou Harry desesperado. Gritou várias vezes “Lumus” para a varinha, mas ela simplesmente não obedecia. Novamente, pensou no que Snape lhe dissera: “No inferno, muitos feitiços não funcionam, já que a energia é balanceada de outra forma. Os feitiços do mal funcionam, mas você não deve usufruir deles, pois ficará tentado pelo mal. Fique firme e ache-a logo.”
Ele a achou, mas ela fugiu dele. 
- Hermione! – gritou ele novamente – Por favor, querida, venha comigo. Você precisa estar comigo, eu juro que não vou machucá-la. 
- Mentiroso! – gritou a voz suave de Hermione – Todos no inferno são mentirosos. Ele disse que voltaria, mas não voltou... disse que voltaria... mas não voltou... Que não volte... aqueles olhos do inferno... olhos do diabo... 
Do que Hermione estava falando? Ela ficara louca... também pudera! Admirava não ter ficado louco ainda. Isso porque nem tinha feito vinte e quatro horas que estava ali. 
- Hermione! – ele gritou, mas desta vez ela não respondera. 
Um novo raio o atingiu fazendo o cair no chão. Ah... a dor era insuportável. Agora alguém usava o Crucios nele. 
- AINDA NÃO ADIVINHOU QUEM SOU EU, HARRY POTTER?
- Eu sei quem é você! 
Ele sabia sim. Sabia quem era ruim o suficiente para ser condenado ao inferno e ainda querer persegui-lo daquela forma. Alguém que, tendo sido atormentado pela alma estraçalhada havia arrastado Hermione consigo para o inferno e a aprisionado. Alguém que não valia a própria existência.... 

- VOLDEMORT!!!!